ATÉ QUANDO MUROS E GRADES?

por Matheus De Cesaro

Para descontrair um pouco vamos curtir uma boa canção e meditar sobre a mensagem que ela nos trás.

“A violência, seja ela qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota”

Jean Paul Sartre

Assim buscamos a paz, por meio de grades e muros, por meio de uma liberdade privada, assim fugimos da violência que nós mesmos produzimos e alimentamos por meio de nossos preconceitos e nossas convicções egoístas. Ou somos mais humanos, ou nos tornamos mais monstros, e assim, nos restara somente muros e grades, muros e grades... Somente muros e grades, e a mais completa escravidão, escuridão e vazio na alma! Nos tornamos tão pobres, mas tão pobres, que a única coisa que nos resta, é dinheiro.


“Nas grandes cidades do pequeno dia-a-dia
O medo nos leva a tudo, sobretudo a fantasia
Então erguemos muros que nos dão a garantia
De que morreremos cheios de uma vida tão vazia
Erguemos Muros

Nas grandes cidades de um país tão violento
Os muros e as grades nos protegem de quase tudo
Mas o quase tudo quase sempre é quase nada
E nada nos protege de uma vida sem sentido
O quase tudo quase sempre é quase nada

Um dia super
Uma noite super
Uma vida superficial
Entre cobras
Entre as sobras
Da nossa escassez

Um dia super
Uma noite super
Uma vida superficial
Entre sombras
Entre escombros
Da nossa solidez

Nas grandes cidades de um país tão surreal
Os muros e as grades
Nos protegem de nosso próprio mal
Levamos uma vida que não nos leva a nada
Levamos muito tempo prá descobrir
Que não é por aí...não é por nada não
Não, não pode ser...é claro que não é
Será?

Meninos de rua, delírios de ruína
Violência nua e crua, verdade clandestina
Delírios de ruína, delitos e delícias
A violência travestida, faz seu trottoir
Em armar de brinquedo, medo de brincar
Em anúncios luminosos, lâminas de barbear!

Um dia super
Uma noite super
Uma vida superficial
Entre cobras
Entre as sobras
Da nossa escassez

Uma voz sublime
Uma palavra sublime
Um discurso subliminar
Entre sombras
Entre escombros
Da nossa solidez

Viver assim é um absurdo
Como outro qualquer
Como tentar um suicídio
Ou amar uma mulher
Viver assim é um absurdo

É um absurdo”
Humberto Gessinger e Augusto Lick’s


Somos reféns de tudo o que produzimos, somos vítimas de nossas próprias fantasias, que alimentadas pelo medo, e que supostamente nos outorgam direitos de cobrança, das autoridades, da sociedade, de tudo e de todos, mas nunca de nós mesmos. Realmente viver assim é um absurdo. Protegidos de quase tudo, e ao mesmo tempo de quase nada, nos protegemos dos outros, mas não nos protegemos da nossa ignorância em pensar que somente nós somos especiais edignos de bem estar. É como dizia o ícone da MPB Beto Guedes, “1 + 1 sempre será mais que dois”. Precisamos de proteção, não do que é material e temporal, mas sim, daquilo que aprisiona e pode ser eterno, precisamos nos proteger de nós mesmos. Precisamos erradicar a violência, que nem sempre esta no vizinho como costumamos pensar, mas sim, muitas vezes esta em nossa casa, confortavelmente debruçado e bem acomodado em nossa enganosa mente.

“Todos os seres vivos tremem diante da violência. Todos temem a morte, todos os seres vivos amam a vida. Projete você mesmo em todas as criaturas. Então, a quem você poderá ferir? Que mal você poderá fazer?”

Buda

Comentários

Caro Matheus,

Ei aí um interessante tema para refletirmos, mas alerto aqui sobre os riscos da ingenuidade.

Apenas para fazer um contraponto e falarmos um pouco do Livro dos livros, a Bíblia, pergunto:

Por acaso os muros de Jerusalém não precisaram ser reedificados quando o povo judeu retornou do cativeiro babilônico?

"Estais vendo a miséria em que estamos, Jerusalém assolada, e as suas portas, queimadas; vinde, pois, reedifiquemos os muros de Jerusalém e deixemos de ser opróbrio." (Ne 2:17; ARA)

Cerca de dois milênios e meio depois de Esdras e Neemias, o povo judeu novamente conta com muros para proteger-se dos terroristas que tentam destruir a Israel com bombas. E, devido a essas barreiras, a situação encontra-se razoavelmente controlada embora não penso que, por si só, o muro seja suficiente para qualquer estratégia de defesa.

Por outro lado, achei fantástica a sua citação de Beto Guedes e considero um pouco disto que concluiu:

"Precisamos de proteção, não do que é material e temporal, mas sim, daquilo que aprisiona e pode ser eterno, precisamos nos proteger de nós mesmos. Precisamos erradicar a violência, que nem sempre esta no vizinho como costumamos pensar, mas sim, muitas vezes esta em nossa casa, confortavelmente debruçado e bem acomodado em nossa enganosa mente."

Sem dúvida, amigo, é do Eterno que precisamos. Daí o salmista Davi muitas das vezes chamar Deus de sua "fortaleza", "castelo forte", "rocha" e "escudo". Tais coisas nos levam à fé e à incessante busca por justiça social. E, neste sentido, voltando ao exemplo atual do Estado de Israel, penso que o povo judeu pode conquistar enormes avanços em relação à paz se tentar reparar erros históricos cometidos contra os palestinos dentro do mesmo território que as duas nações inevitavelmente compartilham.

A paz do Senhor!
Levi B. Santos disse…
Caro Matheus

Construímos nossos cárceres cercados por uma parafernália tecnológica defensiva contra o outro para o qual financiamos prisões públicas. Aqui temos nossas cadeias privadas. Lá fora deixamos para o nosso refugo humano - cárceres públicos. O medo e a angústia demarcam o nosso território do deles.
No recôndito de nossas prisões, denominadas de lares “gozamos” de um refúgio angustiante. Há quem denomine essa espécie de “zona franca” de lugares protegidos pelas mãos de Deus. Aqui, o nosso “inferno particular”. Lá fora, o “inferno baixo” e diabólico.

Nas nossas celas individuais de pedras e de grades, estamos cobertos por uma frágil vestimenta que mal cobre o terror interno secreto que não queremos que os outros membros da comunidade periférica cheguem a descobrir ― a velha prática social da dissimulação indissociável da convivência humana.

O poeta Fernando Pessoa põe o dedo na ferida, ao dizer: “ ninguém sabe o que verdadeiramente sente: é possível sentirmos alívio com a morte de alguém querido, e julgar que estamos sentindo pena, porque é isso que se deve sentir nessas ocasiões; a maioria da gente sente convencionalmente, embora com a maior sinceridade humana. A mentira contada em silêncio a si mesmo só convence se for sincera”.
Nobre Amigo Rodrigo,

Mas será que poderíamos traçar um paralelo entre as duas questões (muros de Jerusalém e muros e grades do Engenheiros) de modo que as coloquem em pé de igualdade?

Embora os muros de Jerusalém representassem uma espécie de segurança e proteção, o que gera uma semelhança com os muros e grades que colocamos em nossas casas, em momento algum eles privavam o povo de suas supostas liberdades.

Quanto mais se luta por liberdade, me parece que mais distante nos tornamos dela. A realidade é que ela tem um preço. José Marti, o grande nome da independência cubana dizia que "A liberdade custa muito caro e temos ou de nos resignarmos a viver sem ela ou de nos decidirmos a pagar o seu preço".

A questão que a canção trás, e a juventude de hoje embora cante não compreende, é que estamos nos tornando um país supostamente livre dentro de um cárcere. Talvez seria o mesmo sentido visto na religião, a qual prega uma liberdade por meio de uma prisão. Somos livres em Cristo por meio do aprisionamento ao conceito cristão empregado pela igreja.
Nobre Amigo Levi,

É por ai mesmo! É neste sentido obscuro e frágil que ruma o barco.

Trocando por miúdos, o que você chamou de “Dissimulação indissociável da convivência humana”, e que também já havia lido em alguns textos escritos por especialistas das ciências politicas, nada mais é do que o "auto-engano".

Esta vestimenta que cita como sendo frágil, acaba por transparecer de forma muito clara e nítida, naquilo que cada homem que encontramos se esforça por parecer que ele é... E ai surge uma defesa "gospel" misturada ao conceito de "confissão positiva" americano que debruçado no verso do sábio Salomão afirma ser o homem aquilo que sua alma imagina. Logo, esta tudo bem fingir ser o que não se é, desde que se esteja buscando viver aquilo que esta enraizado no amago de sua alma.

Eis a questão de encontrarmos tanta gente aparentemente feliz, aparentemente realizado, aparentemente livre, aparentemente desfrutando de um bem viver, mesmo estando cercado por muros e grades, sejam eles no mundo visível ou no invisível.

Abraço.
Caro Matheus,

Vejo semelhança, sim, meu amigo, uma vez que, no nosso país, vivemos uma verdadeira desordem em termos de segurança desde as duas ou três últimas décadas do século passado.

Podemos dormir tranquilos com portas e janelas abertas?

Nossa realidade é a mesma dos países escandinavos como a Suécia, onde os vizinhos não precisam gastar com a construção de muros ou a colocação de cercas para dividir as propriedades?

Na Jerusalém antiga, tanto antes como depois do exílio, tornava-se necessário erguer muros também por causa da insegurança causada pelos ataques de outras nações e também de grupos de saqueadores vindos do deserto. Naquela época, quem conseguia ocupar um vale e se estabelecer nele precisava de defesa contra os povos excluídos. A produtividade agrícola era bem menor do que na atualidade e já naqueles tempos era necessário investir em muralhas, exércitos e fazer guerras. Por que, afinal de contas, Moisés disse aos israelitas que exterminassem os amalequitas?!

Longe de mim elaborar aqui uma teologia de exclusão pois considero que a necessidade do muro precisa ser resolvida combatendo as suas causas e daí qdo. o irmão diz "em momento algum eles privavam o povo de suas supostas liberdades", hei de levantar minhas discordâncias.

Pode ser que, internamente, os judeus antigos tenham gozado de uma maior liberdade dentro de suas cidades muradas no convívio entre compatriotas e com estrangeiros residentes/visitantes. Mas houve momentos na história israelita que nem as paredes de uma residência foram suficientes para conter a violência como aconteceu no caso da morte da concubina do levita que podemos ler em Juízes 19.

Mas o que pode causar essa desordem interna e externa?

Penso ser as injustiças sociais praticadas pelas classes dominantes e seus governantes corruptos apenas uma da respostas. Mas existe também a questão ética em jogo porque, no momento em que um grupo social ou uma nação perde seus bons valores, seus integrantes passam a desrespeitar a vida, a integridade física, o patrimônio e a liberdade das pessoas.

No caso brasileiro, irmão, as duas explicações são cabíveis. Existem aí jovens e crianças que estão se formando sob a influência das drogas e do crime organizado. Ao invés de contarem com um pai e uma mãe que lhes transmita uma boa educação e as leve, por exemplo, para as aulas de uma escola bíblica na igreja, encontram no genitor um explorador do trabalho do menor ou alguém que os abandona à própria sorte. Tão pouco a sociedade se dispõe a acolher esses menores porque cada qual pensa assim: "isso não é problema meu". E aí a bola de neve vai cada vez mais aumentando de volume.

Verdade é que, na prática, não se tem uma medida total de liberdade. Por isso, precisamos dosá-la com as políticas de segurança a serem adotadas. Porém, o que se assiste hoje no Brasil é que quase sempre estamos a enxugar gelo. Muitas das causas da violência que assusta a todos (não só os moradores das grandes cidades mais) deixam de ser tratadas e aí uma indústria da segurança pública e privada vai sendo formada. Empresas de alarme e vigilância começam a lucrar com a bandidagem e o aumento dos assaltos de modo que a construção civil segue pelo mesmo caminho.

Pior do que Israel, o Brasil encontra-se ainda mais preso. Uma prisão dentro de nós mesmos. Diariamente a violência urbana faz centenas de vítimas em todo o território nacional. Não há paz em nossas ruas e vivemos num tipo de guerra civil. Perdoe o meu exagero.
Prezados confrades,

Dizer que podemos ser plenamente felizes nos trancando dentro de nossas casas seria mesmo uma inverdade. Mas o fato é que essa insegurança compõe a nossa realidade atual.

Todavia, o livro do Apocalipse vem nos mostrar que um novo mundo é possível quando João fala sobre a Nova Jerusalém. Permitam-me, pois, fazer uma breve citação bíblica aqui, sendo meu o destaque em negrito:

"As nações andarão mediante a sua luz, e os reis da terra lhe trazem a sua glória. As suas portas nunca jamais se fecharão de dia, porque, nela, não haverá noite. E lhe trarão a glória e a honra das nações. Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro." (Ap 21:24-27)

É certo que, dentro dessa visão, o futuro ideal só seria perfeito com a exclusão dos maus na nova comunidade e aí embora todos sejamos pecadores, devemos levar em conta que, se queremos melhorar a nossa nação e alcançar a tão desejada liberdade com segurança, vai ser preciso eliminar o mal no nosso meio.

Mas como eliminar o mal? Bastaria, por ex., prendermos os cidadãos que matam, roubam e estupram?

No entanto, o mesmo texto profético citado acima fala do caminhar na luz, o que significa a busca da instrução e do conhecimento de Deus. Significa estudarmos mais a Sua Palavra esforçando-nos para andar nos passos do Cordeiro que são segundo a Verdade.

Amados, precisamos evangelizar o mundo se de fato pretendemos mudar algo e vivermos numa sociedade melhor. Mesmo que somente os nossos filhos e netos colham os frutos, não vejo outro caminho senão transmitirmos o ensino da Vida conforme a Palavra de Deus afim de que as pessoas se convertam e ocorra a tão sonhada transformação planetária. Pois "feliz é a nação cujo Deus é o SENHOR".

A paz!
Nobre Amigo Rodrigo,

Jerusalém tinha seus muros para os defender do ataque que em tese seria do inimigo, que era as outras nações. Os muros da canção são para nos proteger daqueles que em tese deveriam ser nossos irmãos. Aqui não há semelhança entre um e outro. O contexto é outro, e a realidade é outra. Os israelitas viviam bem uns com os outros, exceto alguns casos isolados. Nós não vivemos muito bem nem mesmo entre família.

Essa de teologia da exclusão, bem nomeada inclusive pelo confrade rsrsrsrs já é muito antiga, e nós a alimentamos inconscientemente quando nos trancamos em ideais supostamente perfeitos de vida, deixando para os que não se enquadrarem viver do outro lado do muro... Ou não é exatamente isso que os sistemas religiosos fazem?

O que acontece conosco quando somos contrariados em uma argumentação? Fingimos que somos compreensivos e tolerantes, mas no fundo passamos a fugir de tais pessoas. O que acontece quando alguém diz não acreditar em nossas crenças e passa a fazer uma apologia ao abandono da fé? Fingimos que esta tudo tranquilo, mas na verdade não pensamos duas vezes em construir muros e força~los a comprar aquilo que estamos defendendo... e as vezes até na marra. Infelizmente esta é a cina do ser humano, convencer o outro de que ele esta certo, e o seu caminho é o que tem menos pedras.

Eu, na verdade não me preocupo muito com os muros visíveis que construímos, mas sim com os invisíveis, que na grande maioria não construímos, mas ajudamos a preservar.

Abraço.
Olá, Matheus.

Você não concordaria comigo que, se um povo chega ao nível de violência como ocorre no Brasil, sua nação não estaria perto de um fim auto-destrutivo?

Estamos em crise, meu amigo. Uma crise que, antes de ser política, econômica, ecológica ou institucional, seria também de ordem ética. Pois, se ao invés de meros grupos sociais, passamos a ter classes que dominam as outras pelo poder do dinheiro, já não há mas um sentimento fraterno entre as pessoas. E, se numa igreja, as desigualdades sociais são refletidas entre seus membros, tal congregação religiosa acaba se tornando mais um aparelho repressor manipulado pelas elites interessadas em incutir conformismo nos cidadãos mais carentes.

A nação de Israel passou por diversos momentos. Houve gerações em que o povo abandonou a Torá foi atrás de falsos deuses e chegando a sacrificar os próprios filhos a Moloc. Não foi por menos que os profetas a exemplo de Jeremias e de Amós denunciaram tanto as injustiças sociais.

Entre nós, os muros foram erguidos como uma consequência de um processo de exclusão social. Até 13/05/1888, havia a escravidão negra no país e, portanto, esses trabalhadores precisavam ficar encarcerados em senzalas dentro das ricas fazendas de café. Se formos numa época ainda mais distante, lembraremos de que as primeiras cidades, inclusive São Sebastião do Rio de Janeiro, tiveram que se proteger dos ataques dos índios uma vez que estavam invadindo as terras antes pertencentes às tribos tupis, mais precisamente dos tamoios.

Pois bem. A República foi proclamada e os ricos continuaram a explorar os pobres. No lugar dos escravos, vieram os trabalhadores assalariados muito mal pagos no campo e na cidade. Getúlio criou os direitos trabalhistas, mas a dignidade humana ainda não foi alcançada e a situação piorou muito nos anos do regime militar coma inflação reduzindo o poder de compra do trabalhador que recebia reajustes geralmente inferiores.

Pois bem. Embora não seja essa a única explicação para a nossa crise (eis aí um dos motivos pelos quais critico as limitações do marxismo), podemos dizer que, nos anos de 1980, a sociedade herdou todo esse caos num nível bem elevado e as injustiças não puderam ser corrigidas no dia seguinte ao nascimento da atual Constituição. Direitos foram reconhecidos no plano jurídico mas ainda precisam se concretizar no cotidiano do brasileiro.

Agora pense numa coisa. Entre os ricos e pobres, temos aí a classe média, a qual não pode ser considerada como responsável direta pelo que ocorre. A classe média, embora pratique também suas injustiças, não deixa de ser uma vítima do sistema desigual dos maus empresários e políticos corruptos. Há entre os remediados cérebros pensantes e defensores das causas do trabalhador explorado. Só que o fato de um profissional da classe média tornar-se um ativista dos direitos humanos e sociais não o livra da crescente violência nas ruas, dos assaltos às residências, dos sequestros relâmpagos para sacar dinheiro nos caixas eletrônicos, dos roubos nas lojas, dos usuários do crack ou mesmo dos manifestantes mascarados que se infiltram nos protestos financiados por sabe lá quem.

O irmão disse se preocupar mais com os muros "invisíveis" que, inconscientemente, preservamos quando não o construímos. Nisto estou também de acordo. Pois antes de ser exteriorizado, qualquer muro foi um dia concebido na mente humana e muitas as vezes escolhido como a única maneira de se enfrentar o problema. Até mesmo porque resolver a causa pode não interessar ao construtor do muro. Não concorda com este raciocínio?
"não me preocupo muito com os muros visíveis que construímos, mas sim com os invisíveis, que na grande maioria não construímos, mas ajudamos a preservar" (Matheus)


Concordo plenamente com essa colocação. Até porque, antes de um muro se exteriorizar, ele é primeiramente construído nas nossas mentes.

Não seria por isso que muitos resistem à pregação da Palavra de Deus uma vez que tais pessoas construíram seus muros em relação à Bíblia, os crentes e até mesmo quanto a Deus?

A paz!
Eduardo Medeiros disse…
A normalidade da espécie humana é a violência. O estranhamento. Bondade e alteridade são anomalias. A violência não se expressa somente naquele ato mais absurdo como matar uma criança por que ela chora muito durante um assalto. Violência são todos nossos pequenos gestos de repulsa, de não solidariedade básica, como não se levantar num ônibus para dar lugar a uma grávida ou a alguém idoso; é a forma bruta de nos dirigirmos a um vendedor de telemarketing que torra nossa paciência, te oferecendo o que você não quer insistindo mesmo depois de você dizer "não" duas vezes, como eu fiz ontem com um pobre, chato e insistente vendedor e depois fiquei analisando, arrependido, minha reação tão violenta.

O estado natural do homem é a guerra. A paz social, as regras, leis e impedimentos, é uma invenção que nos permitiu chegarmos até aqui sem nos eliminarmos por completo. Mas como estivemos perto disso nos tempos da Guerra Fria...bastava alguém muito poderoso apertar um botão e tudo...Bummmm...
Eduardo Medeiros disse…
A violência está presente em todos os recantos da natureza. A cadeia alimentar de bicho comendo bicho é de uma violência atroz, muitas vezes, bela e chocante. É a luta pela sobrevivência. Mas esse espetáculo feroz se torna multidimensionado quando seres que alcançaram a consciência do mundo, a razão e a inteligência, continuam agindo como bichos na floresta não apenas para sobreviver, mas para dar vazão ao seu instinto predador.
A necessidade de se organizar em sociedade, em impor leis contra nossos instintos mais animais é uma forma de manter o animal em nós amestrados. Mas o milagre da consciência também nos trouxe a capacidade de analisar nosso próprio mal. A consciência humana nos faz perceber que a paz é desejável, que sem solidariedade não se vive bem, e então, travamos as nossas lutas diárias entre esta "evolução da consciência" e a primitividade de quem somos em essência. Creio que de modo capenga, conseguimos evoluir na solidariedade. Já sabemos dar valor à nossa "humanidade", apesar que paradoxalmente, nossa humanidade ser expressão da violência.

Conseguiremos ganhar essa guerra contra nós mesmos?
Conseguiremos ser inteligentes ao ponto de concluirmos que sem solidariedade, alteridade, compaixão, ajuda mútuas, não conseguiremos sobreviver?

Quem ganhará a guerra entre a "carne e o espírito"? Como já meditamos tantas vezes a partir da psicanálise abordada tão bem pelo nosso confrade LEVI, tentar negar qualquer um dos lados de nossa constituição não é o caminho; o caminho do equilíbrio é o desejável - já dizia o Tao que o caminho do meio é o melhor.
Nobre Amigo Rodrigo,

Você indaga,

""Não seria por isso que muitos resistem à pregação da Palavra de Deus uma vez que tais pessoas construíram seus muros em relação à Bíblia, os crentes e até mesmo quanto a Deus?""

É sim por este motivo que muitos resistem não somente ao evangelho, mas também ao kardecismo, ao hinduísmo, ao islã, ao ateísmo, e tantas outras formas de se interpretar os grandes mistérios da vida. Nós como teístas e seguidores dos ensinamentos do Cristo vamos sempre puxar a sardinha para o nosso lado, e isso ao meu ver é mais do que normal, pois se acredito de fato e não defendo, algo há de errado e muito frágil nessa minha crença, o que levantaria suspeitas de ser apenas mais um engodo.

Mas e aos outros que defendem uma crença diferente, ou ainda uma descrença, porque os resistimos? Talvez alguns dirão: “porque nós conhecemos a verdade”, e mais uma vez prevalecerá o muro separatista invisível que vamos preservando inconscientemente.

Viver é muito complicado, viver juntos só um pouquinho mais rsrsrsrs

Como dizia o poeta Raulzito, “é sempre mais fácil achar que a culpa (erro) é do outro... rejeita o aperto de mão de um possível aliado... convence as “paredes” do quarto e dorme tranquilo”
Nobre Amigo Eduardo,

Muito pertinente sua exposição, bem bacana mesmo.

Mas vamos lá... Sei que tenho uma longa jornada para percorrer até que possa alcançar o vasto conhecimento do amigo, mas tentativa é sempre valida rsrsrs

Em “Perpétua Paz” Kant diz,

"O estado de paz entre os homens que vivem juntos não é um estado de natureza (status naturalis), o qual é antes um estado de guerra, isto é, um estado em que, embora não exista sempre uma explosão das hostilidades, há sempre todavia uma ameaça constante. Deve, pois, instaurar-se o estado de paz; a omissão de hostilidades não é ainda a garantia de paz e, se um vizinho não proporcionar segurança a outro (o que só pode acontecer num estado legal), cada um pode considerar como inimigo a quem lhe exigiu tal segurança."

Penso que seja assim desde que o mundo é mundo, o que passa a dar um sentido mais amplo para os muros de Jerusalém citados pelo Rodrigo, e em partes esclarece a suposta invenção “necessária” que o amigo cita, e que não há como discordar que tudo isso faz o maior sentido.

Quanto as perguntas que nos deixa, vou buscar ser bem especifico ao lhe responder, tendo como base minhas experiências e o meu achismo nato rsrsrsrs

“Conseguiremos ganhar esta guerra contra nós mesmos?”

Quem foi que disse que precisamos ganhar? Se empatarmos, ao meu ver já é lucro.

“Conseguiremos ser inteligentes ao ponto de concluirmos que sem solidariedade, alteridade, compaixão e ajuda mútua não conseguiremos sobreviver?”

Conseguiremos sim. Entender é o que o ser humano faz de melhor. O que não conseguimos é compreender que há um abismo muito grande entre o “entender o que fazer” e o “entender como fazer”. Eis a grande problemática que enfrentamos e ocultamos. Sabemos o caminho que leva a Compostela, mas não queremos ter calos nos pés, logo, para que caminhar?

“Quem ganhará a guerra entre a carne e o espírito?”

Mais uma vez recorro ao empate. Ao equilíbrio dos polos. E talvez isso nos leve a uma velha discussão que já tivemos em um passado recente aqui mesmo na CPFG sobre os princípios do prazer e da realidade de Freud, e a necessidade do equilíbrio.

O negócio é “Fróid” meu irmão kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Nobres Amigos Confrades,

Bom seria se conseguissemos adquirir a consciência de que Osho menciona nestes pequenos versos...

Paz na Terra

""Se você realmente quer a paz na terra,
crie a paz em seu coração, em seu ser.

Este é o lugar certo para começar.
E então distribua e irradie paz e amor.

Quanto mais e mais pessoas se tornarem pacíficas e alegres,
Quanto mais e mais pessoas possam dançar e cantar,
Quanto mais e mais pessoas possam dizer aleluia do seu mais profundo ser,

Se tornará impossível para essas poucas e loucas pessoas de criar uma guerra.""

Osho - The way of the Buddha. Vol.8

Sem religiões, sem sistemas, apenas dentro de nossa própria mente. Paz em mim, paz com o outro, enfim paz na terra!
Prezado Edu,

Escrevendo sobre esses dois comentários seus acima publicados, digo-lhe que, na verdade, a violência tem acompanhado o homem em sua história, o que não significa que a nossa espécie sempre foi assim. Será que, no princípio, antes da queda relatada por Gêneses, a humanidade não teria sido pacífica?

Penso que os animais seriam muito mais humanos do que nós. Eles agem por extinto e aos próprios predadores não buscar fazer o mal. Aliás, tigres, leões e panteras, apesar de caçadores implacáveis, também são uns gatos brincalhões. E aí, se numa fase pré-histórica, nossos ancestrais mataram por causa de alimento, espaço ou fêmea, agiram desprovidos da maldade.

Ao adquirirmos consciência e, pior ainda, buscando definir por nós mesmos (pela nossa conveniência) o que seria certo ou errado, fizemos do relacionamento humano uma tragédia. Esta seria uma explicação do pecado cometido lá no Éden em que o homem resolveu separar-se de seu Criador.

Creio que Deus jamais foi contra o despertar da consciência. Muito pelo contrário. O Eterno plantou no Éden muitas árvores para que fizéssemos experiências. Só que um limite foi estabelecido e resolvemos ultrapassá-lo querendo ser deuses ou "como Deus", conhecedores do bem e do mal.

Meu amigo Edu e demais confrades, só vejo uma solução que é o ARREPENDIMENTO e a CONVERSÃO sincera ao Deus Único! A "guerra" será ganha pela pregação do Evangelho, levando as mentes ao conhecimento de Cristo, o que certamente contempla aquilo que expôs na sua fala: "solidariedade, alteridade, compaixão, ajuda mútuas".

Não sou grande fã do Tao. Respeito as tradições dos orientais, mas prefiro me guiar pela leitura da Bíblia mesmo. Recebemos de nossos ancestrais uma herança que, se for aprendida no CORAÇÃO, vai nos conduzir à tão desejada paz. Paz esta que não é utopia. É a normalidade que o ser humano perdeu por causa do erro existencial que as Escrituras chama de "pecado".

Abraços.
Olá, Matheus.

Um bom evangelista não vai ficar criando resistências ao outro que seja de crença diversa da sua (incluo o ateísmo também como uma crença). Ao pregar Jesus Cristo a alguém, tenho a consciência de que estou dialogando construtivamente. Estou chamando meu semelhante para construir junto comigo o Reino de Deus na Terra: nos corações, nas relações interpessoais, na política, etc.

Todavia, reconheço que evangelizar e fazer missões pelo mundo não são tarefas fáceis. O apóstolo de Cristo precisa ter sensibilidade, aprender a ouvir, jamais impor um pensamento e valorizar o que há de positivo na cultura do outro. Também deve ele estar pronto ara reconhecer seus erros porque, na execução desse desafio, certamente serão muitos.

No livro de Atos, há uma passagem que conta terem Paulo e Barnabé discutido por causa do recuo de Marcos, sobrinho deste, o qual não foi até o final na missão dos dois apóstolos. Barnabé insistia que o sobrinho fosse com eles na segunda viagem e acabou se separando do colega. Tempos depois, Paulo escreveu em sua epístola elogiando Marcos pela sua utilidade. Ou seja, isso nos ensina que as pessoas mudam e que o pregador do Evangelho precisa recuar nas suas posições quando for preciso.
Nobre Amigo Rodrigo,

Esta abordagem faz todo sentido se declararmos ser a narrativa bíblica uma verdade irrefutável e sem a menor possibilidade de erros. Embora a tenha como uma espécie de livro guia para as circunstâncias essenciais de minha vida, tenho alguns receio de fazer dela a grande revelação para o mistério do cosmos e do que nele há... Me sinto um pouco presunçoso em fazer tal defesa.

Um discurso muito fechado é como um muro nos separando daqueles que conosco poderiam equilibrar essa loucura de ideias. Se eu afirmo que tudo se resume ao Genesis, descarto o pensamento de cerca de quatro bilhões de cérebros que não compartilham da mesma crença. Calcule o tamanho da muralha que estamos preservando!
Nobre Amigo Rodrigo,

E porque não dizer que o ateísta ao dialogar com você não esteja também lhe convidando para construir um mundo na terra, onde os corações sejam puros, porém sem a figura de um deus?

Ou ainda... Porque a rejeição de um ateísta ao Reino de Deus é considerada um equivoco, e a rejeição de um cristão ao abandono da fé um passo de sabedoria?

Acaso é necessário mesmo uma conversão, um deus, uma crença para viver em paz? Acaso seria impossível viver bem, por simplesmente viver?
Concordo neste aspecto com o pensador budista (suponho que tenha citado as palavras do renomado Rajneesh Chandra Mohan Jain) que viveu entre 1931 e 1990 por osho seria um título de reverência concedido a certos mestres no segmento zen).

Como alguém vai pregar uma paz que não vive?

Como começar a experimentar algo senão por si mesmo?

Eu diria que, neste aspecto, o comunismo falhou por tentar estabelecer a paz pela guerra e pela violência das ditaduras totalitárias. Uma contraditória paz vermelha...

Ainda assim, nunca poderemos ser tão ingênuos achando que o homem totalmente pacífico não necessite proteger-se da violência. EM outras palavras, vc fica bem consigo mesmo e abe como resistir aos ataques com sapiência. Busca desarmar o adversários pelo diálogo e oferecendo a outra face, mas não deixa que ele te mate. Leve um tapa, mas não uma porrada que te arrebente.

De qualquer modo, está m ais apto para ser vitorioso na guerra aquele que vence o conflito dentro de si mesmo.
Oi, Matheus.

Talvez estejamos dizendo quase a mesma coisa ou apenas usando termos e orações diferentes.

Acredito que o ateísta possa também estar do jeito dele buscando construir essa nova realidade assim como admito que o ateísmo dele possa ser uma reação às concepções que os religiosos tentam impor acerca de Deus. Contudo, não vejo uma construção duradoura quando a espiritualidade é desprezada pelo outro a ponto do sujeito se alienar nessa área da Vida.

E por que isso seria um equívoco? Bem, não vejo dificuldades para entender ainda que não possa comprovar a existência de Deus. Sinto Deus em toda parte, vivo Nele, sou nutrido pelo seu gracioso amor, levantado por seus anjos nas horas mais difíceis, fortalecido pela Sua Palavra e tal experimentação faz com que em vários momentos vislumbre a Vida de Cristo em mim. Logo, considero tolice mesmo um homem esquecer-se de seu Criador assim como trocar Deus pela religião.

Neste sentido, o ateísmo é muito perigoso porque, se os ateus se limitassem a questionar os conceitos que os homens estabelecem acerca da Divindade, seria algo até bem construtivo. Só que, na prática, o que mais encontro são ateus arrogantes e que se consideram donos da razão e ficam prejulgando os religiosos como "ignorantes". Muitos perseguem o Evangelho chegando a se intrometer na evangelização infantil, atacando os pastores, deturpando coisas da Bíblia, etc.

Acerca das duas últimas perguntas que formulou, esclareço que quando falo em conversão, refiro-me a uma mudança de rumo não ao fato de alguém aderir a uma nova religião ou abraçar um conjunto de crenças/doutrinas. Falo, portanto, em atitudes, em recolher as sementes negativas que um dia espalhamos pela superfície da Terra, o que significa voltar a viver, simplesmente viver, aproveitando aqui as suas palavras.

A paz.
É possível fazer através da Bíblia discursos abertos, Matheus. Essa tem sido a minha experiência ultimamente. Como todo livro, ela pode conter imperfeições, mas como Palavra de Deus é alimento que precisamos para caminhar nesse mundo de trevas. Como literatura, ela não se enquadra universalmente na cultura de todos os povos, assim como o Gita, uma escritura hindu, seria algo estranho para os brasileiros. Porém, a Palavra de Deus por trás do texto sagrado faz-se luz para o mundo inteiro. Cabe ao evangelista saber transmitir em cada língua a mensagem de Cristo afim de que o Evangelho de nosso Senhor seja comunicado a todos os povos.
Levi B. Santos disse…
Caro confrade Rodrigo

Ao embasar as suas propostas por um mundo melhor, você, frequentemente , faz alusão a um “Reino de Deus”, “Palavra de Deus”, “sinto Deus e vivo nele”.

Eu entendo que quando um povo nomeia e propaga o seu Deus como único e verdadeiro, no fundo, visa uma vitória da sua divindade sobre os “deuses” dos outros povos. Essa espécie de maniqueísmo, no fundo, visa um triunfo político, revestida por uma capa ou vestimenta teológica a meu ver, frágil. O Triunfo de um Deus de determinado povo vai de encontro a paz que se deseja.
Como disse, certa vez, Nilton Bonder, presidente da congregação Israelita no Brasil:

“Não haverá paz enquanto ambos, ou melhor todos os lados interessados nela não forem derrotados. Uma derrota na expectativa de triunfo é a única esperança de paz. Quem vence produz um vencido e se coloca na cadeia sucessiva e interminável da violência. Fundada há três mil anos pelo rei Davi, Jerusalém era um projeto. Seu nome o revelava: a cidade da plenitude ou a cidade da paz. O projeto, no entanto, sintetizava a dificuldade humana em obter a paz. Jerusalém se transformou em símbolo do triunfo, e se há algo que a paz não é... é ser fruto do triunfo.”

"As nações andarão mediante a sua luz, e os reis da terra lhe trazem a sua glória. As suas portas nunca jamais se fecharão de dia, porque, nela, não haverá noite. E lhe trarão a glória e a honra das nações”.

O discurso vitorioso e ufanista de um povo escolhido por Deus em detrimento dos outros deuses quer guerra e não paz.

Na psicanálise, pelo menos, se tenha a percepção de que o profano nunca vencerá o sagrado e vice versa. A paz jamais pode ser conseguida através da polarização. A síntese diz que Deus e o Diabo andarão sempre na terra do sol ou da psique.

A Escola dominical, quando era criança, dizia, e ainda diz: o Deus que habita no crente vai vencer o Diabo que ronda lá fora. Nenhuma seita pentecostal ainda conseguiu se livrar desse maniqueísmo que tem no seu núcleo, a intolerância.

Fernando Pessoa já dizia algo insofismável: “ o que vemos não é o que vemos, senão o que somos”

O que a psicanálise diz desses elementos bíblico míticos que compõem a nossa natureza dúbia ou ambivalente: Ela diz que as imagens do diabo ou de demônios que vemos lá fora é precisamente igual ao diabo e demônios que moram dentro daquele que os vê.

Se há algo que as religiões não podem trazer, esse algo seria a paz.

Os grupos religiosos têm uma irmã siamesa inseparável. A essa irmã muitos a nomeiam: de vitória, de glória e de poder.



Prezado Levi,

Pena que tenha compreendido as minhas exposições pelas entes do triunfalismo. Sei que o discurso religioso pode ainda assustá-lo, mas não é o que pretendo promover quando falo em coisas tipo evangelizar o mundo com Cristo e propagar a crença no Deus Único. Observe que estou usando muitas palavras de ordem comum às várias igrejas, porém com uma destinação mais aberta, tolerante e pacífica. Só pesso ao irmão e demais confrades que esforcem-se por me entender ao invés de criarem um muro quanto às minhas colocações.

Sua citação do rebe Nilton Bonder foi ótima. Concordo plenamente com ele e penso que a Jerusalém atual acabou tropeçando nas armadilhas do triunfalismo nacionalista. A criação do Estado de Israel acabou sendo um tanto precoce e foi impulsionada pelos terrores vividos pelo nazismo durante a 2ª Guerra, algo que acabou dando maior força ao movimento sionista. Todavia a História não pode ser baseada na partícula "se"... E se acontecer, não haveria aí um toque de Deus, o Soberano do Universo, para bem refletirmos?

Quanto à citação do Apocalipse, se o confrade reler, verá que evitei dar uma interpretação triunfalista ao texto que fala da Nova Jerusalém. Talvez o escritor bíblico até pensasse de uma maneira ou quiçá os redatores. Mas quando se trata de um livro sagrado, não deve o leitor temente a Deus rasgá-lo e jogá-lo fora. Deve-se reverentemente dialogar com a Palavra que está acima do texto buscando a iluminação sobre a Mensagem a ser proclamada no tempo que se chama hoje.

Neste sentido, o meu Evangelho, que é o de Cristo, seria a busaca desse diálogo destinado aos homens. De modo algum quero arrogar-me em ser dono da razão. Antes reconheço a minha pequenez, o quanto sou pecador e imundo, e que tem lábios imundos, um ser carente da graça do Eterno, alguém que não possui justiça própria mas que, por meio de Cristo, torno-me incondicionalmente aceito.
Sabe, Levi, eu creio no Evangelho. Sei que a Mensagem de Cristo é poderosa para salvar as almas perdidas neste mundo. Sei o quanto o Espírito de Deus age na vida de um drogado, de um bandido, de uma prostituta e de muita gente. Sei também que esse Evangelho transforma e, se for levado adiante com seriedade, pode formar comunidades fraternas como os crente da Igreja Primitiva. Claro que dentro do nosso contexto atual.
Em tempo!

Pregar Deus como sendo o único não significa afirmar que a minha concepção sobre a Divindade seja a verdadeira.

Pode-se entender a confissão judaica de que o Eterno é Um como um chamado à unidade entre todos os povos para celebrarem a adoração ao Sagrado praticando a justiça e promovendo a paz.
Levi B. Santos disse…
“... o futuro ideal só seria perfeito com a exclusão dos maus na nova comunidade e aí embora todos sejamos pecadores, devemos levar em conta que, se queremos melhorar a nossa nação e alcançar a tão desejada liberdade com segurança, vai ser preciso eliminar o mal no nosso meio”. (Rodrigo)

Mas será mesmo possivel eliminar o “mal” da natureza humana, Rodrigo?

Acho que o mal não se elimina.

O velho testamento, mostra que não se pode eliminar o mal. Quanto mais desejamos exterminá-lo-lo o que fazemos é simplesmente projetá-lo no outro. A história do “Bode expiatório” não me deixa mentir. Sentimo-nos aliviado quando encontramos outro para ser o depositário de nossos recalques. Em nossas fortalezas sentimo—nos livre da escória humana que vegeta lá fora.

E porque não dizer que se projeta isso para um futuro após a morte. João no Apocalipse, dizia: “Até quando Senhor não vingarás a morte dos justos!”

O céu vindouro não teria graça nenhuma se não existisse o inferno para queimar os “maus”.

Na verdade, com o declínio da autoridade paterna na modernidade arrefeceu muito o poder destruidor tirânico que eliminava o que seria o mal para ficar só com o bem.

Miserável homem que sou! Quando quero fazer o bem o mal está comigo. (Saulo de Tarso)

Inspirado no apóstolo, Caetano Veloso, de forma bela e poética deu uma nova forma ao Conflito Paulino, fazendo uma genial SÌNTESE entre o “Bem” e o “Mal”, que reproduzo abaixo:

Meu Bem, Meu Mal
[Caetano Veloso]

Você é meu caminho
Meu vinho, meu vício
Desde o início estava você
Meu bálsamo benígno
Meu signo, meu guru
Porto seguro onde eu voltei
Meu mar e minha mãe
Meu medo e meu champagne
Visão do espaço sideral
Onde o que eu sou se afoga
Meu fumo e minha ioga
Você é minha droga
Paixão e carnaval
Meu zen, meu bem, meu mal


Só para desopilar, Rodrigo. O debate estava muito sério (rsrsrs)


Descontrair sempre é bom, Levi.

Compreendi o que colocou e ressalto que o foco dever aprendermos a lidar com as nossas tendências ruins.

Mas e o que fazermos com aqueles que não estão dispostos a aprender e a melhorar?

Longe de me considerar superior ao próximo, eu diria que, mesmo num mundo onde a autoridade paterna arrefeceu, as medidas punitivas/preventivas, entre elas a de restrição da liberdade, precisam ainda ser postas em prática no processo de construção desse nosso tão sonhado "céu".

Digo ao amigo que a educação precisa vir em primeiro lugar de maneira que não embarco de cabeça nesses discursos oportunistas sobre segurança geralmente impregnados de demagogia e de insensibilidade social.

Por outro lado, com toda a simplicidade é preciso não abrir mão da prudência. Justamente porque a malignidade é mais forte em uns do que em outros a ponto de atentar contra o padrão de convívio que se busca estabelecer, certos muros ainda são justificáveis.
Eduardo Medeiros disse…
Matheus:

Conseguiremos sim. Entender é o que o ser humano faz de melhor. O que não conseguimos é compreender que há um abismo muito grande entre o “entender o que fazer” e o “entender como fazer”

Olha, a verdade é que essas questões são complexas demais. Cada indivíduo é um mundo à parte. Cada um de nós entende e percebe o mundo de forma diferente. O caminho para a "paz" do RODRIGO pode não coincidir com o caminho do LEVI que não concordará com o do EDU...

Veja a Guerra Fria. A "paz" foi alcançada na corrida armamentista, já que as duas superpotências, tinham que ter o mesmo poder de fogo, senão, a outra pensaria que poderia vencer a guerra.

Quer "paz" mais interessante que aquela? rss

o RODRIGO, agarra-se à sua tentativa de impor o "absoluto do Cristo" ainda tentando, inutilmente, no meu entender, relativizar esse absoluto. Não tem como. Ou se afirma de uma vez por toda a verdade absoluta de Cristo como o centro para onde todos os homem DEVEM ir ou a relativização acaba por tirar toda a força do absoluto. Ou então, que se negue o absoluto do Cristo, fazendo dele apenas uma via de muitas possíveis.
Eduardo Medeiros disse…
Matheus, para com essa merda de "Sei que tenho uma longa jornada para percorrer até que possa alcançar o vasto conhecimento do amigo"; deixa de ser um falso modesto, seu cabeção!!! kkkkkkkkkkkkkk
Eduardo Medeiros disse…
LEVI disse que o mal não pode ser extirpado da natureza humana. Eu concordo. Mas durante muito tempo, fui um romântico que achava que as pessoas eram boas por natureza e eram os percalços da vida em sociedade que as corrompia. (tem um filósofo aí que dizia isso, né?). Eu confiava em todo mundo...levei muito "tapa na cara" até descobrir que o homem é lobo do homem, como já dizia outro filósofo.

A própria Bíblia, em seus provérbios adverte: MALDITO O HOMEM QUE CONFIA NO HOMEM
Isso serve tanto para si mesmo como para o outro.

Por outro lado, vejo com certa compreensão quando o RODRIGO diz que os "maus em excesso" - apesar de refletirem o mal que também está em mim, talvez não em excesso - precisam ser "retirados" da sociedade.

Não que isso nos faça melhores. NÃO. Serve apenas para lembrar-nos que o mal nele é o mal que está em nós também, e que a diferença está somente no quanto de mal você está disposto a por para fora.
Eduardo Medeiros disse…
Olhando assim, do alto, o cenário é catastrófico!
Não seria nada de mais afirmamos que o homem é um projeto inacabado. (algum filósofo aí também disse isso). Ou, um projeto mal feito...

RODRIGO, eu prefiro não argumentar aqui levando como fato histórico que "antes da queda" o homem era pacífico. Só podemos conjecturar isso de forma teórica, sem comprovação alguma. Melhor deixarmos os relatos iniciais do Gênesis como mitos, pois como mitos, eles têm muito a nos dizer, mas como fato histórico, se apequenam diante dos dados que podem ser verificáveis.

E se pensarmos bem, a "queda" do homem conforme Gênesis, foi uma queda "para o alto" - saímos da inocência, para a consciência. E Deus disse...

"AGORA, JÁ QUEREM AUTONOMIA E CONSCIÊNCIA, ARQUEM COM AS CONSEQUÊNCIAS, MAS EU NÃO PODERIA ESPERAR OUTRA COISA DE VOCÊS! A AVENTURA HUMANA VAI COMEÇAR....COMO ESTAVA TÃO MONÓTONO ESSA VIDA NO PARAÍSO...
Eduardo Medeiros disse…
Mas se como acreditamos, em nós habita MAL E BEM (até o teólogo maior do cristianismo pensava assim) e como o teólogo CAETANO cantou em "Meu Bem Meu mal" o que nos resta?

Aqui vou evocar as falas do Osho, postadas pelo MATHEUS.

Se você realmente quer a paz na terra,
crie a paz em seu coração, em seu ser.


Poderíamos, com todo respeito ao Osho (dizem que ele é divino e tem poderes extraordinários) reescrever sua fala assim:

Se você quer realmente a paz na Terra,
comece a equilibrar você seus pólos antagônicos.
Comece a ver que o mal do outro não é do outro,
na verdade, é seu.
E então, solidários em nossa natureza perversa mas
com potencialidades altruístas,
vamos caminhar nessa corda bamba...
Eduardo Medeiros disse…
Jesus também disse que os pobres sempre estariam por perto.

A guerra, também.
Eduardo Medeiros disse…

Um refresco musical..

http://www.youtube.com/watch?v=u6UTyHgHpMo


Levi B. Santos disse…
Melhor deixarmos os relatos iniciais do Gênesis como mitos, pois como mitos, eles têm muito a nos dizer, mas como fato histórico, se apequenam diante dos dados que podem ser verificáveis

Poderia (por que não?) ser esse, um brilhante epilogo de todo nosso longo dialogo, até aqui, sobre o tema em pauta, Eduardo.

Não foi à toa que Jung estudou minuciosamente os Mitos. Foi bebendo das fontes míticas da mitologia clássica que ele conseguiu decodificar o que seria o “mal” e o “bem”, as trevas e a luz, estruturando esses elementos, no que denomino-os de ARQUÈTIPOS.

No maravilhoso livro― Teologia da Cultura (páginas 172 e 173) ―, Paul Tillich diz algo irrepreensível:

“Certamente a psicologia profunda tem sido de infinito valor para a teologia. A teologia tem recebido tremendo auxílio do existencialismo e da psicanálise, não imaginados no passado. Temos agora, essa ajuda. Eles não precisam saber que deram tanta coisa boa à teologia. Mas os teólogos precisam saber disso. É importante saber que a Teologia teve de aprender com o método psicanalítico o significado da “graça”. Por fim, a psicologia ajudou a teologia a redescobrir as estruturas “demoníacas” determinantes de nossa consciência e de nossas decisões”

Nobres Amigos Confrades,

Quando tornamos algo como absoluto em nossas vidas, como por exemplo o fato do Genesis, dificilmente abrimos nossa mente para um nova perspectiva, mesmo que estejamos divagando ou conjecturando por uma linha de raciocínio equivocada. Eu prefiro transitar pelo caminho da dúvida, e assim manter as portas do meu entendimento abertas para novas experiência... Para partir para a outra 'margem", seguindo assim o convite de Jesus aos seus discípulos quando se cansava de determinado lugar... Precisamos buscar novas experiências e novas possibilidades... Pois somente assim poderemos concertar algo que venha estar de certa forma equivocado em nossos pensamentos! Não tem nada melhor do que mudar, quando somos convencidos de que há uma possibilidade ainda mais plausível. Mas para isso, precisamos dispensar os raciocínios absolutos.

O próprio Jesus mudou de opinião quando convencido de que havia uma outra possibilidade. Acaso não nos recordamos da mulher siro-fenicia, o pão na mesa, os cachorrinhos e as migalhas??? Seria o Mestre um defensor de ideias absolutas? Ou seria ele um homem que por estar com sua consciência muito mais evoluída que as nossas, estímulou o exercício da dúvida para que os homens por si pudessem escolher qual caminho trilhar?

Penso eu que meditar sobre Genêsis do ponto de vista mitológico é muito mais útil e eficaz do que como Logos. Ficar caminhando sobre certezas é como pisar em ovos... Não resistiram o peso, e se quebrarão!
Seria uma ideia e ecumenismo filosofico-religioso kkkkkkkk
Porra... Deixa eu ao menos fingir que sou 'humi'R'de" kkkkkkkkkkkkkk
Nobre Amigo Eduardo,

É a velha historinha que um dia me contaram na classe infantil da EBD... Aquela dos dois lobos internos, o mau, e o bom! Sempre prevalece aquele a quem damos mais alimento.
Exatamente.

Concordo com Paul Tilich.

Talvez a compreensão de si mesmo por meio de uma introspecção voluntária ainda venha salvar a teologia destas bobagens que se fazem hoje em nome dela. Oxalá todos percebessem que do outro lado da ponte o rio continua a correr!
errata última frase - Não "resistirão" o peso e se quebrarão.
Oi, Edu.

Não estou tentando impor o absoluto do Cristo e nem o monoteísmo do Eterno. Simplesmente estou mostrando que a fé cristã e também o Deus Único seria algo compatível com o universalismo. O politeísta crê que cada força da natureza se represente por um deus. O monoteísta, porém, acredita que todas as forças e todas as energias brotam da mesma Fonte, de um Único Poder Elevadíssimo que cria, constrói, destrói e domina. Sobre Cristo, podemos entende-lo como o nível de Consciência Elevada ao qual o homem convertido pretende chegar. Não dá para negar o absoluto do Cristo, mas é possível torná-Lo acessível a quem não tenha sido doutrinado no cristianismo, inclusive aos que viveram nas eras anteriores ou em culturas não evangelizadas.

A paz.
Prezado Edu,

Não há necessidade de tocarmos no assunto da historicidade. Basta que atente para o que nos ensina Ec 7:29, em que o homem tendo sido feito "reto", meteu-se em muitas "intrigas" ou "astúcias".

Somos dotados de uma certa dose de liberdade para tomarmos decisões na vida e cabe ao homem escolher sabiamente sem se deixar enredar pelo que ele astuciosamente pensa que será melhor para si, isto é, buscando os atalhos.

Na vida há um caminho de Justiça pelo qual devemos andar para não causarmos desequilíbrios. Porém, quando resolvemos burlar essas leis, ou pensando que iremos manipulá-las a nosso favor, aí nos damos mal. Portanto, a queda de Gênesis não foi a princípio "para o alto", exceto se vc ver pelo prisma do ganho de maturidade em que, uma vez arrependido, o homem passa a ver importância em voltar para os braços de seu Criador arrependendo-se do mal em ter tentado uma vida independente.

O pecado foi em tentarmos discernir entre o bem e o mal sem Deus. Só o Eterno pode ser conhecedor e Fonte de toda a sabedoria.
Eu diria que para a Teologia assim como para a Psicanálise o aspecto histórico não tem lá tanta importância, exceto quando queremos fazer a contextualização de uma literatura mítica. Gostei quando o Matheus falou em "salvar a teologia". Podemos até fazer uma introspecção em cima disso... (rsrsrs) Mas tô falando sério!
Olá, Matheus,

Entendi o que colocou, mas considero fundamental manter a Bíblia como o livro de orientação. Devemos nos abrir para as diferentes análises do texto sagrado e também da vida que é sagrada. Nada contra estudar as palavras atribuídas ao Buda e as dos mestres do budismo. São filosofias que podem acrescentar sem dúvida e, se o cristianismo pretende dialogar com as culturas do outro lado do mundo, não pode ignorar como pensam os orientais. Creio que só assim é que a Igreja ganhará as almas de olhinhos puxados porque não há como impor algo a alguém. Nem a crença ou mesmo a descrença. Sua análise sobre Jesus é sem dúvida interessante, amigo, e deveria ser melhor compreendida pela cristandade até hoje muito fechada nos próprios conceitos doutrinários, os quais nem mesmo se encaixam totalmente na Bíblia.

Agora, tenhamos a atenção de não perder a nossas raízes bíblicas. Digo ao amigo que a suficiência de Jesus Cristo como meu Salvador mostra ser insensatez alguém sair por aí procurando respostas em outras experiências quando podemos encontrar tudo o quanto necessitamos através do discipulado em nosso Senhor, o qual nos leva até o Pai sendo Ele o Caminho, e a Verdade, e a Vida. Em outras culturas diferentes da nossa, muitos vislumbraram Cristo de maneira diferente, mas nós já temos a revelação por meio do Evangelho. Andemos, portanto, nesta Luz.

Um ótimo feriado a você e a todos!
Carlos disse…
Xrnbali unamgi eto inami urandi arteni oreti umalagi apido etari nerigum regan ameneri opani eto garayi upalu denasti dari agum indenanto a pedido cusuni.