Você já parou pra pensar se tem Ética?

Acredito que possa existir uma melhor distribuição e rendas, mas também não sou contra o fato de que algumas pessoas têm o direito de acumular riqueza, desde que a exploração não extrapole os limites (e que limites são esses?). De nada adianta culparmos A ou B, partido de esquerda ou de direito, nada se resolve com troca de alfinetadas.

O povo precisa sair deste paradigma do "Pão e Circo" e começar a pensar politicamente. O mal dos que não se interessam por política é justamente serem dominados e oprimidos por aqueles que se interessam (já disse alguém). Voto consciente não basta, é preciso que se acompanhe a vida daqueles que elegemos, já temos mecanismos pra isso. Quantos de nós já mandamos e-mails para nossos vereadores, deputados Estaduais, Federais, Senadores, aliás, quem de nós se lembra de em quem votou para cada um desses cargos?

Entender o processo legislativo é de suma importância, ler a Constituição de 88, saber quais são direitos e acima de tudo, quais são seus deveres. Quem de nós aqui, aqui mesmo na Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola conhece ao menos o Artigo 5º de nossa carta da República? O povo brasileiro é um povo sem Ética, e quando digo Ética não estou falando daquela ética inalcançável proposta por Emanuel Kant. Essa etiqueta de que falo, começa bem cedo, em nossos lares, bem longe da política como a conhecemos.

É não furar uma fila nas casas lotéricas, é encontrar um celular ou uma carteira cheia de dinheiro e devolver ao seu dono. É devolver o troco que o dono da venda deu a mais. É também não comprar filmes pirata, softwares falsificados, é não mentir quando se vende um carro que está com o motor em vias de fundir e dizer que o carro está ótimo. É não comer aquele salgadinho no mercado enquanto faz compras e antes de chegar ao caixa jogá-lo fora para não ter que pagar.

É não tentar subornar o policial que lhe para e quer multar-lhe por que a carta está vencida, é também não comprar sua habilitação e não nem pagar o "arrego" ao examinador. Ética que nos falta é não passarmos os pontos para um parente ou amigo quando nossa carteira de motorista já está explodindo de multas, é não roubar sinal de internet e nem de TV.

Ética é não pedir aos céus que nos ajude quando definitivamente fizemos cagada e devemos pagar pelos nossos erros, também é ter ética quando não se cola numa prova ou pede para um amigo colocar seu nome num trabalho escolar que você sequer leu. Ética é levantar a tampa da vaso quando vai mijar (aos homens), fechar a torneira ou apagar a luz ao sair, principalmente se não for a sua casa. Ética é tirar da cabeça esta ideia estúpida de que "o mundo é dos mais espertos". Poderia escrever a noite toda sobre tudo que é necessário para termos bons políticos, desde que a mudança comece por baixo...bem por baixo, por nós.

Quando estivermos prontos para fazermos uma “autopsia” de nossas condutas enquanto cidadãos, estaremos prontos e aí sim teremos o direito de cobrar daqueles a quem delegamos o poder de nos conduzir na política, do contrário, deixemos de ser falsos e hipócritas e reconheçamos que o que está lá no poder é só um reflexo do que somos aqui embaixo. 

Edson Moura

Comentários

Olá, Edson.

Primeiramente fico feliz em vê-lo novamente a escrever no blogue da CPFG, trazendo para cá o debate que se desenrola no grupo que criou no Whatsapp. Parabéns por sua iniciativa!

Em seu texto, vc toca em várias questões que, apesar de eu tê-las comentado em áudio, considero oportuno abordá-las novamente aqui e sem consultar o que havia dito antes.

Sobre distribuição e acúmulo de riquezas, faço menção aqui de um comentário que fiz quanto aos versos 9 a 10 do cap. 19 do livro de Levítico como consta no meu último artigo publicado na Confraria Teológica Logos e Mythos. Pois entendo que não deve ser o homem ganancioso colhendo a totalidade da lavoura a ponto de querer tudo para si e aí cabe ao Estado estabelecer limites ao acúmulo de riquezas por meio da arrecadação de recursos para o custeio de programas oficiais visando a distribuição de riquezas. Assim como é fundamental que haja entre os ricos e pessoas da classe média a importância de praticarem a assistência privada bem como a inserção de novas pessoas na produção de riquezas. E pensar assim pode ultrapassar as polarizações dos tempos de Guerra Fria sobre o que é ser direita ou esquerda.

Vale lembrar que há uma diferença entre igualdade e justiça sendo esta que busco e não aquela. Pois o fato de uma sociedade desigual não quer dizer que ela seja injusta. Ser injusto socialmente é não permitir que os membros dessa sociedade vivam com dignidade. E, por sua vez, para eu ter uma vida digna não significa que o outro deva estar na mesma situação financeira que eu. Ou seja, basta que as minhas necessidades básicas estejam satisfeitas podendo eu comer, morar, viver em segurança, ter lazer, matricular os filhos numa escola, ter mobilidade, ser respeitado, etc. Já o status e o luxo seriam coisas dispensáveis para uma vida com dignidade.
A respeito do "Pai e Circo", trata-se de uma antiga política dos romanos que trouxe estabilidade social à plebe que ameaçava os interesses da república e dos patrícios de modo que continua tendo cabimento para os nossos dias. Além da comida não faltar, é preciso suprir a necessidade ansiosa da população a fim de que as pessoas possam se distrair e não se ocuparem com besteiras.

Por outro lado, esse circo poderia se transformar também em algo útil. Pois como não dá para ocuparmos todo mundo no mercado de trabalho, as pessoas ociosas, além de serem sustentadas, teriam a possibilidade de ser aproveitadas em programas úteis onde o voluntariado passaria a ser valorizado. A meu ver, os estudos poderiam muito bem se tornar algo divertido em que pessoas não enquadradas no mercado de trabalho começariam produzir conhecimento.

Claro que isso é muito difícil porque nem todos estão preparados. Basta vermos o que as pessoas fazem nos finais de semana quando vão beber exageradamente, arrumam briga, confusão, provocam acidentes automobilísticos, etc.

Porém, sei que vc não teve por objetivo aprofundar a questão do Pão e Circo. Vc se referiu ao processo legislativo do qual a maioria não participa e aí acho que estamos de acordo sobre a necessidade do povo se envolver mais. Pois eu, embora neste aspecto seja exceção, uma vez que participo de muitas ações políticas, sei que se trata de um assunto que ainda interessa a poucos. E, quando o brasileiro discute política é um debate de baixa qualidade.

Já o restante que escreveu, concordo quase plenamente sem precisar entrar em nenhum detalhe específico pois ética é o que anda faltando na sociedade brasileira toda. Logo, se os políticos andam vacilando é poque a população que os elege também vacila. Claro que há situações em que poderemos relativizar coisas que o amigo expôs e aí compreendo quem age de modo diverso ao correto. Mas, sem dúvida, há que se cultivar bons hábitos e valores.

Abraços.