Como será o amanhã?




Por Teresa Bergher *

Quanto vai custar a Olimpíada? Venho fazendo esta pergunta há sete anos. E nenhum esclarecimento me é dado.

Numa cena da ópera Tosca, de Giacomo Puccini, a cantora Floria Tosca pergunta ao chefe de Polícia de Roma, o cruel e corrupto Barão Scarpia, quanto precisava pagar para que ele libertasse seu namorado, o revolucionário Mário Cavaradossi: "Quanto? O preço"? Na ópera bufa que se desenrola no Rio, é a mesma indagação que os cariocas fazem ao prefeito Eduardo Paes: afinal, quanto vai custar a Olimpíada? Venho fazendo esta pergunta há sete anos. E nenhum esclarecimento me é dado.

Como meu projeto que exige transparência nos gastos olímpicos vem sendo boicotado pelos vereadores dóceis ao alcaide e a prefeitura não revela por conta própria o que efetivamente gastou, talvez nunca saibamos ao certo a conta desta festa sobre a qual ninguém nos perguntou coisa alguma, mesmo sabendo que vamos receber a conta. Estamos engolindo, com engulhos, a conversa de que a maior parte dos gastos correu por conta do setor privado. Talvez Paes se tenha inspirado na frase atribuída a Josef Goebbels, a de que uma mentira muitas vezes repetida acaba virando verdade. Mas, é preciso que todos saibam: não é bem assim. Além da gastança do dinheiro do orçamento municipal, temos gastos públicos indiretos. A começar pela distribuição de imóveis da Prefeitura (na verdade, nossos) para a instalação dos equipamentos olímpicos e um sem fim de benefícios fiscais para bem afortunados, que, na prática, significam menos dinheiro no caixa da Prefeitura.

Mas, o prefeito precisa saber que, em breve, esta farra olímpica, conquistada com mentiras, ruirá como a sua ciclovia. Tão logo terminem as Olimpíadas - e, que fique bem claro, torço para que sejam bem-sucedidas - pretendo recorrer a diferentes órgãos auxiliares de fiscalização (na Câmara, dócil ao Executivo, é quase impossível) para exigir o chamado "preto no branco", quanto, afinal, custou esta festa, para a qual apenas a família olímpica foi convidada? Pelo pouco que sabemos, só com os cachês pagos a artistas ligados ao governo gastamos R$ 10,5 milhões, para os shows no Boulevard Olímpico do Miécimo da Silveira.

Depois da festa, quando o dopping das contas públicas for revelado, virá a ressaca de um endividamento que, pelo que se sabe, já bateu todos os recordes, ultrapassando a marca de 75% da receita corrente líquida do orçamento municipal (traduzindo para o bom Português, o dinheiro arrecadado pelos nossos impostos).

E a nós, habitantes da cidade do Rio de Janeiro, que assistimos ao espetáculo pirotécnico pela televisão, pois o prefeito teve a petulância de nos mandar ficar em casa para não atrapalhar o deslocamento olímpico, nos restará o desemprego, os transtornos causados por uma política de transportes caótica, uma Prefeitura tão falida quanto o Estado, um Porto Maravilha, o BRT e o metrô lotados, um VLT ineficiente e muitas e muitas contas a pagar. Dá calafrios só de pensar como será o amanhã...

(*) Teresa Bergher é professora, milita na política carioca há 15 anos e cumpre o terceiro mandato como vereadora na Câmara Municipal do Rio de Janeiro sendo líder do PSDB.


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