O Animal Político




Eduardo Medeiros

As virtudes podem ser ensinadas ou elas são inatas? Na sua obra Protágoras, Platão conta o mito da criação do homem e como as criaturas vieram a ter competências e qualidades. Para Platão, as virtudes podiam ser ensinadas, para Sócrates, elas eram inatas. Quem conta o mito é o filósofo Protágoras:
 No tempo da criação de homens e animais, os deuses deram aos irmãos Epimeteu e Prometeu a incumbência de determinar e distribuir qualidades e competência às espécies. Epimeteu ficaria com esse encargo e Prometeu ficaria responsável de conferir o trabalho. Epimeteu então vai distribuindo as qualidades aos animais de modo que apesar de suas diferenças, tivessem a mesma possibilidade de sobrevivência. Força e velocidade, peles ou carapaças, serviram para o bom equilíbrio da natureza. Depois de terminar sua atribuição, Epimeteu se deu conta que tinha se esquecido de dar qualidades ao homem! Ele ficaria sem competência para sobreviver ao frio e a chuva, pois tinha nascido pelado! Prometeu chega e vê seu irmão desolado. O que fazer agora? 

Prometeu, ousadamente, foi até o Olimpo e “tomou emprestado” de Hefesto os atributos do fogo e de Atena, a sabedoria das demais artes técnicas e a capacidade de criar os seus próprios meios de sobrevivência. Então os homens conseguiram construir casas, roupas, plantar; o homem passaria a interferir na natureza.

Mas com o passar do tempo os homens se viram incapazes de encontrar um meio de convivência harmônica, não tinham tal atributo da harmonização. Os homens ignoravam a arte política que, vejam só, era um atributo do próprio Zeus! Mas ainda bem que Zeus compadeceu-se dos homens que  jazia em guerra uns com os outros. Zeus ponderou que a própria sobrevivência da humanidade estava em jogo. Então ele enviou seu mensageiro pessoal – Hermes – e o mandou atribuir aos seres humanos sentimentos de justiça (dikê) e de dignidade pessoal (aidos). Segundo Kraichete, “a maior força moral que o homem conhecia não era o temor aos deuses, mas o respeito pela opinião pública – aidéomei”. Se o homem não tiver “aidos”, não se ocupará de como seus atos serão julgados e qualificados pelo coletivo. Zeus determinou que todos os homens deveriam possuir a arte política, pois se só alguns  a tivessem, não haveria harmonia social. Era obrigação dos homens serem “políticos”. E a essência da virtude política são a justiça e o respeito ao próximo.

Precisamos mais do que nunca, pedir outra vez a Zeus que nos mande mais um pouco de diké e aidos; nossos políticos em Brasília, principalmente,  estão faltosos de tais virtudes.

Comentários

Levi B. Santos disse…

É verdade, Edu, “A essência da virtude política são a justiça e o respeito ao próximo”.

Porém, uma coisa, tem de se levar em consideração, principalmente aqui nas terras de D. João VI:

É que Hermes, o mensageiro pessoal de Zeus tinha entre seus títulos, o de deus dos sonhos

Pelo andar da carruagem, esse sonho nunca vai virar realidade. (rsrsrs)
Gabriel Correia disse…
Sempre existiu na historia um senso de degenerescência das virtudes, que sempre se demonstrou exagerado. Era sempre um alerta de velhos conservadores e realmente eram. Mas e agora, essa degradação somada a podridão, esse aniquilamento do homem, será um alerta exagerado? Talvez eu esteja velho pois não duvido que caminhamos para o fim do homem. Talvez tenha existido uma reserva ética que esta se esgotando. Tomara, eu seja só mais um velhaco!
O nosso sonho desde a nossa formação foi este. Nós traçamos este caminho cultuando a malandragem. Nossos governantes são nossa essência. Só se muda uma filosofia de vida com cultura e esta não é a semente que está sendo plantada.Produzir analfabetismo funcional não atende às necessidades intelectuais. Nós não ignoramos a dignidade nem a justiça, simplesmente rejeitamos.