O palhaço e os livros





Carlos Telles na biblioteca que montou com livros jogados fora.



Segundo o Ministério da Educação, só 23% das 149.968 escolas públicas de ensino fundamental têm uma biblioteca. Em 2007 uma pesquisa do Instituto Pró-Livro(sabiam que este instituto existia??) revelou que três em cada quatro brasileiros não frequentam bibliotecas e 45% deles não pegaram num livro em três meses. Num quadro assim tão deprimente, atitudes que pipocam aqui e ali chamam a atenção pelo inusitado. Carlos Roberto Telles é um palhaço. Fugiu de casa aos 7 anos e foi viver nas ruas de Curitiba. Consumiu drogas e cometeu assaltos. Para se proteger do frio e das crianças mais velhas, buscava abrigo na Biblioteca Municipal. Ele diz que nunca conseguia entrar na biblioteca pois sempre era barrado pelos seguranças por estar sujo e malvestido.

O destino do Palhaço mudou. Ah, o destino...certa vez policiais levaram Telles para um abrigo de menores. Lá começou a ter aulas de teatro e virou o palhaço Chameguinho, personagem que até hoje ele interpreta nas ruas. Com o dinheiro que ganhou das apresentações comprou uma casa na Vila das Torres. Um dia (destino?) observou catadores de papel da comunidade desmanchando livros encontrados no lixo. Um país onde livros são jogados no lixo para servirem a reciclagem de papel pretende chegar aonde...? Pois bem, o palhaço teve uma brilhante ideia: montar uma biblioteca diferente da Municipal, onde qualquer um poderia entrar, mesmo sujo ou malvestido.

Primeiro ele teve que convencer aos catadores que doar os livros para ele era uma opção mais produtiva que destruí-los para vender papel. Aos poucos, vários deles começaram a dor os livros que encontravam. Em 2009 a biblioteca foi instalada num prédio alugado. Para mantê-los o palhaço conta com doações dos frequentadores, cerca de 2 mil cadastrados.

Iniciativas como essa são louváveis e vêm de onde menos se espera. Uma outra iniciativa parecida com a de Telles foi a que teve Sebastião Carlos dos Santos, líder da Associação dos Catadores do Aterro Sanitário de Jardim Gramacho. Ele encontrou um exemplar do “Príncipe”, de Maquiavel no meio do lixo (Que país joga Maquiavel no lixo!!??). Intrigado com o título, resolver ler. A partir desse dia, passou a levar para casa todos os livros que encontrava. Ficou famoso quando sua história foi contada pelo documentário Lixo extraordinário, do artista plástico Vik Muniz. Com a ajuda da prefeitura, Sebastião criou um programa para exibir um filme uma vez por semana num telão ao ar livre e organiza apresentações de dança e música para a comunidade do bairro.

Sebastião resume sua missão:

 “Minha intenção é levar cultura para aqueles que não têm acesso a ela, assim como um dia eu também não tive”.



Nem tudo está perdido.

(Li sobre o Telles na revista Época de outubro de 2011)

Comentários

Edu meu caro,

Estive ausente por uns dias e só hoje cheguei à civilização (internet). Pois bem!..

É louvável a atitude altruísta dos cidadãos C.R.T e S.C.S num país onde presentear livros é uma chacota. Em focinho de porco não cabe anel. Eu não tenho o costume de jogar livros lidos no lixo nem tampouco doá-los. Como não tenciono montar uma biblioteca eu acondiciono meus livros em depósitos e por lá são esquecidos. A postagem demonstra uma taxa otimista de leitores. Se colocar a bíblia da lista de apostilas, 2/3 da população do terceiro mundo nunca abriu um livro.
Levi B. Santos disse…
Edu

Foi ótimo, trazer aqui para nós a história de superação do palhaço Telles, que eu nunca tinha ouvido falar.

Merece realmente uma conferida esse documentário - "Lixo Extraordinário" - de Vik Muniz. Vou ver se consigo adquiri-lo em minhas andanças pelo mercado de filmes nacionais. Não interessa o preço (rsrs)
Anônimo disse…
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