Sistema desacreditado




"Um espaço de corrupção generalizada." Essas foram as palavras ditas hoje (31/03) pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso durante um encontro com estudantes bolsistas da Fundação Lemann ao se referir ao sistema político brasileiro, o qual, segundo ele, é centralizado no dinheiro e dependente de financiamento.

Segundo uma matéria publicada no portal do G1 (clique AQUI para ler na íntegra), Barroso teria criticado o PMDB como uma "alternativa de poder" e chegou a exclamar nestes termos: "Meu Deus do céu!"

A princípio, o ministro não sabia que a sua fala estivesse sendo gravada e procurou emendar-se sobre o que havia comentado a respeito da nossa política. É o que mostra este trecho da matéria:

"A audiência foi filmada e transmitida no sistema interno do STF. Antes dos comentários, o ministro frisou que estava falando em um 'ambiente acadêmico' e depois perguntou se sua fala estava sendo gravada. Ao saber que sim, se queixou com auxiliares e pediu para 'desgravar'. Barroso iniciou o comentário afirmando que a política 'morreu', mas se corrigiu noutro momento, antes, porém, de pedir para desgravar. 'Talvez eu tenha exagerado. Mas ela está gravemente enferma', disse."

Sinceramente, se ele exagerou pode ter sido apenas quanto à política em seu sentido amplo pois o nosso atual sistema, além de morto, virou um cadáver fétido, cheio de vermes e capaz de contaminar quem nele tocar. Pois, da maneira como os candidatos ascendem ao poder, qualquer um que vence uma eleição já se encontram comprometido pelo uso de dinheiro sujo em seu caixa dois de campanha. E da onde vem os recursos senão dos esquemas praticados nos órgãos públicos?!

Verdade é que não dá mais para taparmos o sol com a peneira. Mesmo que caiam Dilma, Temer, Cunha e Renan, vamos ter que pensar numa reforma política lá na frente. E o pior é que fica difícil contarmos com os atuais legisladores porque foram eleitos dentro dessa dependência do dinheiro, comprando e vendendo apoio.

Apesar de todo sentimento pessimista que essas constatações me trazem, tenho ainda uma dose de esperança quanto às alternativas que podemos buscar. E aí considero fundamental que a sociedade mantenha o seu apoio ao projeto de lei de iniciativa popular entregue esta semana ao Congresso pelo Ministério Público Federal com mais de dois milhões de assinaturas recolhidas em todo o país. Trata-se de um pacote de dez medidas contra a corrupção propostas pelo órgão, o qual, obviamente, dependerá da aprovação dos nossos parlamentares (leia AQUI a matéria correspondente no G1).

Tal como foi na aprovação de leis da "ficha limpa" e da "delação premiada", em que os políticos precisaram cortar na própria carne para não ficarem mal na fita com o eleitor, entendo que as mudanças desejadas dependerão de um longo processo visto que nenhuma inovação acontecerá de uma hora para outra. Havendo pressão popular, melhor. Porém, toda essa marcha vai requerer de todos paciência, acompanhamento e mais ainda consciência na hora do voto.


OBS: A foto acima do ministro Luís Roberto Barroso foi extraída de umas das páginas da EBC sendo os créditos autorais atribuídos a Antonio Cruz da Agência Brasil, conforme consta em http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2013/06/luis-roberto-barroso-e-nomeado-relator-de-76-mil-processos-no-stf

Comentários

"o nosso atual sistema, além de morto, virou um cadáver fétido, cheio de vermes e capaz de contaminar quem nele tocar." #PALMAS é assim mesmo que é!
Acredito que o Brasil PRECISA de uma reforma politica para resolver essa situação vergonhosa na nossa política, porém infelizmente toda essa comoção está afastando cada dia mais a resolução disso...
Me sinto as vezes sendo tratada como joão bobo, ora vendo a manipulação da direita, ora vendo a manipulação da esquerda... Mas o problema mesmo, não está sendo tratado...
Este comentário foi removido pelo autor.
Olá, Anita.

Primeiramente obrigado por sua leitura e comentários.

Uma pena que as propostas sobre reforma política ainda não estejam ao alcance da compreensão da maioria. Se alguém fala em Parlamentarismo e defende um recall na nossa democracia é como se tivesse rezando em latim, hebraico ou em sânscrito.

Em março do ano passado, o sociólogo, escritor e ex-Presidente da República Fernando Henrique Cardoso teria dado o seu diagnóstico da política brasileira, segundo informado pelo Valor Econômico:

"Não adianta nada tirar a presidente (...) Se exauriu o modelo de presidencialismo de coalizão, que na verdade é um presidencialismo de cooptação. O sistema político está esgotado" (acesso feito em http://www.valor.com.br/politica/3944178/nao-adianta-nada-tirar-presidente-diz-fhc-sobre-impeachment )

Embora eu seja defensor de novas eleições e até votaria pelo impeachment, se estivesse exercendo um mandato na Câmara, reconheço a necessidade de irmos na raiz do problema. Tanto PT como PMDB estão tentando comprar apoio oferecendo cargos respectivamente no atual e num eventual governo futuro de Temer.

Seja com quem estiver no comando do país, há que se promover um amplo debate nacional para que, através de consulta popular, possamos mudar o nossos sistema político dando uma maior participação ao cidadão. Algo que não pode ficar para depois quando os ânimos se acalmarem.