Arrogância metafísica

Eu sou o centro do meu mundo pois sou o único autêntico eu metafísico. Ainda que eu esteja no centro do meu mundo subjetivo, acredito que existe um mundo objetivo totalmente indiferente e independente de mim. Uma vasta extensão de espaço e tempo daqual eu conheço apenas uma ínfima parcela. Este mundo objetivo estava aí antes do meu nascimento e continuará aí após minha morte. Acredito também, que este mundo objetivo não tem um centro, uma perspectiva intrínseca, como teria, por exemplo, se existisse um Deus. E é como um mundo sem centro que eu tento entendê-lo.
Todos nós somos sujeitos de um universo sem centro e a mera identidade humana, deística ou marciana deveria parecer-lhes arbitrária. Não estou dizendo que, individualmente, eu seja o sujeito do universo sem centro, apenas que sou um sujeito que pode ter uma concepção do universo sem centro no qual Deus é uma entidade insignificante para mim, que poderia nem mesmo ter existido. Descentralizando o universo cultivamos o medo da morte. Até mesmo o solipsista que acha que o mundo depende dele para existir, teme a morte. O medo da morte vai além da ideia de que o fluxo da vida continuará sem nós. Meu medo da morte tampouco diminuiria se eu achasse que após o ato eu iria para o céu. Tanto a minha morte quanto o meu nascimento é um acontecimento biológico e banal que já ocorreu bilhões de vezes com membros da minha espécie. No entanto, visto de dentro, a morte é um acontecimento insondável, o desaparecimento do meu mundo consciente e de tudo que ele contém. O fim do meu mundo subjetivo.

A perspectiva da morte é causa de perplexidade e temor, revela que não somos a origem da realidade que habitamos nem o centro do universo. Ela é apenas o último ato já que a vida nos diminui a cada dia de tal forma que quando a morte finalmente chega, leva apenas  um quarto ou metade do que, na juventude, fora um belo exemplar da espécie. A vida é uma viagem que transcende o nosso pensamento clássico, a destruição entre passado, presente e futuro. È apenas uma teimosa e persistente ilusão.

Comentários

O salário do pecado é a morte. Os eleitos de Deus são imortais? E há alguns idiotas que afirmam ser a melhor idade aquela em que nossa coordenação motora já está rateando com alzaimer, parkinson, insuficiência renal, cardiopatia, hipertensão, coronárias entupidas e diabetes. Será para justificar a juventude desperdiçada com drogas, prostituição, alcoolismo e vadiagem?
Diz o budismo que "todas as coisas estão em chamas", significando que toda a matéria segue um contínuo processo de decomposição. E, se pensarmos bem, até a vida na Terra e no Universo um dia pode se extinguir. E isso ultrapassa a própria espécie humana que mito filosofa sobre a vida e a morte.

Só que a Bíblia nos transmite algo que é revelador e nos enche de esperança. Em Apocalipse diz que: "Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo" (Ap 20:14a; ARA).

Meu amigo, Altamirando, saiba que só o fato de desejarmos a eternidade é porque o Criador a pôs dentro de nós. Pois somos chamados para a eternidade e Jesus Cristo veio nos dizer isso em seu Evangelho. Portanto, vale a pena crer na vida sabendo que essa se encontra para além de toda a matéria.
Levi B. Santos disse…
Nietzsche dizia que, “colocar em um outro mundo o sentido de nossa existência, era uma arrogância metafísica

Sobre a concepção de alma e espírito em Nietzsche, Mauro Araújo de Souza, em seu livro ― “ Alma em Nietzsche” ―, fala sobre a tal “arrogância metafísica”. Esse autor escreveu algo bem interessante:

“Depois de projetar muitas coisas, o homem não se via mais como criador dessas projeções e começou a enxergar nelas aquilo que elas nunca foram, pois enxergou nelas um “fato” e não uma interpretação”
Levi, a mente uma humana pode distorcer a realidade, mas não tem como inventá-la.

A metafísica não se trata de "um outro mundo", mas sim da realidade total, a qual não podemos conhecer. O problema está em projetar nela as nossas invencionices estabelecendo verdades absolutizadas ao invés de hipóteses. Logo, alguém pode ter sua crença em espíritos, ou em Deus, sem necessariamente tornar-se um arrogante.

Infelizmente, nos mundos das religiões, o saber humano não poucas vezes se apequena em relação à grande e infinita realidade. Uma pena e também um empobrecimento mental que tanto atrapalha a evolução ético-espiritual das pessoas em suas consideráveis buscas pelo Sagrado.
Levi B. Santos disse…
Em suma falar de metafísica é falar da subjetividade humana. Nenhuma lógica consegue abarcar a subjetividade. O homem sempre fracassará quando de posse das imagens “sagradas” projetadas por sua mente planeja, petrificar, dogmatizar, tornar fixo, imutável, impondo o que experimenta em sua subjetividade como meio único de salvação ou regra para todos.

O fiel, no máximo, vai conceber o Supremo Criador, à sua imagem e semelhança.

Por que é que o que se tem como “revelação divina” varia conforme o estado psicológico da pessoa?

Já dizia Espínosa, em seu “Tratado Teológico-Político” (Editora Maetins Fontes, página 36):

...se o profeta está alegre revelam-se a ele vitórias, Se está macambúzio revelam-se a ele guerras, suplícios e todos os males. No V.T. o estilo da profecia variava conforme o temperamento e a eloqüência de cada profeta. O profeta que está irritado com o outro só é capaz de imaginar males a seu respeito, nunca coisas boas. Jeremias acabrunhado e invadido por um enorme tédio pela vida, profetizou calamidades. Corretamente analisados, todos esses exemplos mostram que (a imago paterna internalizada - grifo meu) ―“Deus” ― não possui nenhum estilo peculiar de falar e que, conforme a erudição e os dotes do profeta, assim ele será requintado, lacônico, ARROGANTE, rude prolixo ou obscuro.

Espinosa foi excomungado por antecipar visões precursoras da psicanálise, que mais tarde atingiria seu apogeu, com Freud, Jung, Melanie Klein, Winnicott, Lacan e outros.

Acredito que as guerras ou conflitos religiosos e denominacionais proselitistas têm na arrogância metafísica o seu cerne. E quando se nomeiam religiões e deuses, está quase sempre a se tratar de ídolos (imagens petrificadas).
Do pó veio e para o pó vais. Isto quer dizer que viemos do nada e para o nada retornaremos.O único animal que descobriu que pode fazer alguma coisa de bem neste intervalo entre os dois nadas foi o homem. Alguns preenchem este intervalo criando, inventando ou produzindo algo em favor dos seus semelhantes Algumas destas figuras conseguiram mudar o rumo e fazer parte da nossa história sendo respeitados, lembrados e premiados.Há também aqueles que nem fedem nem cheiram e por nada são responsáveis. Nenhum feito, nenhuma obra de boa ou má qualidade. Passaram pela vida manobrados pela popa igual canoas, escafedendo-se por atalhos sem perceberem ou serem percebidos.Fizeram de suas vidas um vazio entre dois nadas e ainda se intitulam divinos possuidores de um lugar no céu.A isto eu caracterizo como arrogância metafísica.
Levi B. Santos disse…
O que há em comum nos espetáculos “sobrenaturais” de ontem e de HOJE

Em meados da década de 1950:

― Hoje tem espetáculo? ― berrava o palhaço no alto de suas pernas de paus.

― Tem, sim senhoooor! ― gritava eu e a gurizada acompanhando o palhaço pelas ruas da cidade, em troca de uma entrada no Circo na sessão dos domingos à tarde. (rsrs)


Passados quase 60 anos:

Seitas, e sua metafísica latifundiária, vendendo lotes em um céu fabricado aqui mesmo:

― A prosperidade do Reino é aqui e agora. Compre já o seu ingresso! Amanhã pode ser muito tarde!

― Eles, agora, tem caras de pau, em vez de pernas de paus. (kkkkkk)




Será que na sua análise sobre o livro de Jeremias Espinosa não teria sido um tanto arrogante? Embora sendo judeu, o tão festejado filósofo da Idade Moderna parece não ter atentado para a necessidade que os profetas tinham de se posicionar contextualmente contra os males praticados em suas respectivas gerações, bem como o modo/estilo das pessoas se expressarem. Pois seria apequenar/infantilizar a mensagem bíblica querer dizer que os autores sagrados teriam viciado aqueles escritos com seus problemas psicológicos mal resolvidos, como se vivessem "de mal com a vida".

A excomunhão de Espinosa da sinagoga talvez tenha sido algo também arrogante, mas que talvez ele mesmo teria contribuído pela maneira como teria se posicionado ao invés de levar o público a refletir criticamente sem perder o temor do Senhor, isto é, a reverência pelo sagrado.
Não discordo quando o Levi diz que "as guerras ou conflitos religiosos e denominacionais proselitistas têm na arrogância metafísica o seu cerne" e penso que que talvez deveríamos explorar melhor o substantivo arrogância para um aprofundamento desse debate.

O que dizer da ARROGÂNCIA FÍSICA de alguns cientistas, céticos e defensores do ateísmo?!

Ora, o excesso de arrogância e a agressividade dos autores ateus têm sido verdadeiros problemas na literatura que esses escritores da atualidade produzem! Vejam, por exemplo o livro Deus não é Grande - Como a Religião Envenena Tudo de Christopher Hitchens, em que ele extrapola todos os limites ao fazer uso de jargões ofensivos, tiradas sarcásticas e piadas humilhantes no discurso contra os religiosos. Caras como ele chegam a ser intolerantes e não promovem o esclarecimento pretendido. Isto porque a intemperança e a virulência em nada auxiliam a racionalidade, sendo certo que argumentos sólidos dispensam o apelo à emoção.

Muitos cavaleiros do ateísmo querem estabelecer o dogma da inexistência de Deus (vejam as teses expostas em Deus, um Delírio de Richard Dawkins) e negam a transcendência de maneira absoluta. É uma arrogância sem medida um limitado ser humano concluir peremptoriamente pela inexistência de Deus, uma afirmação possível apenas a quem possuísse a totalidade do conhecimento, fato até agora inédito na humanidade.

Assim, muitos ateístas acabam agindo com a mais bruta ignorância acerca da realidade espiritual que nos cerca, revelando obstinação quanto à possibilidade de estudar experimentalmente um pouquinho do que as Sagradas Escrituras ensinam. Pois, na ânsia de refutarem o que consideram como "ficção religiosa", os militantes ateus acabam adotando uma postura que podemos considerar como sendo neopositivista, por condenarem à irrelevância e à absurdidade qualquer abordagem feita pela religião que implique na transcendência da consciência humana em relação ao mundo físico.
Rodrigo, não é possivel considerar como arrogância metafísica o ateísmo. Agoira considerar a descrença como arrogância física é um absurdo. Onde está o sujeito físico? Duvidar das lendas escritas na idade média é sinônimo de ignorância? Duvidar de causa sem efeito é diferente de duvidar de efeito sem causa. A crença do ateu tem o nome de realismo pois provém de evidências.
O problema não está em duvidar, Altamirando, mas sim em ignorar, desprezar ou menosprezar a experiência religiosa. E penso que se os ditos ateus buscassem mesmo o realismo não se identificariam de tal maneira e se considerariam sempre aprendizes da vida em busca de respostas ainda não encontradas. Assim sendo, uma coisa é você duvidar da existência de um Deus ou dos conceitos estabelecidos pela religião. Outra é o sujeito afirmar que "Deus não existe" ou que "Deus está morto", etc.
Confusão mental,não!... Quem afirma que Deus está morto acredita que existiu um Deus. Ninguém acredita na morte do inexistente.Eu acredito que Deus não existe, pois até agora ninguém me provou que ele existe, existiu ou morreu. Nada que comprove sua existência me foi evidenciado. Eu não tenho de provar a existencia de algo improvável. O ônus da prova cabe a quem prega sua existência.
Levi B. Santos disse…
Os religiosos dos tempos do V.T. em seu imaginário sonhavam e até conversavam com um Deus antropomórfico, com sentimentos ambivalentes à semelhança do homem.

É nesse Deus com humores inconstantes que os ateus não acreditam e que na pós-modernidade muitos crentes estão dando também as costas. Esse Deus que na idade média o tinham como algo vindo de fora do espaço para exercer sua influência e seu juízo sobre o homem não cabe mais na cachola de ninguém.

Em suma, como é difícil hoje acreditar em um Deus antropomórfico como nos faziam ver nossos pais e mestres da EBD no tempo em que éramos crianças.
Com a descoberta do funcionamento psíquico humano, vai se entender isso mais como uma infantilidade. Em criança, vá lá, como nas cantigas de ninar acreditávamos em uma entidade masculina divina que estava num lugar lá fora, denominado Céu e um Diabo em figura meio humana e meio animal oferecendo e nos tentando com seus manjares. Os desobedientes o temiam a Deus e quando o viam como arrogante e repressor dos desejos mais puros se benziam. “Deus” que de modo interesseiro amava aqueles que faziam o que ele mandava e castigava aqueles que não se submetiam aos seus ditames.
Quando o homem diz: - Deus está lá no alto!. Através da imaginação ele está projetando a sua essência interior num ser personificado divino fora de si.

Quando eu ouvia falar que os antigos diziam que o trovão era a voz de Deus, ficava a imaginar como seria o tamanho de sua boca. (rsrs). Mas o que fazer quando adultos querem permanecer infantilizados pelo resto de suas vidas?

A religião de um modo geral, ainda tem no bojo de suas doutrinas, maldição para uns e bênçãos para outros. Para ela, feliz é aquele que crê. Infeliz e amaldiçoado é aquele que não crê, e haja exploração do mecanismo - “custo-benefício”.

Entretanto, quando eu quero sair desse mundo barulhento e violento, vou alto nos sentidos , vôo na imaginação ao ouvir uma sinfonia ― que não deixa de ser uma forma de religar-se a algo sublime, com uma diferença: “não há um ser a me ameaçar nem a me cobrar nada pelo prazer obtido”. (rsrs)
Caros debatedores Levi e Altamirando,

Vocês não conseguiriam ver as experiências dos autores bíblicos como parte de caminhada evolutiva da humanidade?

Numa época em que se adorava ídolos mudos como os baalim, ou os próprios pais sacrificavam as criancinhas a Moloc, o culto a HaShem, bendito seja, foi um enorme avanço na realidade do Oriente Próximo. Também num período longo da história em que havia a escravidão e os pobres eram jogados na marginalidade, os profetas clamaram por justiça social.

Sinceramente, não posso considerar como imaturidade ou infantilidade esses belos registros das Escrituras. Mas o que não podemos fazer é ficar nos repetindo como muitos nas religiões ainda fazem.

Nessa busca por manter atualizado o pensamento religioso, tendemos a negar as velhas concepções que sendo hoje mal trabalhadas, atrapalham toda a caminhada evolutiva e de fato infantilizam o ser humano. Mas há que se ter cautela com essas negações porque, ao agir assim, o homem pode se perder quanto aos bons valores e a prática da fé. E, neste sentido, o ateísmo tem causado muitos males, inclusive formando um bando de alienados e ignorantes quanto à bela experiência bíblica de seus autores e personagens.

Sinceramente, meus amigos, não tiro a Bíblia na minha lista de leitura e, mesmo apreciando a boa música, como as clássicas sinfonias, continuo como o "bom escriba", sabendo apreciar "coisas novas e coisas velhas".

Um ótimo final de semana a todos!
Unknown disse…
A invenção da fé no improvável teve seus méritos na formação ética sanitária e familiar em épocas remotas onde o homem ainda era um primata. O temor a um ser absoluto inibiu e gerou muita violência mas uniu o homem como ser social, apesar de usar fenômenos naturais para amedrontar seus fiéis.A humanidade deve muito a religiosidade.
A religião deu acalanto aos excluídos, criminosos, escravos, doentes e famintos, amenizando suas dores. Mas não foi a religião que exterminou a escravidão nem exterminará a fom ne mundo. Ela fazia o detento, o escravo e o miseráavel a se resignar com sua sina prometendo a redenção num paraíso do outro lada da vida. Chamar um ateu de alienado e ignorante é miopia intelectual. O garoto do vídeo que ilustra o texto dá um banho de conhecimento para muito marmanjo que tem o título de doutor.