O começo de uma nova política na Câmara dos Deputados



Achei surpreendente a vitória do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) na disputa pela presidência da Câmara Federal, em que o parlamentar irá representar o órgão até o início de fevereiro de 2017, completando o mandato do biênio 2015-2016 devido à renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No segundo turno da eleição, foram 285 votos contra 170 para o segundo colocado, Rogério Rosso (PSD-DF).

O primeiro ponto positivo de sua eleição talvez seja em relação à agenda econômica brasileira já que o novo presidente da Casa mostrou-se bem habilidoso na obtenção de apoio para a sua vitória, o que, provavelmente, terá na aprovação de propostas que podemos considerar emergenciais a fim de voltarmos a crescer. Porém, não creio que a atuação de Maia irá se prender apenas a este aspecto pois, como discursou ontem, ao agradecer os votos recebidos no primeiro turno da eleição interna dos deputados, o objetivo será o resgate do protagonismo da Câmara nas grandes decisões do país, tendo ele acrescentado que:

"É política com P maiúsculo que queremos regatar, política onde as grandes ideias e os grandes projetos saiam dessa Casa (...) Se eu sentar naquela cadeira, eu serei um dos 513, e nós vamos governar essa casa juntos e vamos devolver ao Plenário sua soberania, porque hoje poucos decidem pela gente (...) Vamos colocar essa casa para funcionar como sonhamos e como merecemos".

Em sua campanha, o que mais me chamou a atenção foi a capacidade de Maia em dialogar com a esquerda mesmo sendo ele um notório defensor de ideias liberais para a economia. Segundo o líder do DEM, deputado Pauderney Avelino (AM), a diferença de 115 votos se deu por uma aliança que incluiu até parte do PT, PCdoB e PDT. Ou seja, o novo presidente da Câmara mostrou que, numa democracia justa, os representantes de todos os setores da sociedade precisam ser ouvidos, tendo Rodrigo assim se justificado:

"Fui muito criticado porque dialogava com a esquerda. Esta Casa precisa de diálogo. Esse Plenário tem 513 deputados eleitos e nenhum pode ser excluído. Quem quer calar a oposição, não quer democracia. Queremos uma oposição forte, que nos ajude a enxergar nossos erros".

Sem dúvida, essa é a postura que se espera de quem faz política com um "P" maiúsculo. Pois, num Parlamento, deve-se contar com a presença dos que representam tanto os ruralistas quanto os trabalhadores sem-terra, ambientalistas, índios, quilombolas, empresários, sindicalistas, estudantes, feministas, LGBTs, ativistas de direitos humanos, religiosos conservadores, funcionários públicos, aposentados, etc. Logo, numa época em que a radicalização ganhou espaço nos últimos anos e a estagnação econômica nos fez perder o rumo nesta década do século, nada melhor do que elegermos um líder apto a lidar com a nossa diversidade social, reunindo todos em torno de um projeto nacional de consenso.

Com 46 anos e estando já em seu quinto mandato como deputado federal, o ex-bancário Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia, filho do ex-prefeito do Rio de Janeiro César Epitácio Maia, hoje nos dá uma verdadeira lição de política. Aliás, conforme consta no blogue do Lauro Jardim do jornal O GLOBO, o seu pai de 71 anos, ao ser perguntado no começo da madrugada de hoje sobre qual conselho daria ao novo presidente da Câmara, assim respondeu: "Conselho, eu já dei em 1998 e ele lembrou no discurso. Agora eu é que preciso de conselhos do Rodrigo".

Enfim, que venham novos tempos de luz e de sabedoria para o Parlamento brasileiro a fim de recuperarmos os rumos do mais amplo progresso com total respeito aos valores democráticos, trazendo de volta a ética.

Uma ótima quinta-feira a todos!


OBS: Créditos autorais da imagem acima atribuídos a Gustavo Lima/Câmara dos Deputados. 

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