Desespero e Desapego


por Matheus De Cesaro

"Tenho vos dito esta coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo."

Evangelho São João 16:33

Muitas características, fatores e circunstâncias, tanto positivas, quanto negativas são percebidas quando analisamos o ser humano em seu contexto habitual. Mas entre elas, há algo que se destaca, uma característica comum a todos nós, em determinado momento da jornada, e que acaba por nos controlar, norteando nossos pensamentos e agindo como senhor de nossas vidas. Assim o "desespero" tem se tornado uma característica predominante no ser humano. Nos dicionários de língua portuguesa, este termo trás o sentido de um "estado de angústia e impaciência, pelo qual o indivíduo se encontra. Uma desesperança seguida de uma possível irritação". Partindo desta premissa, torna-se correta a afirmação de Henry Thoreau que diz:

"A maioria dos homens vive uma existência de tranquilo desespero"


Estamos acostumados a associar o "desespero" somente ao mundo material, ao aqui e agora, aos problemas sociais que diariamente convivemos, aos problemas que envolvem pobreza, saúde, segurança, a própria velhice, o fracasso profissional, o insucesso no matrimônio, enfim, são muitas circunstância que hora ou outra nos colocam em posição de desespero. Mas além destas questões cotidianas, há também as questões relacionadas com a psique humana, e que momentaneamente ou de forma irreversível turvam nossa razão. Hoje, se torna quase que impossível não considerarmos o "desespero", algo real em relação ao fatores que estamos submetidos. A sociedade atual, automaticamente embuti no ser humano a necessidade de ser notado e vencer, em quaisquer circunstâncias. Isto nos leva a vivermos diante de um espelho, onde o que visualizamos é exatamente a imagem daquilo que somos ou desejamos ser. Quando alguma coisa foge do nosso controle, nos tornamos estrelas de um longo e talvez eterno drama. Uma história que se incendeia quando estamos em constante discordância entre o que queremos parecer que somos, e o que de fato somos. Ter a exata visão daquilo que somos em meio ao mundo materialista que estamos inseridos pode se tornar algo assustador e desesperador.

Em 1849, Kierkegaar escreve "Desespero Humano", e propõe uma dialética de fato apaixonante e pertinente em relação ao comportamento humano em relação ao meio em que se encontra inserido. Ele propõe que,

"Desespero é a doença, e que morrer para o mundo é o remédio"

Partindo desta proposta, Kierkgaard introduz a ideia do "desapego" em relação ao que provoca e impulsiona o ser humano ao sofrimento e o desespero, sendo a "morte", a única forma de vencer a angústia do desespero. É fundamental aqui, ter a noção de que hora ou outra somos reféns do desespero, e que a não compreensão desta "morte" em relação aos fatores que nos desesperam, inevitavelmente nos levará ao óbito real. Ele faz uso da expressão "morte" associada ao desapego como uma espécie de ação libertária, para assim, termos condições de sermos nós mesmos, sem estarmos submissos aos fatores que nos levam a estarmos aprisionados a estes desesperos que norteiam o mundo. A única via de saída então, seria morrer para as imposições do mundo, que nos levam ao desespero. É certo, que o comum para o ser humano é acreditar que a morte é o ponto final, onde se finda a esperança, e logo, esta ideia de morrer se torna mais dura e ácida. Até mesmo, porque somos os melhores em propagar crendisse e ditos populares, como aquela velha frase que diz, "enquanto há vida, há esperança". Mas a proposta não esta associada ao mundo material, e sim ao plano espiritual. Por isso contrariando a cultura popular, Kierkgaar afirma,

"Para o cristão, a morte de modo algum é o fim de tudo, e nem sequer um simples episódio perdido na realidade única que é a vida eterna; e ela implica para nós infinitamente mais esperança do que a vida comporta, mesmo sendo transbordante de saúde e força"


Mas ainda assim, falar em morte, tendo inconscientemente o desejo de viver mais, é um tanto quanto estranho.

Pois bem, o que significa dentro desta proposta o termo morte?

Eu associo este morrer ao desapego, o desejo ardente de sermos realmente  quem somos. Uma tarefa árdua para ser executada em meio a infinidade de conceitos que nos prendem ao sono deste mundo. O sono dos dogmas, o sono do materialismo, o sono do pseudo-poder e do pseudo-status, e tantas outras circunstâncias que a sociedade nos leva a valorizar ao ponto de produzirem tanta fumaça que acabamos por nos ocultar em meio aos nossos papéis sociais, sejam familiares ou profissionais. Nossas ilusões de caráter, nosso comportamento exemplar, nossa bela e impecável atuação religiosa, e nossa loucura de pensar que tudo esta no controle. Além de nos ocultar, esse "desespero" em ser o que não somos, nos leva a viver uma vida disfarçada pelo exercício de nossa pouca força, nossas alucinações de poder e nossa equivocada noção de amor. Mas como disse Freud:

"Coloquemos em cena o homem cujas ideias fazem titubear o crente desavisado, o homem que, numa carta disse reconhecer fazer parte daqueles que vieram para atrapalhar o sono do mundo"

Quando olho para toda esta cultura religiosa que foi estabelecida durante as eras, apontando os mais diversos caminhos, todos munidos da suposta verdade, eu percebo essa forte necessidade de morrer, de atrapalhar este sono que esta sendo produzido, e por introspecção vou aos poucos me desapegando e buscando minha morte. Quem sabe, ao meu ver, Nietzsche, em seu profundo poço de angústia, tenha compreendido esta questão, e por meio de sua introspecção, a maior entre os seres humanos, segundo Freud, tenha sido um exemplo de desapego, talvez não da forma como entendo, e sim, um pouco exagerada e equivocada. Quando Jesus fala "eu venci o mundo", ele trás esta ideia de desapego de forma muito concreta, pois sua história, sendo observada como logos ou mito, é a história mais fantástica que já li, e ouvi, a respeito de um homem que tenha decidido se abster do que o mundo lhe oferecia, para viver em favor do mundo. Assim, ouso afirmar, que Nietzsche e Jesus são os maiores exemplos de desapego a serem observados.

O fato é, que é impressionante, como todos nós, mesmo estando munidos das mais diversas ferramentas desconhecemos nossas próprias verdades. Não basta nossas maquiagens, precisamos também maquiar os outros, como se o que acreditamos devesse ser também a verdade dos outros, e quando isso não acontece nos desesperamos. Enfim, na verdade, ou nos desapegamos de tudo isto, ou o desespero será constante. 


Comentários

Nobres Amigos Confrades,

Em tempo, esta ai meu "textículo" rsrsrsrs

Embora seja um pouco poético, trás alguns temas que produzem questionamentos interessantes. Não sei o porquê, mas não consigo perder a mania de deixar tudo mais "poético", do que deveria ser... Me lembro que certa feita, eu estava elaborando um TCC do curso de Administração para uma amiga. Após o professor dela, que esta acompanhando o trabalho ler a fundamentação teórica, ele disse:

"muito bom, mas não precisa ser poético demais, tente ser mais técnica"

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Abraços!
guiomar barba disse…
Mtheus, a poesia suaviza um sol causticante... Gosto da sua forma de escrever.

Estes dia estive conversando com o meu marido, sobre a sua decisão, claro com o meu SIM, rsrs de virmos morar ao lado direito de uma floresta,(reserva do Paiva) tendo ao lado esquerdo, atras e a frente da nossa casa, árvores, e dois caminhos quase intransitáveis, após uma forte chuva. Perguntei-lhe se não era uma fuga da agitação da cidade e mui especialmente das cobranças, segundo cita você. Ele admitiu que poderia ser. No entanto, pela sua felicidade e alegria, vejo que ele "morreu," mas se ele ressuscitar? kkkkkkkkkkkkkkk

Para mim, foi um sonho que poderia esperar um pouco mais.
Temos, eu e os meus irmãos, um gosto, herança do nosso pai, por campos, rios, pássaros e matutos, rsrs eu, especialmente mais por praias, o que temos aqui em abundância e belíssimas. Portanto, seu texto tocou profundamente o meu espírito.
Eduardo Medeiros disse…
Mathueus,

texto muito bom, que pode nos render muitas e muitas reflexões. Achei interessante logo de cara, você associar o desespero a fatores não materiais, e sim, psíquicos ou espirituais, como você diz em "A sociedade atual, automaticamente embuti no ser humano a necessidade de ser notado e vencer, em quaisquer circunstâncias."
É o que se convencionou chamar "Sociedade do Espetáculo", onde todo mundo que estar no palco e ninguém quer ser plateia. Sem dúvida isso gera muitas angustias e desespero. "Morrer" para essa ditadura seria tomar as rédeas do próprio valor como indivíduo. Muito já se debateu sobre a dinâmica entre sociedade e indivíduo; é o indivíduo que transforma a sociedade ou é a sociedade que transforma o indivíduo?

Por ora, vou destacar apenas isso, mas seu texto tem muita coisa para fuçar e pensar.
Eduardo Medeiros disse…
Por aqui, você pode ser poético sempre, até quando falar em desespero. rs
Levi B. Santos disse…
Matheus, você escolheu um bom e empolgante tema para sua estreia na C.P.F.G. (rsrs)



A angústia começou lá atrás, quando a fraqueza da criança em não poder demonstrar o que ela era realmente, acabou sendo promovida à virtude, pela força coercitiva dos pais.

Resultado disso tudo é que a criança reprime os seus afetos primitivos, ocultando-os em troca de um desejo de ser OUTRO, passando a viver segundo um script pré-fabricado.

Kierkegaard, desenvolveu o seu conceito de angústia e desespero a partir dos desejos ambivalentes do filho de romper com o Pai e ao mesmo tempo ser submisso a Ele. E isto está na base de toda religião. Na essência do cristianismo, há um Filho que no final da vida abdica dos seus desejos idealizados, para se render a vontade do Pai.

Há os que, contrariamente a Kierkegaard dizem que não se pode fugir da angústia, ou seja, a impossibilidade de totalmente se desapegar da “imago paterna”, deriva do fato dela continuar presente na matriz da psique humana, mesmo na idade adulta, independente de querermos ou não. Freud, leitor de Kikergaard já dizia: “a solução para amenizar a angústia provocada pela exigência do Superego, consiste em fazer um acordo com Ele”.

Como a sua teoria do Inconsciente, Freud fez ver que o “Eu” ou o “si mesmo” de Kierkegaard não é apenas a consciência segura, firme que nos permite discernir nossa interioridade. Para ele, em todos os afetos e pensamentos da realidade que percebemos, existe algo de profundo, ou subterrâneo que os determina.
Gabriel Correia disse…
Eu carrego esperança, por desejar que possamos chegar a um nível de entendimento que nos permita caminhar unidos em um proposito que para mim se tornou a preservação do que é Homem em nós. Todo meu agir aqui, no meu blog e na blogosfera tem esse proposito, por desconfiar que a condição humana possa se perder em nós, na confusão, na ilusão e no desespero do apego.
kkkkkkkkkkkkkkk

Penso que esteja passando por um leve e momentâneo estágio de "desespero" (pois geralmente escrevo sobre fatores que estão a me incomodar), mas o fardo se torna mais leve por buscar transformar tudo em poesia.
Nobre Amiga Guiomar,

Fico feliz que tenhas gostado do texto, e de saber que ele produziu algo de benéfico e útil a você.

O campo, quando não uma fuga, nos leva a momentos de introspecção, que são quase que impossíveis no agito da cidade grande. Também tenho paixão por lugares assim.

Fraterno Abraço.
Nobre Amigo Levi,

Vou colocar uma bomba em suas mãos, em relação ao que Freud detectou analisando as questões que ligavam “sofrimento e religião”. Concordamos que “sofrimento ou desespero” é algo comum a todos nós, e que a religião, tem como um de seus objetivos, resolver esta questão.

Quem já leu “O mal-estar na civilização”, um texto de 1929, pode vislumbrar tudo o que estamos falando dentro de uma nova ótica. Para Freud, não diferente de Kierkgaard, a vida também é árdua e sofrida, e segundo ele, para suportá-la não podemos abrir mão de medidas paliativas. E é ai, que entra a religião, que para ele, é uma dessas medidas. Para o pai da psicanálise, a questão do propósito da vida, que a religião se colocou como capaz de resolver, não recebeu resposta satisfatória e parece decorrer da presunção humana, tendo a capacidade de apenas amenizar um problema que parece não ter solução sem um mergulho interno, e o regresso as nossas memórias. Quando isso não ocorre, nos resta o desespero, e uma vida a mercê do sofrimento.

Fica a indagação... O que as pessoas, concretamente, de acordo com seus comportamentos, mostram ser a intenção das suas vidas?

Me parece, que insanamente, buscam a felicidade. Segundo nosso amigo Sigmund, isso se trata de um propósito nada metafísico e que domina o funcionamento do aparelho psíquico. De acordo com o princípio que regula o id, simplesmente se busca experimentar intensas sensações de prazer e evitar o sofrimento, o que de fato não é uma solução. Em outras palavras, esse propósito não pode ser executado, pois o sofrimento nos ameaça de três lados, primeiro do nosso corpo, naturalmente sujeito a decadência, segundo do mundo externo e terceiro dos nossos relacionamentos com os outros, uma espécie de acréscimo gratuito.

Como diria Schopenhauer, “somos como porcos espinhos no inverno”.

Assim, como a infelicidade é menos difícil de experimentar, fomos ficando mais modestos e o princípio do prazer cedeu lugar ao princípio da realidade. Agora ser feliz, significa simplesmente escapar ao sofrimento. Ou seja, nada de querer ficar rico, basta conseguir pagar as contas. Será?

Freud mostra diversos meios que as pessoas utilizam para tentar escapar ao sofrimento, meios que representam um constante jogo de adaptação e escolha, adequados à constituição psíquica de cada um. Uma escolha extrema é perigosa, assim como não se deve apostar todas as fichas num único número da roleta.
Sendo assim, o desapego, pode não ser a única via de saída como citei no texto. Não é mesmo?

Mas então... Quais seriam as demais vias? Ou não há vias absoltas, e sim, apenas um mecanismo de adaptação e compreensão do “desespero”?
Este comentário foi removido pelo autor.
Nobre Amigo Gabriel,

Quanto tempo amigo? Que bom ver você por aqui.

“Eu carrego esperança, por desejar que possamos chegar a um nível de entendimento que nos permita caminhar unidos em um proposito que para mim se tornou a preservação do que é Homem em nós”

Acredito que para isso se tornar uma realidade, o processo de análise pessoal deva se o primeiro e importante passo nesta busca da essência de nós mesmos. Toda busca decorre dum anseio às vezes vago e desordenado, e de uma insatisfação consigo e com a vida, que deriva do sofrimento e do desespero em relação a situação.

Esse primeiro momento é sempre doloroso, causa um profundo medo e mal-estar, pois o espírito não se faz conhecer assim tão facilmente, e o indivíduo sofre a decepção de gradativamente ir vendo suas ilusões, que até então eram suas verdades. Sem essa análise, e a transformação pessoal, essa visão no sentido coletivo se torna utópica.

Kierkegaard acredita que o desespero humano, ao qual, segundo ele, estamos fadados, é o desespero de nos confrontarmos com nosso vazio, decorrente do fato de não nos aceitarmos como somos, dependentes de Deus. Porém, para isso, é necessário algo, que o amigo com muita ênfase levanta a bandeira nos animando. É necessário “coragem”.
Levi B. Santos disse…
“Fica a indagação... O que as pessoas, concretamente, de acordo com seus comportamentos, mostram ser a intenção das suas vidas?” (Matheus)


Como você encabeçou seu texto, citando o Novo Testamento (proposital ou inconscientemente, eu vou jogar meus dados, para atiçar mais a fogueira do princípio do prazer. (rsrs)

Será que a religião não está vinculada ao princípio do prazer?
Será que a IURD, por exemplo, se tornou uma grande potência, não foi por prometer a felicidade (o céu) aqui mesmo nesta vida?

E as outras instituições religiosas que prometem , para depois da morte, um céu onde não haverá sofrimento, não estão de certa forma, apenas adiando o princípio do prazer ?
guiomar barba disse…
Lamento não ter a sua esperança, mas me conforto em saber que muitos viverão este desapego e crescerão como seres humanos.

Gabriel, foi muito bom encontrar você aqui novamente.
Eduardo Medeiros disse…
Levar as conversas para o "princípio do prazer" será interessante. Buscar intensamente o prazer, não resolve, conforme destaca o Matheus citando Freud, já que o sofrimento sempre estará a espreita. Não sei até que ponto o tal "princípio da realidade" está presente nas pessoas. Não e verdade que mesmo diante da realidade o princípio do prazer continua governando? Quem se sente feliz em pagar as contas deixa de jogar na mega-sena? Deixa de sonhar com uma vida mais abastada, mesmo que para isso tenha que apelar para o óleo ungido, a fogueira santa ou a toalhinha abençoada?

O Gabriel quer "preservar o que há de homem em nós". Isso é uma tarefa bem complexa, pois creio ainda não respondemos satisfatoriamente à pergunta: "o que é o homem"?
Mas enfim, o princípio do prazer é algo que deve ser rejeito a priori ou ele faz parte de nós e dele não podemos fugir?
Donizete disse…
Uma coisa é quase certa: aquilo que leva o homem pós moderno a beirar o desespero, os da geração passada tiravam de letra sem maiores dramas, a morte de filhos por exemplo.

Sou paranaense mas meus pais viveram parte de suas vidas no sul de Minas, onde segundo eles me contavam, nas décadas de 40 e 50 e até 60, era comum os casais terem acima de dez filhos. Detalhe, poucos sobreviviam aos primeiros anos de vida. A mortalidade infantil tinha índices altíssimos naquela região. Tanto é verdade que minha Mãe deu a luz a catorze. Vingaram "apenas" oito! rsrs

Hoje, já com a cultura ocidental impregnada em minha formação, com minha ótica linear de ver a existência humana, não somente me pergunto a mim mesmo se suportaria tal "sofrimento", como já perguntei a minha irmã mais velha como eles superavam aquela situação? Com total serenidade! Dizia ela. Nossos irmãos nasciam em casa, morriam em casa e eram sepultados embaixo de uma árvore qualquer.

Daí dá pra gente concluir o quanto essa questão de sofrimento é relativo à épocas e culturas.

Quanto a mim hoje, Quase me rendo ao pessimismo de Schopenhauer que dizia que viver é sofrer com pequenos instantes de felicidade. rsrs
Boa noite, Matheus.

Parabéns pelo excelente texto com o qual nos brindou.

Quero aqui levantar uma questionamento polêmico. Muito se debateu no cristianismo e também em outras tradições (hinduísmo, budismo) sobre o desapego. Porém, percebo que , em inúmeras vezes, as pessoas tomam decisões erradas quando decidem "morrer" para o que as desesperam. Vou dar um exemplo do que quero transmitir.

1) Um trabalhador sente-se frustrado com o salário que recebe. Ele tem escolaridade incompleta, ganha menos de um conto por mês, e não consegue adquirir aquilo que a propaganda na TV lhe instiga a ter. Então, ao ouvir um sermão religioso, ele entende que deve se desapegar do dinheiro. Passa a não valorizar os bens e começa a se conformar com seu status e baixo poder aquisitivo. Ao mesmo tempo, ele também se anestesia quanto aos seus sonhos de um dia voltar aos estudos, entrar numa universidade e mudar de profissão. O sermão sobre desapego serviu para ele anular a si próprio sob um certo ponto de vista e ficar numa situação cômoda. No fim das contas, ele se lembra daquela parte música do Renato Russo que diz "o sistema é mal, mas minha turma é legal" e se consoa com desta maneira.

2) Um marido está enfrentando problemas sexuais no casamento com sua esposa. Quando os dois vão para a cama, ele tem uma ejaculação rápida e não proporciona o devido prazer pra mulher. Esta passa a exigir dele um melhor desempenho e o ameaça até com divórcio. Só que o sujeito prefere não procurar tratamento porque sabe que precisará se abrir com um profissional, encarar problema e batalhar pela cura. Se a esposa chutar seu traseiro, ele vai entender que deve se desapegar do prazer e deixar a sua companheira ir. Para consolar-se, ele vai depois ao boteco reunir com seus amigos bebendo uma lira gelada e ouvindo a Ana Carolina cantar "É isso aí..."

3) Um cidadão sente-se fracassado na sua militância política porque as mudanças pelas quais ele tanto luta não ocorrem. Os mesmos políticos corruptos continuam se perpetuando no poder, o desmatamento não pára, a violência cresce e nem mesmo o povo sabe reconhecê-lo. Então, como não consegue ver a concretização daquilo pelo qual tanto tem batalhado, um dia ele resolve desapegar de tudo o que existe e começa a projetar toda a felicidade no céu. Entra numa igreja bem fundamentalista e doidona, daquelas que tem sapatinho de fogo e se consola dançando a música em meio aos berros de aleluia-glória dos irmãos fanáticos: "A terra vai pegar fogo..."

Como se vê, muitos se desapegam do que não deveriam. Penso que encarar o desespero e a angústia faz parte do nosso processo de construção/libertação. Só não podemos é nos tornar reféns de tais sentimentos. Precisamos vencê-los e morrer sim para as atitudes covardes visto que muitos por aí no meio religioso escondem-se hipocritamente.

Abraços.
"é o indivíduo que transforma a sociedade ou é a sociedade que transforma o indivíduo?" (Eduardo)

Acredito que ambos interajam. E também que existam indivíduos formadores de tendências e de opiniões. Estes sentem grande atração pelo palco. Por mais que tentem, não conseguem fugir facilmente.

Abraços.
Prezado Levi,

Interessante a sua análise.

Penso que estão todos a se comunicar com o tal princípio.

Quer adiemos ou antecipemos, neguemos ou afirmemos, ou ainda finjamos ignorar, em todos os casos a relação existe.
Dele não podemos fugir. A solução eu penso que deva ser o diálogo do eu com o prazer. As decisões tomadas por cada um, por mais maduras que sejam, ainda assim serão diferentes conforme o contexto vivido.
Caro Donizete,

Acredito que a vida inclui os dois pólos. Para o Schopenhauer, citado por você, parece que o sofrimento superou a felicidade. Boa! Mas, considerando o que também escreveu acima, o contrário também é possível de ser dito por uma outra pessoa: viver é ser feliz com pequenos instantes de sofrimento.

Curioso. Os pólos estão aí e a vida encontra-se acima de tudo. Neste sentido, eu posso supor que os pólos dos sentimentos colorem a existência em que um não existe sem o outro e, conforme o ponto de vista que adotamos, predomina e vence o que é bom.

"E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom"

Saúde e paz, meu amigo!
Olá, Gabriel e Guiomar.

Penso que os dois, ou nós três, ou todos aqui, têm/temos a mesma esperança expressa em linguagens diferentes.

Preservar "do que é Homem em nós" pode ser também preservar do que há de bondade humana em nós, preservar do que há de bom, do que há de Deus, o qual nos fez sua imagem e semelhança e, não conformado com o estrago do pecado, se fez homem pela Palavra encarnada para recuperar o homem.

Abraços.
Eduardo Medeiros disse…
" as pessoas tomam decisões erradas quando decidem "morrer" para o que as desesperam" Rodrigo.

Esse é o outro lado da moeda. Vivemos num mundo e não tempos como viver fora dele. Os exemplos que o Rodrigo dá são pertinentes. Em relação ao cristianismo, não seria angústia crer que se "está morto" para as paixões do mundo, mas mesmo assim se perceber preso a estas mesmas paixões? O cristão que "morre para o mundo" não consegue matar de fato, a influência que o mundo tem sobre ele, já que o mundo está dentro dele e ele, dentro do mundo. Sufocar paixões pode ser muito ruim. Por outro lado, dá vazão a todas as nossas paixões também nos leva para o caminho do desespero, do desamparo, pois a saciedade das paixões nunca vem.

Seria o caso, Levi, do filho ter mais liberdade com o pai, e o pai entender a natureza do filho? rss
Eduardo Medeiros disse…
O joranalista Diogo Mainardi escreve em seu livro "A Queda" - livro onde conta sua convivência humanizadora com seu filho Tito que por um erro medico, nasceu com paralisia infantil o seguinte:

"Para Marcel Proust, a 'vida verdadeira, a única vida plenamente vivida, era a literatura'. Para mim, a vida verdadeira, plenamente vivida, passou a ser Tito".

Um caminho para se livrar da ditadura do desespero: procure o seu.
Levi B. Santos disse…
EDU

Fiz no "Ensaios & Prosas" um contraponto ao texto do confrade Matheus, que parece ter algo a ver com a sua pergunta acima, a mim dirigida.

Aí vai o link:

http://www.levibronze.blogspot.com.br/2013/06/o-homem-e-gaiola.html
Nobres Amigos Confrades,

Vamos teorizar um pouco...

Principio do Prazer - O princípio do prazer caracteriza-se pela procura de prazer e ao mesmo tempo de evitamento de dor, sofrimento ou tensão, por parte de um organismo. Todos os seres vivos obedecem a este princípio, mas no caso do homem, os processos psíquicos inconscientes procuram a obtenção do prazer e este princípio governa completamente o seu comportamento enquanto criança. Neste princípio o que predomina é a busca do prazer a qualquer custo e este é conseguido através da descarga de qualquer aumento de tensão. Na teoria psicanalítica, o princípio do prazer, que representa o desejo instintivo de satisfação, é modificado pelas solicitações do mundo exterior, ou seja, pelo princípio da realidade. O princípio do prazer constitui uma energia interna enorme à qual se opõe o princípio da realidade.

Principio da Realidade - O princípio da realidade surge subsequentemente ao princípio do prazer, isto é, em criança só existe princípio do prazer e, no caso de um adulto, existe um princípio secundário que modifica a ação do primeiro, ou seja, o princípio da realidade. Neste princípio existe a possibilidade de antecipar a ação através do pensamento. No princípio da realidade, o prazer pode ser adiado ou uma dor tolerada em nome de um prazer maior ou para evitar-se uma dor maior, no futuro. O funcionamento do princípio da realidade depende da capacidade de antecipação de uma situação futura. O princípio da realidade é uma espécie de mecanismo psíquico que direciona a adaptação do homem à realidade e à ordem moral. Este princípio contrasta e exige a renúncia àquela parte do prazer que supera os limites consentidos pela moral, criando assim graves conflitos interiores.

Segundo Freud, princípio do prazer, juntamente com o princípio da realidade, é a base do rumo dos acontecimentos psíquicos e as duas formas de funcionamento mental.
Nobres Amigos Confrades,

Agora vou conjecturar um pouco...

Já dizia Freud,
“… toda neurose tem como resultado e provavelmente, como propósito arrancar o paciente da vida real, aliená-lo da realidade... os neuróticos afastam-se da realidade por achá-la insuportável , seja no todo ou em parte”
Realmente, tudo parece surgir, permanecer e se findar na busca pelo prazer, isto é, quando supostamente alcançamos êxito. Já quando, essa busca parece ser frustrada, surge o "recalque", que nos leva ao desespero, que por sua vez, quando não compreendido e trabalhado, pode resultar em neurose. E não precisamos de muitos esforços para encontrarmos exemplos de pessoas que desencadearam neuroses por sentirem-se frustrados em relação as suas buscas particulares de prazer. Poderíamos incluir nestes exemplos, um ditador assassino, ou ainda um serial killer, e ai nossa lista de exemplos se torna imensa.

Veja que o princípio do prazer tem como propósito dominante alcançar prazer e evitar qualquer evento que desperte desprazer, e nisto ele não atenta para o principio da realidade e age de maneira impulsiva (um bom exemplo disto são as paixões), já o principio da realidade leva em conta a mesma, atentando para os fatores que a determinam.
É necessário entender que nem tudo que desejamos podemos de fato realizar, pois não podemos nos desvincular do principio da realidade que envolvem as regras morais, culturais, tradicionais e os costumes locais do meio em que estamos inseridos. Não é simplesmente encontrar o prazer e dane-se as circunstâncias, como também não é simplesmente abandonar a busca do prazer, porque a realidade impõe regras.
Neste sentido, falamos de atividades psíquicas, que podem ou não abdicar da imaginação, da fantasia, e até conceber uma situação passível de consequências desagradaveis. É fato que, nosso psiquismo não adere totalmente ao principio da realidade ou ao principio do prazer, eles trabalham conjuntamente, como se estivessem em um sistema de economia psíquica.

Não é atentar para um (principio do prazer ou principio da realidade), e sim encontrar o equilíbrio de ambos, assim, a vida se desenvolve saudavelmente. Desta forma, o desespero é controlado, e não nos tornamos vítimas das neuroses. Tenho para mim que isto é tão certo, como 1 mais 1 é 2.

Nobre Amigo Eduardo,

Ontem a noite, em meio a uma pregação chata pra dedéu, eu estava a pensar nos fatores que poderiam me levar a controlar meus possíveis "desesperos". E um dos fatores que me veio a mente foi, "discernimento", ou seja saber de fato, o que me desespera. E não sei, se a minha linha de raciocínio casou com a sua, mas ao ler a frase que destaco,

"Um caminho para se livrar da ditadura do desespero: procure o seu"

Me levou a pensar novamente no fator "discernimento". É de Deus irmão kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Nobre Amigo Rodrigo,

Obrigado pelo elogio ao texto, me esforço para que assim consiga extrair de vocês o máximo que posso. Pois sei que o conhecimento e a possível sabedoria que buscamos, não esta nos textos (embora alguns sejam de fato muito inteligentes), mas sim neste compartilhamento de ideias, experiências e fundamentações teóricas que vamos desenvolvendo.

A alguns comentário atrás eu disse,

""Freud mostra diversos meios que as pessoas utilizam para tentar escapar ao sofrimento, meios que representam um constante jogo de adaptação e escolha, adequados à constituição psíquica de cada um. Uma escolha extrema é perigosa, assim como não se deve apostar todas as fichas num único número da roleta.""

E partindo desta premissa, eu indaguei o que eu mesmo escrevi no texto, sobre ser o desapego a única via que nos leve a vencer o desespero. Com certeza, o desapego, sem uma compreensão mais ampla, se torna tão nocivo quanto o desespero.

Fraterno Abraço!
Levi B. Santos disse…
“ Concordamos que “sofrimento ou desespero” é algo comum a todos nós, e que a religião, tem como um de seus objetivos, resolver esta questão” ( Matheus)


Freud escreveu que devíamos ir mais além do princípio do prazer e para compor o equilibrio dualista, criou a teoria do princípio da realidade para contrabalançar o primeiro pólo.

Mas ficam no ar alguns questionamentos:

Não seria uma tarefa árdua definir o conceito principio da realidade, uma vez que ele está ligado a subjetividade de cada um, ou de cada grupo, principalmente no âmbito das várias instituições religiosas?.

Tomemos o exemplo do nosso imenso país, no que tange a religião. Aí, eu volto para o comentário que fiz anteriormente sobre os religiosos em face do princípio do prazer.


1. São neuróticos os crentes de IURD, pelo seu anseio a felicidade e ao prazer no “aqui e agora”? Para esse fiel, sofrimento é coisa do cão, é encosto, é maldição e deve ser exorcizado. A felicidade dele estaria ligada unicamente ao não TER que sofrer.

2. Não seriam também neuróticos os crentes de outras denominações que dão glórias quando estão sofrendo, visando TER uma recompensa (prazer, gozo), após a morte?

No primeiro caso, estariam os que vivem toda sua vida em função de TER aqui gratificação imediata.

No segundo caso estariam os que sofrem agora, adiando para após a morte, TER tudo que aqui não alcançou em vida.

Como você vê, Matheus, esse princípio da realidade, que no seu dizer, a religião se propôs solucionar?

Este comentário foi removido pelo autor.
Nobre Amigo Levi,

Começo a minha resposta pelo término de seu comentário rsrsrs... Não sou eu quem digo que a "religião se propôs a resolver questões como estas", e sim ela diz por si só. A partir do momento que um determinado sistema afirma ter de forma absoluta uma cronograma para o ontem, o hoje e o amanhã, ele esta de certa forma nos fornecendo possíveis respostas. Outra coisa é dizer se nos são satisfatórias ou não.

Definir qualquer conceito é uma tarefa árdua, certo? Imagina o principio da realidade. O que podemos é construir uma imagem, um desenho, um rascunho, que a cada pincelada pode ir tomando uma nova forma, um nova direção. O que nos leva a perceber que as ideias absolutistas de fato não possuem longa vida.

Relacionado a crenças, sistemas e ideologias, eu considero neurose qualquer ideia fixa e que histericamente se defenda como irrefutável. Logo, fica claro que tantos nossos amiguinhos da IURD, quanto nossos amiguinhos do reteté divino estão a desenvolver uma espécie de neurose. Sendo que uns, convivem com ela de forma tranquila, já outros precisam extravasar e externa-las aos que o cercam.

Mas saindo um pouco da questão "religião", essa coisa de ser ou não neurótico depende do ponto de vista a ser analisado. Eu me considero neurótico com algumas coisas, que outras pessoas dizem ser em mim qualidades. Vai entender...

O fato é que ser meio doidinho é bacana. Como dizia Jonh Lennon,

"eu tenho o maior medo desse negócio de ser normal"
Mariani Lima disse…
Matheus, Seu texto é uma preciosidade e os comentários de alto nível. Não sei bem o que dizer. Posso falar da minha experiência pessoal sobre desespero? Uma das coisas que mais me desesperaram e me colocaram doente depois da minha saída da igreja foi encontrar várias questões embaixo do tapete. É que não somos muito levados a dialogar conosco, mas abafar, repreender a voz contrária. Penso que a religião colabora com a saúde quando ela permite que a pessoa viva e seja quem ela é, mas magicamente após um período de convívio religioso todos passam a falar igual, pensar igual... quanto ao desapego, tentei ler superficialmente sobre budismo uma época, fiquei mais ansiosa ainda e descobri que sou apegada, que sou sim uma pessoa que tem um lado muito preso ao chão, mas me tranquilizei quando soube que se trata de uma característica do meu signo rsrs.... culpa das estrelas! rsrs... Acredito que cada um deve encontrar um meio de superar suas questões e tão variado como somos serão os meios. Não há uma fórmula mágica, mas uma busca que possa saciar talvez por um tempo, que nos leve a uma paz, serenidade temporal já q segundo disse Jesus "no mundo tereis aflição" e como diz a codificação "vivemos em um mundo de expiação e provas. Grande Abraço!
O Provocador disse…
Dei só uma lida superficial, mas ei de voltar para dar meus pitacos por aqui.
Eduardo Medeiros disse…
oh, glóriassssssss....hehhhh
Eduardo Medeiros disse…
O Texto que o LEVI escreveu lá no blog dele tinha que vir parar aqui nos comentários!!! seria um comentário de luxo; aliás, os comentários até agora estão um luxo só; estou aprendendo com os confrades Matheus e Levi sobre esses dois polos na abordagem de Freud: prazer e realidade.

LEVI levanta a questão que eu estava matutando cá com meus botões:

"Não seria uma tarefa árdua definir o conceito principio da realidade..."

Sim, é árdua tal tarefa, já que cada um de nós vê a realidade de formas diferentes. Taí uma coisa que me causa certa angústia.Afinal de contas, se cada um vive sua realidade, a Realidade não existe. Essa é uma questão que puxaria não só um fio, mas vários novelos de ponderações.

Até mesmo o saber científico é tido como subjetivo para Foucault. Aí vem um físico indiano, pós doutor em física quântica (Amit Goswani) e diz que não é a matéria que cria a consciência, e sim a consciência que cria a matéria, e consequentemente, a realidade.

Todas essas questões me são fascinantes. Quem pode se orgulhar de ser racional num cenário como esse? Até onde a neurose iurdiana e retetenianaas são objetivamente, "neuróticas"?
Eduardo Medeiros disse…
E não só isso: até que ponto se pode confiar na dualidade freudiana de prazer e realidade como válidas e objetivas? De fato existirá tal dualidade? Ou tudo está junto e misturado numa coisa só?

Esse texto do Matheus vai me deixar mais neurótico do que já sou...
Nobre Amigo Eduardo,

Esta expressão,

"Não seria uma tarefa árdua definir o conceito principio da realidade"

Da pano pra manga rsrsrsrs...

Realmente, muito árdua é esta tarefa. Penso e citei acima em resposta ao Levi ser uma “espécie” de construção. Pois conforme vamos sofrendo influências no meio em que estamos inseridos e pelas informações que vamos recebendo, esta realidade vai sofrendo mutações, vai se moldando a cada momento. Creio que definir o “principio de realidade” de forma absoluta é tão equivocado, quanto crer que a mula e a serpente de fato tenham falado, ou que o grande peixe tenha realmente engolido Jonas e o vomitado literalmente. Agora, já não ouso afirmar que a realidade não exista. O que acontece é que ela é algo individual, e não um conceito fechado, para o coletivo.

O texto do Levi trás uma concepção de “realidade” relativa bem interessante. Veja abaixo o comentário que deixei em relação ao texto lá no Blog do Levi, Edu,

(Uma história que apresenta duas realidades em uma só situação, e que reforça a ideia de uma realidade que sofre mutações, ou melhor, que adapta ao meio.

Se percebe sem muitas dificuldades o principio da busca "ser livre", ou o "principio do prazer". Algo que todos desejam desde menino, mas sem a compreensão do que implica ser livre, ou o "prinicipio da realidade". Os novos desafios, as responsabilidades, os percalços e por ai vai. Liberdade nunca é exatamente da forma que a vemos, quando supostamente não a possuímos. E talvez o ponto mais interessante, após a conquista da tão sonhada liberdade, é a saudade que se tem da "gaiola" e as lembranças que guardamos na caixola.

Como disse George Bernard Shaw,

"Liberdade significa responsabilidade. É por isso que tanta gente tem medo dela")

É muito interessante o que Amit Goswani diz, porém pouco conheço dele. Me lembro de ter lido alguns artigos onde ele afirma ser o universo auto-consciente, que se não me engana é o título de um dos seus livros. O que me espanta, mais uma vez, e me alegra, é ser isso mais uma evidência de que o absoulto nada tem de absoluto, pois esta ideia que defende Amit, é contraria ao que acabamos por aceitar até hoje, o tal Realismo Materialistico implantado e defendido por Isaac Newton e Descartes.

Enfim, estamos diante de uma iminente neurose amigo kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Nobre Amiga Mariani,

Fico feliz e honrado em saber que tenhas gostado do texto.

Estou chegando a conclusão de que "desespero e desapego" são parte de um todo único. Fazendo parte de nossa natureza.

Fraterno abraço.
Levi B. Santos disse…
OPS! Provocamos o Provocador (rsrs)
Levi B. Santos disse…
Matheus,

O que escrevi lá no "Ensaios & Prosas", em resposta ao seu comentário, creio valer para o que aqui estamos a discutir. Por isso peço licença para reproduzí-lo nester espaço:


"Liberdade significa responsabilidade. É por isso que tanta gente tem medo dela"

Essa frase de Bernard Shaw, que você, Matheus, acaba de citar, me fez lembrar um ensaio que postei em fevereiro de 2011, sob o título: “Virtualmente livres” , do qual pinço esse trecho, para reforçar a idéia de que não somos tão independentes assim:

“Será que somos realmente livres?

Como “ser livre”, se as memórias que guardamos do nosso passado, ainda regem e influenciam os nossos sentimentos no presente?

Dizemos que somos livres ao pensarmos que os conceitos que adotamos são puramente nossos, quando não passam de um somatório de influências que incorporamos no dia a dia de nossa existência.



“O homem moderno vive na ilusão de saber o que quer, quando de fato ele quer o que se supõe que deva querer” (Erich From — O Medo à Liberdade)


Eduardo Medeiros disse…
Pois é, Matheus, a grande questão sobre a realidade é se de fato, existe uma realidade independente de uma mente consciente. Amit diz que não...E aí? quem vai pro pinel primeiro??kkkkkkkk
Eduardo Medeiros disse…
Eu confesso, Levi, que essa ideia de que não somos realmente livres me deixa chateado(angustiado e desesperado..rs), embora eu tenha acabado concordando com ela.

Mas uma coisa que sempre me deixa espantado é: qual é a instância em mim, que diz que eu não sou livre? Tal instância poderia dizer isso se ela não fosse de fato, livre?

Ainda não consegui harmonizar isso aqui na cachola...rs
Guiomar Barba disse…
Estive relendo hoje uma matéria na Ultimato que se denomina: "Dois Gigantes Intelectuais frente a frente. (Freud e Lewis) Transcrevo um item: Ambos sofriam de depressão clínica. Antes de se tornar cristão, em seu diário e cartas, Lewis parece irritável, pessimista, obscuro e sem ESPERANÇA. Diz que o seu ateísmo baseava-se na sua "visão muito pessimista de existência". Depois da sua conversão, ele passou a dizer que a alegria se tornara "a história central da minha vida". Seus amigos passaram a considera-lo uma pessoa animada e sociável. Ele havia sido surpreendido pela alegria no relacionamento recém-estabelecido com o Criador. Lewis afirma que Deus não nos pode dar "felicidade" alguma além de si mesmo, pois ela não existe fora dele". A sua nova fé ajudou-o a superar a depressão.

A pesquisa médica lançou bastante luz sobre os aspectos positivos da fé no tratamento da depressão.

Freud por sua vez, quando jovem, usou cocaína durante algum tempo como forma de melhorar o ânimo. Ele relacionava a felicidade ao PRAZER, e para ele a maior forma de prazer era a satisfação instintiva, o prazer sexual. E como isso só ocorre de vez em quando, ele conclui que está descartada qualquer chance de felicidade.

Pobre dos eunucos e daqueles que só vêm a possibilidade de sexo no casamento...
Levi B. Santos disse…
EDU

Tudo que foi recalcado desde a nossa tenra infância conserva sua plena carga afetiva. Desejos e impulsos que foram recalcados estão em nossa vida de relação, mesmo sem o alcance da consciência, a emitir as suas mensagens: A criação dos poetas, dos pintores dos músicos, dos romancistas, dos ficcionistas são expressões de pulsões vindas do inconsciente. O “Ego”, apenas administra as relações entre o mundo interior e o mundo exterior.

As pessoas quando adotam comportamentos, atitudes e inibições que prejudicam de certa maneira a sua vida, não têm a menor idéia do que as levam a fazer tais coisas. Quando tendem a explicar as suas atitudes, são sempre comracionalizações defensivas ― mecanismos de defesa que, inconscientemente, lançam mão para evitar o desprazer de ter seus recalques externados.

Para os psicanalistas, o que sentimos, tememos, pensamos e fazemos é muito mais complicado do que se parece à primeira vista. Somos SERES REATIVOS, pois antes de determinada ação consciente, algo partiu de nossas obscuras profundezas psíquicas, para determinar aquele tipo de resposta.
Por trás de cada reação nossa, aqui mesmo nos debates da confraria, não temos idéia do quanto existe de pulsões ligadas fortemente à processos inconscientes, decorrentes do material (desejos) que foi reprimido em nossa formação bio-psíquica.
Gabriel Correia disse…
Galera, vocês se deram conta do que aconteceu aqui? 43 cometários, com apenas 9 pessoas, se eu contei certo. Me parece que o Matheus merece uma condecoração pelo feito. Sem falar no nível dos comentários. Parabéns nobres confrades!
Vamos lá, a coisa não terminou até porque o tema é dos mais complexos, reconheço. Minha maneira particular de lidar com a questão é não torna-la mais difícil do que ela é. O próprio Matheus fez um impressionante resumo do processo todo em sua conjectura, que é bem conclusiva quando fala em equilibrar principio de prazer e principio de realidade.

A proposito Paulinho da Viola completa 70 anos e canta:

"Canto
Pra dizer que no meu coração
Já não mais se agitam as ondas de uma paixão
Ele não é mais abrigo de amores perdidos
É um lago mais tranquilo
Onde a dor não tem razão..."

e por ai vai.

Gostaria de dizer mais, porem Matheus, Paulinho da Viola juntamente com os nobres confrades me deixaram sem mais palavras.
Eduardo Medeiros disse…
Levi, partindo do que você esclareceu, seria certo dizer que quanto menos uma criança for reprimida mas ela será um adulto livre e sem recalques?
Ou então, se eu me puser a uma análise e trazer o que está no inconsciente, eu serei livre daquela atitude reativa e defensiva?
Se sim, essa possibilidade de investigar no inconsciente o que me determina, seria o lado livre do nosso ser psíquico que quer se livrar da determinação inconsciente?
Essas perguntas, tem sentido? rssss
Eduardo Medeiros disse…
LEVI, a Gui fez uma interessante intervenção citando Lewis e Freud. De fato, o ex-ateu foi "surpreendido pela alegria", que é o título de um livro biográfico que eu li já faz muitos anos.

E também é certo que a fé religiosa ajuda em muito pessoas depressivas, tenho lido artigos sobre isso em revistas de psicologia.

Mas ao mesmo tempo que a fé pode curar a depressão, um certo tipo de religiosidade, como todos aqui sabemos, pode virar neurose total.

Qual seria o "dose certa" de fé religiosa que seria eficaz em trazer alegria e cura psicológica? ou tal cura é uma ilusão, já que a pessoa pode sair de uma depressão e cair em outra por conta das exigências religiosas?
Eduardo Medeiros disse…
Gabriel, é verdade, o tema é tão rico que pode render mais de 100 comentários.

E o grande Matinho, agora aos 70, percebe que um coração tranquilo é antídoto para para as dores das paixões!!

O budismo diz que o problema do homem é o desejo. Sem desejo, ele será feliz, completo, estará no Nirvana. Mas sem desejo, o que somos? robôs pensantes?

E lá se vem mais comentários...rss
Levi B. Santos disse…
Por outro lado...

...Isso não impede, Gabriel, de que em nós, aqui ou ali, surja o rugir do Leão, mostrando que não está morto, como bem está expresso na letra da música “Revelação” - de Clésio e Clodô, magnificamente interpretada por Fagner:


“Um dia vestido
de saudade viva
faz ressuscitar
casas mal vividas
camas repartidas
faz se revelar

quando a gente tenta
de toda maneira
dele se guardar
sentimento ilhado
morto, amordaçado
volta a incomodar. “

Levi B. Santos disse…
“...para Freud a maior forma de prazer era a satisfação instintiva ― o prazer sexual.” (Gui)


Mas graças a esse herege, Guiomar, é que hoje se sabe que a sexualidade infantil tem vários estágios, sendo o primeiro o prazer oral ― o de sugar o mamilo da mãe, mesmo depois de ter enchido o seu estômago de leite.

Apesar de sermos adultos, ainda não nos libertamos por completo desse arquivo inconsciente, que continua a emitir suas ressonâncias irresistíveis. (kkkkkk)
O Provocador disse…
Bom, analisando apenas o texto de nosso confrade, não há como deixar de notar um viés tanto quanto estoico, mas não um estoicismos arraigado na religião ou qualquer crença religiosa, e sim, um pensamento libertário que está em consonância com os pensamentos de grandes sábios. Não quero dizer com isto, que apenas os altamente esclarecidos podem gozar deste desapego sugerido pelo confrade.

Acredito piamente que o desapego está mais ligado a, como posso dizer, uma irresponsabilidade sob controle. Lembrei-me do Gresder agora, afinal, ele é a prova viva de que se pode viver uma vida irresponsável, mas sem, de alguma forma, perder o senso de responsabilidade, que, este sim, pode trazer angústia e muito sofrimento.

Sartre foi feliz em sua afirmação a respeito da liberdade humana, pois sabemos (ou pelo menos eu sei) que liberdade realmente nos trás responsabilidades, e esta em todas as esferas comportamentais. Liberdade nos faz ver que somos responsáveis por todos os atos, e uma vez responsável, tornamo-nos escravos de nossa tão buscada liberdade.

Pode então o homem ser desapegado (livre) e ao mesmo tempo desesperado(preso) à sua liberdade? Um axioma dos mais simples, que só engodaria os mais simples. Obviamente que pode se ser as duas coisas. O questão é quando temos correntes nos prendendo a liturgias baratas, a pensamentos arcaicos, a usos e costumes obsoletos. De tempos em tempos os homens vão se libertando, e a cada passo dado, um novo controle social informal lhe é conferido, e novamente ele volta ao ponto de partida. Me parece que nós buscamos nosso próprio desespero.

Para não me alongar, vou fazer aqui uma analogia de como funciona este processo de "encadeamento", que propus a uma amigo meu: "Lembro-me nitidamente dos anos em que comecei a fumar. No inicio era uma coisa, digamos, feia, fumava escondido, tinha medo da reação das pessoas ao verem um garota de 14 anos com um cigarro na boca. Mas o tempo foi passando, fui crescendo e adquirindo autonomia, aí, fumar já não era vergonhoso, mas ao contrário, me conferia status, agora podia fumar tranquilamente. Notem que o desespero se tornou desapego e fiquei em paz, comigo e com os homens. Recentemente criou-se uma lei onde se proibia fumar em estabelecimentos fechados. No inicio foi aquela bagunça, protestos daqui, reclamações dali, enfim, a lei pegou. E hoje, eu, que outrora não via problema algum em fumar num bar ou num restaurante, ou até mesmo num avião, fico constrangido ao acender um cigarro onde tiver uma criança, ou até mesmo embaixo de um toldo de bar, pois me preocupo com o incômodo que estou causando aos outros cidadãos, sejam eles fumante ou não".

Onde quero chegar com este relato? É simples, mudamos constantemente nossa visão de mundo, somos moldados pelo meio e consequentemente, acabamos aceitando o desespero que nos impõem ou nos impomos. Estamos o tempo todo nos acostumando com nossa liberdade (desapego) e quando vemos que desapego já não é suficiente, criamos uma "cadeia" (desespero, para nos mantermos sempre nesta dinâmica que é viver.

Levi B. Santos disse…
EDU

O ser humano estuda, estuda, estuda a fim de conhecer o seu inimigo detalhadamente. Mas o diabo é que ele tem uma tendência ao escapismo: então prefere fugir deles a ter que enfrentá-los. (rsrs).

Já dizia, Goethe: “Ninguém é mais escravo do que aquele que se considera livre sem o ser”
Levi B. Santos disse…
Achei bem interessante a sua intervenção sobre "desapego" e "desespero". Mas...

Com relação ao seu mal estar em fumar em ambientes onde existem não fumantes:

Eu entendo, caro provocador, que o desespero maior é o de saber que o seu desejo de aspirar e soltar a fumacinha do cigarro é o desejo (pelo avesso) do outro de não assim o fazer. (rsrs)

Já dizia Lacan: “É pela existência do OUTRO que definimos e redifinimos a nós mesmos”.
O Provocador disse…
Levi, parafraseando Alexandre Dumas, não há desapego sem desespero, não há felicidade nem desgraça na vida, há a comparação de um com outro estado; e nisso se resume tudo.
Só aquele que sofreu o infortúnio extremo compreende o gozo da extrema felicidade, ou seja, o nosso parâmetro para o desapego é exatamente o desespero sugerido no texto.
É preciso ter-se querido morrer para se saber exatamente como é bom viver. é preciso ter passado fome para se saber o quão gostoso pode ser um punhado de arroz, é preciso sermos acorrentados para sabermos o valor que a liberdade tem.

Vivam, pois, e sejam felizes; e não se esqueçam nunca de que, até que o dia em que o tempo se dignar desvelar o futuro do homem, toda a sabedoria humana se concentrará nestas duas palavras: aguardar e confiar!
Nobre Amigo Provocador,

"não há desapego sem desespero, não há felicidade nem desgraça na vida, há a comparação de um com outro estado; e nisso se resume tudo.
Só aquele que sofreu o infortúnio extremo compreende o gozo da extrema felicidade, ou seja, o nosso parâmetro para o desapego é exatamente o desespero sugerido no texto. É preciso ter-se querido morrer para se saber exatamente como é bom viver. é preciso ter passado fome para se saber o quão gostoso pode ser um punhado de arroz, é preciso sermos acorrentados para sabermos o valor que a liberdade tem"

Sua argumentação faz todo o sentido. Por isto insisto na questão do equilibrio. Pois não há como descartar o oposto, simplesmente porque optou por um dos estados. Essa construção que diariamente desenvolvemos terá que conviver com ambos os estados e compreende-los. Seria o que o Levi em tese, argumentou em resposta ao Edu, "é preciso enfrentar", mas aderimos ao "escapismo" e passamos a fugir de um estado, que adormece, mas, mais cedo ou mais tarde acorda, se agigantando e desmanchando o castelinho da vida perfeita rsrsrs
Nobre Amigo Eduardo,

"Qual seria o "dose certa" de fé religiosa que seria eficaz em trazer alegria e cura psicológica? ou tal cura é uma ilusão, já que a pessoa pode sair de uma depressão e cair em outra por conta das exigências religiosas?"

Nem pouco, e nem muito. Mas a dose que lhe mantenha equilibrado. Conheço muitos religiosos que encontraram um ponto de equilibrio satisfatório no exercício dos princípios cristãos. Mas também conheço muitos que se encontram em maior desespero e de fato em uma imensa neurose, por colocarem sobre si um jugo desnecessário. A religião aliada a fé com certeza pode ser útil em casos de depressão, por isso Jung tanto falou sobre ela.
Malditas memórias kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Nobre Amigo Gabriel,

São vocês e seus comentários que nos estimulam a buscar cada vez mais compreensão do que nos cerca. O que seriam do que escrevemos se não houvessem pessoas como vocês, para indagarem, discordarem e nos fazer pensar sobre uma ideia inicial? Com certeza, sem a participação de todos vocês, nossos textos não passariam de mais uma ideia nessa infinidade de pensamentos que permeiam o universo. Sou muito grato pela oportunidade de aprender com cada um de vocês.

Mas pelo amor... Bora melhora este gosto musical da Confraria kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Nobre Amiga Guiomar,

Não poderia eu, deixar de dar uma "cutucada" (na melhor das intenções é claro) na nossa pastora mór rsrsrsrs

Primeiro vale salientar que a Ultimato é uma revista um pouco tendenciosa, mas uma boa revista no que tange ao “mundo evangélico”, mas não entrarei neste mérito na análise do seu comentário. Pois quem aqui não é tendencioso em sua argumentação na defesa dos seus ideais??? Que atire a primeira pedra então kkkkkkkkkkkk

As questões são:

1 - Me parece que esta comparação visa enaltecer o ex-ateu Lewis, que em uma decisão de fé aceito o Nazareno e venceu a depressão, e rebaixar o ateu Sigmund, que por sua vez conduziu a vida dele sem afirmar uma espécie de relação com algum ser que fosse superior a ele. Pergunto: E daí? Seria isto uma argumentação suficiente para afirmar que Freud morreu em profunda depressão? Ou que não morreu feliz, com os seus feitos?

2 - Você argumenta dizendo, "Freud por sua vez, quando jovem, usou cocaína durante algum tempo como forma de melhorar o ânimo. Ele relacionava a felicidade ao PRAZER, e para ele a maior forma de prazer era a satisfação instintiva, o prazer sexual. E como isso só ocorre de vez em quando, ele conclui que está descartada qualquer chance de felicidade". Novamente pergunto: E daí? Você já parou para pensar no que representa Freud para a psicologia, psiquiatria e psicanálise hoje? Ousaria afirmar que ele não representa nada além do que mencionou em relação a questões do prazer? Seria Freud tão pequeno assim, ou simplesmente uma "dorzinha de cotovelo" religiosa, pelo fato do mesmo não ceder aos encantos do Cristo ressurreto?

São alguns comportamentos sectaristas e preconceituosos que me fazem desacreditar dos religiosos. Não que este venha ser o seu caso Guiomar, acredito que não. Até gostaria que me passasse esta reportagem, caso fosse possível, para eu ler na íntegra, e estando eu enganado, não terei dificuldades em me retratar.

Abraço.
Nobre Amigo Eduardo,

Tenho uma pergunta:

Qual o nível de santificação devo atingir para que o meu Blog esteja na lista ao lado?

Seria constrangedor para este tabernáculo de heréges ter no rol de Bloques, um Blog com o nome "Boteco"?

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Guiomar Barba disse…
Matheus, antes de tudo, me perdoe por não haver deixado bem claro que a única frase minha foi: "Pobre dos eunucos e daqueles que só vêm a possibilidade de sexo no casamento..." Costumo destacar o texto e autoria...

Eu não acredito que a Ultimato ao trazer esta matéria do Armand Nicholi (Não sei quem é kkkk)teve a intenção de desmerecer o grande Freud, os articulistas da Ultimato, são inteligentes e sabem reconhecer os grande homens da história.
É importante você saber que existem universidades que já não pautam seus
ensinamentos na área, segundo Freud. Isto não significa que depreciem a sua grande contribuição para o nosso mundo. Embora Freud o tenha feito com o Cristo ressurreto. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Você diz...

Creio que como uma revista cristã, ela não foi tendenciosa, ela foi clara quanto a
sua intensão em mostrar que Jesus na vida de uma pessoa, seja ela um "deus", faz toda diferença. Portanto, ela traz ao conhecimento o livro "Deus em Questão" do Armando Nicholi, que, segundo diz a Ultimato, mostra como a visão de mundo diferencia dois dos maiores pensadores do século 20.

Leia toda a matéria: Ultimato - Nº 296 - setembro-outubro;2005 (sempre atual kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk)

O que representa Freud para a psicologia é sabido de todo o mundo, mas isto não impede que ele não tenha respondido aos seus mais profundos questionamentos e que nunca tenha encontrado a felicidade, o que tampouco, faz dele menor.
Nobre Amiga Guiomar,

Obrigado pela sua resposta.

Estava dando uma olhada a pouco sobre a relação entre Freud e Lewis, e encontrei o artigo. Também vi que há uma peça teatral que fala sobre a "Última Sessão de Freud", algo muito interessante. Mas que alguns pesquisadores dizem ser apenas ficção, afirmam não haver existido este encontro entre "Lewis e Freud".

Se de fato, este relacionamento nunca existiu, a revista com certeza não merece o adjetivo de tendenciosa, e sim de mentirosa. Mas não posso afirmar nem um, e nem outro.

A questão não é saber se Freud morreu infeliz ou não. A questão é saber até onde a religião, a crença ou um deus determina quem pode ou não ser feliz, ou o que produza ou não felicidade. Nisto peca a religião, e a religiosidade.

Guiomar Barba disse…
Levi, como ele via sexo em tudo, o que para mim, burrinha, chega as raias de uma psicose, eu pergunto: será que ele acertou no primeiro?
É impressionante a quantidade de mães que buscam ajuda no aleitamento, porque seus bebes rejeitam chupar as suas tetas... Posso está falando uma grande besteira, não com relação a sexualidade, mas segundo Freud, será que elas serão avessa ao sexo? Com certeza não!
Guiomar Barba disse…
Confrades, até os meus 17 anos eu tive que reprimir meus desejos "pecaminosos", daí em diante eu rachei com a religião e com os meus pais, aos 23 anos, sai de casa, até os 26 anos eu me dizia livre e procurei viver intensamente e sem culpas. Nunca fui mesmo de curtir dor, preocupações, eu gostava de viver o momento. Mas tinha tendências a profundas tristezas sem saber os motivos delas, e questionamentos para os quais eu não encontrava repostas.

Foi a minha volta para Deus, que me trouxe alegria de imediato, como aconteceu com o Lewis? Não! Entendi que se Jesus foi ungido com o óleo da alegria, eu também poderia ser uma pessoa alegre, finalmente minha alegria dependia de como eu encararia a vida e seus percalços e não pense que foi fácil, mas eu vivo feliz.
Guiomar Barba disse…
Só não desejar, já é um desejo kkkkkkk
Levi B. Santos disse…
GUIOMAR


Como Matheus bem frisou: C. S. Lewis e Freud nunca ficaram frente a frente.

O que Armand Nicholi fez foi juntar em um seminário, cristãos, pessoas com outras crenças e pessoas que não professavam nenhuma fé para avaliar as percepções ou cosmovisôes contrastantes dos alunos sobre os conceitos freudianos e os conceitos cristãos na ótica de Lewis.

No Livro “FREUD versus DEUS” ― de autoria de Dan Blazer (Editora Ultimato), que eu tenho aqui em minha biblioteca, na página 239, em um capítulo intitulado “Diálogo entre a Psiquiatria e o Cristianismo” ― há referências detalhadas com relação a esse seminário. Inclusive diz que os psiquiatras que estavam presentes se surpreenderam com a liberdade, espontaneidade e energia dos estudantes diante de um vídeo, como bem mostra o trecho abaixo que pincei do livro em questão:

Cada aluno demonstrou coragem para expressar e arriscar-se a um ataque frontal sobre a sua cosmovisão. Nenhum deles aceitou a cosmovisão de Freud ou de Lewis sem criticar.”
Levi B. Santos disse…
Caros confades


Como subsídio para se compreender o “porquê” de Freud considerar as ideais religiosas como ”ilusão”, indico um artigo bem inteligível, publicado na revista de cunho psicanalítico ― “Revista de Mal Estar e Subjetividade”, cujo link seque abaixo. (leiam bem a vagar):

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482008000200009
Nobre Amigo Levi,

Gosto disso. Gosto de ousadia, de elaborações próprias, de pessoas que olham as referências simplesmente como referências. É insuportável debater com quem pensa ter o argumento absoluto, este que na verdade, nem da pessoa não é. Um argumento que se recebe pronto.

É como certa vez ouvi o insuportável, mas inteligente Olavo Carvalho dizer,

"Não se discute com alguém provido de verdade e de razão"
É Nobre Amigo Levi,

O grande problema a se enfrentar quando se fala de Freud, é ter que enfrentar os discursos daquele que sequer se deram o trabalho de pesquisar um pouco mais sobre suas obras, sua vida, e insistem em discursar com base em fragmentos que encontram aqui e acolá. Tipo noticia de televisão... Só mostra o que convém.

As evidências são tão reais e concretas que não há muito o que se contestar. Esta fala que coloco abaixo, deste artigo que nos indica, e que já salvei, pois me será útil na construção de minha primeira obra que esta a todo o vapor, parece ser incontestável...

"Acolhemos as ilusões porque nos poupam sentimentos desagradáveis, permitindo-nos em troca gozar de satisfações. Portanto, não devemos reclamar se, repetidas vezes, essas ilusões entrarem em choque com alguma parcela da realidade e se despedaçarem contra ela"

O que levam as pessoas a buscarem uma religião? Seja ela o catolicismo, o protestantismo, o espiritismo, o budismo, o islamismo, e por ai vai... Com certeza é o desejo de ser poupado diante dos sentimentos e atos que o fazem sofrer, se desesperar.

E o que acontece, quando as expectativas não são atendidas ao se depararem com a realidade que permeia a própria existência? Se frustram, se desesperam, adoecem, perdem o sentido da vida, e muito já não conseguem mais se adaptar novamente.

De fato, é muito complicado analisar a questão "religião" no ponto de vista freudiano, pois percebo que ao mesmo tempo que a religião da sentido a vida de muitas pessoas, ela pode também tirar o sentido, quando percebida como esta ilusão, esta fuga, e coisa triste é viver sem sentido. É como dizia Einstein,

“o homem que considera sua vida sem sentido, não é simplesmente um infeliz, mas alguém que dificilmente se adapta à vida”
Guiomar Barba disse…
Matheus, "E daí? Seria isto uma argumentação suficiente para afirmar que Freud morreu em profunda depressão? Ou que não morreu feliz, com os seus feitos?"

Este questionamento foi seu, a revista apenas finaliza dizendo que: "Suas cartas não expressam muita felicidade. Certamente ele experimentou alegria em estar com a família, mas a grande maioria dos seus escritos indica que ele não considerava a vida uma experiência particularmente feliz."

Eu acredito que o desejo de Deus é que todos nós sejamos felizes. Jesus disse: Alegrai-vos! Outra vez digo: Alegrai-vos! Ele mesmo foi ungido com o óleo da alegria. A alegria do Senhor é a nossa força.

Eu não acredito que é a religião ou seja o que for, que determine a nossa felicidade e sim eu mesma, Deus apenas, me abençoa na minha decisão.
Guiomar Barba disse…
Levi, eu entendi, que Frente a Frente, não significava o confronto entre os dois, pelo desenrolar da matéria, na segunda pergunta da entrevista, está claro que foram alunos que chegaram as suas próprias conclusões, no entanto, bem embasados na biografia dele.
Guiomar Barba disse…
Matheus, kkkkkkkk "O que levam as pessoas a buscarem uma religião? Seja ela o catolicismo, o protestantismo, o espiritismo, o budismo, o islamismo, e por ai vai... Com certeza é o desejo de ser poupado diante dos sentimentos e atos que o fazem sofrer, se desesperar."

Acho que você não pensou bem antes de escrever esta afirmação. Quais os exemplos que teríamos, para acreditar que seríamos poupados de sofrimento? O próprio Jesus disse:" No mundo tereis aflições...
"MUITAS são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra". Sal. 34:19. Se livra ou não, elas não deixam de existir...
Guiomar Barba disse…
Matheus, "O grande problema a se enfrentar quando se fala de Freud, é ter que enfrentar os discursos daquele que sequer se deram o trabalho de pesquisar um pouco mais sobre suas obras, sua vida, e insistem em discursar com base em fragmentos que encontram aqui e acolá. Tipo noticia de televisão... Só mostra o que convém."

Você não é forçado a responder a ninguém. Se não tinha base o meu comentário, por que gastar tempo comigo? rsrs
Eduardo Medeiros disse…
Gui, o filho rejeitar o peito da mãe não seria a exceção à regra?
Eduardo Medeiros disse…
vou já, já resolver essa heresia....rss
Eduardo Medeiros disse…
Eu fui assinante da Ultimato por 15 anos. Tinha-a como de longe, a melhor revista cristã publicada por aqui; mas lá pelas tantas, vi que ele ia entrar em "guerra moralista" contra os gays; começou a atacar muito os padres católicos; e por fim, convidou o Gondim a se retirar da revista por conta dele ter defendido a teologia do processo. Cancelei minha assinatura.
Eduardo Medeiros disse…
Este debate aqui está bem terapêutico...rss

Mas outra vez, veio-me o desespero ao ler o que o LEVI escreveu: O ser humano estuda, estuda, estuda a fim de conhecer o seu inimigo detalhadamente. Mas o diabo é que ele tem uma tendência ao escapismo: então prefere fugir deles a ter que enfrentá-los.



Ó, quem poderá nos livrar do determinismo inconsciente??? (não pude deixar de pensar: "eu, o Shapolim..." kkkkkkkkkkkkkkkkkk)

Freud não é unanimidade. Aliás, existem críticos ferrenhos a ele hoje em dia. Confesso que conheço pouco da obra dele; comecei a me interessar pela psicanálise lendo o LEVI; depois disso, li vários artigos sobre Freud e Jung e alguns livros.

Acho o mundo da psiqué fascinante. Vejo muita lógica na tese de Freud sobre o inconsciente e sobre a importância da infância na determinação do adulto, mas sempre me apego àquele pensamento de que não lembro de quem é (Sartre?) de que somos de fato, condicionados por vários fatores, o problema é o que nós fazemos com tal constatação.
Eduardo Medeiros disse…
Matheus,

eu vou concordar com a pastora Guiomar. Creio que o que traz uma pessoa para uma religião vai muito além de "ser feliz". Falando nisso, afinal de contas, temos que ser feliz??? a felicidade deve ser o alvo da existência? isso não tá virando uma ditadura da felicidade?

Como diz a música do Frejat (esse você gosta Matheus??? rss)

"Sorri é bom
Mas sorrir de tudo é desespero"

O fenômeno religioso é muito mais complexo do que uma simples busca por felicidade. Qual era a intenção dos nossos antepassados ao criarem os deuses e os rituais religiosos? Será que era a simples busca pela felicidade?
Levi B. Santos disse…
No que tange as religiões, Gui, o que complica muito é o seu reducionismo, ao oferecerem soluções homogeneizantes para as pessoas, sem levar em conta a singularidade de cada uma delas.

Gosto muito de ler as obras de Joel Birman. Esse psicanalista diz algo mui interessante para nossa reflexão:

“A singularidade do desejo não admite a possibilidade de qualquer solução normativa para o sujeito, razão pela qual o mal-estar na civilização é estrutural e não contingente. Para que exista alguma possibilidade para o sujeito em face do seu desamparo, é necessário que ele invente um estilo de existência, de maneira a dar um lugar para a singularidade do seu desejo”.
Levi B. Santos disse…
Edu

Para os meus pais, o melhor do culto era a "Hora do Apêlo", a escolha ali era tomada sobre o efeito desse saudoso hino, ante uma grande torcida "humana-celestial": Vida ou Morte, qual vais aceitar?...

Como aqui não tem a Hora do Apêlo (será?), não vamos nos desesperar com esse maniqueísmo de ter que escolher entre o Projeto Terapêutico da Psicanálise e o "Projeto da Salvação do Cristianismo". (kkkkkk)
A irmandade sempre com respostas na ponta das línguas kkkkkkkkkkkkk nisso são peritos kkkkkkkkkkk
Nobre Amigo Edu,

Expressei uma caracteristica apenas, partindo da argumentação de Freud... É óbvio que não é somente a felicidade que levam as pessoas a buscarem uma religião, mas esse é um fator, e segundo a argumentação freudiana do artigo inquestionável.

Mas já que concordas assim de imediato com a pastora mór, abre uma igreja com ela e bora trabalhar pra Geofáááááá! kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Olha Nobre Amiga Guiomar,

Não vou me dar ao luxo de debater com quem esta munido da única verdade absoluta. Isso seria um pecado imperdoável, e como quero chegar na NOva Jerusalem, vou me abster de responder a sua argumentação sofista kkkkkkkkkk
Nobres Amigos Confrades,

Dou por encerrada minha participação neste tópico. Considerei de grande valia cada comentário. Agradeço a cooperação dos confrades e peço perdão a todos pela minha indelicadeza e suposta arrogância. Que permaneçamos em paz, e em busca de sentido para nossas vidas, não verdades irrefutáveis.

Rodrigo, esteja a vontade para publicar.

Fraterno Abraço.
Eduardo Medeiros disse…
Sim, Matheus, evidente que você sabe que a religião não é só busca da felicidade, eu nem precisava fazer esse comentário, né??? kkkkk é que ficou parecendo para mim que o que Freud pensava da religião definia o fenômeno como um todo para você.
Eduardo Medeiros disse…
É, Levi. Vamos deixar os apêlos fora dessa...rss
Nobre Amiga Guiomar,

Você é um caso a parte, gosto de lhe responder.

Digamos que ainda há salvação para você kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk