Eu ainda faço minhas escolhas


Não me tirem as lembranças, pois elas são o combustível que faz meu coração bater. Não me tirem a dor, pois ela é o parâmetro para que eu possa avaliar minha saúde. Não me tirem a tristeza, pois somente com ela eu consigo lembrar-me de como fui feliz. Não me tirem a escuridão, porque aos poucos meus olhos desprezarão a luz.

Não me tirem a fome, para que eu não reclame do pouco que ainda tenho. Não me tirem a pobreza, pois certamente eu desprezaria o miserável. Não me façam elogios, para que o orgulho não me domine. Não deixem de me abraçar, para que a frieza não tome o lugar do calor humano.

Não me falem sempre a verdade, porque algumas mentiras nos mantêm amigos. Não me mostrem tudo, para que eu não perca a vontade de descobrir coisas novas. Não me tirem a insônia, porque dormindo eu não vejo a vida passar. Não afastem a morte de mim, porque é iminência de sua chegada que me deixa com sede de viver mais um dia.

Não furtem meus livros, porque às vezes eles são meus únicos companheiros. Não se esqueçam de mim, para que, uma vez morto, eu não deixe de existir. Não me amem demais, para que a insegurança não atormente tua alma. Não me amem de menos, para que eu não me sinta tão rejeitado.

Não tirem meus filhos, porque eu os amo muitíssimo. Não se apeguem demais às pessoas, para que quando elas se forem, você também não se vá. Não me deixem envelhecer além do necessário, para que eu não me sinta um total inútil. Não me mantenha vivo, se acaso tornar-me um peso em suas vidas.

Não se enganem comigo, pois posso não ser a pessoa que imaginam que eu seja. Não se entristeçam se um dia descobrirem que os enganei, porque eu só quis fazer o bem, escolhendo uma mentira que salva a uma verdade que destrói. Não pensem que não percebo quando estou sendo enganado, pois sei que algumas verdades são tão preciosas que devem ser escondidas até com as maiores mentiras.

Odeiem-me, e depois de me conhecer melhor, talvez me amem. É melhor do que me amarem, e ao saber como sou verdadeiramente, me odeiem. Porque sabemos quão maravilhosas são as pessoas que não conhecemos intimamente. Não se encantem com meu jeito engraçado, pois por traz deste rosto alegre, pode existir um coração triste, uma mente confusa e um ser miserável e mau.

Não gastem sua saúde buscando dinheiro demais, pois lá na frente, olhará para trás e verá que nada fez, e que é um velho, doente e solitário. Então gastará a fortuna acumulada em busca de saúde, amigos e paz. Mas não encontrará. Sentará e rirá de suas próprias tolices.

Não viva pensando no futuro, vivendo uma época que ainda não existe, pois certamente, ao chegar lá, começará a saborear apenas os sonhos do passado, então entenderá que deveria ter aproveitado mais o presente, amado quem estava ao seu lado e experimentado os prazeres da juventude.

E para terminar este testamento, feito numa época em que minhas saúde mental ainda não havia me abandonado, digo: Não sintam-se culpados por coisa alguma, porque todas essas escolhas foram minhas...não suas.

Edson Moura

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Comentários

Bom dia, Edson!

Achei muito bom esse seu texto que havia escrito anos atrás em seu blogue considerando-o proverbial. Aliás, lembra bem esse trechinho das Sagradas Escrituras que reflete sobre a falta e a demasia das riquezas numa oração do autor a Deus:

"Duas coisas peço que me dês antes que eu morra:
Mantém longe de mim a falsidade e a mentira; Não me dês nem pobreza nem riqueza; dá-me apenas o alimento necessário.
Se não, tendo demais, eu te negaria e te deixaria, e diria: ‘Quem é o Senhor? ’ Se eu ficasse pobre, poderia vir a roubar, desonrando assim o nome do meu Deus
."
(Pv 30:7-9; NVI)

Como tocou em várias questões, realmente para comentar o seu texto será preciso abordá-lo em partes, o que, evidentemente, nos levaria a mais comentários. Mas vamos lá:

"Não me tirem as lembranças, pois elas são o combustível que faz meu coração bater."

Realmente são as lembranças, principalmente as esperançosas, que nos servem de combustível motivador. Além de ser bíblico, podemos ver que isso ocorre tanto individualmente como na vida coletiva. Daí a grande importância dos mitos históricos para um povo, não acha? Também as experiências boas de nossas vidas, as vitórias sangradas, precisam ficar bem registradas para superarmos os momentos ruins.


"Não me tirem a dor, pois ela é o parâmetro para que eu possa avaliar minha saúde. Não me tirem a tristeza, pois somente com ela eu consigo lembrar-me de como fui feliz. Não me tirem a escuridão, porque aos poucos meus olhos desprezarão a luz."

Dor e tristeza são os aspectos negativos da vida que desejamos a todo custo evitar, mas elas nos fazem justamente perceber a valorização do oposto. Eis aí algo que ajudaria a demonstrar a sabedoria divina para quem crê no Criador.

Mas interessante que isso nos trás ao mundo real, sendo algo diverso dos contos de fada. Não corresponde ao mundo do autor do Apocalipse para os "eleitos" que viverão na Nova Jerusalém (enquanto os considerados "ímpios" irão para um terrível lago de fogo e enxofre). Ou seja, a nossa mente, no fundo, deseja a idealização de um mundo sem dor em que cada lágrima seja enxuta, onde haja conforto.

Se refletirmos sobre o cotidiano do pobre é esse discurso da idealização do futuro que ajuda a confortar o indivíduo quanto às dores do momento tornando mais suave sua luta. Já que a realidade é dolorosa para muitos (e no passado foi ainda pior), dificilmente as pessoas saberão reconhecer o valor da dor e da tristeza como elementos da ordem existencial.

Vou continuar...
"Não me tirem a fome, para que eu não reclame do pouco que ainda tenho. Não me tirem a pobreza, pois certamente eu desprezaria o miserável."

Não nego que a pobreza nos ajuda a compreender a realidade do pobre, mas não sei se da para universalizar na íntegra o que expôs, Edson. Muitos pobres quando se enriquecem querem mesmo é fugir das lembranças da miséria e se tornam cruéis com outros pobres. Sentem-se superiores pela superação das dificuldades e se mostram incompreensivos com o outro.

No entanto, posso falar de minha experiência pois venho de uma família de classe média, mas que tenho me empobrecido por várias razões que não interessaria aqui expor. E aí essas dificuldades é que estão me mostrando a necessidade de entender melhor o outro. Pois, se há 20 anos atrás eu era duro com o pobre por não superar a sua condição, cuja realidade eu desconhecia, agora entendo bem o que é condicionamento. E que muitas das vezes essa superação da pobreza é conquistada por meio de escolhas ruins tipo o relativo abandono da família, a privação do lazer, os prejuízos para a saúde como você mesmo coloca mais adiante no texto, o desprezo pela juventude, a alienação do pensamento, etc.


"Não me façam elogios, para que o orgulho não me domine. Não deixem de me abraçar, para que a frieza não tome o lugar do calor humano."

Taí algo que o ser humano tem dificuldades para lidar. Eu mesmo sempre me senti desconfortável com os elogios. Quando criança, sofria assim que quebrava a cara e era depois reprendido pelos erros que cometeria. Ou seja, os elogios acabam sendo percebidos por mim como irreais e incapazes de retratar quem realmente eu era com todas as ambiguidades que tenho. Com o meu duplo potencial para acertar e errar.

Mas no fundo ansiamos por um reconhecimento que produza o afeto. As verdadeiras palavras e atitudes que desejamos receber seriam justamente esse afago, a nossa aceitação incondicional independentemente de acertarmos o alvo.
"Não me falem sempre a verdade, porque algumas mentiras nos mantêm amigos.""

Embora eu considere que a falsidade seja algo muito pior, entendo que, se soubéssemos toda a verdade sobre a outra pessoa possa criar um afastamento. Mas, se passo a aceitar melhor o outro com os seus defeitos, para que continuar enganado? Mais cedo ou tarde certas coisas virão à tona e aí prefiro estar preparado para lidar com elas. Não é meu desejo nutrir amizades imaturas e frágeis.


"Não me mostrem tudo, para que eu não perca a vontade de descobrir coisas novas.

Acho que como ninguém tem o poder de mostrar tudo, jamais perderemos essa curiosidade pelo saber. Mas entendo a razão de sua pedagogia. Cabe ao bom professor ou educador saber utilizar essa ferramenta.


"Não me tirem a insônia, porque dormindo eu não vejo a vida passar.

Bem, eu aprecio a divisão do tempo que certo filósofo teria feito em que, nas vinte e quatro horas do dia, você ocuparia oito com o sono, oito com o trabalho e oito com o lazer. Infelizmente, não vivo isso, mas considero uma ideia equilibrada e aí não podemos ignorar o papel do sono e os benefícios que ele proporciona para a mente e o corpo já que não somos de ferro.

Acredito, Edson, que você tenha grande sede por saber e que, se possível fosse, como o mítico Moisés fez no Sinai, seria capaz de jejuar 40 dias e 40 noites para nutrir sua alma na montanha do conhecimento já que nem só de pão vive o homem. Só que a limitação trazida pela nossa necessidade de sono vem nos despertar a consciência para que ao menos um pé esteja pisando a realidade terrena. E talvez a operação da mente quando dormimos, inclusive trazendo sonhos, pode servir de grande utilidade. Daí sugiro estudarmos um pouco do que ocorre com o cérebro humano nessas horas.


"Não afastem a morte de mim, porque é iminência de sua chegada que me deixa com sede de viver mais um dia."

Concordo. Por acaso não é a velhice que nos leva a tomar decisões mais sábias e a valorizar melhor o pouco que nos resta Pois é como aquela criança que, ao ganhar a sua caixa de bombom, vai enfiando todos os doces no estômago até que, quando restam somente alguns, prefere ir preservando-os. Assim também, quanto mais conscientes da finitude dessa nossa série existencial (desconhecemos a existência de outras anteriores ou posteriores), podemos significar melhor os nossos momentos de vida aqui na Terra.

Outra visão sobre a morte é que morrer é o que ajuda a equilibrar o planeta permitindo que futuras gerações ocupem o espaço que hoje possuímos trazendo assim uma renovação ao mundo ainda que com avanços e recuos já que nem sempre aqueles que virão depois serão necessariamente melhores.

Todavia, para quem acredita em vida após à morte, nem sempre desenvolve a consciência da finitude e do aproveitar melhor os seus dias. E, nestas horas, fico feliz pelo fato dos antigos padres e rabinos terem conservado no cânon bíblico o livro de Eclesiastes e aquele salmo atribuído a Moisés. Pois, como disse aquele grandioso profeta, seria contando os nossos dias que alcançamos um coração sábio.
"Não furtem meus livros, porque às vezes eles são meus únicos companheiros."

Cara, num mundo onde as pessoas estão cada vez lendo menos, dando preferência às redes sociais na internet e agora usando a oralidade no tal do WhatsApp, numa nova era do rádio, você seria um privilegiado por ter aprendido o gosto pela leitura. Sem dúvida que o livro é o que muito bem nos ajuda a ficarmos sozinhos! E, caso ocorra um apagão elétrico, só nos restará mesmo ler livros e conviver com quem está perto.


"Não se esqueçam de mim, para que, uma vez morto, eu não deixe de existir"

Aí você escreveu algo que vai demandar muitas interpretações e ainda bem que eu o tenho hoje vivo para poder me explicar o que pretendeu com a oração acima.

Quando você fala em deixar de existir estaria dizendo que, se for esquecido hoje, as pessoas, por algum sentimento de culpa ou de remorso, iriam ficar se lembrando de sua pessoa posteriormente?

Mas pode ser que tenha ficado ambíguo pois, em relação a pensamentos semelhantes a este, eu entendo que o ser humano, devido ao seu desejo de eternizar-se, busca uma sobrevida aqui. Ou seja, é um sonho de muita gente ter a sua biografia contada e recontada, seja por seus descendentes e, em alguns casos, até por historiadores. Até quem acredita em vida após a morte, no céu ou reencarnação, bem como na destruição do mundo, quer que seu nome seja ainda lembrado por mais um tempo.

Na História, vejo que alguns conseguiram isso por anos, outros por décadas e uns poucos por séculos e milênios. Temos até figuras míticas cuja existência histórica seja suspeita, que até hoje são cultuados na religião e na filosofia. Por exemplo, não há provas de que Moisés, Sócrates e Jesus existiram. Ou se suas existências foram tal como seus discípulos e redatores os expuseram. Porém, de algum modo eles atravessaram gerações porque se mitificaram.

Vejo aí, meu brother, o quanto a narrativa se torna tão importante quanto os ditos de sabedoria até porque nossos atos também são palavras. E então bem que o Mestre falou que suas palavras não passariam sendo que, até numa sociedade pós-cristã, fica complicado apagarem o seu ensino na sociedade ocidental.


"Não me amem demais, para que a insegurança não atormente tua alma. Não me amem de menos, para que eu não me sinta tão rejeitado."

Eis aí outra parte de seu texto que me trouxe dúvidas. Será que escreveu mesmo corretamente ao colocar "tua alma" ao invés de minha? Pois vejo sentido nas duas situações.

Se amo demais alguém, posso mesmo acabar me sentindo inseguro devido ao apego de dependência em relação a essa pessoa. E, se recebo afeto em excesso, não poderia me sentir inseguro quando vivo depois uma situação de carência emocional? Afinal, haverá momentos em que seremos amados de menos, não é? Nestas horas, a criança que teve uma boa educação emocional, tem chances maiores de conseguir se tornar um adulto maduro no campo das emoções
Não tirem meus filhos, porque eu os amo muitíssimo. Não se apeguem demais às pessoas, para que quando elas se forem, você também não se vá.

Acho que devemos amar intensamente mas concordo que o apego em excesso a alguém pode se tornar até algo doentio capaz de nos fazer mal e também à outra pessoa. Devemos reconhecer que cada qual tem um curso próprio a ser seguido. Inclusive nossos filhos que, excepcionalmente, podem partir antes de nós. E podem partir também para cursar uma faculdade, para trabalhar num emprego promissor, para formar uma família com alguém e para fazerem suas vidas longe de nós. Então é nessas horas que o casal precisa aprender a lidar com a chamada síndrome do ninho vazio. Do contrário acabamos nos tornando infelizes e assediando as vontades do outro prejudicando o desenvolvimento de alguém.

Mas nós também temos cônjuge, pais, amigos e outras pessoas que são da nossa geração ou das anteriores. A elas vamos também nos apegar. E, no que se refere ao cônjuge, aí a relação muda bastante porque se trata de uma companhia existencial muito importante e, sinceramente, já aprendi a aceitar o fato de que, quando um vai o outro viúvo também segue o mesmo caminho em tão pouco tempo. Tal pessoa não se mata, mas ele ou ela se deprime de uma tal maneira que há uma perda de sentido a ponto de não mais interessar viver. Então, quando geralmente se trata de alguém já bem idoso experimentando a viuvez, é natural partir dias ou meses após o falecimento do companheiro.

Porém, sendo a pessoa ainda jovem, deve-se buscar seguir o curso existencial da vida, contrair novas núpcias, educar os filhos menores, permanecer trabalhando, ter sonhos para o futuro, etc. Passado o luto, a vida continua e não podemos nos furtar a ela.


Não me deixem envelhecer além do necessário, para que eu não me sinta um total inútil. Não me mantenha vivo, se acaso tornar-me um peso em suas vidas.

Olha, eu tenho o desejo de passar dos cem anos e gostaria muito de chegar ao século XXII. Quero depois dos oitenta ainda escrever muitos textos, debater política, contribuir com ideias para melhorar a sociedade, ver as novidades da ciência, ajudar pessoas, etc Se, por acaso sofrer alguma limitação, quero poder ainda passar a minha mensagem ao mundo a exemplo do Stephen Hawking.

Claro que, se eu chego aos 120, já não terei mais ninguém que seja contemporâneo. Terei que me acostumar a uma provável viuvez sem filhos ou casar com outra mulher bem mais nova talvez tendo que tomar caixas de viagra (rsrsrs). Seria já um ET numa sociedade que dificilmente pararia para me ouvir, mas quem sabe não teria a oportunidade de expiar os pecados da minha geração e dos meus pais caso ocupe no final da terceira idade (ou quarta idade) o espaço de liderança como fez Moisés. Afinal, desejo inaugurar um novo mundo bem diferente dessa porcaria de sociedade que temos hoje no Brasil.

Todavia, respeito o direito de alguém não querer viver mais. Por mais que seja contra a eutanásia, devido aos meus valores éticos pessoais, não desejo impor a ninguém o meu modo de pensar ou de encarar a vida. Logo, se uma pessoa entra num estado vegetativo e, conscientemente resolve morrer ou não ser colocada em aparelhos que prolonguem a vida, é um direito dela que precisamos respeitar.

Pode ser que, no futuro, a expectativa de vida seja aumentada pelas melhorias na saúde e condições de vida, bem como acho bem provável conseguirmos um dia transferir a consciência para outros corpos clonados ou ainda para uma máquina. Só que ainda assim deverá ser um direito da pessoa morrer no seu corpo físico atual ou não.
"Não se enganem comigo, pois posso não ser a pessoa que imaginam que eu seja. Não se entristeçam se um dia descobrirem que os enganei, porque eu só quis fazer o bem, escolhendo uma mentira que salva a uma verdade que destrói.

Acho que todos nós, por mais sinceros que tentemos ser, acabamos nos mascarando em parte para sermos aceitos. Seja pela sociedade ou até pelas pessoas mais íntimas. E há momentos em que, como naquela passagem bíblica que fala de Raabe, em que a mentira realmente salva pois evitou que os espias israelitas fossem mortos pelos homens do rei de Jericó. Mas ainda assim, estamos tratando de uma exceção e que devemos sempre ponderar muito porque é antiético esconder coisas das pessoas.


"Não pensem que não percebo quando estou sendo enganado, pois sei que algumas verdades são tão preciosas que devem ser escondidas até com as maiores mentiras."

Confesso que detesto ser enganado. Gosto de quem seja transparente comigo. Mas o que colocou é bom para que possamos ser mais compreensivos quando alguém, por um justo motivo, escondeu algo de nós. Pensemos, por exemplo, numa criança que foi adotada e os pais encobriram dela sua origem para protegê-la de uma eventual decepção com o encontro com seus genitores. Lembro de uma menina na igreja que me congreguei lá em Nova Friburgo em que ela, ao se encontrar com a mãe biológica, não encontrou o afeto e a aceitação que desejava, tendo dado depois muito mais valor à mãe adotiva.
"Odeiem-me, e depois de me conhecer melhor, talvez me amem. É melhor do que me amarem, e ao saber como sou verdadeiramente, me odeiem. Porque sabemos quão maravilhosas são as pessoas que não conhecemos intimamente."

Eu concordo. Apesar daquele ditado popular nos dizer que a primeira impressão é a que fica, compreendo que, quando o amor é desenvolvido através de uma redescoberta da pessoa amada, cria-se uma relação mais sólida e duradora. E eu acrescentaria que o bom relacionamento se cria nas situações adversas pois é nessas horas que conhecemos quem são os nossos verdadeiros amigos.


"Não se encantem com meu jeito engraçado, pois por traz deste rosto alegre, pode existir um coração triste, uma mente confusa e um ser miserável e mau."

Realmente essa é uma dificuldade que muitos têm em compreender uma pessoa talentosa, carismática e comunicativa. Isso lembra um pouco a história de Jesus que teve seus momentos adversos e, nessas horas, foi abandonado. Não só na cruz pelos seus discípulos, mas também na agonia do Getsêmani quando os três amigos mais íntimos dormiram (segundo Augusto Cury aquele sono representaria uma fuga dos seguidores de Cristo).

Mas interpreto o que colocou como sendo a exteriorização da alegria como uma possível máscara ou fuga, bem como algo que não é uma constante. Aliás, somos seres ambíguos e poucos querem reconhecer tais oscilações de modo que, imaturamente, acabamos procurando no outro apenas uma parcela de sua personalidade sem aceitar a integralidade de alguém.
"Não gastem sua saúde buscando dinheiro demais, pois lá na frente, olhará para trás e verá que nada fez, e que é um velho, doente e solitário. Então gastará a fortuna acumulada em busca de saúde, amigos e paz. Mas não encontrará. Sentará e rirá de suas próprias tolices."

Como disse o autor de Eclesiastes, tudo é vaidade. Acumular bens e riquezas até uma certa quantidade, sem que venhamos a nos privar excessivamente das coisas boas no caminhar do cotidiano, significa ser previdente. E, de fato, precisamos ter esse equilíbrio porque, se você se torna um velho pobre num país como o Brasil, pode acabar amargando os piores dias tendo que receber uma parca aposentadoria, depender da assistência do governo e de parentes, sofrer com o mau atendimento do SUS, não conseguir embarcar no ônibus porque o motorista recebe instruções da empresa para não transportar muitos usuários da gratuidade, etc.

Só que ninguém sabe se vai mesmo ficar velho. O ideal é que todos cheguem lá e bem. Não concorda? E aí surge a necessidade de também sermos politicamente previdentes a fim de que, daqui uns trinta e poucos anos, quando ficarmos velhinhos, recebamos uma atenção digna e aquilo que é nosso por direito.

Sinceramente, hoje reconheço que o dinheiro, embora não seja tudo na vida, ele é muito importante nesse mundo injusto e desigual. Não podemos virar escravos dele, mas é fundamental que, principalmente as pessoas de boa consciência e capazes de contribuir para a melhoria da sociedade, sejam previdentes para que tenham sempre mais do que o suficiente para si e seus projetos coletivos.

Mas qual a verdadeira gratificação da vida? Será que, em algum momento, lá na frente, iremos olhar para trás e nos darmos por satisfeitos?

Aí, Edson, vejo o quanto o livro de Eclesiastes é rico. Se você o ler dialogando com o autor, fora da ótica religiosa (até para os religiosos ele desconstrói muitos valores), certamente adquire um bom aprendizado. E, na minha visão, muitas conclusões e afirmações ali parecem corretas. E pense que, se tudo quanto empreendermos nessa vida vai virar cinzas um dia, caindo no esquecimento e ser desprezado pelos que nos sucederem, ao menos teremos vivido melhor. Então nada melhor do que aproveitarmos o dia que se chama hoje.

"Que proveito tem um homem de todo o esforço e de toda a ansiedade com que trabalha debaixo do sol?
Durante toda a sua vida, seu trabalho não passa de dor e tristeza; mesmo à noite a sua mente não descansa. Isso também é absurdo.
Para o homem não existe nada melhor do que comer, beber e encontrar prazer em seu trabalho. E vi que isso também vem da mão de Deus."
(Ec 2:22-24; NVI)

Enfim, é preciso que tenhamos aqui a nossa porção e saibamos calcular a sua adequada dimensão para que não percamos tempo acumulando em demasia e nem haja falta lá na frente.
"Não viva pensando no futuro, vivendo uma época que ainda não existe, pois certamente, ao chegar lá, começará a saborear apenas os sonhos do passado, então entenderá que deveria ter aproveitado mais o presente, amado quem estava ao seu lado e experimentado os prazeres da juventude."

Realmente é frustrante quando se pula uma fase da vida da gente, alienando-se do momento, em busca de um projeto de futuro ou por desconectarmos do presente. Porém, mesmo pra quem cometeu tal "pecado" (rsrsrs), da para tentar ressignificar o presente.

Sinceramente, sem querer descordar do que colocou, tenho dúvidas se podemos realmente falar em uma existência amputada, no sentido de alguém ter perdido uma fase preciosa de sua vida. Talvez isso seja mais uma questão social porque temos no mundo diferentes culturas e valores nos diversos lugares e épocas. Logo, o fato de você ter se privado de algo que é comum à sociedade na qual vive, pode não ter lá tanto significado para si.

Veja só, amigo. Eu e você somos dois malucões perto da maioria. Passamos horas do nosso dia filosofando sobre inúmeros assuntos e com o pensamento em coisas distintas. Tenho aqui uma praia bem pertinho de mim, mas prefiro passar esse momento troando ideias pela internet. Poderia também estar focado no profissional, estudando para algum concurso ou fazendo um exercício físico, mas tô interessado agora em oxigenar minha alma fazendo uma espécie de partilhar contigo e outros que se apresentem aqui para debater. Talvez eu faça isso sonhando com um futuro utópico que nem sei se acontecerá, bem como corro o risco de ver minhas palavras indo para o esquecimento e não germinar em nenhum coração sábio (se é que aos olhos de muitos não estou a escrever tolices). Porém, é o que me motiva agora nesse instante. Uma maneira talvez bizarra de encontrar satisfação...

Será a melhor escolha? Quanto tempo de internet semeei desde os anos 90 nas listas de e-mail, fóruns, bate papos virtuais, nos blogues, redes sociais (Orkut e Facebook) e agora nesse tal do WhatsApp? Até no relacionamento com minha esposa, aproveitei menos embora em outros momentos eu tenha conseguido deixá-la sossegada sem sugar tanto de sua atenção.

Enfim, não acho que conseguimos fazer escolhas certas o tempo inteiro. Todos erramos e iremos chegar na terceira ou quarta idade considerando os caminhos e descaminhos, cientes de que todas as coisas feitas aqui materialmente serão mesmo anuladas, exceto os benefícios feitos aos outros quando se espera uma sobrevida da consciência fora do corpo. Muitas emoções vividas em nossos últimos momentos estarão na lembrança somente e já não poderemos tomar banho pela segunda vez no mesmo rio.

Enfim, volto ao que considerei. Creio que o melhor é aproveitar tudo com equilíbrio e quem dera poder eu voltar aos meus vinte anos com a experiência de hoje sem tantos compromissos para poder definir logo a minha vida profissional e estar agora bem e a meio caminho de uma boa aposentadoria? Só que nunca sabemos o que nos reserva la na frente. Mesmo se pudermos entrar num universo paralelo porque, se volto no tempo e tomo outro curso, posso também morrer no dia posterior sofrendo um acidente num lugar que evitei passar. E sem esquecer que ainda poderia cometer os mesmos equívocos. Logo, prefiro nem olhar para trás e ver o que ainda posso fazer de melhor para o presente e o futuro.
"E para terminar este testamento, feito numa época em que minhas saúde mental ainda não havia me abandonado, digo: Não sintam-se culpados por coisa alguma, porque todas essas escolhas foram minhas...não suas."

kkkkkkkkk

Edson, você é mesmo uma comédia!

Somos todos doidos, meu querido. E não temos que nos sentir culpados por nada. Aliás, a ideia da graça me faz refletir bem sobre isso para buscar compreender o outro e a mim, muito embora a vida nos chame para encarar a responsabilidade pelos atos escolhidos.

Então, indo agora ao título de seu excelente artigo (não me arrependo de tê-lo incentivado a compartilhar aqui tais palavras, até para eu poder debater com maior visibilidade que no texto de 2012 em seu blogue), acho muito importante o ser humano refletir sobre o que ele que ele decide fazer. Pois realmente o tempo um dia vai cobrar e muitas infelicidades colhidas hoje tiveram suas razões no passado.

De qualquer modo, ao pregar o Evangelho da Graça, incentivo meus leitores a não se frustrarem com nada e digo que, se vivermos num ambiente social de mais compreensão e aceitação, poderemos lidar melhor com os insucessos. Por isso, acredito numa eterna ressignificação dos valores cristãos pois é o que eterniza (e terniza) o ensino do Cristo que sempre esteve e estará conosco sendo o personagem Jesus uma transitória figura dos evangelistas para melhor transmitir elevados valores éticos.

E que o Verbo se faça carne por meio de nós!

Ótimo final de semana, amigo!


PS: Sobre o WhatsApp, devo ficar ausente no final de semana porque os créditos acabaram no celular e não tenho em casa essa coisa de wi fi. Pretendo tirar o tempo pra ficar com a família, ler meu livro do Lira Neto sobre o Getúlio Vargas, dar sequência ao estudo bíblico de Levítico, ir num evento político de um candidato a vereador de minha cidade e, se o tempo ajudar, fazer um bico lá na praia porque a coisa tá feia.