Por Que o Brasil Continuará Sendo um País Corrupto



●Porque já as eleições dos “nossos” representantes são realizadas de modo a institucionalizar o crime, pois os grupos econômicos, ao patrocinarem a eleição de Presidente, Governadores, Prefeitos etc., assim o fazem, como é natural, sob a condição de obterem financiamentos graciosos, participarem de licitações premiadas, privatizarem o espaço público, multiplicando lucros;

●Porque num tal contexto, a política passa a constituir extraordinário atrativo para criminosos profissionais, em geral burocratas medíocres, desqualificados moral e tecnicamente, sem perspectiva fora da política;

●Porque certos partidos políticos passam a funcionar, assim, como autênticas quadrilhas, cujos membros seguem a lógica do quem dá mais, por isso que trocam de legenda constantemente, impunemente;

●Porque o sistema representativo é um engodo que conta com a participação do próprio eleitor, que não raro exige, em troca do voto, algum proveito, de modo que o voto constitui, por isso, apenas um expediente para legitimar e perpetuar o crime, afinal os eleitos não representam o eleitorado, mas os seus próprios interesses e os interesses dos grupos econômicos que os patrocinam;

●Porque, apesar das fraudes, insistimos em perpetuar determinados criminosos no poder, e a tudo assistimos passivamente;

●Porque a Polícia, que deveria, junto ao Ministério Público, formar instituição única, está subordinada ao Poder Executivo, de sorte que são prováveis investigados (Governadores, Prefeitos etc.) que em última análise comandam as investigações;

●Porque criminosos políticos estão protegidos por um sem número de privilégios (foro privilegiado, imunidades parlamentares etc.) que os tornam grandemente imunes às investigações;

●Porque a corrupção política traduz a nossa própria hipocrisia, a nossa indiferença, a nossa tendência ao jeitinho; afinal, corrupção é de algum modo interação/acordo entre corruptor e corrompido, entre eleitor e eleito;

●Porque somos obrigados a votar, quando votar é um direito e não um dever, pois o eleitor tem, há de ter, a liberdade de votar em quem quiser, quando e se quiser, consciente e livremente;

●Porque a democracia, essa desgastada metáfora, é uma palavra que remete a múltiplas relações de poder que nada têm de democráticas, relações freqüentemente de violência e tirania e permanentemente em mutação (Michel Foucault);

●Porque punir criminosos, embora necessário, não é o mais importante; o mais importante consiste em identificar as estruturas de poder que possibilitam o crime e mudá-las radicalmente, pois problemas estruturais demandam intervenções também estruturais e não apenas intervenções sobre indivíduos;

●Porque insistimos em preservar instituições absolutamente desnecessárias: Senado Federal, Câmara Distrital etc;

●Porque, em vez de enfrentar os problemas em suas causas, em suas raízes, tentamos combatê-las em suas conseqüências, tardia, burocrática e simbolicamente; e isso equivale a não combatê-las;

●Porque temos um Estado excessivamente burocrático, que tudo pretende resolver por meio de leis, demagogicamente;

●Porque multiplicar leis não significa evitar novos crimes, mas multiplicar novas violações à lei (Beccaria); e as leis desnecessárias enfraquecem as leis necessárias (Montesquieu);

●Porque mais leis, mais juizes/tribunais, mais conselhos, mais prisões etc, pode significar mais presos, mas não necessariamente menos delitos (Jeffery);

●Porque o povo brasileiro acredita ser livre, mas está enganado: é livre apenas durante as eleições dos membros do Executivo e do Parlamento, pois, eleitos os seus membros, ele volta à escravidão, é um nada (Rousseau); é que a participação popular se limita ao sufrágio a cada quatro anos; mas eleitos “seus” representantes, não se tem qualquer controle sobre seus atos, e o cidadão, convertido em objeto e não sujeito da política, só poderá expressar sua indignação nas eleições seguintes;

●O Brasil é e continuará sendo um país corrupto simplesmente porque está estruturado para sê-lo!



Texto de Paulo Queiroz ― Professor Universitário (UniCEUB) e Procurador Regional da República em Brasília



Impresso de Paulo Queiroz: http://pauloqueiroz.net

URL: http://pauloqueiroz.net/por-que-o-brasil-continuara-sendo-um-pais-corrupto/

pauloqueiroz.net
Paulo de Souza Queiroz: doutor em Direito (PUC/SP), é Procurador Regional da República, Professor do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) e autor do livro Direito Penal, parte geral, S. Paulo, Saraiva, 3ª edição, 2006.



Site da Imagem: guepardteam.blogspot.com

Comentários

Nossa esperança em cultivar o bom caráter, a ética e a honestidade está na descoberta da máquina do tempo. Poderíamos voltar no tempo e naufragar a esquadra de Pedro Álvares Cabral no dia 1º de abril de 1500 . Colocar o Exército Brasileiro na máquina do tempo e desembarcar no nordeste em 1640
para ajudar Maurício de Nassau ou destruir Napoleão Bonaparte antes de ameaçar invadir Portugal. Não é tão difícil assim...
Levi B. Santos disse…
Por ora, é impossível tal façanha. Altamirando (rsrs).

Aí eu pergunto:

O Que se deve fazer nas próximas eleições, sabendo que a máquina continua sendo a mesma dos tempos coloniais?

O que fazer quando o voto se constitui, apenas um expediente para legitimar e perpetuar o crime?

O que fazer quando, afinal, os eleitos não representam o eleitorado, mas os seus próprios interesses e os interesses dos grupos econômicos que os patrocinam?

Oremos então por alguma ajuda vinda lá do “alto” onde se locupletam o Rei e seus anjos? (rsrs)
guiomar barba disse…
A CARA DO BRASIL

Outro dia, ao chegar ao Rio de Janeiro, tomei um táxi. O motorista, jeito carioca, extrovertido, foi logo puxando papo, de olho no retrovisor. - A senhora é de Brasília, não é? - Sim – respondi. - É eu a conheci. E como é que a senhora agüenta conviver com aqueles ladrões lá do Planalto Central? Não deve ser moleza. O sujeito disparou a falar de políticos, do tanto que eles são asquerosos, corruptos... Desfiou um rosário de adjetivos comuns à politicagem nacional. Brasília é o palco mais visível dessas mazelas e nem poderia deixar de ser. Afinal, o país inteiro olha para lá. O taxista era só mais um crítico, aparentemente atento. E ele sabia dar nome aos bois que pastavam tranquilamente no orçamento da união, que se espreguiçavam impunemente sob a sombra da imunidade parlamentar ou de leis feitas em benefício próprio. E que, de tempos em tempos, se refrescavam nas águas eleitorais. O carro seguia em alta velocidade; a distância parecia esticada. Vi uma bandeira três em disparada. Lá pelas tantas, quando já estávamos dentro de um segundo túnel escuro, o condutor falante sugeriu um “dia sem corrupção”. - Já pensou – disse ele – se uma vez por ano esses homens não roubassem? Interessante – a exclamação me escapou aos lábios. - sim – continuou entusiasmado –, seria uma economia e tanto. Nessa hora, me dei conta de que estávamos percorrendo o caminho mais longo para o meu destino. Chegava a ser irracional a quantia de voltas para acertar o rumo. Deixei. - Os economistas comentam - tagarelava ele - que somos um país rico. Não deveria existir déficit de previdência, os impostos nem precisariam ser tão altos, o serviço público poderia ser de primeira. O problema é que quanto mais se arrecada, mais escorre pelo ralo, tamanha a roubalheira. Tão observador, será que ainda se lembrava em quem tinha votado para deputado ou senador na última eleição? Fiz a pergunta e, depois de algum silêncio, a resposta foi não. Pena. Caímos num engarrafamento, cenário perfeito para aquele juiz de plantão tecer mais comentários sobre o malfeito. - Veja como são as coisas, os riquinhos ociosos da Zona Sul, que deveriam pensar em quem tem pressa, acham que são os donos do pedaço e vão embicando seus carros, furando fila, costurando de uma faixa a outra, querendo levar vantagem. A gente, que é motorista de táxi, tem que ficar atento, porque os guardas estão de olho, qualquer coisinha eles multam. Mas eles fazem vista grossa para as vans que transportam pessoas ilegalmente. Elas param onde querem, estão tomando os nossos passageiros.
guiomar barba disse…
Como não tem ônibus para todo mundo e táxi fica caro, muita gente prefere ir de van. Por falar em “caro”, a interminável corrida já estava me saindo um absurdo... Resolvi pontuar algumas coisas. - Por que o senhor escolheu o caminho mais longo? Ele tentou se justificar: - É que eu estava fugindo do congestionamento. - Mas acabamos caindo no pior deles - retruquei. E por que o senhor está usando bandeira três se não tenho bagagem do porta-malas nem é feriado hoje? - continuei questionando. Ele disse que estava três para compensar a provável falta de passageiro na volta. Claro que não, eu sabia. Finalmente, consegui chegar ao endereço pretendido. Fiz mais um teste com o “probo” cidadão: paguei com uma nota mais alta e pedi nota fiscal. Ele me devolveu o troco a menos e disse que o seu talão de notas havia acabado. - Veja como são as coisas, seu moço - emendei. O senhor veio de lá aqui destilando a ira de um trabalhador honesto. No entanto, se aproveitou do fato de eu não saber andar na cidade, empurrou uma bandeira, andou acima da velocidade permitida, furou sinal, deu voltas, fingiu que me deu o troco certo e diz que não tem nota fiscal! O brasileiro esperto quis interromper, mas era minha vez de falar. - O senhor acha mesmo que ladrões são aqueles que estão em Brasília? Que diferença há entre o senhor e eles? Eu sabia que estava correndo um risco de uma reação violenta, mas não me contive. Os “homens” do Planalto Central são o extrato fiel da nossa sociedade. Quantos taxistas desse porte vemos dirigindo instituições? Bons de discursos... Na prática... Desembarquei com a lição latejando em mim. Quantas vezes, como fez este taxista, usamos espelho apenas como retrovisor para reter histórias alheias? Nossas caras, tão deformadas, tão retocadas, tão disfarçadas, onde estão? Onde as escondemos que não aparecem no espelho? Sem a verdade que liberta, jamais estaremos livres de nós mesmos. Ainda sonho com um Brasil de cara nova... A começar por minha própria cara.
Delis Ortiz é jornalista, repórter especial da TV Globo, em Brasília. (Extraído da Revista Ultimato).

O Brasil é corrupto...
Levi B. Santos disse…
Não sei Guiomar, se você está lembrada da homenagem prestada ao batalhão de choque da polícia do Rio de Janeiro(transmitida por todos os canais de televisão há alguns meses) que, no cumprimento estrito de sua função, recusou o suborno oferecido por um traficante famoso, para que o deixassem fugir, e não ser trancafiado.

Lembro que na época, o senador, Cristovam Buarque, aproveitou o fato para fazer uma profunda reflexão sobre a origem dos nossos males e de nossa sociedade.

Disse ele, algo irrefutável:

“Nós temos de tratar esses jovens PMs como nossos heróis, mas temos de tratar com tristeza o fato de que eles sejam heróis. Nós precisamos fazer uma reflexão em função disso, porque, no Brasil, a corrupção transformou-se numa coisa tão normal que quem não a aceita é herói” .

Posso está errado, Guiomar, mas penso que o exemplo que sempre vinha de cima, vinha dos nossos pais, dos nossos mestres, das nossas autoridades, virou conto de fadas. O Rei(símbolo da glória e da honestidade) que na escola costumávamos vê-lo bem vestido, está NÚ.

O Brasileiro de hoje, diz bem tranqüilo lá fora representando o país, que fazer caixa dois deixou de ser crime e se tornou uma coisa banal. O brasileiro é produto de sua herança colonial. Até as nossas crianças atualmente já sabem perfeitamente que o grito de independência do Brasil no riacho ypiranga, a proclamação da repúblicae a abolição do trabalho escravo foram uma farsa, foram um conluio.

Quando a ministra do CNJ, Eliana Calmon, diz achar execrável que bandidos estejam escondidos detrás das togas, e tudo fica por isso mesmo ― o que se pode pensar das futuras gerações que vêm por aí?

Quando o jurista e professor, Paulo Queiroz, autor de vários livros de Direito vem dizer: “Porque insistimos em preservar instituições absolutamente desnecessárias: Senado Federal, Câmara Distrital etc” , é porque o Brasil não tem mais jeito. Já lá se vão, mais de meio século de ilusão que o Haiti não é aqui.

O taxista “vivo” da história, ao financiar o seu carro, deve ter recebido as instruções arquetípicas dos hebreus que deram voltas e mais voltas por 40 anos para chegar a tão pertinha Canaã. (rsrs)


guiomar barba disse…
Com tristeza concordo com o Paulo Queiroz, o Brasil não tem mais jeito. A sociedade se corrompeu totalmente e sorrir quando alguém é esperto em trapaças. Idiota, burro, lerdo, é quem não sabe ser desonesto e tirar proveito dos outros. Nossos pais, nossos mestres nos ensinaram desenvolver um caráter que hoje quase não encontra aprovação. Penso nos meus filhos, lembro quantas vezes eles deram demonstração de honestidade a toda prova e me pergunto: Como eles resistirão?

Sim Levi, Israel deu muitas voltas. "Conduzi-te pelo deserto para saber o que estava no teu coração". Os hebreus escolheriam como o taxista, o caminho mais curto,embora esconso, mas Deus os ensinou a enfrentar as adversidades do caminho largo para fortalecer o espírito deles.
Levi B. Santos disse…
“Nossos pais, nossos mestres nos ensinaram desenvolver um caráter que hoje quase não encontra aprovação”. (Guiomar)

Já que enveredamos pelo lado bíblico, falando dos Hebreus, Guiomar, como você explica o instinto ou “arquétipo corruptor” de um filho (Jacó) que de forma perversa, engana seu pai (Isaque) pouco antes de sua morte, em conluio com sua mãe (Rebeca)

Pelo visto, o gen responsável pela transgressão e corrupção que muitas vezes ameaça o nosso corpo tem a “imago-Deus” na contenda. (rsrs)

Enquanto escrevia esse último período do meu comentário, veio a minha mente a imagem muito veiculada na internet em 2009 com parlamentares orando em agradecimento a Deus, por não ter sido pegos no recebimento de suas propinas.

Releia aqui a oração (que eu não posso dizer que não foi sincera):

“Pai, eu quero te agradecer por estarmos aqui. Sabemos que nós somos falhos, somos imperfeitos”, diz o deputado Brunelli, que faz a oração. “Precisamos dessa tua cobertura, dessa tua graça, da tua sabedoria, de pessoas que tenham, senhor, armas para nos ajudar nessa guerra e, acima de tudo, todas as armas podem ser falhas, todos os planejamentos podem falhar, mas o senhor nunca falha”


Quem atira a primeira pedra? (rsrs)
Levi B. Santos disse…
Não deram bolas para Rousseau, e aí deu no que deu.

Traduzindo para os nossos dias, ele diria que a única forma de impedir que o indivíduo venha locupletar-se seria aderir a um pacto social. Pacto no qual todo o indivíduo cederia uma parte ou parcela de seus impulsos corruptores. Ou seja, dominando a GULA, todos ficariam mais magros e, em paz, viveriam por mais tempo. (rsrs)
Eduardo Medeiros disse…
A honestidade, o bom caráter, já foram mais valorizados outrora, mas parece que nossa sociedade no atual estágio do capitalismo, onde o individualismo e o ter que ser melhor do que o outro, pois tudo se consegue na disputa nem sempre honesta, corroeram tais valores. Quem devolve uma carteira cheia de dinheiro hoje é louvado por muitos que não fariam a mesma coisa(daí o espanto), e criticado por quem acha que quem faz isso é otário.

Então deixo a questão: até que ponto o atual estágio do capitalismo neoliberal pode ser responsável pela quebra desses valores antigos?
O texto é muito bom, porém certas justificativas apresentadas requerem algumas ponderações sobre os pontos que, a meu ver, não estabelecem a devida causa e efeito, senão vejamos:


●Porque o sistema representativo é um engodo que conta com a participação do próprio eleitor, que não raro exige, em troca do voto, algum proveito, de modo que o voto constitui, por isso, apenas um expediente para legitimar e perpetuar o crime, afinal os eleitos não representam o eleitorado, mas os seus próprios interesses e os interesses dos grupos econômicos que os patrocinam;

Comentário: Não necessariamente o sistema representativo será um engodo. O que ocorre no nosso caso brasileiro (assim como de muitas outras nações) é que inexiste uma real relação de compromisso entre representantes e representados quando estes são pessoas de humilde condição. O eleitor, além de não ser partidário, é fracamente organizado. Mesmo os que são partidários, não possuem poder de controle e de acompanhamento sobre os atos das suas lideranças. Também os partidos não têm controle total sobre os atos dos eleitos. Ora, tudo isso só vai mudar com a educação da população brasileira, o que lhe dará uma formação capaz de acompanhar melhor a política e seus acontecimentos de uma maneira crítica e consciente.


●Porque, apesar das fraudes, insistimos em perpetuar determinados criminosos no poder, e a tudo assistimos passivamente;


●Porque a Polícia, que deveria, junto ao Ministério Público, formar instituição única, está subordinada ao Poder Executivo, de sorte que são prováveis investigados (Governadores, Prefeitos etc.) que em última análise comandam as investigações;

Vale lembrar que o Ministério Público não é um quarto poder, mas sim uma instituição estatal assim como a polícia. Se houver uma fusão desta com o MP teremos um agigantamento de poder nas mãos de funcionários sem legitimidade democrática. Assim, o que deve ocorrer é a polícia passar a gozar de uma autonomia institucional maior em relação ao Poder Executivo da mesma maneira como são as Forças Armadas.


●Porque criminosos políticos estão protegidos por um sem número de privilégios (foro privilegiado, imunidades parlamentares etc.) que os tornam grandemente imunes às investigações;

O foro privilegiado e algumas imunidades relativas às opiniões emitidas pelos políticos não sou contra. Desde que o Juízo funcione corretamente, não há problemas se um senador será processado no STF ao invés de ir para a Justiça comum.


●Porque somos obrigados a votar, quando votar é um direito e não um dever, pois o eleitor tem, há de ter, a liberdade de votar em quem quiser, quando e se quiser, consciente e livremente;

Sou a favor do voto opcional para todos os eleitores, mas não vejo aí uma relação direta de causalidade com a corrupção. Há quem considere que, se o voto deixar de ser obrigatório, teremos mais eleitores corrompidos comparecendo às urnas do que pessoas de boa consciência. Logo, o argumento é bom, mas não justifica em relação à corrupção.


●Porque punir criminosos, embora necessário, não é o mais importante; o mais importante consiste em identificar as estruturas de poder que possibilitam o crime e mudá-las radicalmente, pois problemas estruturais demandam intervenções também estruturais e não apenas intervenções sobre indivíduos;

Mudar as estruturas pode dificultar a corrupção, mas não eliminá-la. Temos no Brasil um problema que é cultural relacionado à nossa má formação política como coloquei acima.


Continuando...


●Porque insistimos em preservar instituições absolutamente desnecessárias: Senado Federal, Câmara Distrital etc;

Não vejo o Senado e nem a Câmara Distrital como desnecessários à democracia. Sendo o Brasil uma federação de enorme extensão territorial e uma diversidade de estados-membros, a nossa "Câmara Alta" garante uma melhor representatividade de seus entes mantendo a unidade nacional. Já o Legislativo do DF faz-se necessário porque se trata da representação do cidadão brasiliense, acumulando aí também funções semelhantes a de uma Assembleia Legislativa. Vale lembrar que Brasília é uma capital federal e, se fosse mais uma cidade do estado de Goiás, como assegurar que o governo goiano faria ali os investimentos necessários para suprir as necessidades do lugar que corresponde à sede do governo federal? Ora, acabar com a Câmara Distrital implicaria também em por fim ao DF ou negar aos brasilienses um órgão de representação democrática.


●Porque temos um Estado excessivamente burocrático, que tudo pretende resolver por meio de leis, demagogicamente;

Discordo da constatação do autor. Em alguns momentos há um excesso de leis ou de positivação de normas jurídicas. Porém, em outras situações carecemos de leis mais atualizadas e que contemplem os anseios do cidadão em face das injustiças praticadas tanto pelos governantes como pelos grupos sociais mais avantajados. O problema, porém, é quando se busca soluções demagógicas.


●Porque mais leis, mais juizes/tribunais, mais conselhos, mais prisões etc, pode significar mais presos, mas não necessariamente menos delitos (Jeffery);

Mais juízes também pode significar mais presença estatal e uma melhor distribuição da justiça. Há que se considerar que, no Brasil, temos uma quantidade insuficiente de magistrados, inclusive no interior, de modo que os processos vão só se avolumando. Seja nas esferas criminal, cível, trabalhista, empresarial, de defesa do consumidor (os abarrotados Juizados), etc.


●Porque o povo brasileiro acredita ser livre, mas está enganado: é livre apenas durante as eleições dos membros do Executivo e do Parlamento, pois, eleitos os seus membros, ele volta à escravidão, é um nada (Rousseau); é que a participação popular se limita ao sufrágio a cada quatro anos; mas eleitos “seus” representantes, não se tem qualquer controle sobre seus atos, e o cidadão, convertido em objeto e não sujeito da política, só poderá expressar sua indignação nas eleições seguintes;

Acho que o povo não acredita tanto em sua liberdade. Ele apenas busca sobreviver e, quando vejo pessoas falando que, p. ex., querem a volta dos militares, dá para constatar nitidamente o quanto nosso povo ainda não sabe dar valor à liberdade.


Por enquanto é só.


Um abraço a todos!
Levi B. Santos disse…
Rodrigão

Diz o ditado quem cala consente. Você silenciou sobre o úlitmo PORQUE do texto postado foi porque o achou correto? (rsrs)

O último "porquê" do ensaio do professor de Direito Penal da PUC(SP):

" O Brasil é e continuará sendo um país corrupto simplesmente porque está estruturado para sê-lo!

Direito não é minha área (rsrs), mas tenho amigos advogados e juízes que concordaram com o professor Paulo Queiroz, nesta sua fulminante cosntatação.

Oi, Levi.

Não comentei diretamente a afirmação do autor porque já havia me manifestado antes quando escrevi:

Mudar as estruturas pode dificultar a corrupção, mas não eliminá-la. Temos no Brasil um problema que é cultural relacionado à nossa má formação política como coloquei acima.

Penso que o mal não encontra necessariamente nos sistemas. Estes são criados pelo ser corrupto humano de modo que, se alterações são feitas, os donos do poder buscam novas maneiras de tirar proveito. Logo, entendo que primeiramente deve-se mudar o homem na sua maneira de pensar e se posicionar. Do contrário, estaremos apenas limpando o exterior do copo.

De qualquer modo, se o ser humano se transforma interiormente, muitas das estruturas atuais podem perder sentido. Por exemplo, numa sociedade onde haja uma ética mais elevada, o excesso de normas sobre condutas acaba sufocando a liberdade das pessoas.
Nossa desonestidade não é um mal oriundo de política.Nossa desonestidade é um mal cultural. Nos ensinam a mansidão, a cordialidade, a humildade e ainda oferecer a outra face quando esbofeteados.Respeitar e agradecer o nosso algoz mesmo quando oferece como prêmio nosso próprio produto em forma de esmola. É a nossa cultura.
Há dois mil anos, um inocente carpinteiro se revoltou contra o sistema político contemporâneo, foi preso. e julgado por sedição. Durante os festejos, o juiz Poncio Pilatos que era prefeito da província romana da judéia presenteou os judeus com o direito de libertar da crucificação um ladrão ou o revoltoso. Adivinha quem os judeus libertaram!...
Não estou afirmando a veracidade da história, apenas exemplificando a origem de nossa formação intelectual. Dar esmola com moeda alheia é um exemplo bíblico. Canaã, a "Terra prometida" era habitada e tinha dono. Se Deus ofertou a seus seguidores uma terra de outros e a conquistou às custas de muito sangue derramado, por que o governo petista não pode fazer o mesmo com sua legião de encabrestados como o MST? Nossa cultura, nossa honestidade e ética tem origem. Somos cristãos...
guiomar barba disse…
Levi, a réplica foi publicada no face, mas trago-a para nossa confraria.

Não esqueça que a ideia foi de Rebeca que amava mais o filho mais novo enquanto Isaque, o mais velho.

A benção do pai era algo extraordinário, que determinava o sucesso na vida do primogênito. Portanto, Jacó instigado pela mãe não resistiu usurpar o direito do irmão, que diga-se de passagem, desprezou o seu direito de primogenitura por um guisado de lentilha.

Mas meu amigão, você evocar a história de Jacó que passou a milhares de anos para justificar nossas transgressões, me lembra perfeitamente Adão e Eva. O homem sempre buscando em quem deitar a culpa.

Quanto a oração dos parlamentares, me traz a dor de compará-los a um moço que era ladrão, viciado e estava na reabilitação e com muita sinceridade me disse: Guiomar, eu acho que Deus tem raiva de mim porque havia um cara muito safado e era para eu enfiar uma peixeira nele e eu não o matei, por isso, Deus não me ama.

Levi, aquele moço era uma pessoa totalmente ignorante a respeito de Deus, que direi eu daqueles parlamentares? Tão ignorantes quanto aquele pobre moço.

guiomar barba disse…
Mirandinha, seu mal é expor suas ideias sem respeitar a dos outros e os outros.
Nenhuma religião faz o homem desonesto, corrupto, ele revela quem ele é, nas oportunidades. O Cristo, bem sabia disto.

"Não precisava que ninguém lhe desse testemunho a respeito do homem, pois Ele bem sabia o que havia no homem." João 2:25.

Mas Jesus lhe perguntou: "Judas, com um beijo você está traindo o Filho do homem? " Lucas 22:48"
Levi B. Santos disse…
A réplica que fez Miranda merece ser repetida em NEGRITO, pois ela é INCONTESTÁVEL (colocando o que denominam Deus entre aspas):

Se "Deus" ofertou a seus seguidores uma terra de outros e a conquistou às custas de muito sangue derramado, por que o governo petista não pode fazer o mesmo com sua legião de encabrestados como o MST? Nossa cultura, nossa honestidade e ética tem origem. Somos cristãos... (rsrs)
Levi B. Santos disse…
”O mais importante modelo de traição (transgressão) e tradição se encontra na história da relação entre judaísmo e cristianismo. [...]. Os mestres das tradições espirituais, aqueles que se dedicam a compreender as necessidades da alma, não se impressionam nem um pouco com as perversidades” (Nilton Bonder – em “A Alma Imoral” – pág 77 - Editora Rocco).
Este comentário foi removido pelo autor.
Guiomar Barba, você quer dizer que minha opinião é exclusiva, ofensiva e desrespeitosa quando eu cito as podridões encíclicas. A sociedade que influencia os cristãos foi fundada na lama. Os ensinamentos bíblicos são leis criadas para uma sociedade primitiva e que teve seu valor para a cultura contemporânea. O Deus dos judeus era contra a escravidão dos fiéis mas era favorável à escravidão do ímpio.Para o Deus dos judeus nada era mais impuro e indesejável do que uma mulher.. Nenhuma religião faz um homem honesto, honrado, caridoso nem transforma um bandido em um cidadão de primeira categoria.Um assassino, um estuprador ou um criminoso hediondo se foi julgado aqui, será um assassino, um estuprador ou um criminoso hediondo para qualquer inferno que for.Minha opinião também está na bíblia.Quem com ferro fere... .
Olá, Altamirando.

Apesar da escolha por Barrabás simbolizar as más escolhas do povo, há que se ter cautela quanto à historicidade do episódio narrado pelos evangelistas.

Verdade seja dita que os judeus têm sido muito mais conscientes nas suas decisões coletivas quando se trata de política do que nós brasileiros. Israel é uma sólida nação. Já nós...
Na concepção da Torá, a terra não possui outro dono senão Deus. Os povos cananeus ocupavam a Palestina e ali puderam permanecer até que se enchesse a medida de seus pecados. Então Deus, na sua soberania, entregou aquela região aos israelitas conforme havia prometido aos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, dando cumprimento, portanto, à profecia de Noé. Assim sendo, não podemos ver nas conquistas de Josué uma invasão de território, mas, sim, uma permissão do Dono da terra para que um outro povo a possuísse.
Já a questão do MST, nem sempre se tratam de agricultores excluídos e nem gozam eles de uma legitimidade divina quanto a todos os atos que praticam. Em algumas ocupações, talvez sim. Já em outras, estariam errados. Na atualidade, penso ser um desperdício fazer do campo um lugar para absorção da pobreza. Melhor para a produtividade agropecuária e para o meio ambiente que se faça a assistência social em solo urbano.
Mas eu contestei e percebo que faltou conhecimento teológico nas colocações dele, conforme rebati acima já que, na compreensão da Torá, a terra não tinha proprietários. O Dono sempre foi Deus!
Meu caro,

Vejo aí outro desconhecimento teológico seu.

Embora a legislação mosaica tenha admitido a escravidão (há que se considerar o contexto da época), havia elevadas normas protetivas que nem as civilizações clássicas de Grécia e Roma seguiam. Cabia ao israelita recordar de que havia sido escravo no Egito e não oprimir o estrangeiro peregrino. E, seguindo esse princípio, ão se permitia a escravidão perpétua (ler Ex 21:1-11), exceto se fosse por livre escolha do próprio escravo. No ano sabático (Shemitá), além do descanso dos campos, as dívidas eram perdoadas. Veja que o toque do Shofar simbolizava a quebra de todas as algemas, para livrar os oprimidos das garras dos opressores déspotas. Ora, o servidor de Deus não pode ser servo de outro homem! A Torá expõe o entendimento de que a liberdade física seja uma condição para pleno exercício da liberdade espiritual e religiosa, pois Deus deseja ver um povo dedicado a Seu serviço em liberdade total, e não como uma legião de escravos. Quanto ao escravo pagão, eles eram bem tratados pela mesma benevolência que os Divinos preceitos recomendavam aos israelitas, podendo, inclusive, recobrar a liberdade como na hipótese de Ex 21:20-27, de modo que a perda de um dente, quando provocada pelo patrão, importava na sua alforria. Ou seja, ainda que o escravo cananeu fosse uma propriedade de seu amo, a Torá não conferiu ao "dono" de um escravo o direito de vida ou de morte sobre ele. Ao contrário, ele, o dono, era passível de pena capital caso matasse uma de suas "propriedades".
Em tempo!

Vale lembrar que a escravidão dos negros adotada pelos portugueses no Brasil era baseada mais na escravidão dos romanos. As normas do então código filipino (a legislação do período colonial) nem chegavam aos pés da Torá! Aliás, mesmo com a Independência, a penalidade dos açoites aos que eram considerados homens livres continuou valendo contra os escravos, desde que não condenados à pena capital, bem como na hipótese de galés, limitada até cinquenta açoitadas por dia, conforme era previsto no artigo 60 do Código Criminal de 1830. Já na legislação mosaica, ninguém poderia receber mais do que 40 golpes (Dt 25:1-4)
"(...) porque Minha é a terra, pois peregrinos e moradores da terra sois vós para Mim" (Lv 25:23)

Segundo este verso da Torá, a posse do homem sobre trudo o que lhe pertence nunca é absoluta! Tudo é possessão do Todo-Poderoso, "a Quem pertencem os céus e a terra". Ele criou o mundo, conserva-o e o renova a cada dia; tudo é Dele e está sob Seu domínio, e tido que dá aos homens, o faz como um depósito.

É dever do homem considerar a si mesmo como tendo sido honrado por Deus para desempenhar a função de tesoureiro e guarda fiel Dele, e receber e gastar estes bens de acordo com a vontade do Depositante Celestial, que "abre Suas mãos e sacia os anseios de todos os seres". O que o homem deve fazer ou cessar de fazer com o que lhe foi entregue em custódia está determinado na Torá, não cabendo a ele nenhuma ilusão de posse absoluta sobre o que pertence ao Criador.

Se as pessoas entendessem bem esta verdade, não alimentariam seus pensamentos egoístas, receios e preocupações, de modo que se dedicariam melhor à vontade do Soberano do Universo.
Levi B. Santos disse…
Como é que na pós-modernidade vocês ainda admitem que essa "imago-Deus" que se tem na psique é um ser extraterrestre, confrades?

Por que tanta resistência em conceber o que a neurapsicanálise e a psicoteologia concebe, hoje:

Deus é no religioso uma imagem psíquica arquetípica que exerce uma influência na psique humana. Esses arquétipos estão presentes nos mitos. O divino e o diabólico falam a linguagem da mitologia. O conhecimento da psique humana na época atual trouxe uma grande novidade que alguns teólogos não aceitam ou têm resistências contra ela:

“Todo MITO tende a união ou a síntese dos contrários. Fala-se de Céu e Inferno, de Trevas e luz, de direita e de esquerda. São duas faces de uma mesma figura mítica. Assim, o Deus mítico Cristão tem duas faces a de “Cristo” e a “do Diabo”.

Na hora que fazemos esta separação e não a síntese desses dois elementos de um mesmo arquétipo em nós, o que ocorre é fatalmente a projeção da face diabólica ou daquilo que se tem como ruim, no OUTRO.

É como JUNG diz em sua psicologia analítica:

O homem por imaginar uma divindade antropomórfica, vai consequentemente, projetar nesse Deus as suas próprias antinomias, os seus próprios afetos paradoxais. ”

O homem quando que vive permantemente raivoso, ressentido só poderá perceber o seu Deus de acordo com seu estado psicológico. Quem já leu a Comédia Divina de Dante, sabe muito bem a respeito.

Aí vem o DESEJO de possuir e tomar o que é do outro. Esse anseio, à medida que se intensifica, aparece na mente do fiel, sob a forma de um Deus a instigá-lo a destruir o outro sob pena de ser castigado se não o fizer. É daí que vem o maior alicerce da velha CORRUPÇÃO em NOME de “Deus”.

Eduardo Medeiros disse…
Rodrigo e Mirandinha.

Concordo que a lei dos judeus era mais avançada na questão da escravidão do que a lei romana ou grega. Mas usar a tese teológica de que a terra é de Deus, por isso ele dá a quem quiser, não cabe mais hoje e nem cabia naquele tempo. Os hebreus invadiram Canaã a partir da concepção de que o deus deles - Javé - lhe dariam a terra, entendimento que era comum na antiguidade, onde o deus do lugar, era o lugar do deus.
O próprio Javé - nos informa estudos sobre a religião do antigo Israel - é uma síntese de deuses cananeus. El era um deus cananeu. Baal, era também "Senhor" antes de Javé sê-lo.
Então, numa discussão mais acadêmica (digamos assim) e não apenas apologética, essas questões têm que ser levadas em conta. Assim como as questões da neuropsicanálise e da psicoteologia como fez o LEVI nesse último e excelente comentário.
É normal a defesa do ídolo. O devotos de Deus foram autores dos maiores banhos de sangue em suas invasões. Com ordem de seu "general" de aniquilar até animais de estimação, bens e crianças, mulheres e anciões. Quando venciam era graças ao seu Deus. Quando vencidos era castigo ou vitória diabólica. Todos os crimes poderiam ser cometidos contra o ímpio, mas ao fiel era reservado um lugar ao céu pela sua obediência, às vezes, com assassinato de sua própria família. Os hebreus adoravam um Deus merecido por sua insensatez e barbárie. Para domar estas feras semi-humanas só um Deus sanguinário. Surtiu efeito?... Não sei. Desta estirpe surgiram os judeus que até hoje matam filhos, pais e irmãos por causa de uma faixa de terra calcinada, desértica e improdutiva. Eu não sou judeu, portanto seu Deus não pode ser o meu. Quando me provarem que há um Deus tupiniquim, este será o meu e terá que me explicar muita coisa.
Levi B. Santos disse…
Chesterton, falando sobre “Deuses e Demônios”, em seu livro “O Homem Eterno” (página 149 ― Editora Mundo Cristão), disse algo profundo que tem muito a ver com as guerras e conflitos insolúveis, como esse do oriente médio: “Qualquer que seja o desencadeador bélico específico, o alimento das guerras é alguma coisa na alma”.


Em suma, há outro significantes que explicam bem as metáforas "Céu e Inferno", que as seitas não querem aceitar por que vão contra seu comércio gospel. (rsrs)

Oi, Levi.

Deus não pode ser considerado um ET porque Nele está contido todo o Universo, inclusive o nosso planeta e a humanidade por Ele criada.

Ora, a grandeza do Eterno é tanta que Ele se faz revelar até no campo de nosso subconsciente ou do inconsciente, como queira assim chamar.


"Deus é no religioso uma imagem psíquica arquetípica que exerce uma influência na psique humana. Esses arquétipos estão presentes nos mitos. O divino e o diabólico falam a linguagem da mitologia."

Sob certo aspecto não nego que as ideias e conceitos que elaboramos sobre a Divindade sejam projeções nossas. São imagens idealizadas, ainda que não as façamos com o barro, a madeira ou os metais como os povos idólatras da Antiguidade. Contudo, quem se propõe verdadeiramente a buscar o Senhor, encontra-O para "além de toda crença", usando aqui de empréstimo as palavras da historiadora norte-americana Elaine Pagels. Além de toda forma humana, embora chegamos aí num ponto em que o Eterno escapa aos nossos sentidos de percepção, como a experiência de Moisés na fenda da rocha em que ele teria "visto" Deus "pelas costas".

Nessa busca pelo Deusa verdadeiro e único, temos que ser semre bem cautelosos para não nos enganarmos com as projeções de nossas mentes. Por isso a Torá adverte tão severamente contra o pecado da idolatria porque, quando o homem chega ao ponto de esculpir uma imagem e se ajoelhar diante dela como se estivesse diante da Divindade, ele confirma o seu estado de alienação espiritual e mental. Mas a busca pelo Senhor requer uma permanente ação de "quebrar imagens", tomando as devidas cautelas para que as nossas próprias projeções (ou as dos outros) não afetem esse processo de conhecimento do Santo.


"O homem quando que vive permantemente raivoso, ressentido só poderá perceber o seu Deus de acordo com seu estado psicológico."

Concordo plenamente, Levi! Por isso é que precisamos buscar a integridade no íntimo e andarmos em santidade, se de fato estamos afim de conhecer a Deus. Pois o pecado opera essa separação dentro de nós. Em outras palavras, o pecado deturpa a percepção da realidade e de Deus.
Caro Edu,

Não nego que a concepção dos antigos hebreus sobre a Divindade pudesse estar ainda limitada pelo paganismo. Porém, não é o que consta na Bíblia sobre o Eterno, de modo que eu discordo que, nas Sagradas Escrituras, o Santo possa ser confundido como "uma síntese de deuses cananeus". Para a massa, talvez, mas nunca para Moisés e os sacerdotes levitas - os corazim.

A concepção da Torá não restringe o Deus único e verdadeiro a uma terra somente! Antes, foi Ele quem criou o mundo e teria legitimado a repartição das terras entre os povos após o episódio da Torre de Babel. Logo, os cananeus teriam tido um território que, originalmente, incluía até Sodoma e Gomorra (Gn 10:19), da mesma maneira que os egípcios, os filisteus e mais tarde os edomitas, moabitas e amonitas tiveram os seus, falando apenas dos vizinhos de Israel. Porém, aprouve ao Eterno dar a terra à descendência de Abraão, mas não fez isso imediatamente porque a medida da maldade dos amorreus e dos demais povos cananitas ainda não havia se enchido em plenitude. Assim, se esperou mais de 600 anos entre a promessa feita a Abraão e a sua realização, quando da entrada na Terra de Canaã através de Josué. E por quê? Porque se diz que “a medida da iniqüidade” daqueles povos "ainda se não havia enchido diante do Senhor". Tá escrito lá!

Aprofundando aqui o debate, será que essa "medida da iniqüidade" de um povo, ou de muitos povos, ou de toda a humanidade, do que fala a Bíblia, não poderíamos identificar de alguma maneira com o Inconsciente Coletivo?
Altamirando,

A conquista de Canaã tratava-se de possuir a terra. Ou os hebreus a tomavam ou ficariam como nômades no deserto.

É equivocado quando diz que "Todos os crimes poderiam ser cometidos contra o ímpio". Pois, embora os soldados de Israel tivessem a ordem de exterminar os adversários não era para cometer atrocidades do tipo estuprar mulheres, torturar pessoas ou usar métodos cruéis de execução. Amigo, aquele era um outro tempo e a conquista de Canaã foi uma guerra. Guerra santa, segundo a Bíblia mas que não deixou de ser guerra com lutas, derramamento de sangue e mortes.


"Desta estirpe surgiram os judeus que até hoje matam filhos, pais e irmãos por causa de uma faixa de terra calcinada, desértica e improdutiva"

Desculpe, mas achei preconceituosa esta colocação sua. Primeiro que o movimento sionista se deu por uma necessidade. Os judeus dos séculos XIX e XX vieram a necessidade de ter uma terra para si e constituírem um Estado até que, com o fim da 2ª Guerra, com a exposição dos horrores nazistas, conseguiram que a Inglaterra lhes concedesse a Palestina. Construíram grandes cidades ali e fizeram daquele deserto uma terra bem produtiva.

Sugiro que você um dia tome um avião e viaje para Israel. Vá lá e veja o país de primeiro mundo que é aquela linda região do planeta. Saiba também que muitos judeus sempre buscaram a paz com os vizinhos, mas estes querem guerra e isto agente pode ver até mesmo entre os muçulmanos no Iraque, na Síria, no Egito, etc.
Nunca li o livro do qual falou, Levi, mas concordo com a citação transcrita por você. A pergunta que formulei no final de minha última resposta ao Edu talvez ajude agente a pensar sobre o assunto das guerras que ocorrem no Médio Oriente e também aqui entre as pessoas da América do Sul. E de fato as coisas estão relacionadas a algo que as Escrituras denominam de pecado. Para por lenha no debate, reformulo o que havia antes colocado:

Será que essa "medida da iniqüidade" de um povo, ou de muitos povos, ou de toda a humanidade, do que fala a Bíblia, não poderíamos identificar de alguma maneira com o Inconsciente Coletivo?

Uma ótima semana a todos!
Para acrescentar mais, trago aí uma citação do Caio Fábio que achei bem interessante e pertinente ao que acabamos debatendo sobre as nossas batalhas... A pergunta formulada pelo internauta ao pastor foi:


"Como o senhor mesmo diz, o inconsciente coletivo pode gerar fenômenos psicofísicos. Mas esse fenômeno seria involuntário, sendo gerado pelo acumulo de cargas negativas ou positivas (dependendo do caso), ou seria também orquestrado por Principados e Potestades atuantes na região, algo meio "Matrix"?"


Eis a brilhante resposta do Caio:


"Sobre sua pergunta sobre o Inconsciente Coletivo, quero começar dizendo que o Inconsciente Coletivo como tudo o que é “inconsciente”, é involuntário no sentido que, dentro do “fenômeno” não há um Consciente dele mesmo. Pois, caso o Inconsciente Coletivo tivesse um Consciente Coletivo, esse “coisa” ou “ente” seria “em-si-mesmo”; ou seja: seria existente como um ser consciente, o que acabaria com a idéia de um Inconsciente Coletivo. Se assim fosse, seria para pensar se Deus ou o diabo não seriam o “produto” de tal fabricação involuntária dos humanos, os quais teriam evoluído tanto, que inconscientemente teriam desenvolvido um poder que, em sua soma coletiva, seria o responsável por essa sensação de retribuição e julgamento justo ou próprio que os homens recebem em coletividade. Ora, se assim fosse, e se o Inconsciente Coletivo tivesse um Consciente, esse tal fenômeno deixaria de ser um “fenômeno” aleatório, e passaria a ser o resultado de um desígnio auto-consciente, o que equivaleria a dizer que o “Deus” da humanidade seria apenas a projeção coletiva dela próprio, para o bem ou para o mal.

Portanto, não há voluntariedade alguma no Inconsciente Coletivo. Exceto a voluntariedade humana acumulada nessa camada interconectada e que acumula o sentir inconsciente humano em todas aquelas realidades que se tornam um sentir comum a muitos humanos; daí ser “coletivo”.

Agora vejamos um exemplo ou mais de como o fenômeno acontece, na própria Bíblia.


O que você acha que fez com que os soldados dos Midianitas se pusessem a conversar sobre “um pão que girava em torno da tenda do comandante”, e que haveria de “dar contra ela e lançá-la ao chão”?

Ora, os Midianitas vinham tomando o trigo de Israel há décadas, ano após ano. E, depois de tanto tempo de roubo e de exposição de trabalhadores à fome, eles próprios, os Midianitas, apesar de mais números e mais fortes, já haviam transformado seu saque anual em culpa acumulada no Inconsciente Coletivo, e de tal grandeza era essa culpa, que eles estavam para experimentá-la voltando sobre eles próprios como fantasmas da noite. Ora, a culpa já se havia comunitarizado de tal modo entre eles, que, agora, o Inconsciente Coletivo dos Midianitas já estava impregnado de uma energia psíquica de autodestruição. E isto se estabeleceu de maneira tão intensa e coletiva que até os sonhos deles já estavam tomados pela certeza de um juízo que faria com que o trigo roubado virasse um “pão-míssil” caindo sobre eles.

Daí Gideão não ter precisado fazer nada, a não ser um pequeno espetáculo de tochas acesas e latões batendo... e todos os midianitas bateram em retirada, deixando tudo para trás, e acabaram por ser aniquilados no caminho de fuga.

Quem rouba trigo acaba sendo bombardeado por pão-míssil”!"
Continuando a resposta do Caio Fábio...


"Ou é o caso daquele Gadareno do Evangelho, e que era o para-raio de toda a sua comunidade. O homem era de Geresa, cujo nome procede da raiz de uma palavra semítica que significa “o possuído”, ou ainda “o invadido”. Ora, desde 300 anos antes do “Gadareno” existir que aquela região chamada de Decápolis estava sempre sob alguma forma de ocupação estrangeira, tendo sido possuída de modo alternado pelos Selêucidas e Ptolomeus, e, depois, pelos Judeus—depois da Revolta dos Macabeus —; sendo que 90 anos antes daqueles dias, os Romanos ali se haviam postos como senhores; e mais que isto: naqueles dias havia uma Legião Romana acampada na região, promovendo um regime de exceção e controle.

Não é à toa que os habitantes de Geresa tenham gostado tão pouco do fato de Jesus haver “libertado” o homem de seus “espíritos imundos”, os quais entraram nos porcos e os arremessaram para dentro do lago, onde se afogaram.

O homem quebrava correntes feitas para serem quebradas, arrombava cadeias feitas para serem arrombadas, e era alimentado por alguém ou alguns, ainda que fosse declarado um perigo. Ou seja: havia uma cumplicidade inconsciente entre a cidade e seu possesso. E por quê? Ora, num ambiente de opressão contínua, o volume acumulado de sentimentos de loucura e dor é muito grande; e tal acumulação acontece no Inconsciente Coletivo. E é assim de tal modo, que acerca daquele Gadareno, se pode dizer que ele estava possesso de espíritos malignos tanto quanto estava possesso da Loucura Coletiva, e dos sentimentos de opressão reprimidos nos psiquismo individuais, e que, como conseqüência, se armazenaram no Inconsciente Coletivo daquela grande comunidade formada por 10 cidades.

Daí, quando Jesus perguntou pelo nome dos espíritos maus, a resposta ter sido “Legião é o meu nome, porque somos muitos”.

Havia uma Legião Romana no lugar. Eles eram muitos. E, como resultado, havia uma Legião de espíritos malignos e de psiquismos humanos que se misturavam na região. É por essa razão que os espíritos rogam a Jesus que não os mande para fora do país. Sim, como eu disse em vários outros lugares, a serpente se alimenta do pó da Terra, assim como os principados e potestades se alimentam da poeira da produção dos humanos. A cultura, a produção psíquica individual e coletiva, é o “país”, o ambiente dos Principados e Potestades.

Desse modo, não há como separar os eventos históricos dos espirituais, posto que toda ação humana gera um grande volume de carga psíquica que se acumula esperando sempre a hora de se derramar gerando novos fatos históricos que alimentarão a continuidade do processo.

Em meu livro “Batalha Espiritual” eu falo mais extensivamente sobre o tema.

Além disso, em algum lugar aqui no site, eu digo que o Inconsciente Coletivo é o “ambiente” que melhor “conduz” os Principados e Potestades. Ou seja: também como tenho repetido à exaustão, o diabo se alimente do pó da terra. Portanto, alimenta-se da “produção do caminhar humano na terra”: come o pó levantado pelos passos humanos, pelas ações humanas. Assim, além de ser o ambiente, o Inconsciente coletivo também acaba por ser a “mídia” usada pelos poderes espirituais. Assim, num estilo Matrix eles se utilizam do ambiente virtual — o Inconsciente Coletivo — a fim de manifestarem seus desígnios, os quais, embora existam de si mesmos, estão “condicionados” ao material Inconsciente que é coletivamente produzido pelos humanos.

O Inconsciente Coletivo é involuntário e totalmente inconsciente de si mesmo; é claro. Ele é “constituído” por todas as emanações do inconsciente de todos os indivíduos; e, assim, quando algo de bom ou de mal se torna um sentir comum de um grupo humano interconectado por qualquer que seja a via (do afeto ou desafeto familiar, aos aspectos de natureza coletiva no mundo todo) — o Inconsciente Coletivo se torna cada vez mais carregado, como as nuvens que se acumulam sobre nossas cabeças, em razão das “evaporações” que emanam da terra."
E, finalmente sua conclusão...


"Desse modo, concluindo, eu diria que, como o nome já diz, o Inconsciente Coletivo é inconsciente de si mesmo; sendo, todavia, usado por seres conscientes de si mesmos (Principados, Potestades, Poderes, etc...); os quais, por desígnio divino, estão condicionados aos tempos “das medidas dos povos”.

O limite de ação da maldade espiritual das forças invisíveis e conscientes de si mesmas (Principados e Potestades) é a “medida da iniqüidade dos povos”. Assim, o que chove sobre a cabeça dos povos sempre é aquilo que subiu na evaporação gerada pelas ações humanas na Terra."
Levi B. Santos disse…
O ensaio “SOBRE OS NOSSOS DEMÔNIOS INTERIORES”, de Junho de 2010, que postei na C.P.F.G., o qual foi muito debatido em cerca de 120 comentários realizados pelos confrades, tem uma parte que mostra como, na visão mítica dos antigos, eram interpretadas as profundas forças obscuras da psique humana:

“Uma coisa não se pode negar: é a de que a guerra entre deuses e demônios vem se travando na mente dos religiosos desde épocas remotas. Com a descoberta do ‘inconsciente’, ficou claro que esses deuses e demônios que os antigos percebiam, nada mais são que produtos da psique humana traduzidos por eles como forças externas personificadas do mal e do bem. A figura do capeta, diabo ou demônio, ainda hoje, entre os fundamentalistas, é traduzida como potestades do ar que invadem a mente para guerrear contra deuses imaginários. É nesse grande palco mental denominado pelo apóstolo Paulo, de “lugares celestiais”, que se trava a imaginária luta entre as potestades divinas e diabólicas”.

Traduzindo para os nossos tempos o que Paulo denominava de Luta contra os reis e potestades nos LUGARES CELESTIAIS (a psique):

A psicologia rabínica reconhece que o Senhor é o criador dos impulsos “bons” e “maus” (Isaias 45:7): “Eu formo a luz e crio a escuridão; faço o bem e crio o mal; eu sou o Senhor e faço todas as coisas”. Em psicanálise é do inconsciente (do ID) que surgem as pulsões destrutivas (más) e construtivas(boas).

Os ”lugares celestiais tem na psique o seu campo de batalha. As potestades de que Paulo fala são os impulsos ou pulsões de que fala Freud.

Convém salientar aqui que os estudiosos Judeus da Cabala já diziam que o “bem” e o “mal” estavam contidos na imagem arquetípica de Deus.


“Portanto, não há voluntariedade alguma no Inconsciente Coletivo. Exceto a voluntariedade humana acumulada nessa camada interconectada e que acumula o sentir inconsciente humano em todas aquelas realidades que se tornam um sentir comum a muitos humanos; daí ser “coletivo”. ( CAIO)


A psicanálise faz ver (o que o Caio rodou, rodou e não quis ou não pode se aprofundar), é que o “amor de Deus” e a “Ira de Deus”, sua luz gloriosa e seu fogo ardente formam o antagonismo humano que em sua dualidade e no inconsciente do fiel, é percebida como se fossem duas forças separadas: uma lá no alto, e outra cá embaixo. O que Paulo possivelmente não sabia era que essas forças “afetos” são responsáveis pela ambivalência humana. Ao dissociar os afetos ambivalentes, e não aceitar a sua síntese, a tradição judaica cristã (mas não a cabalística) fez apenas criar o “bode expiatório”.― o OUTRO que não faz parte da manada javélica.


O animal que no “cristianismo” serve como depósito (ilusório) para o nosso lado satânico será sempre aquele que não aceita Jesus como seu Salvador, não é assim CAIO? (rsrs)


Levi B. Santos disse…
“Os estados de possessão correspondem às nossas neuroses, para cuja explicação mais uma vez recorremos aos poderes psíquicos. A nossos olhos, os demônios são desejos maus e repreensíveis, derivados de impulsos instintuais que foram repudiados e reprimidos.

Nós simplesmente eliminamos a projeção dessas entidades mentais para o mundo externo, projeção esta que a Idade Média fazia; em vez disso, encaramo-las como tendo surgido na vida interna do paciente, onde têm sua morada”.
(Freud)

E aí Caio? (rsrs)
Até sábado, quando será o jogo da seleção, os demônios terão nacionalidade definida. Serão chilenos! Depois, caso consigamos exorcizar o adversário, poderemos projetá-los nos jogadores de outras equipes que cruzarão o nosso caminho rumo ao hexa. (rsrsrs)
Falando sério agora. Acho que não podemos cometer o equívoco de confundir os problemas psíquicos das pessoas com os assédios espirituais de consciências extrafísicas sobre seres humanos. Há males de ordem psicanalítica e comportamental que são incorretamente identificados como "possessões demoníacas". Porém, penso que haja casos em que espíritos malignos estão de fato a causar doenças e perturbações em consciências que vivem na fisicalidade. A leitura feita pelos evangelhos sinóticos quanto aos episódios em que Jesus expulsou demônios parece-me bem esclarecedora.