O Resgate De Um Pedaço de Nossa História




Era 1967 o último ano do governo ditatorial de Humberto de Alencar Castelo Branco. Lembro-me bem que estávamos todos almoçando, quando o cearense ex-presidente (já falecido) ao desfilar em carro aberto há uns 200 metros do Restaurante Universitário onde estávamos, recebeu alguns apupos. Imediatamente o restaurante foi cercado por policiais, que nos confinaram por varias horas. Nesse dia fomos proibidos de sair daquele recinto para assistir nossas aulas. Algum tempo depois, dois colegas meus de turma, líderes da UNE local (Roberto e Lívia) sumiram misteriosamente. O primeiro alguns meses depois apareceu morto boiando em um açude do sertão paraibano. Quanto a minha colega de turma, até hoje não sabemos o seu paradeiro.
As lembranças daquele tempo de crueldade, dureza e repressão vieram à tona, quando abrindo o primeiro caderno do Jornal O Globo do Rio de Janeiro, de ontem (19/11/2011), me deparei com a reportagem sobre a solenidade da entrada em vigor da Lei do Acesso à Informação que criou a Comissão da Verdade formada por sete integrantes encarregados de no prazo máximo de dois anos, iniciar os trabalhos de revelação dos documentos relativos aos anos terríveis da ditadura militar que estão sob sigilo militar. Esta comissão tem por objetivo esclarecer violações dos direitos humanos, principalmente àquelas ocorridas nesse período de exceção.
Guardei esse jornal como recordação. Quem do meu tempo diria que um dia isso fosse acontecer: Olhando para a foto dos presentes à cerimônia, lá estavam os três comandantes militares, todos cabisbaixos. Segundo a reportagem, os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ouviram em silêncio os discursos inflamados de parlamentares, ministros, ex-militantes e familiares de perseguidos políticos. Houve muitos aplausos, menos da parte dos militares que estavam no recinto do palácio do planalto.
A solenidade foi marcada por cenas de emoção, como o reencontro da presidente Dilma com duas ex-companheiras de cela, com familiares de desaparecidos políticos, e com as filhas do ex-deputado Rubens Paiva ― desparecido desde 1971.
Dilma, ao beijar Rita Sipahi, uma de suas ex-companheiras na prisão, não resistiu e, disse em alto e bom som, sob os olhares de desconforto dos comandantes presentes: “As gerações brasileiras se encontram hoje em torno da verdade”
Disse ainda, a presidente em exercício, de forma enfática: Esse dia é histórico e deve ser festejado como o dia em que o país deve comemorar a transparência e celebrar a verdade. A verdade sobre nosso passado é fundamental para que aqueles fatos que marcaram nossa História nunca mais voltem a acontecer”.
Dilma destacou que “as leis sancionadas ontem são importantes, sobretudo, para as novas gerações, porque irão mostrar a elas a verdadeira História do país nos anos recentes”.
Não importa que essas medidas tenham sido por tanto tempo adiadas. O que importa é saber que se conseguiu resgatar um passado histórico marcante da vida de muitos brasileiros, como finalizou, Dilma, em seu emocionado discurso: “isso coloca, enfim, o nosso país em um patamar superior, um patamar de subordinação do Estado aos direitos humanos”.
Para ouvir, na íntegra, o discurso de Dilma na solenidade histórica de instalação da Comissão da Verdade, CLIQUE AQUI

Guarabira, 20 de Novembro de 2011
Site da imagem: nosdacomunicacao.com

Comentários

Anônimo disse…
Pois é. Eu abomino qualquer forma de ditadura, mas acho que a verdade sobre os eventos de 64 poucos conhecem. Uns dizem que foi para livrar o país de outra ditadura, a comunista - e se assim foi eu agradeço aos militares e aos EUA por isso.

Como dizia Churchill: "no capitalismo o homem é explorado pelo homem. No comunismo é o contrário". Mas ao menos no capitalismo nós podemos fazer o que bem entendermos das nossas vidas...
Prezado Levi,

Boas reflexões. Sen dúvida que aqueles foram anos horríveis, um dos piores da nossa história recente e que promoveu um patrulhamento ideológico de dar inveja no Estado Novo de Vargas, trazendo sérias consequências para a nossa política, cultura e pra oirganização da sociedade.

Embora seja um direito de todos saber a verdade, eis que, no fundo, há grande demogogia por parte da nossa presidenta. Afinal, o que e mais fácil? Abrir os arquivos da ditadura ou mostrar a corrupção que ocorre no SUS e em outros órgãos públicos do momento? Combater os problemas do presente sempre é mais difícil. Logo, por que não distraírem o povo com as coisas do passado?

Ficam aí meus comentários.

Abraços.
Isaías,

Nenhuma ditadura é boa. Nisto acho que nós dois concordamos.

Se houve risco de uma ditadura comunista no Brasil, penso ter sido baixo. João Goulart, depoisto pelos milicos, estava promovendo era reformas sociais. E o que aconteceu foi que as nossas elites eram demasiadamente reacionárias para encarar as mudanças. Conceder aumentos de salários, dar direitos aos trabalhadores rurais e urbanos, bem como fazer reforma agrária são coisas que sempre assustaram os poderosos neste país.

De fato, a URSS queria novas áreas de influência. Os USA também desejavam manter as suas e também aumentar a exploração sobre o seu quintal latino-americano. E, aqui no Brasil havia empresários e generais interessados em tomar o poder usando como pretexto a "ameaça vermelha".

Pense nisto!

Abraços.
Levi B. Santos disse…
Isaias e Rodrigo


Creio que na raiz de tudo, estava o medo da elite em razão da tomada de consciência dos explorados. O medo do totalitarismo comunista deu lugar a uma reação militar repressiva e selvagem, chegando ao ponto do Presidente João Figueiredo — aquele que disse num discurso que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo — ter que expulsar um padre do País, por ele ter recusado celebrar uma missa no dia 7 de setembro. O padre Padre Vito Miracapillo foi tido como subversivo e infrator da “lei de Segurança Nacional”, ao argumentar para o prefeito de Palmares – Pe, que não poderia celebrar aquele ato, pois, sob uma ditadura, o país não era independente”

Aliás, ontem mesmo, o governo brasileiro resolveu conceder visto de permanência definitiva a esse padre italiano de 64 anos de idade. Vitor Miracapillo, confirmou a sua volta para trabalhar na mesma Pastoral da Igreja Católica em Palmares, onde servia na época da ditadura.
Em boa hora, o governo corrigiu um dos muitos erros históricos dos tempos de chumbo.
OS".Pois é, o GOVERNO sempre corrige injustiças quando não tem que devolver dinheiron fruto de fraudes. Quando o assunto é roubo, as atenções são desviadas com a figura dos "SANTOS".
Eduardo Medeiros disse…
Levi,

Meu pai foi (e é) um militar muito orgulhoso de suas funções. Cresci ouvindo ele me contar como os militares deram fim à bagunça do governo de João Goulart. Ainda jovenzinho, li uma publicação do Exército cujo título era "1964: A nação que salvou a si mesma" (acho que era isso).

Claro que era um panfleto exaltando os governos militares e de como eles "salvaram o Brasil do comunismo". Então cresci com essa ideia do heroísmo do meu pai por ser membro de uma instituição que tinha livrado o país do comunismo, mesmo não sabendo o que era comunismo...mas minha mãe me tentava me explicar dizendo que "comunistas matam cristãos". Bem, e era verdade...

Creio ser importante que tudo venha à tona. Já li muita coisa sobre a visão dos que foram prejudicados pela ditadura mas faltam obras que pensem a ditadura a partir da visão dos militares.

Temos que considerar a época histórica. Guerra fria. Capitalismo/EUA x comunismo/URSS. Os que pegaram em armas e se embrenharam nas matas em guerrilhas estavam lutando pelo quê? pela liberdade democrática ou pela ditadura do proletariado?

Isso sem falar que nossa ditadura foi sui generis. Na maior parte dela, houve um bi-partidarismo, coisa totalmente fora dos padrões ditatorias. (ainda que o MDB fosse "vigiado de longe").

Os anos de chumbo, estes, verdadeiramente foram terríveis. Mas parece ser verdade que os militares linha dura, que fecharam o Congresso e que mataram opositores, não eram unamidade nas Forças Armadas.

Mas não é engraçado que os que lutaram contra a ditadura queiram hoje amordaçar de toda maneira as opiniões contrárias a eles?

Que democria é a nossa onde a oposição é calada por uma maioria que mamam nas tetas da Dilma e que só largam o peito se a imprensa denunciar seus desmandos?

A "oposição" que tem poder no Brasil é a imprensa. Não é a toa que o PT quer "regulá-la".
Levi B. Santos disse…
É isso aí, Altamirando

Não sabemos de nada sobre roubos e fraudes dos tempos da ditadura militar. Os ditadores foram mais sábios, calaram a imprensa que hoje é quem faz a faxina no governo, a ponto de em seis meses do governo Dilma ter concorrido para derrubar seis ministros corruptos.

Entendo que enquanto não se fizer uma reforma política de vergonha para dar um basta no loteamento de cargos (tráfico do “toma lá dá cá”), a degola dos prevaricadores vai continuar.

A não punição com rigor da corja de corruptos flagrados, pode tornar o crime de colarinho branco um fato banal. E quando isso acontecer, é de se perguntar:
Para que serve o Congresso Brasileiro???
"Creio que na raiz de tudo, estava o medo da elite em razão da tomada de consciência dos explorados. O medo do totalitarismo comunista deu lugar a uma reação militar repressiva e selvagem" (Levi)


Concordo plenamente contigo!

Vejamos o que o medo é capaz de fazer. Uma sociedade controlada pelo receito de uma ditadura comunista foi capaz de abrir mão de sua liberdade, permitindo que ocorresse o golpe de 64 e que os militares se instalassem no poder por longos 21 anos, sem considerarmos o finalzinho desta ditadura debaixo do (des)governo do civil Sarney, eleito vice de Tancredo por um Congresso da época do regime militar.

Ora, foi devido ao medo (desta vez do terrorismo) que os norte-americanos consentiram com a invasão do Iraque (2003) e apoiaram o belicismo bushiano que custou a morte de milhares de civis iraquianos e de soldados estadunidenses, sem raciocinarem que Bagdá nada tinha a ver com o 11 de setembro.

Também foi pelo medo da inflação voltar que a nação brasileira pagou um preço alto quando elegeu FHC por duas vezes em 1994 e em 1998.

E será que também não foi pelo medo (de perder o emprego) que o brasileiro acabou votando na Dilma em 2010, deixando de escolher uma opção melhor a exemplo da ativista ecológica Marina Silva?

Até quando seremos controlados pelo medo!?

Abraços.
Em tempo!

O pior medo não foi o das elites brasileiras, mas sim o das pseudo-elites que é o povo autoenganado a seu prórpio respeito.

Talvez as nossas elites tenham sido movidas também pelo seu atraso mental e pela incapacidade de vislumbrar os benefícios que ela mesma teria, conforme era proposto por reformas sociais de Jango.
Levi B. Santos disse…
Ops, EDU!


A postagem do comentário que fiz ao de Miranda, ocorreu de forma simultânea ao seu, de modo que agora é que estou lendo-o (rsrs)

Concordo plenamente com a sua fala, abaixo:

“Mas não é engraçado que os que lutaram contra a ditadura queiram hoje amordaçar de toda maneira as opiniões contrárias a eles?"

Isso, me fez lembrar de um episódio recente de expulsão do país do jornalista americano Larry Rohter, no que foi o maior erro jurídico e político cometido contra um repórter estrangeiro.

Pense aí, onde Lula foi buscar a justificativa para o desmando de banir o repórter: usou simplesmente uma cláusula da lei da época da ditadura (a Lei de Segurança Nacional; a mesma Lei que tinha sido usada para a própria prisão de Lula em 1980 (kkkkkkkkkk)

Outra você tem razão, ao dizer: “Mas parece ser verdade que os militares linha dura, que fecharam o Congresso e que mataram opositores, não eram unanimidade nas Forças Armadas”

O episódio da explosão de uma bomba no interior de um automóvel, no colo de dois militares do DOI-CODI, no repercutido ATENTADO DO RIO CENTRO, onde ocorria um show pacífico de Elba Ramalho em homenagem ao dia do trabalhador, foi forjado no intuito de jogar a culpa nos comunistas, não teve o aval do General Ernesto Geisel, que nessa época governava o país.

Somente 19 anos após o atentado, o inquérito Rio-Centro foi aberto pra valer. Foi provado que houve conivência da alta hierarquia do antigo regime: o Capitão Machado (hoje coronel) e o general super-rigoroso Newton Cruz.

Acredito, que os militares que não eram da linha dura, com a abertura dos documentos sigilosos, irão contar a história de fatos marcantes, para acabar com esse “buraco negro vazio” de nossa História que ainda não foi contada como deveria ser. Acredito que a Lei da Anistia, que não permite o revanchismo, vai dar uma força para que aqueles, que tomaram parte no regime de exceção, falem a verdade sem medo de retaliações.
Eduardo Medeiros disse…
Levi,

muito bem lembrado o fato do jornalista americano e o atentado no Rio Centro. Mas existe um fator que pode complicar tudo. Existem muitos que querem revogar a lei da anistia para que os torturados sejam julgados, o que poderá criar um clima de revanchismo perigoso se isso acontecer. Só não sei se os que querem revogar a anistia vão concordar que os guerrilheiros também sejam julgados. Talvez a primeira da fila fosse a nossa presidenta.
"Acredito, que os militares que não eram da linha dura, com a abertura dos documentos sigilosos, irão contar a história de fatos marcantes, para acabar com esse “buraco negro vazio” de nossa História que ainda não foi contada como deveria ser." (Levi)


Neste ponto, acho meio complicado porque há entre os militares uma certa cumplicidade. E sei disso porque venho de uma tradicional família militar do Rio de Janeiro.

Pode ser que um ou outro milico, principalmente fora do oficialato e que jamais tenha chegado a general, resolva abrir o bico. Porém, devemos lembrar que a grande maioria já morreu.

Diga-se de passagem que apenas o general Argemiro de Assis Brasil (1907-1982) foi praticamente o único da alta patente que sofreu perseguição a ponto de ser demitido do Exército. Depois de ser expulso das Forças Armadas e considerado morto legalmente para as Forças Armadas, os golpistas retiraram perpetuamente de sua ficha todas as suas condecorações militares, exceto as estrangeiras, além de cassarem os seus direitos políticos por dez anos. O general Argemiro respondeu em 1964 a um Inquérito Policial Militar para apurar o exercício de possíveis atividades subversivas e a promotoria militar que examinou os termos do IPM, não vendo nenhum crime em suas atitudes quando no governo, impronunciou-o na Justiça Militar, não tendo o militar sofrido qualquer condenação criminal ou punição disciplinar, a não ser a demissão.

Já os demais generais que apoiaram Jango resolveram aliar-se aos golpistas já que Jango não desejava ver um banho de sangue na nação brasileira. Tanto é que o general Armando de Moraes Ancora (meu parente), na época ministro interino da guerra do governo deposto e comandante da 1ª Região Militar, permitiu que suas tropas marchassem juntas com os golpistas, mantendo a unidade do exército brasileiro. E há fontes que confirmam o fato de Âncora ter sido orientado por Argemiro de Assis e por Jango para ter agido de tal modo.

No entanto, os demais generais que fizeram parte do governo Jango foram mantidos no Exército, ainda que tivessem sofrido uma perseguição mais branda pelos golpistas. Uns venderam a alma enquanto outros ficaram na sua vivendo com menos prestígio. Mas o fato é que todos, exceto o general Argemiro, optaram por manterem fidelidade à instituição do Exército não ao presidente deposto que seguiu para o exílio.

Portanto, acho que o silêncio tende a prevalecer entre os militares que ainda restam. É bem provável que a maioria deles carreguem seus segredos para o túmulo.

Abraços.
Em tempo!

Meu falecido avô paterno Sylvio Ancora da Luz era militar de artilharia e chegou até a patente de coronel. Ele serviu ao Exército por 35 anos e meio, tendo pegado a época da 2ª Guerra ficando destacado em Recife com os norte-americanos e, salvo engano na decada de 60, chegou a ser comandado do seu primo, o general Armando Âncora (não sei em que grau eram parentes).

Não muito tempo depois do golpe, vovê veio a ser transferido para o QG de artilharia da mineira cidade de Juiz de Fora onde encerrou sua carreira militar no começo dos anos 70.

Vovô jamais me contou tudo que sabia, embora conversássemos bastante. Para ele, a ditadura militar nunca existiu já que havia Congresso Nacional funcionando. E, embora não fosse fã da "revolução", considerava necessária a intervenção militar por causa das "badernas" e ameaças comunistas com guerrilhas.

Em Minas, vovê não teve muitos envolvimentos diretos com a repressão militar, exceto na vez em que, substituindo o general do QG, precisou participar do julgamento de um comunista.

Segundo meu avô, havia numa unidade do Exército em Juiz de Fora uma área restrita onde ficavam os presos políticos na época do regime militar. Neste local, somente o genral e alguns soldados a ele subordinados tinham acesso. Nem os outros oficiais poderiam entrar lá. Porém, ele insistia em negar que existisse tortura.
Eduardo Medeiros disse…
Rodrigo,

o que você diz é verdade; os militares são de fato, bem corporativistas. Mas quem sabe, já passado tanto tempo, alguns queiram se pronunciar?

A sociedade brasileira à época, praticamente intimou o exército a tomar o poder das mãos de Goulart; para as pessoas comuns de classe média, a revolução foi necessária e desejada; da mesma forma para a elite.

O medo da clase média católica era a ameaça comunista atéia, e o medo da elite, era que as "Reformas de Base" do Goulart lhe tirassem privilégios.

Mas já ouvi generais que participaram da revolução dizerem que a missão do exército era depor Goulart e todo seu governo, já que ele "flertava com Moscou"(para muitos ele já tinha até dado beijo na boca e ido prá cama) e pouco depois, convocar novas eleições. Mas aí, já viu, né, os milicos tomaram gosto pela coisa e ficaram 21 anos.

Ouço também o argumento que não houve ditadura no Brasil já que havia Congresso e oposição. Era de fato, uma ditadura com jeitinho brasileiro.

E vejam também que foram os militares que devolveram o poder aos civis na hora em que já achavam que a "ameaça comunista" estava enfraquecida. Evidente que toda a pressão da sociedade civil enganjada também teve grande peso.

Mas rodrigo, me diz, com uma família tão tradicional no meio militar, por que você não quis seguir a carreira? rss
Pois é, Edu!

Boa parte dessa classe média que apoiou o golpe não demorou muito para se arrepender. E um grande exemplo foi a OAB, entidade da qual hoje faço parte como inscrito nos seus quadros de advogados.

Sobre sua pergunta, eu até pensei durante algum tempo em seguir a carreira das Forças Armadas. Não sei se pro meu bem, não passei no exame já que nem me dediquei pra prova teórica da escola preparatória de cadetes. E, quando chegou a vez do meu alistamento, fui liberado com a justificativa de ter problemas na coluna. Também, na época (anos de 1993 e 1994) eu estava muito envolvido com movimento estudantil para desgosto do meu avô.

Enfim, tornei-me advogado. E hoje me considero um defensor da democracia.
Levi B. Santos disse…
Rodrigo e Edu


Um médico amigo meu que trabalhou durante algum tempo na OPAS (seção brasileira) confidenciou-me, há mais ou menos 10 anos, que a minha ficha funcional no Ministério da Saúde estava toda escrita em VERMELHO, como sinal de que estava no rol dos subversivos (rsrs).

Ele de pronto falou-me que a gota d'água foi devido ao fato de em um congresso médico de Ginecologia (nos tempos do chumbo), eu ter discordado de uma palestrante que era figura alta do M.S., ao defender a necessidade do exame Colposcópico na prevenção do Câncer cérvico-uterino.

De imediato lembrei-me de todo o imbróglio que ocorreu nesse seminário médico em Alagoa Grande, minha cidade natal.

Recordo quando a doutoura, contrariada com a minha opinião, levantou-se da cadeira e de forma ríspida disse: "Não permito que esse instrumento seja usado em nossas unidades de saúde. Isso não é um exame para as massas, e sim para a elite"

Eu disse:

"Sendo assim, gostaria que todos que estão presentes aqui decidissem, se devo ou não devo continuar usando o colposcópio na prevenção dese tipo de câncer.

Lembro bem: a palestrante se retirou bruscamente do recinto, quando a quase totalidade dos presentes se levantou pedindo que eu continuasse o meu trabalho da forma com vinha executando.

Acho que se esse Seminário Médico tivesse sido realizado no Rio de Janeiro, eu estaria frito, e contando uma outra história hoje (rsrs)
Eduardo Medeiros disse…
Levi,

Até tu, bructus, um "vermelhinho"????? kkkkkk

Isso me lembra também os vários depoimentos que já ouvi de artistas que tiveram suas obras proibidas ou alteradas pelos censores militares, sempre neuróticos por acharem chifre em cabeça de ovo.

Muitos artistas enganjados naquela época conseguiram burlar a censura com metáforas que os boçais censores deixavam escapar; por outro lado, viam "ameaça comunista" onde não havia nada...

Lembro de um caso que o Jô Soares contou onde ele foi censurado por atacar "a moral e os bons costumes". Em uma de suas peças, ele dizia "bunda". O termo ofendera os ouvidos pudicos de uma senhora, mulher de um oficial de alta patente que estava na platéia. Ela queixou-se ao marido, que queixou-se ao seu comandante que queixou-se...até chegar ao Censor. O Jô foi chamado para se explicar. "Mas qual o problema de falar bunda?? bunda é coisa normal, todo mundo tem" teria dito o Jô. Mas não teve jeito, foi ordenado a tirar a expressão "subversiva" do texto da peça.
Impressionante como eram as coisas. Bastava discordar para ser visto como um "comunista" ou "subversivo". Uma das piores coisas acabou sendo a mediocridade daquele regime e o uso do patrulhamento ideológico para que pessoas pudesem vingar-se ou punir seus desafetos. E até quem não era comunista tinha receio de expor suas opiniões ou de lutar pelo que acreditava temendo uma má interpretação pelo regime. Enfim, ditadura nunca mais!
Levi B. Santos disse…
É isso aí, Rodrigão


No meu convívio com a ditadura militar, pude perceber o quanto é nocivo esse regime. As pessoas são tiradas brutalmente dos seus circuitos de convivência, destruídas até. O regime de exceção castra a espontaneidade do homem, transformando-o em mero objeto.

"O principal traço desse regime é a destruição da condição humana" - disse Hannah Arendt, em seu livro: "Origens do Totalitarismo"
Anônimo disse…
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E a meu ver o regime militar fez aumentar bastante a miséria neste país, apesar do pseudo progresso ocorrido na área econômica e que também não durou tanto já que, no governo Figueiredo, estávamos com uma híper inflação.
Levi B. Santos disse…
A ditadura militar terminou. (rsrs)

A C.P.F.G está, agora, à espera de um texto do Rodrigo ou Altamirando.
Ainda não é minha vez!...
Edson Moura disse…
Olá Confraternos, desculpem (pela milésima vez) minha ausência. Estou atolado com o trabalho e também com um novo empreendimento para o ano de 2012. em breve contactarei alguns dos confrades para explicar melhor o que estou planejando.

Bom, quanto ao texto, acredito que muito do que poderia falar já foi dito pelos demais, portanto, abstenho-me de comentá-lo. O que não quer dizer que não o tenha lido.

abraços à todos.
Eduardo Medeiros disse…
queridos,

não sejamos mais assim tão apegados à lei; quem quiser e tiver algo a dizer, que o diga!!!
Levi B. Santos disse…
13 dias com uma postagem no ar

Será isso o efeito da síndrome natalina que, no mês de dezembro, leva a maioria dos neurônios ao entorpecimento? (rsrs)
Até que demorou pouco. Como está rareando os comentários...