O nada que funciona



Efeito placebo. Segundo o médico e farmacologista Julio Rocha, "placebo é qualquer tratamento que não tem ação específica nos sintomas ou doenças, mas que, de qualquer forma, pode causar um efeito no doente". Existem estudos que demonstram que pelo menos um terço do total de pacientes  tratados com substâncias inertes apresentam alguma melhora clínica.

Um recente estudo em Havard, foi testado a eficácia do placebo em vários distúrbios como dor, hipertensão e asma. O resultado confirmou: de 30 a 40% dos doentes obtiveram alívio pelo uso de drogas falsas. Há casos de melhora até em falsa cirurgia! O cardiologista Protásio Lemos da Luz, do Incor, lembra de exemplos que viraram clássicos na medicina:  pacientes com angina (dor no peito pelo estreitamento das artérias) que seriam  operados para a colocação de pontes coronárias, mas que estavam em tão mau estado que não dava para operar, ao observarem o corte no peito e saber que passaram por uma cirurgia...melhoraram da angina!

Curas praticamente inexplicáveis abundam na literatura médica. Num outro estudo, pesquisadores eliminaram verrugas apenas pintando-as com uma tinta colorida e inerte, e dizendo aos voluntários que elas desapareceriam quando a cor se desgastasse. Numa outra pesquisa, conseguiu-se a dilatação das vias aéreas de asmáticos simplesmente dizendo  eles que estavam inalando um  broncodilatador, que de fato não estavam. Em outros levantamentos, constatou-se que 52% dos pacientes com colite tratadas com placebos, em 11 diferentes estudos, relataram sentir-se melhor, e 50% dos intestinos inflamados realmente apresentaram melhoras.

Então o caso é o seguinte: quando alguém toma uma substância inerte, pensando que está consumindo um remédio, tem uma melhora real. Curiosamente, num outro estudo em Havard, um novo aspecto ampliou o mistério dos placebos. 80 pacientes com síndrome do intestino irritável; para a metade foi ministrada pílulas de açúcar e disseram a eles que era isso mesmo, apenas um comprimido sem princípio ativo nenhum. A outra metade não recebeu nenhum tratamento.

A surpresa foi que 56% dos pacientes tratados com o placebo, mesmo sabendo que tomaram placebo, relataram alívio nos sintomas. No outro grupo de controle que não tomou droga nenhuma, 35% relataram melhoras. Os pesquisadores verificaram também que os pacientes que tomaram placebo sabendo disso ainda duplicaram as taxas de melhora, em um grau mais ou menos equivalente ao que se esperaria caso houvessem sido tratados com os remédios mais poderosos contra a síndrome existente no mercado.

A pergunta óbvia que surge é: por que isso acontece? Ninguém sabe direito. O pesquisador português Brissos Limo, doutor em psicologia sugere algumas explicações. A principal: o que acontece é a natureza seguindo seu curso. Muitas vezes uma pessoa doente se cura apenas com o passar do tempo, mesmo não fazendo nada e não tomando nenhum medicamento. Nesse caso, o efeito não seria do placebo e sim, da própria natureza. Outra explicação é de que o placebo pode reduzir a ansiedade do indivíduo doente que recebe o tratamento, reduzindo-lhe o estresse e gerando efeitos fisiológicos que contribuem para a sua recuperação.

Mas para o cardiologista Luz do Incor, a explicação maior está no cérebro, que coordena vários sistemas adaptativos e de defesa do se humano. Existem mecanismo de atuação do próprio cérebro que são estimulados pelo consumo de uma determinada pílula com princípio ativo. Embora usando um placebo, a pessoa não sabendo disso, recebe a mensagem cerebral como se ela estivesse de fato tomando um remédio. Mas deve-se lembrar do experimento com pessoas que sabiam estarem tomando placebo.

De qualquer forma, o cardiologista alerta que não se deve apostar todas as fichas no placebo pois existem diferentes graus de agressão ao organismo. Um  intestino irritável é uma coisa, uma infecção bacteriana ou um câncer, é outra. 

Concluindo, deixo aqui a minha opinião de leigo em medicina. Creio que a cura para todas as doenças que existem estão na natureza e na mente humana. Para mim o efeito placebo demonstra isso de forma clara. Quem sabe um dia estaremos tão evoluído em nosso autoconhecimento que aprenderemos a nos curar de todos os males; nesse tempo,  os laboratórios multinacionais que lucram bilhões com as doenças, estarão todos falidos.


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Todas as pesquisas citadas
foram tiradas da edição 8, ano 2,
da revista Quanta: ciências da natureza
e suas tecnologias.

Comentários

Existe efeito placebo maior que a fé? Só não cura amputado.
Levi B. Santos disse…
Como médico, trabalhando em Serviços de Urgências, já vi casos de crise asmática brônquica ser debelada com ampola de água destilada aplicada via endovenosa. A ampola de água destilada ou de glicose é muito parecida com a ampola de aminofilina (substância que debela a crise em alguns minutos). O doente em crise, acredita estar recebendo por via endovenosa a aminofilina. (rsrs)

Há muitos estudos que evidenciam que o stress tanto desencadeia quanto altera a resposta inflamatória aos alergéneos. É o caso da pessoa em crise de asma brônquica (de fundo alérgico) com o estado psicológico alterado pela falta de ar.

O placebo também é usado com relativo sucesso em doenças psicossomáticas.
Levi B. Santos disse…
Mirandinha é fogo: “Fé curar amputado” (rsrs)


Por falar em amputado, Miranda.

Quem sofreu, por exemplo, a amputação de um de seus membros inferiores, fica sentindo a dor fantasma por muito tempo. O amputado sente a dor à distância, como se estivesse com o membro ainda presente.


Vide Link:

http://www.hospitalsiriolibanes.org.br/hospital/especialidades/nucleo-avancado-dor-disturbios-movimentos/Paginas/dor-amputado.aspx
Eduardo Medeiros disse…
Levi, sua vivência de médico corrobora a realidade do efeito placebo.
Mas segundo o texto, ninguém ainda sabe exatamente por quê o efeito placebo acontece. Mas tudo deve acontecer de alguma forma no cérebro. A consciência e o pensamento podem "criar realidades" - se essa afirmação é correta de alguma forma, o nosso cérebro poderia sob certas circunstâncias produzir a realidade de cura (ou também de doença, diga-se).

O caso dos "membros fantasmas" é intrigante e até confirma, creio, a capacidade do cérebro de criar realidades como uma dor real num membro que não existe mais fisicamente! E não é exatamente essa capacidade cerebral que faz com que membros robóticos implantados possam ser movimentados?

Tudo isso é "felomenal" como dizia Giovane Improtta. rsss
Eduardo Medeiros disse…
Mirandinha tocou num assunto também interessante: a fé.
Nem todo testemunho de curas "milagrosas" em programas evangélicos é armação ou teatro. Quando alguém toma um placebo não é exatamente a fé que entra na questão? A pessoa crê que está tomando um remédio (mesmo não sendo) e se cura pois esperava e tinha fé de que o remédio o curaria. Quem o curou? não foi o placebo, foi a fé nele.

a questão da fé religiosa é outro assunto de interesse atual em experimentos científicos. Os resultados ainda não são conclusivos, mas muitos sugerem que o fato da pessoa crê traz mudanças na química corporal.
Eduardo Medeiros disse…
Levi, quanto à perda do efeito placebo quando se sabe que se está tomando placebo que você deixou lá no Face, essa informação do texto desmente essa afirmativa:

" Curiosamente, num outro estudo em Havard, um novo aspecto ampliou o mistério dos placebos. 80 pacientes com síndrome do intestino irritável; para a metade foi ministrada pílulas de açúcar e disseram a eles que era isso mesmo, apenas um comprimido sem princípio ativo nenhum. A outra metade não recebeu nenhum tratamento.
A surpresa foi que 56% dos pacientes tratados com o placebo, mesmo sabendo que tomaram placebo, relataram alívio nos sintomas."
Levi B. Santos disse…
E por falar em placebo, Eduardo (rsrs):

Você está lembrado do famoso caso das “pílulas de farinha” - resultado da fabricação do anticoncepcional Microvlar do Laboratório Schering que uma máquina mal elaborou – 600 mil comprimidos que chegaram sem os hormônios em sua fórmula no mercado?

Resultado: dezenas de mulheres que estavam usando os comprimidos “de farinha” engravidaram indesejadamente.

A empresa alegou que o placebo era material de teste, que deveria ter sido incinerado. A Schering foi obrigada pela Justiça de São Paulo a pagar uma alta indenização às pacientes.
Levi B. Santos disse…
Mas no caso do intestino irritável, o estado psicológico influi muito na recuperação do doente, Eduardo.

Uma pessoa de minha família portadora dessa patologia, foi convocada para assumir um bom emprego na Justiça, de um concurso feito quase dois anos atrás. Com 27 anos de idade, estava muito desnutrido, pesando cerca de 42 quilos. Tinha 30 dias para assumir a sua função, e para isso teria que ter no mínimo 56 quilos. Não é que este meu parente com força de vontade (ou fé, sei lá?) conseguiu ganhar 600 à 700 gramas de peso por dia. Quando se apresentou no trabalho, estava pesando 59 quilos e bem melhor do seu quadro de má absorção intestinal. Deste caso, sou testemunha ocular.
Eduardo Medeiros disse…
Levi, no caso do Microvlar só ficamos sabendo das mulheres que engravidaram, mas quantas tomaram e não engravidaram?? rsss o percentual do placebo varia entre 30 e 50%, segundo os estudos.
Mas sem dúvida, o estado psicológica influi muito na nossa saúde.