Liberte-se do auto-engano!


“e conhecereis a verdade,
e a verdade vos libertará”.

(Evangelho de João 8.32; ARA e BJ)

Uma das citações bíblicas que muito me entusiasma é esta passagem do 4º Evangelho onde supostamente Jesus teria dialogado com os judeus que aceitaram a sua mensagem somente no plano intelectual. Embora eu entenda que não se trate aqui de um dito original do judeu Iehoshúa ben Iossêf, que viveu nas primeiras décadas da era comum, concordo com a afirmação da frase cuja autoria atribuo a escritores gregos anônimos do século II E.C. Claro que de um ponto de vista bem mais amplo.

Se interpretada restritivamente em seu contexto, a célebre citação evangélica vai depender da leitura do verso anterior onde os ouvintes são exortados a “permanecerem” nas palavras do Cristo helenizado, significando a aceitação obediente do ensinamento transmitido pela Igreja. Então, como consequência de uma atitude de acolhimento e prática da orientação dos padres, o devoto conseguiria experimentar a tão sonhada liberdade, a qual, segundo a visão bitolada do cristianismo, tem sido deturpada e mal usada como estímulo ao proselitismo ao se interpretar equivocadamente este verso: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.36).

Confesso que não encontro no contexto anti-semita do 4º Evangelho uma resposta suficiente e satisfatória capaz de permitir desenvolver melhor o sentido da frase sem criar mais uma variante doutrinária do cristianismo. Dos comentários bíblicos que examinei, o que melhor comunicou-se comigo foi uma nota da Bíblia de Jerusalém, mas mesmo assim a explicação não foi elucidativa, o que me levou a afastar-me da exegese bíblica afim de tentar refletir de uma maneira mais ampla usando os próprios neurônios. Só que, ainda assim, quero compartilhar um pouco do que cheguei a pesquisar:


“A verdade é a expressão da vontade de Deus a respeito do homem, tal qual nos foi transmitida por Cristo (8,40.45; 17,17). Nós a 'conhecemos' no sentido (semítico) que ela habita em nós (2Jo 1-2), como um princípio de vida moral: 'caminhamos' (= vivemos) segundo suas diretivas (3Jo 3-4; Sl 86,11), 'fazemos a verdade' (3,21; 1Jo 1,6; cf. Tb 4,6), i.é, agimos em conformidade com aquilo que ela exige de nós. Ela se opõe portanto ao 'mundo' (1,9+) como uma espécie de meio ético: aqueles que pertencem ao 'mundo' só podem odiá-la (15,19; 17,14-16), aqueles que são 'da verdade' obedecem à mensagem de amor que Cristo nos transmitiu da parte de Deus (18,37; 1Jo 3,18-19). Eles são santificados pela verdade como também pela palavra de Cristo (17,17; 15,3). Uma vez que essa verdade nos é dada por Cristo, este pode afirmar que ele é a Verdade que nos conduz ao Pai (14,6+), assim como, depois de sua volta para junto do Pai, é o Espírito que, conduzindo-nos em toda a verdade (16,13), será a Verdade (1Jo 5,6), ou o Espírito da verdade (14,17+).” (Comentários extraídos da BJ)


Como é possível observar, a teologia cristã deixa a desejar sobre a operação do poder libertador da verdade. E, fazendo uma proposital desconstrução doutrinária, busco então pelo método indutivo meditar pessoalmente no assunto, coisa que tem me levado a promover o despertamento das pessoas. Não focando num mero esclarecimento informativo, mas sim na aceitação da realidade, o que nos leva a romper com o auto-engano mental. Logo, basta pensarmos em exemplos do que pode significar o “desconhecimento” da verdade.

Além do fanático religioso que ilude a si mesmo ao permitir que um sacerdote decida por ele sobre suas escolhas existenciais, penso também no correligionário político, no alcoólatra que recusa a admitir a impossibilidade de tomar o primeiro gole ou na esposa traída que se recusa a pedir a separação do marido alimentando expectativas de que um dia ele retorne para casa. E, neste sentido, não podemos nos esquecer que as instituições religiosas contribuem nocivamente para que o devoto , em algumas hipóteses, permaneça debaixo do engano.

O exemplo da mulher chifrada seria um dos mais comuns que lota os confessionários e gabinetes pastorais, sendo que raramente um ministro eclesiástico incentiva que a esposa em tal situação valorize a sua dignidade feminina separando-se de vez do cafajeste afim de partir para um novo relacionamento. Na prática, vários pastores charlatões usam situações deste tipo como iscas e chegam a dar conselhos ridículos como? “minha filha, você precisa orar mais a Deus para trazer de volta o seu marido. Faça a corrente da libertação e comece a campanha dos doze apóstolos que Jesus vai te abençoar”.

Igualmente um pai de santo apresenta como sugestão a pessoa fazer um “trabalho” para que o marido seja afastado da amante. Trata-se de um tipo de solução mágica e de grande aceitação na cultura popular brasileira, em que a vítima, deixando de intervir no mundo real, busca um auxílio da metafísica afim de que os orixás briguem em seu favor.

Contudo, há outros tipos de engano como a repressão moral que tanto a religião como a sociedade impõem. Seria a hipótese de um padre mais esclarecido, ao invés de recomendar rezas para Santa Rita (a padroeira das causas impossíveis), incentivar a esposa traída a tomar uma atitude refletida debaixo de falsos dilemas. Apelando para uma ideia falsa de santidade, o sacerdote orienta a mulher que suporte a situação, privando-se de um outro relacionamento e de prazeres sexuais, apontando como justificativa não só que o divórcio seria pecado como também enaltecendo a virtude de que a mãe proteja a família: “Seja corajosa como foi Maria, minha filha. Se você separar-se de seu marido, os filhos podem sofrer abalos psicológicos com a ausência do pai e a dor da separação...”

Acontece que induzindo a devota a viver com uma mentira, as igrejas cristãs têm contribuído para perpetuar milênios de desigualdade sexual e de patriarcalismo. Isto porque o contrário (a mulher trair o homem) não é conduta tolerada dentro da nossa sociedade latino-americana machista e cheia de preconceitos. Porém, não podemos esquecer que o sacerdote enganador também é enganado.

É claro que em matéria de manipulação religiosa existem falácias ainda melhor elaboradas. Porém, no jogo do poder pela consciência dos crentes, o engano é cometido até dentro das cúpulas das igrejas onde os ministros eclesiásticos sabem muito bem que possuem necessidades e carências como todo homem neste mundo embora vistam máscaras de santos.

Mesmo que os “jogadores” possam estar cientes de que estão sentados em volta de uma mesa de pôquer, no fundo todos estão vivendo com uma mentira e achando que poderão extrair vantagens através daquele sistema de demagogias. Pois, ao invés de se levantarem da “mesa” e fazer um trabalho realmente revolucionário e libertador, onde até o pastor possa ser pastoreado pelas ovelhas, o líder enganador prefere continuar preso na armadilha das dissimulações “blefando” aqui e ali.

Ora, nada melhor do que a realidade para nos tirar do encantado país de Alice. A derrota, a traição dos líderes, as crises econômicas e a própria morte são ferramentas utilizadas pela existência afim de que acordemos das ilusões cultivadas por nós mesmos. E aí percebemos que os ídolos mudos perante os quais nos prostramos não são nada. Inclusive as ideias construídas pela nossa mente acerca da Divindade.

Conhecer a verdade não nos impede de sofrer, angustiar, decepcionar ou morrer. Continuamos a princípio vivendo na mesma situação só que sem alimentarmos o auto-engano. Então, a partir daí, podemos começar a fazer escolhas que nos conduzem rumo a um agir conforme a reflexão da consciência, enfrentando as dificuldades e não mais fugindo dos problemas.


OBS: A ilustração acima refere-se à alegoria do Platão sobre o Mito da Caverna. É datado de 10 de março de 2005 e a sua autoria é atribuída a Mats Halldin, conforme a Wikipédia.

Comentários

Anônimo disse…
Caro Rodrigo,
Não sou um orientalista, mas muita gente sabe que a palavra “crise” é expressa em chinês por dois ideogramas: um representa “perigo” e o outro representa “oportunidade”. A diferença entre as crises pessoais e as crises maiores é que as segundas podem sobreviver a si mesmas. Creio que as nossas verdadeiras crises pessoais são bastante tardias por uma questão cultural, e, por isso mesmo, pouco podemos fazer por elas e pelos demais. O anseio pela longevidade com qualidades da juventude, evidentemente, faz todo sentido. Ora, quando começamos a perceber um pouco a vida, está na hora de partir. “E conhecereis a verdade e a verdade o libertará” como eu gosto disso! Não no contesto em que é apresentada a frase. Até hoje não consegui reunir um pouquinho de respeito pelo cristianismo. Quem sabe, se eu conseguir a tempo entender um pouco mais sobre essa história, eu me cure disso. Casualmente eu estava lendo o livro Evangelho de Tomé, de Marvin Meyer, hoje pela manhã.

“Que aquele que procura não deixe de procurar até que encontre. Quando encontrar, ficará perturbado. Quando estiver perturbado, ficará maravilhado e dominará tudo.” (Sentença 2)

Como no budismo o desiderato é tornar-se Buda, no gnosticismo cristão é tornar-se Cristo. Esta é a ilha mais próxima do continente da minha crise com o território cristão. A verdade é o limite, por isso aprecio Jo 8:32 na sua textualidade. Dizem que a verdade é um grande perigo e que a Humanidade não iria suportar. Imagino que isso estaria ligado a origem da nossa espécie. Se for assim mesmo, que, pelo menos, se retire a mentira do livro das condenações. Do jeito que está é nojento demais pro meu gosto.

Abraço do Ivani
Prezado Ivani,

Seja bem vindo à Confraria!

Bons comentários os seus e boas crises também (rsrsrs).

Eu concordo que a humanidade não suportaria a verdade e daí um dos motivos pelos quais muitos se recusam a mexer nos mitos e também no que denominou de "livro das condenações".


“Que aquele que procura não deixe de procurar até que encontre. Quando encontrar, ficará perturbado. Quando estiver perturbado, ficará maravilhado e dominará tudo.”

Concordo! E isto é o que a religião cristã institucionalizada também não consegue suportar. Daí o desestímulo para que as pessoas não investiguem tanto e aceitem o dogma, o que acaba afetando a busca pessoal do devoto. E, com isto, cada vez mais estou compreendendo que muitas dessas "igrejas" não são lugares saudáveis.

Abraços e retorne outras vezes à Confraria!
Eduardo Medeiros disse…
rodrigo, boa reflexão sobre a verdade. ou sobre o que pensamos sê-la...

sua crítica ao estabelecimento da verdade cristã pelo clero é pertinente. quem se considera ao lado da "verdade" tende a ser intolerante com quem está na "mentira".

sabemos que muitas verdades ditas pelo nazareno foram metamorfoseadas em outras "verdades" por quem leu e interpretou as verdades do nazareno.

o próprio jesus pergunta a pilatos: "o que é a verdade"?

jesus tinha uma verdade para seu povo mas nunca pretendeu, creio, que essa verdade fosse absoluta para todos as culturas humanas, mesmo por que, jesus nunca conheceu outra cultura a não ser a sua. aquela história que jesus visitou a índia ou que fugiu para a frança com mulher e filho carecem de autenticidade documental.(pelo menos até onde conheço).

ora, se nem mesmo podemos estar absolutamente certos do que seja a "realidade" como pretender explicá-la por conceitos religiosos absolutos?

a verdade pode ter muitas caras. ou não.

por outro lado, os críticos ferrenhos da religião ou da metafísica, pretendem estabelecer que nada pode ser ou existir além da "realidade" visível.

mas se concordamos que a realidade é fugaz e multifocal de acordo com o olhar de cada um, como então fazer dessa crítica uma contatação "real" e certa?

autoengana-se quem achar que a realidade em si pode ser afirmada como isto ou aquilo.

cada um deve buscar sua própria verdade por qual viver e morrer. veja que estou falando da verdade existencial e não da verdade corriqueira como o fato de que o fluminense é o melhor time do brasil....he he he heh eh

por hora, basta. verdade.
Eduardo Medeiros disse…
ivani, também quero te dar boas-vindas ao forum de debates da confraria. gostei das suas considerações. quero destacar tua brilhante frase

"Ora, quando começamos a perceber um pouco a vida, está na hora de partir."

é isso, entramos e saímos da vida sem saber ao certo o que ela é.
Olá, Eduardo!

A indagação sobre o que seria a verdade não é atribuída a Jesus pelo evangelista, mas sim a Pilatos, e está em João 18.38.

Tomando agora todo o cuidado para não me tornar um pensador arrogante, quero compartilhar que não acredito na existência de "verdades", mas sim numa Verdade só. Porém, esta verdade absoluta não está em mim e em nenhuma outra pessoa. Nós a buscamos e eu compreendo que devemos sempre continuar nesta busca, o que exige uma tolerância para quem pensa diferente. Isto porque cada um sempre vai ter uma percepção diferente da Verdade, o que seria as "muitas caras", como você colocou.


"mas se concordamos que a realidade é fugaz e multifocal de acordo com o olhar de cada um, como então fazer dessa crítica uma contatação "real" e certa?"

Bem, nós é que temos lentes diferentes! E como não conseguimos contemplar a realidade como ela é, toda e qualquer crítica não pode ser tida como "real" ou "certa". E, sendo assim, até mesmo quando eu afirmo ser a Verdade algo absoluto, o que digo é também passível de contestação.


"autoengana-se quem achar que a realidade em si pode ser afirmada como isto ou aquilo"

Autoengana-se quem quer basear-se tão rigidamente em sua falha constatação sobre a Verdade. Ou quem segue inquestionavelmente o que o outro lhe diz acerca do que seria a Verdade. Ou ainda, aquele que ignora por completo a constatação do outro porque o considera incapaz de compreender a Verdade.

Embora todos os homens juntos pensando não possam descobrir a Verdade, acredito que quanto mais conselheiros, mais sábio é o parecer.
"Ora, quando começamos a perceber um pouco a vida, está na hora de partir."


Eduardo, foi bom ter destacado este trecho do comentário do Ivani que deixei de comentar.

Concordo também que "entramos e saímos da vida sem saber ao certo o que ela é", como bem complementou. E aí, aproveitando o que o Ivani também colocou, eu digo que realmente a nossa cultura repressora e que proíbe as pessoas de pensarem e de tomarem suas escolhas existenciais acaba contribuindo para obscurecer as mentes e frustrar sonhos.

Ora, imagine a hipótese de um homem que se recusa a ir no médico porque teme descobrir que está doente. Um dia, ele tem uma crise de saúde e aí o doutor lhe diz que está com câncer em estado terminal. Então, por causa de uma atitude estúpida, tal homem encurtou a própria vida.

Assim também somos nós quando deixamos de tomar decisões importantes porque a moral da sociedade não concorda, ou porque minhas novas ideias vão desagradar à mediocridade do grupo no qual estou inserido ou porque me sentiria "sem chão". Com isto, vamos alimentando o engano dia após dia até que, quando despertamos, nós nos damos conta do tempo desperdiçado.

Se você perguntar pra um fanático religioso do cristianismo, ele vai dizer que se arrepende de não ter "aceitado Jesus" a mais tempo.

Por sua vez, uma pessoa que dá as costas para uma igreja fundamentalista e repressora na idade madura pode se sentir enormemente frustrada porque passou sua infância, adolescência e juventude deixando de brincar, aproveitar os bons momentos, desobstruir sua sexualidade e se socializar com outras pessoas diferentes dela.
CH disse…
Enganar a si mesmo é alimentar uma ilusão, e iludir-se é tomar um desejo como um fato. Nossas ilusões não são necessariamente falsas, algumas podem ser verdadeiras, mas diferenciar uma das outras está além de nosso alcance.

Se a Verdade, a única que realmente importaria está fora de nosso alcance, o que fazer? Lembro-me de um exemplo do meio profissional: Se um gestor de uma empresa por as paredes que separam as salas dos funcionários abaixo, pode ser elogiado por promover maior integração entre os funcionários. Se outro gestor, na mesma empresa anos depois, levantar as paredes, poderá ser elogiado por promover um ambiente que melhor atenda à necessidades específicas de cada um, pois algumas funções podem exigir mais silêncio e concentração, além de privacidade.

Assim, pouco importa se estamos levantando ou demolindo divisórias. É a mudança contínua de uma situação para outra que nos mantém motivados, que nos dá a sensação de progresso. O maior risco e a maior tentação, portanto, é não mudar, não estar aberto a novas perspectivas. Não é a toa que o fanatismo é tão tentador a muitos. Deixar de pretender-se conhecedor da Verdade é o primeiro e único passo possível rumo à Ela.
Hubner Braz disse…
Pena que já são 2hs da manhã e terei que dormir agora.
Mais vai uma palinha do que penso sobre a verdade!!!

Enquanto alguns buscam a verdade, outros descobriram por si só que é a verdade personificada.

Ótimo dia pra todos! ;-*
A morte e o envelhecimento são um mistério sobre o qual freqüentemente perguntamos durante a infância, negamos na juventude e aceitamos relutantemente na idade adulta. Para cada fase criamos nossas verdades e mentiras, acertos e erros. Somos envolvidos na nossa própria existência. As diferênças estão no nascer para que o meio forje nossas crenças e a morte iguala todos. Esterco.
"Se a Verdade, a única que realmente importaria está fora de nosso alcance, o que fazer?"


Boa indagação, Carlos!

Você não chegou a respondê-la, mas suscitou um instigante tema para debate.

Bem, vou tentar dar alguns palpites nisto.

Se a Verdade encotnra-se fora do nosso alcance, então a posição que devemos ter é de humildade e de reverência em relação a ela.

Entendo que devemos nos portar como um eterno aprendiz, mesmo que ocupemos a posição de mestre.

Concordo no que colocou acerca do fanatismo e faço minhas as suas palavras finais do comentário acima, o que pode ser o começo da sua resposta à pergunta por si formulada:

"Deixar de pretender-se conhecedor da Verdade é o primeiro e único passo possível rumo à Ela."
"Enquanto alguns buscam a verdade, outros descobriram por si só que é a verdade personificada."


Olá, Hubner!

Concordo com o que colocou, exceto no sentido de que se eu passo a me considerar uma "verdade personificada", não fiz nenhuma descoberta, mas caí num auto-engano.

Abraços.
"Somos envolvidos na nossa própria existência. As diferênças estão no nascer para que o meio forje nossas crenças e a morte iguala todos."


De fato, Altamirando, somos mesmo envolvidos na nossa própria existência, mas a Vida nos oferece a oportunidade de transcendência e de evoluirmos buscando compreender melhor a realidade do outro.
Continuando...

Somos desafiados a superar as limitações do meio e, com isto, evoluímos. Daí a importância de viajarmos (em todos os sentidos).

"Conhece muitas coisas aquele que viajou,
aquele que tem muita experiência fala com inteligência.
Quem não foi provado conhece poucas coisas,
mas quem muito viaja aumenta sua sagacidade.
Muita coisa vi em minhas viagens,
meu conhecimento é maior que muitas palavras.
(Ben Sirac 34.9-12; BJ)
Em tempo!

Para apimentar o debate, quero compartilhar aqui uma frase de Moisés Maimônides, um dos maiores pensadores do judaísmo:

"A Torah é a verdade, e o objetivo de conhecê-la é viver segundo ela".

Para quem não conhece o significado da palavra Torah, pode pensar que Maimônides estivesse referindo-se à lei mosaica ou ao Pentateuco bíblico.

No entanto, a lei é algo que podemos considerar como universal e impessoal e o vocábulo Torah significa também "instrução" e "orientação". Estaria relacionado com um tipo de ensino sobre a própria vida.

Pensadores, o que me dizem!?
Marcio Alves disse…
Rodrigo

Será a primeira vez que comento uma postagem sua, portanto, não quero aqui dar respostas, mas levantar questionamentos, e mostrar o meu cartão de visita e de boas vindas para você...eis algumas questões para você responder:

A verdade esta no sujeito do conhecimento, ou no conhecimento do sujeito?

A verdade é absoluta ou relativa?

Qual seu critério para avaliar a verdade?

Existe diferença entre verdade e realidade? Se existe qual a diferença?

Para você qual o mais importante em relação ao sujeito e sua crença; o modo como ele se relaciona com sua crença, ou a crença em si mesmo?

Se uma pessoa estiver vivendo uma ilusão, só que para ela é real e verdadeiro, esta ilusão deixa de ser ilusão para se tornar realidade ou não? Por quê?

O que ilusão? O que é realidade? O que é verdade? O que é racional?

Se o sujeito esta se auto-enganando como poderá descobrir que a final de contas esta se auto-enganando?

Depois eu volto para dar continuidade nas perguntas....por enquanto é só rsrsrsr
Prezado Márcio,

Pra que complicar tanto, meu amigo? (rsrsrs)

Mas sempre é bom debatermos e vou tentar responder o que colocou com o máximo de humildade possível, procurando simplificar e não dificultar, ok?


“A verdade esta no sujeito do conhecimento, ou no conhecimento do sujeito?”

Bem, você me colocou aqui diante de um dilema, como se a solução estivesse limitada às duas alternativas. Mas eu adianto em dizer que a Verdade não se encontra no conhecimento do sujeito. Aliás, o que me parece é que a Verdade encontra-se fora do sujeito. Ela até poderia encontrar-se no interior do sujeito do conhecimento, embora encapsulada por inúmeras razões, as quais impediriam a sua exata cognição. Neste caso, seria como se houvesse em cada ser do universo um gene da Verdade em que esta precisaria ser buscada dentro de si mesmo pelo caminho do auto-conhecimento.
“A verdade é absoluta ou relativa?”

A Verdade é absoluta! Não há como existir duas verdades. Ela é uma só! O que pode existir são pontos de vista diferentes sobre um mesmo fato, ok?


“Qual seu critério para avaliar a verdade?”

Além da coerência e da lógica, creio que existe a metafísica, o que é uma área com a qual nem sempre estamos preparados para lidar e onde podemos cometer muitos enganos. E aí a minha orientação é que as pessoas não fiquem se firmando na autoridade de fulano de tal, em interpretações literais de livros sagrados ou em coisas do tipo consultar mortos, fazer adivinhações, viagem austral, etc. Penso que devemos refletir e meditar com profundidade afim de que possamos nos aproximar da Verdade, mas sempre com humildade sabendo que o “conhecimento do sujeito” é sempre falho, insuficiente. Então, uma das melhores posições a ser tomada é admitir que não sabemos a resposta. Foi como fez Salomão em seu julgamento quando tinha que decidir sobre qual era a mãe verdadeira. E, admitindo que não podia dar a resposta, tomou a sábia decisão de mandar dividir o bebê no meio para que a mulher que demonstrasse um sentimento materno em benefício da criança recebesse a sentença favorável (ver 1Reis 3.16-28).
“Existe diferença entre verdade e realidade? Se existe qual a diferença?”

Eu não vejo nenhuma diferença. A Verdade é a pura e suprema Realidade. Porém, a Realidade não é apenas matéria ou aquilo que vemos ou percebemos com os nossos cinco sentidos.


“Para você qual o mais importante em relação ao sujeito e sua crença; o modo como ele se relaciona com sua crença, ou a crença em si mesmo?”

Não sei se entendi bem sua questão, pois ainda estou meditando no que seria a “crença em si mesmo”. Pra mim, ambas as coisas são importantes. Pense, por exemplo, numa pessoa sincera e honesta, mas que segue uma religião fundamentalista a qual chega a pregar o terrorismo e a violência. Tal pessoa acredita de todo o coração que deve matar os infiéis por amor a Deus e ao mesmo tempo seria capaz de dar a vida por quem fosse da mesma religião que ela. Na Bíblia cristã tem-se o exemplo do rabi Saul de Tarso, o Paulo. Antes de sua conversão no caminho de Damasco, ele matava os seguidores da seita pensando que estava agradando a Deus (ver At 26.9-11 e Gl 1.13-14). Mas e depois de sua conversão? Será que ele não passou a manifestar o amor? Ou continuou matando, prendendo e espancando de uma outra forma? De qualquer modo, uma pessoa pode mudar o seu modo de relacionar-se com a mesma crença também e eu tenho a impressão de que a crença e o relacionamento com a crença podem ser duas coisas distintas.
“Se uma pessoa estiver vivendo uma ilusão, só que para ela é real e verdadeiro, esta ilusão deixa de ser ilusão para se tornar realidade ou não? Por quê?”

Agora você complicou de vez (rsrsrs). Tenho que pensar mais um pouco. Vamos então pensar em exemplos. Mas para não falarmos só de crenças, vamos imaginar o fato de uma mulher achar que é amada pelo marido. Só que ele a trai com a secretária, mas ela não sabe. Então, aquela ilusão, aquelas juras de amor, são para ela como se fosse realidade porque a inocente esposa desconhece as coisas que o seu cônjuge faz.


“O que ilusão? O que é realidade? O que é verdade? O que é racional?”

Meu, agora vai ficar meio cansativo responder. Pra que estaria necessitando de conceitos? E, se a Verdade não se encontra no “conhecimento do sujeito” de que valem os conceitos senão para expressar uma visão subjetiva?

Pra mim, a ilusão seria justamente a substituição da realidade por um engano, por uma compreensão equivocada das coisas. Seria, por exemplo, eu aceitar uma falácia como sendo verdade. Já a Verdade e a Realidade, que não me parecem coisas distintas, eu as entenderia como aquilo que é. E racional eu considero aquilo que é produto do raciocínio humano. Aquilo que a mente humana aprova pela coerência lógica e passa a conceituar como sendo algo plausível e aceitável, mas que alguns arrogantemente o têm como verdadeiro.
“Se o sujeito esta se auto-enganando como poderá descobrir que a final de contas esta se auto-enganando?”

Acredito que pelo seu confronto com a Realidade, o que acaba sendo uma experiência dura e radical para muitos. Nem sempre esta descoberta é acompanhada de explicações fornecidas por terceiros orque tudo vai depender de uma convicção íntima. É o que ocorre, por exemplo, quando alguém acha que tem controle sobre o álcool e que consegue parar na hora que quer. Então o sujeito entra no bar, bebe o primeiro gole, depois mais uma dose e outra até que fica embriagado e no outro dia acorda com ressaca. Este confronto com a ressaca faz com que ele perceba que não tem condições de beber. Só que, após se recuperar (quando não resolver “curar” a ressaca com outra), ele mesmo faz questão de esquecer sobre a sua falta de domínio e posteriormente cai nas armadilhas do vício novamente.

Entretanto, se o alcoólico admite que não pode beber (não precisa necessariamente passar por nova ressaca), ele já está dando o primeiro passo. Então, mesmo que ele venha a cair mais uma vez, já não será pelo auto-engano e sim por fraqueza mesmo. Sabendo que estava fazendo mal a si mesmo, ele resolveu meter o pé na jaca e ser feliz por aqueles breves instantes de sua vida, uma vez que considerou ser difícil construir a felicidade de um outro modo.
Eduardo Medeiros disse…
rodrigo, é verdade, quem disse foi pilatos, desculpe minha falha. mas é que eu sempre achei que a frase cairia melhor na boca de jesus do que na de pilatos e aí já mandei como se assim estivesse registrado....rss

creio que temos que separar dois tipos de verdades. a verdade corriqueira, factual, como por exemplo:

o eduardo medeiros, que mora no brasil, no rio de janeiro, no bairro de campo grande, no endereço tal que tem por esposa tal, que tem por pais tal e tal e por irmãos tal e tal e tal, tem um filho que se chama eduardo e ele tem 5 meses de vida.

isso é verdade. dizer qualquer coisa diferente sobre o que a frase quer dizer mentira.

existe a verdade das equações matemáticas. existem as verdades científicas(apesar que aqui, frequentemente, são verdades provisórias).

e existe as verdades existenciais: quem nós somos? o que nós somos? por que existimos? existe deus? qual o sentido da vida? a vida tem sentido? etc.

são questões onde cada um tem sua verdade e nenhuma verdade é mais verdadeira do que outra, pois a VERDADE para essas questões são impossíveis de serem respondidas em nossa atual evolução.

talvez alguns achem todos essas perguntas bobas, com respostas óbvias, mas faça tais perguntas a cem pessoas e é provável que se obtenha dezenas de respostas diferentes.

por isso eu creio que todas as filosofias e todas as religiões tateiam à procura dessa verdade maior mas nenhuma delas pode dizer: eu tenho essa VERDADE.
Levi B. Santos disse…
Rodrigo

Um bom texto para as mais variadas reflexões.

Mas, eu vou me arvorar em busca de uma síntese, fazendo um contraponto a verdade, trazendo à baila a mentira tão nossa companheira diuturna.

Fico pensando, e me perguntando:

Será que não viraríamos loucos se perdéssemos o dom de mentir?

Jesus disse que ele é a Verdade e que a verdade liberta, mas parece que é nas mais cruciantes ocasiões que não suportamos a verdade. A verdade dói! O que me faz perguntar: devemos sempre dizer a verdade?

Jung, diz que para vivermos em sociedade necessário se faz usar máscaras.

Trabalhamos incansavelmente para criar uma fachada, para que ninguém descubra os nossos sombrios pensamentos. Passamos toda uma vida para construir a máscara que nos comunica com o mundo. Nossa personalidade, parece que foi mesmo forjada para camuflar partes que julgamos as mais indesejáveis.

Será que podemos fugir desse destino? − O de ser levado a exaustão pelo ideal de ego para ser diferentes do que somos?

Mais perguntas, Rodrigo (rsrs)
Anônimo disse…
Caros participantes,

Em primeiro lugar, meu amigo Rodrigo,

“Eu concordo que a humanidade não suportaria a verdade e daí um dos motivos pelos quais muitos se recusam a mexer nos mitos e também no que denominou de "livro das condenações".”

Não quero lhe deixar desconfortável, no entanto, se você concorda que a humanidade não suportaria a verdade, é porque você sabe de algo sobre essa verdade “aterradora”. Dá pra contar pra gente? Sempre ouvi essa conversa e, pela naturalidade dos comentários, me parece que muitos a suportam muito bem. De modo que não acredito nesse “grande perigo” suscitado e o vejo mesmo é como mais uma das velhas desculpas para a exploração do semelhante. Se eu estiver enganado, por favor, que alguém me esclareça.
Em segundo lugar, agradeço a você, Eduardo, pelas boas-vindas. Entramos ignorantes e saímos da vida quase ou do mesmo modo, por conta de uma inescrupulosa manipulação, penso eu. O que impede a alfabetização plena bilíngüe (ou mais) até os três anos de idade? Aos dezoito todos poderiam estar formados, aos vinte, doutores e pós-doutores, no barato. O progresso intelectual não avança sozinho. Mas será que isso interessa?
Abraços.

Ivani
Marcio Alves disse…
RODRIGÃO 1


Desculpa ae por te complicar rsrsr....mas já sabe....se podemos complicar para que simplificar? Rsrsrsrs


Vou fazer da seguinte forma: vou colar uma resposta sua e logo abaixo minha resposta...ok?
Para ficar mais bem ordenado, e facilitar sua resposta.


Sua fala: “Bem, você me colocou aqui diante de um dilema, como se a solução estivesse limitada às duas alternativas. Mas eu adianto em dizer que a Verdade não se encontra no conhecimento do sujeito. Aliás, o que me parece é que a Verdade encontra-se fora do sujeito. Ela até poderia encontrar-se no interior do sujeito do conhecimento, embora encapsulada por inúmeras razões, as quais impediriam a sua exata cognição. Neste caso, seria como se houvesse em cada ser do universo um gene da Verdade em que esta precisaria ser buscada dentro de si mesmo pelo caminho do auto-conhecimento.”


Minha resposta: Se a verdade se encontrasse fora do sujeito, então não haveria multiplicidade e pluralidade de crenças, ideais, opiniões, idéias, valores, gostos e etc....não acha?


O que quero dizer é: a verdade do conhecimento não esta no próprio conhecimento, mas sim no sujeito do conhecimento, pois é o sujeito que determina o conhecimento, neste sentido, a realidade enxergada por nós não seria neutra, mas antes maculadas por nossa subjetividade e modo singular de se relacionar com o conhecimento existente no mundo.


É como se diante de dez pessoas estivesse um único fato, que seria visto por essas dez pessoas de ângulos diferentes, pois todo ponto de vista é vista sempre de um ponto....então poderia se dizer que a verdade é subjetiva mesmo em sua objetividade??
Marcio Alves disse…
RODRIGÃO 2


Sua fala: “A Verdade é absoluta! Não há como existir duas verdades. Ela é uma só!”


Minha resposta: Como a verdade pode ser absoluta se não for relativa? Ela não necessitaria da relatividade se valendo da mesma para então ser absoluta?


A meu ver, esta questão está de modo intimamente ligada a primeira, pois se cada pessoa tem um universo próprio de subjetividade como poderia então haver absoluto? Não precisaria ser homem em si (raça) de uma “nota só”?


Como podemos conciliar valores ou verdades absolutas com seres humanos que não são universais?
Não seria o relativismo a melhor combinação com seres tão singulares e subjetivos?


.
Marcio Alves disse…
RODRIGÃO 3


Sua fala: “Além da coerência e da lógica, creio que existe a metafísica, o que é uma área com a qual nem sempre estamos preparados para lidar e onde podemos cometer muitos enganos. E aí a minha orientação é que as pessoas não fiquem se firmando na autoridade de fulano de tal, em interpretações literais de livros sagrados ou em coisas do tipo consultar mortos, fazer adivinhações, viagem austral, etc.”


Minha resposta: Mas como a verdade pode ser avaliada por esses critérios se são tudo invenções humanas? Que garantia nós temos, de que usando esses critérios poderemos encontra a verdade? (como se a verdade fosse pura em si mesma?)


Sua fala: ”Penso que devemos refletir e meditar com profundidade afim de que possamos nos aproximar da Verdade, mas sempre com humildade sabendo que o “conhecimento do sujeito” é sempre falho, insuficiente. Então, uma das melhores posições a ser tomada é admitir que não sabemos a resposta” (cortei a parte de Salomão, se não ficaria muito grande rsrsrs)


Minha resposta: Mas é exatamente isto! A “verdade” é apreendida, sendo uma questão de intersubjetividade, a não ser, que você creia que a verdade seja inata e não empírica...é isto mesmo?


.
Marcio Alves disse…
RODRIGÃO 4


Sua fala: “Eu não vejo nenhuma diferença. A Verdade é a pura e suprema Realidade. Porém, a Realidade não é apenas matéria ou aquilo que vemos ou percebemos com os nossos cinco sentidos.”


Minha resposta: Mas de qual realidade estamos a falar? A do ateu? A do cético? A do religioso? A da mulher? A da criança? A do adulto? A do ancião? A do internado no hospício?


Ou você acha que a realidade é uma só para todos os indivíduos da raça humana?


Se a realidade não é material, ela é o que então? Fantasma? (rsrsrs) ou você está a fazer menção do mundo inteligível de Platão?


.
Marcio Alves disse…
RODRIGÃO 5


Sua fala: “Não sei se entendi bem sua questão, pois ainda estou meditando no que seria a “crença em si mesmo”. Pra mim, ambas as coisas são importantes. Pense, por exemplo, numa pessoa sincera e honesta, mas que segue uma religião fundamentalista a qual chega a pregar o terrorismo e a violência. Tal pessoa acredita de todo o coração que deve matar os infiéis por amor a Deus e ao mesmo tempo seria capaz de dar a vida por quem fosse da mesma religião que ela. Na Bíblia cristã tem-se o exemplo do rabi Saul de Tarso, o Paulo. Antes de sua conversão no caminho de Damasco, ele matava os seguidores da seita pensando que estava agradando a Deus (ver At 26.9-11 e Gl 1.13-14). Mas e depois de sua conversão? Será que ele não passou a manifestar o amor? Ou continuou matando, prendendo e espancando de uma outra forma? De qualquer modo, uma pessoa pode mudar o seu modo de relacionar-se com a mesma crença também e eu tenho a impressão de que a crença e o relacionamento com a crença podem ser duas coisas distintas.”


Minha resposta: Na verdade é bem por ai mesmo, mas vou dar um exemplo para elucidar ainda mais esta questão que propus a você:


Digamos que temos dois religiosos; o muçulmano e o cristão.
O mulçumano é sincero com sua crença, acredita nela mesma, até quando mata outra pessoa, mata acreditando que esta fazendo um serviço para Ala, mas o cristão acredita no que você acredita, só que não de coração, na verdade, ele foi mais uma vitima do determinismo sócio-cultural-geografico, só vai a igreja por ir.....qual deles na sua interpretação é o que tem a crença “verdadeira”? (já que o assunto principal é a verdade)


.
Marcio Alves disse…
RODRIGÃO 6


Sua fala: “Tenho que pensar mais um pouco. Vamos então pensar em exemplos. Mas para não falarmos só de crenças, vamos imaginar o fato de uma mulher achar que é amada pelo marido. Só que ele a trai com a secretária, mas ela não sabe. Então, aquela ilusão, aquelas juras de amor, são para ela como se fosse realidade porque a inocente esposa desconhece as coisas que o seu cônjuge faz.”


Minha resposta: Então aqui você reconhece que mesmo quando uma pessoa estiver vivendo uma ilusão, mas se para ela aquilo é verdadeiro, a ilusão acaba por se torna uma realidade...certo?


Então você terá que voltar atrás e aceitar que não existe na verdade a realidade em si, mas sim a experimentação tida como verdadeira ou não, ou seja, a realidade depende do sujeito do conhecimento e não do conhecimento do sujeito.....a realidade passaria a ser não objetiva mas subjetiva....certo?


.
Marcio Alves disse…
RODRIGÃO 7


Sua fala: “Pra mim, a ilusão seria justamente a substituição da realidade por um engano, por uma compreensão equivocada das coisas. Seria, por exemplo, eu aceitar uma falácia como sendo verdade. Já a Verdade e a Realidade, que não me parecem coisas distintas, eu as entenderia como aquilo que é..”


Minha fala: Mas acima você não disse usando o exemplo da mulher traída, que a mesma, mesmo não sendo a realidade, mas vivendo como se fosse, deixaria de ser uma ilusão para se tornar realidade? Ou seja, ou você reconhece que na verdade não existe “REAL” e “ILUSÃO” em si mesmo, mas que depende de quem a experimenta, sendo que para o outro que vê de fora, pode até ser ilusão, mas quem esta dentro, a pessoa que vivencia, se de fato for real para ela, então o que vale é a interpretação.....ou você terá que fazer um esforço herculiano do pensamento para não se contradizer......e ai, o que me diz?


Sua fala: “E racional eu considero aquilo que é produto do raciocínio humano. Aquilo que a mente humana aprova pela coerência lógica e passa a conceituar como sendo algo plausível e aceitável, mas que alguns arrogantemente o têm como verdadeiro”.


Minha fala: ou seja, até o racional para você é subjetivo?
Na verdade, há momentos que você transmite a idéia de que a realidade é real em si independente do sujeito que a experimente, outra ora, você dá a entender que não, que depende sim da pessoa que está a experimentar.....como você mesmo enxergar esta oscilação entre objeto do conhecimento do sujeito e o sujeito do conhecimento do objeto?


.
Marcio Alves disse…
Bem RODRIGÃO, fico por aqui, aguardando o que vem daí, mas já de antemão eu agradeço pela rica oportunidade de podermos trocar idéias.

Abraços
A verdade que todos procuram não existe. O que existe é um conceito individual. Se cada um tem o seu, o do outro passa a ser mentira. Partindo do princípio que nasci em lar cristão e vivi em meio cristão, logicamente meu conceito acerca de Deus é diferente do conceito de um budista.Logo a minha verdade é diametralmente oposta à dele. Para os cristãos eu represento a verdade e o budista a mentira. Para o budista a mentira sou eu. É assim ha 10.000 anos mas vocês ainda procuram verdades. He, he, he...
Eduardo Medeiros disse…
putz que la merda, o marcinho voltou pior do que antes!!!!!!! bombardeou o rodrigo com trocentas perguntas que geraram mais trocentas perguntas que vão gerar mais trocentas...

putz que la merda!!!!!!!!!! qualquer comentário agora virou nota de rodapé diante dos comentários imensos do marcinho-novo-ateu-deslumbrado-pela-dialética-materialista-profana-da-epifania-da-razão-translúcida-heterodoxa!!!!!

se vira, rodrigo...
Eduardo Medeiros disse…
ivani, o que você coloca é bem interessante, creio que seria viável sim. mas nossos alunos hoje chegam ao ensino fundamental sem nem sequer entender o que estão lendo. e o brasil ainda quer ser país de primeiro mundo...e sua pergunta ao rodrigo é pertinente: será que nosso amigo doutor-advogado-teólogo-messiânico conhece tal verdade assustadora??

mirandinha filosofou: "A verdade que todos procuram não existe." indo diametralmente no oposto do que o rodrigo falou da tal verdade absoluta e terrível.

e agora?

levi, como sempre dizendo muito escrevendo pouco: a mentira é nossa companheira...

carlos, sua pergunta ecoa:"Se a Verdade, a única que realmente importaria está fora de nosso alcance, o que fazer?"

e salve o retorno dos grandes debates à confraria!!
Como também havia duplicado este texto em meu blogue pessoal, gostaria de, incialmente, compartilhar aqui os comentários do Franflin Rosa do blogue Conexão da Graça (http://conexaodagraca.blogspot.com/) que foram colocados lá, cujas palavras complementam o que escrevi e abordam o artigo sob mais um ponto de vista diferente:


FRANKLIN: "PROSELITORES e PROSELITADOS", uma relação que desemboca no fanatismo e na despersonalização do indivíduo como ser pensante, que entrega a direção das demandas e equações de sua vida à outrem.

O primeiro já está viciado porque foi aliciado, e o segundo porque não quer assumir a responsabilidade por si próprio, aceitando a cômoda situação de transferir decisões para desencargo e pacificação de sua consciência.

E assim a humanidade prossegue com os "SERES BOMBA!", que optaram deliberadamente pela escravidão da ditadura e passividade do pensamento.
Agora passo então a debater os comentários posteriores à minha participação de ontem aqui na Confraria. Vou começar pelo amigo Eduardo:

“rodrigo, é verdade, quem disse foi pilatos, desculpe minha falha. mas é que eu sempre achei que a frase cairia melhor na boca de jesus do que na de pilatos e aí já mandei como se assim estivesse registrado....rss”

Edu, eu creio que Jesus jamais faria uma pergunta cínica como esta de Pilatos! Pelo menos naquele contexto. Embora eu considere fictícios quase todos diálogos do 4º Evangelho (o raciocínio não valeria para todas passagens dos sinóticos), a ideia que faço da personalidade de Jesus era que o Senhor tinha plena convicção do que pregava e fazia. Ele só mudava de ideia propositalmente quando desejava ver a iniciativa dos seus discípulos em direção ao que pretendia fazer. Foi quando perguntou aos seus sobre o que pensavam a seu respeito (Mt 16.13-15). Ou quando não se prontificou de imediato a curar a filha da mulher cananeia (Mt 15.21-28). Ou ainda na multiplicação dos pães ao colocar seus seguidores numa situação embaraçosa: dai-lhes, vós mesmos, de comer” (Mt 14.16; ARA).
“creio que temos que separar dois tipos de verdades. a verdade corriqueira, factual (…) e existe as verdades existenciais: quem nós somos? o que nós somos? por que existimos? existe deus? qual o sentido da vida? a vida tem sentido? etc. são questões onde cada um tem sua verdade e nenhuma verdade é mais verdadeira do que outra, pois a VERDADE para essas questões são impossíveis de serem respondidas em nossa atual evolução.”

Aí que tá, Eduardo! Eu penso que na verdade ninguém tem verdade alguma sobre quaisquer questões (até as científicas e factuais). As perguntas se “existe deus” ou “qual o sentido da vida” não têm condições de ser respondidas de um modo absoluto e fechado por qualquer ser humano. Eu, por exemplo, creio que existe Deus (falei com Ele hoje) e que o sentido da vida é servir ao Pai e ao próximo como fez Jesus, chegando ao ponto máximo que é o auto-sacrifício motivado pelo amor. Só que esta é a minha revelação da Verdade e não posso impor a ninguém que pense igual a mim. Ainda assim, eu creio que existe a Verdade e que ela supera a minha própria crença. Só que eu não consigo compreendê-la na sua totalidade e, portanto, tento caminhar dentro daquilo que hoje tenho condições de entender.
“por isso eu creio que todas as filosofias e todas as religiões tateiam à procura dessa verdade maior mas nenhuma delas pode dizer: eu tenho essa VERDADE.”

Exato! Logo, precisamos ser humildes para que a Vida nos ensine acerca da Verdade. E aí eu compreendo e aceito o que diz neste trecho do 4º Evangelho: “quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir” (Jo 16.13; ARA). Então é neste sentido que os padres, ao colocarem na boca de Jesus as tão citadas palavras de João 14.6, afirmaram que ele é a verdade. Pois se ele se deixou mover pela busca da verdade, então ele é considerado como a verdade. E a Verdade absoluta não pode ser outra senão Deus! E quem se deixa guiar pela busca da verdade, torna-se filho da verdade como foi Jesus.
Levi, gosto muito dos seus comentários, os quais são ótimos para nos fazer pensar e refletir. Vou às suas indagações:

“Será que não viraríamos loucos se perdéssemos o dom de mentir?”

Bem, Levi, eu não vejo como manter um mundo através de mentiras. Imagine se todos apenas mentissem? Como não seria caótica a convivência humana? Hoje muita gente já mente e, por conta disto, já temos que criar sistemas de detectores de metais para permitir a entrada de pessoas em diversos ambiente. Temos que criar inúmeras senhas cada mais mais cheias de caracteres para o computador autorizar o acesso do correntista ao caixa eletrônico dos bancos! Temos que nos preocupar com o monitoramento dos alunos durante as avaliações porque do contrário eles “colam”! Temos que fazer uma série de perguntas às testemunhas, vítimas e acusados nos julgamentos por causa da parcialidade. Mas imagine o quanto não seria bem mais fácil se as pessoas parassem de mentir?! Perderíamos muito menos tempo para nos protegermos dos enganos e das mentiras. Então, não me parece que ficaríamos loucos se deixássemos de lado a mentira. Aliá, eu creio que nos curaríamos. E , com isto espero ter já respondido a sua pergunta posterior se
“devemos sempre dizer a verdade”.
“Jung, diz que para vivermos em sociedade necessário se faz usar máscaras. Trabalhamos incansavelmente para criar uma fachada, para que ninguém descubra os nossos sombrios pensamentos. Passamos toda uma vida para construir a máscara que nos comunica com o mundo. Nossa personalidade, parece que foi mesmo forjada para camuflar partes que julgamos as mais indesejáveis.”

Taí uma questão a ser enfrentada. Pois todos têm uma intimidade e que modernamente entendemos que deve ser protegida. Inclusive, a nossa Carta Magna tutela este bem imaterial, prevendo até o direito de indenização caso a intimidade, a vida privada, a honra ou a imagem da pessoa venham a sofrer algum tipo de violação (ver art. 5°, incisos V e X da CRFB/88). Porém, tenho minhas dúvidas se a proteção total da intimidade não acaba impedindo o tratamento das motivações que levam o homem a agir de maneira desarmônica. No mito de Adão e Eva, o homem escondeu-se de Deus após ter comido do fruto da árvore do bem e do mal (Gn 3.8-11) e antes de Adam ser descoberto por Deus, ele havia tentado tapar a nudez das vistas de sua mulher (Gn 3.7). Em outras palavras, eles estavam querendo encobrir suas motivações. Estavam sendo evasivos e vestindo máscaras. E, com isto, o relacionamento entre os dois (homem e mulher) e da humanidade com o seu Criador estava estragado. Só que quando as coisas são postas à luz, tudo tende a se resolver. Outrossim, nem sempre as pessoas dentro da sociedade são capazes de respeitar a intimidade alheia quando revelada. A “nudez” do outro assusta e se torna até ofensiva para quem quer encobrir a sua. Logo, existe o risco de que sejamos apedrejados (mal compreendidos) se revelarmos quem realmente somos. Só que, mesmo assim, precisamos empreender esta luta juntos. Temos que oferecer um ambiente de segurança às pessoas para que elas compartilhem o que sentem, pensam e desejam, sem correrem o risco de serem ridicularizadas, ofendidas, julgadas pela moral, etc.


“Será que podemos fugir desse destino? − O de ser levado a exaustão pelo ideal de ego para ser diferentes do que somos?”

Desculpa, Levi, mas não sei se consegui entender esta sua última pergunta. Vou tentar responder. Acho que nós precisamos enfrentar a mentira e assumirmos quem somos. No começo, como o mundo vive em conflitos, vai ser uma longa caminhada. Mas eu penso que, no futuro, se este processo continuar, estaremos construindo a realidade paradisíaca sonhada pelo profeta Isaías (Is 11.1-10). Depende de nós querermos!
Olá, Ivani. Não penso por que eu deveria ficar desconfortável com o que colocou. Acho que se procuramos a verdade, devemos enfrentar as questões que às vezes nos machucam ou são difíceis de serem enfrentadas.

“se você concorda que a humanidade não suportaria a verdade, é porque você sabe de algo sobre essa verdade “aterradora”. Dá pra contar pra gente? Sempre ouvi essa conversa e, pela naturalidade dos comentários, me parece que muitos a suportam muito bem. De modo que não acredito nesse “grande perigo” suscitado e o vejo mesmo é como mais uma das velhas desculpas para a exploração do semelhante. Se eu estiver enganado, por favor, que alguém me esclareça.”

Acho interessante compartilhar as descobertas históricas e científicas a respeito dos mitos, pois eu entendo como coisas enriquecedoras e que contribuem para o aperfeiçoamento da humanidade.

Para Mircea Eliade (1907-1986), historiador das religiões, a manutenção dos mitos, inclusive o cristão, seria relevante para a significação existencial do homem contemporâneo. Por outro lado, muitos scholars da religião preferem se omitir do que denunciar a irracionalidade, o infantilismo e as ações desumanizadoras que as religiões perpetram ao redor do mundo.

Expor aqui muitas das coisas que eu penso não é tão difícil quanto eu dizer as mesmas coisas quando estou pregando dentro de uma igreja. E um dos motivos é que as pessoas não vão entender o que eu digo. Logo, trabalho a desconstrução em doses bem homeopáticas respeitando o nível de consciência das pessoas.
Também reflito sobre a relevância de acabar de vez com todos os mitos e aí percebo que há coisas mais sérias a serem tratadas no comportamento das pessoas de modo que acabo utilizando as crenças mitológicas dos que ouvem a minha pregação na Igreja para fazê-las refletirem sobre si mesmas quanto ao desamor, a hipocrisia, a omissão política dentro da sociedade, a falta de assistência com os seus familiares necessitados, a repressão sexual burra que impõem aos seus filhos, entre outras coisas mais ligadas ao aqui e agora. Se eu contar pra elas que, por exemplo, os evangelhos foram escritos pelos gregos no século II e não pelos apóstolos, Jesus pode mesmo não ter nascido de uma virgem, muitas parábolas e ditos de Jesus foram inventados pelos padres, dentre outros detalhes, perderei a oportunidade de ser ouvido e de contribuir para a evolução delas.

A verdade informativa não é tão importante quanto descobrir a verdade acerca de si mesmo e ao mesmo tempo acho lamentável ver como que muitas das vezes o discurso religioso torna o indivíduo escravizado a um sistema perverso de recompensas e punições ao invés de despertar a sua consciência para ações éticas dentro da sociedade de uma maneira mais madura.

Conforme escrevi mês passado no meu blogue pessoal, conheço um homem, morador da América Central, que, após ter se maravilhado com a doutrina de que “uma vez salvo está salvo para sempre”, questionou o líder de uma igreja por que ele apavorava seus seguidores alarmando que, se os crentes pecassem, iriam ser condenados ao fogo do inferno. O “pastor”, sabendo que estava conversando com um executivo de boa posição e que fora representante de uma influente multinacional em diversas nações do mundo, respondeu-lhe que, se pregasse em púlpito que o crente não perde a salvação, os fiéis iriam sair pecando deliberadamente.
Todavia, era óbvio que o tal pastor não estava disposto a abrir mão de um poderoso instrumento de pressão psicológica baseado numa oferta de salvação atrelada à realização de experiências que podem ser recompensadas ou punidas na eternidade. Algo que funciona simultaneamente com o sentimento de culpa e de inadequação do indivíduo diante de uma moral sacralizada pela instituição religiosa, capaz de servir não apenas para adequar o indivíduo dentro de um padrão de comportamento socialmente aceitável (um modelo de “santidade” que vai além do comum) como também induzi-lo a uma atitude de proselitismo, estimulando tarefas voluntárias em benefício da instituição.

Este sistema de punição e recompensa obviamente que encontra nas más interpretações bíblicas uma fonte de justificação. É tão bem montado que o discurso não só apavora o seguidor da instituição com o “inferno” após a morte, mas funciona junto com a ameaça de consumação da história humana no planeta, quando será erguido um tribunal divino com a distribuição dos prêmios e castigos. A volta de Jesus, que pode ocorrer a qualquer momento segundo os evangelhos, pode então amedrontar o jovem e evitar a elaboração do raciocínio de que “posso pecar bastante agora porque, quando estiver velhinho, volto pra igreja e me arrependo”.

Contudo, tenho observado que o uso destes métodos não serve para ensinar o indivíduo a escolher o bem de uma maneira voluntária e consciente. A repressão de instintos, a proibição de uma convivência social sadia como a participação em festas populares ou a frequência da praia ou bares, as regras morais de vestimentas, dentre outras privações que a moral de uma instituição impõe, como uma maneira de “santificar” os seguidores do “mundo”, não impede certas escapulidas da pessoa. Surge então as transgressões dos valores daquele grupo religioso que podem levar o indivíduo a uma dissidência libertadora ou então acomodá-lo dentro do sistema, aproximando-o até da colaboração com a liderança eclesiástica, mas que, neste segundo caso, torna-se muito mais difícil um retorno devido à cauterização da consciência.
É interessante notar que muitos dos líderes são pessoas que também dão suas escapulidas mas resolvem manter os demais seguidores e colaboradores acorrentados. O pastor passa então a levar sua vida dupla. Atrás do púlpito ele prega com rigor e moralismo, encobrindo sua inadequação à moral religiosa. Em outros momentos, distante dos olhos de seus seguidores, ele pode fazer várias outras coisas: adulterar, desviar o dinheiro das ofertas, subornar as autoridades, difamar outros líderes religiosos, fazer acordos secretos com políticos cretinos, manipular almas inocentes, etc.

Mas se o seguidor de uma instituição dessas amanhã descobre a descrença ou adere à uma igreja onde não se amedronta o ouvinte com a “perda de salvação”? Como que ele vai portar-se eticamente dentro da sociedade? Quais serão os valores que lhe restarão?

Não é por menos que se diz que “crente desviado age pior do que o mundano”. Pois, na maioria das vezes, o dissidente infantil de uma agremiação religiosa repressora resolve mesmo “chutar o balde”. Depois de tanto tempo reprimida, tal pessoa opta por viver intensamente aqueles desejos naturais que estavam massacrados por uma doutrina perversa de submissão das mentes aos interesses de lobos que se dizem pastores. E junto com o desejo por liberdade muitos conflitos interiores explodem sem encontrarem um tratamento numa sociedade secularizada igualmente perdida nela mesma.

Como curar pessoas feridas pela instituição religiosa senão através do Evangelho da graça capaz de romper com toda esta barganha moralista? Pois é a aceitação incondicional de quem somos, sem impor códigos morais, doutrinação de interpretações tidas como “irrefutáveis”, livre de dogmas, que não entenda o corpo como algo profano ou não alimente culpas ou medos, que o indivíduo pode então tratar-se interiormente reconstruindo seus valores éticos.

A graça mostra-se para mim como um rompimento com todo este perverso sistema de recompensas e punições elaborado pelas instituições religiosas. É pela graça que poderemos formar jovens conscientes de suas atitudes em todos os aspectos como cidadãos que promovem a paz, vivenciam uma sexualidade responsável, crescem em conhecimento e respeitam o líder não pela imposição da suposta autoridade pastoral mas como alguém capaz de fazê-los crescer compreendendo a realidade por suas próprias experiências relacionais com a Vida.
“O progresso intelectual não avança sozinho. Mas será que isso interessa?”

Concordo que o avanço intelectual não avança sozinho e acho que tanto para as classes dominantes quanto para muitos dominados o progresso intelectual seria ameaçador. Os primeiros porque perderiam poder. E os segundos (os dominados) porque se sentiriam sem chão e eles já se acomodaram humildemente à condição em que se encontram.

Agora vou ao Márcio Alves.


"Se a verdade se encontrasse fora do sujeito, então não haveria multiplicidade e pluralidade de crenças, ideais, opiniões, idéias, valores, gostos e etc....não acha?"

Márcio, eu entendo que esta pluralidade deve-se ao fato de que percebemos o mundo de maneiras diferentes. O daltônico vê o mesmo objeto que eu e você, porém não com as mesmas cores. Se estivéssemos em Marte agora, a atmosfera não seria colorida com este azul claro. Há planetas do próprio sistema solar em que a atmosfera pode ser vermelha, em outros verde, em outros um azul mais intenso e em outros amarelo. Contudo a realidade é uma coisa só!

Existe uma interessante piada (como descendente de gregos não deveria contá-la) em que o turco foi ao médico e se queixou de várias dores no corpo. Ele disse: “Doutor, minha coluna dói”. Então o médico examinou sua coluna e respondeu: “Não tem nada de errado com a sua coluna”. O turco então replicou: “Mas além da coluna, o meu joelho dói”. O médico examinou os joelhos do turco e disse que não havia nada de errado. Insistentemente, o paciente turco reclamou de dores no pescoço, nos pés, na cabeça e em vários outros órgãos e, ao final se queixou: “Olha, doutor, meu corpo inteiro dói. Tudo onde toco dói”. Então o médico tomou a sábia decisão de verificar a mão do turco e concluiu: “Não há nada de errado com você, exceto o seu dedo que está quebrado”.

Márcio, esta é toda a razão de não compreendermos toda a Verdade. A nossa percepção está cheia de equívocos e impossibilitada de conhecer a Realidade como ela é. E, neste sentido, concordo com você que “a realidade enxergada por nós não seria neutra, mas antes maculadas por nossa subjetividade e modo singular de se relacionar com o conhecimento existente no mundo”.
“É como se diante de dez pessoas estivesse um único fato, que seria visto por essas dez pessoas de ângulos diferentes, pois todo ponto de vista é vista sempre de um ponto....então poderia se dizer que a verdade é subjetiva mesmo em sua objetividade??”

Entendi o que quer dizer. Só que não consigo aceitar a ideia de verdade subjetiva. Pra mim a Verdade é uma só e seria absoluta. E a nossa compreensão da verdade será sempre relativa e sujeita a equívocos. Talvez não seria mais correto dizermos que o conhecimento da Verdade é que se torna subjetivo e não a Verdade?


“Como a verdade pode ser absoluta se não for relativa? Ela não necessitaria da relatividade se valendo da mesma para então ser absoluta?”

Agora você complicou de vez (rsrsrs). Mas a Verdade é o que ela é. Ela não depende da relatividade e nem da nossa subjetividade. Nós é que precisamos dos meios de cognição para percebê-la, não ela de nós. Sem nós, a Verdade continua existindo!


“A meu ver, esta questão está de modo intimamente ligada a primeira, pois se cada pessoa tem um universo próprio de subjetividade como poderia então haver absoluto?”

Xíííí! Agora complicou mais ainda! Bem, o universo absoluto existe porque existe. Pense na hipótese de um cego atravessar a rua ou caminhar perto de um precipício para ver se ele não pode ser atropelado ou cair? Quando o deficiente visual chega bem perto do buraco, se não estiver usando a bengala branca, ele simplesmente vai achar que o chão continua, dará um passo e vai cair. Ou seja, ele não só caiu na cavidade como também no auto-engano de sua subjetividade.
“Não precisaria ser homem em si (raça) de uma 'nota só'?”

Desculpe, mas não entendi sua pergunta, Márcio. Se, por acaso, estiver falando que somos partes de um todo então devemos aceitar que precisamos do todo para compreendermos melhor a Verdade. Logo, revelações da Verdade podem existir em cada um com maior ou menor intensidade. Logo, precisamos uns dos outros e precisamos estar coletivamente unidos em propósito de ideal, não concorda?


“Como podemos conciliar valores ou verdades absolutas com seres humanos que não são universais?”

Acredito que através da humildade, esvaziando-nos da arrogância. Pois, se a ninguém pertence esta verdade absoluta, então temos mais é que criar uma inter-dependência para poemos conhecer melhor a Realidade.


“Não seria o relativismo a melhor combinação com seres tão singulares e subjetivos?”

Não sei te responder. Penso que devemos aprender a conviver com a pluralidade de pensamentos e de opiniões. E devemos estar abertos para aprender com o outro poque a revelação da Verdade pode manifestar-se através de qualquer um, inclusive dos considerados incultos e analfabetos porque teriam um grau de instrução menor do que o nosso. Acho que até um animal pode vir a nos ensinar. E não é à toa que na Bíblia a jumenta fala com o profeta (rsrs).
“Mas como a verdade pode ser avaliada por esses critérios se são tudo invenções humanas? Que garantia nós temos, de que usando esses critérios poderemos encontra a verdade? (como se a verdade fosse pura em si mesma?)”

Eu concordo que até os critérios adotados precisam ser questionados e revistos. Como saber se a testemunha está mentindo no julgamento? Como descobrir se foi mesmo o acusado quem matou? Aí, como profissional do Direito, posso dizer que todos os recursos utilizados hoje pela Justiça e pala investigação policial, afim de verificar a autoria e a materialidade de um crime, são todos falhos, motivo pelo qual sou contra a pena de morte. Contudo, a sociedade precisa proteger-se de pessoas que praticam assassinatos, estupros e crimes de alto potencial ofensivo, precisando, no mínimo, tirar de circulação tais indivíduos capazes de reincidir. Então, estabelecer coerência lógica é o que se encontra ao nosso alcance. Igualmente, numa universidade, precisaremos de critérios para avaliar se uma monografia, dissertação ou tese devem ser academicamente aceitos. Se a demonstração não for científica, como que a instituição poderá diplomar o seu autor? É aquele velho debate sobre o parapsiquismo que até hoje não foi cientificamente provado de modo que suas manifestações ainda são tidas como coisas da metafísica porque a princípio não passam de supostas experiências pessoais e que podem se tratar de um auto-engano psíquico de quem alega ter estes poderes extraordinários de ler mentes, prever o futuro, levitar, etc. Mas voltando aos critérios, é claro que não temos total garantia e daí eu ter dito ser contrário à pena de morte porque todo julgamento é potencialmente injusto.


“Mas é exatamente isto! A “verdade” é apreendida, sendo uma questão de intersubjetividade, a não ser, que você creia que a verdade seja inata e não empírica...é isto mesmo?”

Como eu disse, a Verdade é o que é. Podemos experimentá-la, mas nunca na sua totalidade. É o que eu poderia ilustrar com a experiência de Moisés ao “ver” a glória divina quando esteve na fenda da rocha (Ex 33.17-23). Naquela passagem, Moisés não viu a face do Eterno!
“Ou você acha que a realidade é uma só para todos os indivíduos da raça humana?”

Acho que já respondi acima. A Realidade é uma só para todos, mas cada um a vê do seu modo.


“Se a realidade não é material, ela é o que então? Fantasma? (rsrsrs) ou você está a fazer menção do mundo inteligível de Platão?”

Platão pode complementar ou não o que penso, mas pra mim a Realidade é bem maior do que aquilo que nossos olhos vêem. Até um certo momento, a humanidade desconhecia os seres microscópios, as partículas subatômicas, e existência de outros sistemas solares e galáxias, dentre outras descobertas da ciência. Por outro lado, entendo que a utopia pode compor a realidade. As projeções de imagens, valores e de motivações estão relacionadas com o que está além da realidade dada. E aí a realidade dada nunca é dada porque, na verdade, está sempre sendo feita por meio das potencialidades e virtualidades presentes na história onde o homem tenta transformar o virtual no real. Logo, a utopia é um sonho inalcançável, mas que nos motiva e interage com o nosso ser, relativizando, desfatalizando e desabsolutizando as melhores realizações históricas, revitalizando as formações socioculturais.

Entender a Realidade como sendo tudo aquilo que está à nossa consideração é, no meu ponto de vista, uma compreensão reducionista. Pois é ver o mundo como sendo acabado em si mesmo. Pois se tudo estivesse pronto e acabado ainda estaríamos vivendo como os nossos ancestrais na pré-história, vivendo nas árvores e fugindo das feras selvagens da natureza sem nunca termos conhecido o poder de fazer o fogo. Contudo, graças à virtualidade, temos evoluído de modo que somos filhos da fantasia e da imaginação, as quais não se opõem à Realidade, mas a complementam e fazem parte dela. Segundo o filósofo francês Gaston Bachelard (1884-1962), a imaginação seria a capacidade de formarmos imagens que ultrapassam a realidade (a realidade dada).
“Digamos que temos dois religiosos; o muçulmano e o cristão. O mulçumano é sincero com sua crença, acredita nela mesma, até quando mata outra pessoa, mata acreditando que esta fazendo um serviço para Ala, mas o cristão acredita no que você acredita, só que não de coração, na verdade, ele foi mais uma vitima do determinismo sócio-cultural-geografico, só vai a igreja por ir.....qual deles na sua interpretação é o que tem a crença “verdadeira”? (já que o assunto principal é a verdade)”

Mais uma vez você me colocou diante de um dilema! Mas pra mim, ninguém tem a crença verdadeira. Porém, no exemplo que colocou, o muçulmano radical ainda se mostra mais honesto com o que acredita do que o cristão que, ao comparecer na Igreja, come e bebe da Santa Ceia, mas é incapaz de seguir o exemplo de Jesus quando foi para cruz, o que significa praticarmos o auto-sacrifício (entregar a sua vida a serviço do próximo).


“Então aqui você reconhece que mesmo quando uma pessoa estiver vivendo uma ilusão, mas se para ela aquilo é verdadeiro, a ilusão acaba por se torna uma realidade...certo?”

Sim! Pra ela é como se fosse a realidade, mas não é a realidade. No exemplo que eu havia dado anteriormente, o marido traia a esposa, mas ela não sabe. Então pra ela o cara é como se fosse fiel.


“Então você terá que voltar atrás e aceitar que não existe na verdade a realidade em si, mas sim a experimentação tida como verdadeira ou não, ou seja, a realidade depende do sujeito do conhecimento e não do conhecimento do sujeito.....a realidade passaria a ser não objetiva mas subjetiva....certo?”

Amigo, pra que complicar as coisas?! É tudo muito simples! A realidade em si existe e nos é desconhecida na sua totalidade. A cognição é que vai depender do sujeito do conhecimento, mas isto não torna a realidade subjetiva. Ela continua sendo o que é.
“Mas acima você não disse usando o exemplo da mulher traída, que a mesma, mesmo não sendo a realidade, mas vivendo como se fosse, deixaria de ser uma ilusão para se tornar realidade? Ou seja, ou você reconhece que na verdade não existe “REAL” e “ILUSÃO” em si mesmo, mas que depende de quem a experimenta, sendo que para o outro que vê de fora, pode até ser ilusão, mas quem esta dentro, a pessoa que vivencia, se de fato for real para ela, então o que vale é a interpretação.....ou você terá que fazer um esforço herculiano do pensamento para não se contradizer......e ai, o que me diz?”

Veja, amigo. Seria como se fosse uma realidade pra ela, certo? Pois, pro marido que a trai, ele sabe muito bem que está pegando duas e não uma só. E a verdade é que, neste caso, o marido tem duas, mas a esposa não sabe. É simples! Não sei pra que complicar? Contudo, considerando as percepções subjetivas que cada um faz da realidade, não podemos julgar as pessoas por tomarem decisões erradas se elas ainda estão vivendo debaixo de um engano. Por exemplo, não posso culpar o povo brasileiro porque elegeu Collor de Mello em 1989 acreditando que ele fosse o “caçador de marajás” já que o cidadão comum não tem formação política suficiente para enxergar as cosias dentro dos bastidores como um cientista político. Porém, posso muito bem ser mais severo quando o eleitor diz que vai votar no Maluf porque ele “rouba mas faz”. Ou eleger novamente um bandido mesmo sabendo de tudo de errado que o sujeito fez. Isto é um grande mal do nosso povo e que precisa ser sanado. Daí eu defender que nos libertemos do auto-engano! Desculpe se não estiver conseguindo alcançar a complexidade do seu raciocínio.
“ou seja, até o racional para você é subjetivo? Na verdade, há momentos que você transmite a idéia de que a realidade é real em si independente do sujeito que a experimente, outra ora, você dá a entender que não, que depende sim da pessoa que está a experimentar.....como você mesmo enxergar esta oscilação entre objeto do conhecimento do sujeito e o sujeito do conhecimento do objeto?”

Uma coisa é a Realidade em si. Outra é a compreensão que temos da Realidade. A minha compreensão nada mais é do que uma imagem construída dentro de minha mente. E, se eu substituo esta imagem pela Realidade, eu me torno idólatra. É como se chamasse de Deus um pedaço de pau ou um metal fundido. Aquilo que a minha razão aprova não pode jamais ser considerado como Verdade absoluta. É só mais uma imagem que construí da Realidade visto que sou incapaz de contemplar a sua face, mas apenas de vê-la por trás como alegoricamente no relato (mitológico?) sobre Moisés. E a Torah escrita em nome dele não é a mesma Torah perfeita que vem dos céus... Daí o homem jamais pode ficar restrito à aparência das coisas, mas deve incessantemente procurar penetrar na essência, o que é uma busca infinita mas gratificadora porque nos proporciona sabedoria. E o primeiro passo é reverenciar a Verdade.
“A verdade que todos procuram não existe. O que existe é um conceito individual. Se cada um tem o seu, o do outro passa a ser mentira. Partindo do princípio que nasci em lar cristão e vivi em meio cristão, logicamente meu conceito acerca de Deus é diferente do conceito de um budista.Logo a minha verdade é diametralmente oposta à dele. Para os cristãos eu represento a verdade e o budista a mentira. Para o budista a mentira sou eu. É assim ha 10.000 anos mas vocês ainda procuram verdades. He, he, he...”

Altamirando,

Você não consegue provar que a verdade procurada por todos não existe. Sua afirmação é aquilo que você gostaria que fosse. O conceito de um cristão é diferente do conceito de um budista, mas nem um e nem o outro pode afirmar que tem a verdade. E, se não formos capazes de nos declarar mentirosos (que temos apenas conceitos e não verdades), continuaremos incapazes de compreender um ao outro e de juntos buscarmos a única Verdade. Não pode haver outra! É a Verdade única e absoluta que nos tira da escravidão e nos coloca em liberdade!
Eduardo,

Você criticou o Márcio pelo excesso de perguntas e fez a sua também. Mas vamos a ela:

“será que nosso amigo doutor-advogado-teólogo-messiânico conhece tal verdade assustadora??”

Eu conheço a assustadora realidade da qual falou ao Ivani e lido com ela quando estou em contato com a Igreja. E por isto que não me disponho a desconstruir ou desvendar todos os mitos da religiosidade porque estaria cometendo um estupro de consciência. Sei que se eu adotar um discurso mais intelectual como pastor as pessoas não poderão suportar tudo e aí uns vão se desviar, outros não conseguirão ter uma outra concepção de Deus e ainda vai ter gente me chamando de herege, irmãozinhos saindo da minha igreja e seguindo um Edir Macedo da vida, etc. Logo, eu defendo o uso pedagógico dos mitos com um sentido libertador. Gosto, por exemplo da Teologia da Libertação e admito bastante a maneira de pensar do alemão Dietrich Bonhoeffer. Temos que aprender a falar a linguagem atual do povo brasileiro e conversarmos com as pessoas dentro do nível em que elas se encontram! Observe a resposta que dei ao Ivani.
É isto aí! Rodrigo...
A sua verdade pode ser a minha mentira e as duas, religiosamente, tem valores iguais para divergentes.

O problema é que eu não gosto de esticar comentário, porisso não me faço entender a priori.
Já me expliquei acima.

Não estou procurando verdades e mesmo respeitando as mentiras, não gostaria de ser escravo de nenhuma verdade. Inclusive a sua.
Levi B. Santos disse…
Mais lenha na fogueira (rsrs)

“Bem, Levi, eu não vejo como manter um mundo através de mentiras. Imagine se todos apenas mentissem? “ (Rodrigo)

Mas esta sombra (mentira) salvou uma vez o apóstolo Pedro da resposta verdadeira, que se fosse dada, o faria sofrer enormemente, quando negou a Cristo três vezes. Abraçar essa besta interior como parte integrante de todos nós pode ser a passagem para a “liberdade”.

Entendo que há mentiras salvadoras e mentiras destruidoras, assim como há a inveja destrutiva e a inveja criativa. Um exemplo de inveja destrutiva seria a daquele invejoso que prefere perder um olho, para que o vizinho perca os dois. A inveja criativa a daquele que procura estudar mais para superar o outro na busca do conhecimento.

A nossa psique assemelha-se a um campo de batalha, onde o herói de qualquer história não poderia existir se não fossem os vilões que o desafiam. A mentira jaz como uma sombra na escuridão de todos nós, a desafiar o “ideal do ego”. Quando digo: “encontrei a verdade, ela escapa por entre os dedos de forma mágica”.

Nossa persona nos convence de que não há nada que desconheçamos a nosso respeito – de que somos, de fato a pessoa que vemos no espelho e acreditamos ser, sem saber que compramos a história de : “esse é quem sou”.

Poderíamos reescrever o roteiro de nossa história sem o vilão da mentira, que como uma sombra acompanha o nosso corpo por onde quer que caminhemos?

A história do nascimento de nossa sombra teve início quando éramos pequenos. Foi para assegurar a sobrevivência emocional que demos início a carreira de encobrir a verdade apregoada por nossos pais.

O Gênesis bíblico está lá nas nossas origens, quando os nossos tutores, ao invés de integrar a “mentira” como função estruturante de nossa mente, expulsaram-na do nosso céu psíquico numa tentativa de nos fazer só VERDADE, sem o contraponto da mentira.
Hubner Braz disse…
São exatamente 1h:30min da manhã, e a hora que cheguei em casa, sei que daqui a pouco tenho que pular da cama pra ir a facul. Mas confesso que os comentários estão inspiradores.

Quero ver a replica que irão dar!!! Isso se for capaz.... Hehehe

Mais ainda voltarei para dar meu comentário bombástico.

Me aguardem...
Só se procura a verdade quando se vive na mentira.
O evolucionismo existe em contraponto ao criacionismo. Por acharem que o segundo é uma mentira, fala-se e escreve-se tanto o primeiro. A bíblia é uma boa mina para quem garimpa mentiras. Não é, caro Levi?
Se Hórus não iluminar o caminho da verdae, peçam ajuda a Osíris. He, he, he...
Anônimo disse…
Caro Rodrigo

A verdade a qual me referi ─ parece a Conceição do Cauby Peixoto, “Ninguém sabe, ninguém viu” ─ é a origem da espécie humana. Tudo vem daí. Os mitos, as religiões, as conversas fiadas, as especulações, a exploração do semelhante, o diabo a quatro etc. tem esse segredo como origem. Aliás, as mesmas desculpas também. A humanidade nunca estará pronta para receber a tal notícia “aterradora”, não tanto pelo seu alegado despreparo, sim pelas vantagens que deixaram de se auferidas por uma pequena parcela do seu “conselho tutelar”. Nesse processo de arrefecimento do antigo poder religioso, homens como você fazem a diferença. Disso eu não tenho a menor dúvida. Parabéns pelo tema em debate, inclusive. Entretanto, minha dúvida está no seguinte:

“Para Mircea Eliade (1907-1986), historiador das religiões, a manutenção dos mitos, inclusive o cristão, seria relevante para a significação existencial do homem contemporâneo. Por outro lado, muitos scholars da religião preferem se omitir do que denunciar a irracionalidade, o infantilismo e as ações desumanizadoras que as religiões perpetram ao redor do mundo.”

Para mim Mircea Eliade compõe com a cultura dominante, e no que se refere ao cristianismo, ele deixou muito a desejar quando disse (o Sagrado e o Profano) que o cristianismo resolveu inovar, ao criar Jesus Cristo no tempo histórico e não no tempo mítico, como era o costume antigo, sem explicar o porquê. Ora, meu amigo, o que o homem contemporâneo pode experimentar, até agora, além do discutível efeito dos mitos? Nada. Todas as tentativas de libertação foram prontamente rechaçadas pela força política, econômica e cultural dos “tutelares”. Simplesmente, o que se continua a fazer é justificar essa impossibilidade de tudo que é jeito, como se outra não existisse.

Abraço a todos,
Ivani
Anônimo disse…
Eduardo,

Realmente, as nossas aspirações estão sempre há anos luz da nossa realidade nacional. Tentei sublinhar o fato de que o progresso humano não está voltado para a humanidade, sim para o domínio dela. Entendo que a verdade sobre a origem do Homem responda a muitas questões. Aí não cabe filosofia, só o fato. Fato ainda desconhecido e muito especulado.

Abraço,
Ivani
Marcio Alves disse…
RODRIGÃO

Na verdade todo meu argumento em resposta ao nosso longo e prolixo debate, pode ser resumido em uma simples e objetiva pergunta:

Se a realidade só pode ser interpretada por nossas subjetividades, nunca sendo totalmente conhecida por nós como realmente ela é (pura em si mesmo, mas maculada por nossas interpretações), como você pode então afirmar ainda sustentando que há uma realidade sim fora do sujeito do conhecimento?
Marcio Alves disse…
Outra coisa RODRIGÃO...na sua fala para o LEVI, onde você disse que "eu não vejo como manter um mundo através de mentiras", eu discordo totalmente de você, pois a mentira ela é sim necessaria, é graças a ela que nós ainda conseguimos viver em sociedade.

Já pensou se todos nós resolvessemos só falar a verdade?
As relações humanas ficariam insustentaveis e insuportaveis!!!

Um simples exemplo para ilustrar meu argumento:
Imagine você que sua esposa (não sei se você é casado, mas vamos supor então) chega em casa do cabeleireiro com um corte e penteado ridiculo, mas que ela fez questão de passar horas e horas, e gastar um dinheirão no salão, especialmente pra você.

Mas como disse acima, você achou ridiculo, o que faz então: conta para ela a verdade e diz que esta ridiculo ou mente dizendo que esta maravilhosa para agradar ela?

Então por ai já dá para ver que a mentira em muitas situações é mais do que uma simples escolha, é questão de sobrevivencia. rsrsrs
"A sua verdade pode ser a minha mentira e as duas, religiosamente, tem valores iguais para divergentes (...) Não estou procurando verdades e mesmo respeitando as mentiras, não gostaria de ser escravo de nenhuma verdade. Inclusive a sua"

Altamirando!

A minha e a sua versão podem estar equivocadas, mas além de nós dois existe a Verdade absoluta e, se você A despreza, não estará optando pela mentira que seria a verdade com “v” minúsculo? Porém, eu prefiro continuar buscando a Verdade com “V” maiúsculo ao invés de me voltar para os ídolos mudos!
Levi,

Há dois tipos de mentiras. Conforme disse o Caio Fábio, existe a mentira que se diz e aquela com a qual se vive...

Muitas mentiras são mecanismos de defesa do ego, como deve saber melhor do que eu. E aí, segundo escreveu Marcelo da Luz em seu interessante e questionável livro “Onde a religião termina?”, As manifestações de defesa do ego, seriam estratégias (reações covardes?) que buscam dissimular conflitos, ressentimentos, agressividades, ansiedades e frustrações. Ou seja, seriam as tão faladas máscaras.

“Poderíamos reescrever o roteiro de nossa história sem o vilão da mentira, que como uma sombra acompanha o nosso corpo por onde quer que caminhemos?”

Bem, Levi, eu entendo que neste mundo tentamos criar e usar imagens do que compreendemos sobre a Verdade afim de nos locomovermos. Mas aí vem a importância (ou necessidade) de retirarmos o excesso de mentiras do nosso meio.

Observe que, até entre os corruptos, politiqueiros e bandidos é preciso que haja o predomínio da verdade entre eles (internamente). E aí revelo que não posso defender um criminoso perante um tribunal se, em meu escritório, o cliente encobrir a versão correta acerca dos fatos que presenciou e participou. Isto porque até o advogado precisa conhecer a versão verdadeira para poder ludibriar a Justiça.

No fundo, a mentira é compreendida dentro da realidade, mas não posso ver no convívio com ela benefícios e a pior mentira é aquela que dizemos para nós mesmos, prosseguindo por caminho e sabendo que aquilo nos levará inevitavelmente a um abismo. Daí, o sujeito pode até cometer o pecado da mentira, mas sentirá a necessidade de despir-se de seu personagem (não dá pra tomar banho de roupas). Só que, em termos coletivos, tem-se a introdução de um mal dentro da sociedade e que tornam viciosas as decisões tomadas pelas instâncias deliberativas de um povo.
“Ora, meu amigo, o que o homem contemporâneo pode experimentar, até agora, além do discutível efeito dos mitos?”

Ivani,

Eu penso que fomos preservados de muitas coisas. Você está vendo o mito como uma enganação. Já eu o compreendo pelo seu aspecto pedagógico e instrutivo.

A antiga narrativa que atrai a criança numa sinagoga ou escola dominical de igreja, torna-se uma profunda história de ensinamento durante a vida adulta, marcando a vida de homens e de mulheres que, por sua vez, irão se casar e ter filhos. Para uns poucos (geralmente os mais idosos e homens maduros de mentes sábias), os segredos do mito são revelados e estes se tornam tutores de uma nova geração dando continuidade à cultura ancestral dos antepassados com poderes para atualizar o mito e dar novas interpretações conforme a necessidade social do momento.

Sem o mito, uma sociedade perde as raízes e se fragiliza podendo ser facilmente dominada por outra ou mesmo pela babarização de seus costumes, com o infeliz afastamento da ética.

Lamentavelmente é o que temos visto no Ocidente como resultado de uma desconstrução feita no século XX por inúmeras razões de conflitos sociais, revoluções tecnológicas.

Mas quem dera se, no futuro, todos puderem algum dia chegar a tutores?! Estaremos mudando nossos genes para outra espécie? Não sei. Mas apenas acredito que que precisamos preparar o nosso povo pela via da educação e dar às crianças e jovens uma formação que já não se aprende mais dentro de casa, nas escolas e, infelizmente, até nas igrejas tem deixado a desejar.

Pode ser que este seja o meu novo artigo aqui na Confraria: o convite para escrevermos a BÍBLIA DO SÉCULO 21 OU DO 3º MILÊNIO. Penso em reunir vários escritores afim de compormos um manual de vida para o povo brasileiro que aborde diferenciados assuntos e reúna obras da nossa cultura para o cotidiano do cidadão comum.

O que você e os demais acham?
"Se a realidade só pode ser interpretada por nossas subjetividades, nunca sendo totalmente conhecida por nós como realmente ela é (pura em si mesmo, mas maculada por nossas interpretações), como você pode então afirmar ainda sustentando que há uma realidade sim fora do sujeito do conhecimento?"


Márcio,

Pergunta difícil esta. Mas posso afirmar pelo minha experiência empírica e também porque tenho observado que há uma inspiração desta Verdade. E aí talvez eu precise entrar na esfera da metafísica porque esta Verdade é invisível, mas ela é muito mais real do que qualquer percepção que temos.

Existe coisa mais palpável do que um homem cair do cavalo e repentinamente ver que tudo aquilo que antes imaginava não passava de um auto-engano criado por sua mente?!

É certo que aí a nova experiência passou a fazer parte do sujeito do conhecimento, embora lhe custou o sofrimento de uma dor quando caiu do cavalo. Ora, mas se aprendermos a reverenciar a Verdade, evitaremos quedas dolorosas, ok?
Márcio,

Eu compreendi o exemplo que colocou. Mas aí eu optaria pela omissão em relação ao corte de cabelo (rsrsrs). Diria que ela é uma mulher muito linda e que está sempre uma gata (rsrsrs).

Acho que a situação seria bem diferente do que, por exemplo, um médico esconder do paciente que ele está com uma doença terminal e restringir a informação apenas aos seus familiares. Não concorda?

Abraços e um ótimo final de semana pra todos!
Eduardo Medeiros disse…
rodrigo, você ainda não me conhece bem mas eu sou o zoador oficial(desde a revoada do wolkrs o maior zoador da história da confraria) da confraria e o que eu disse para o márcio não foi crítica, foi zoação mesmo e ele sabe, ok?

olha, não concordo que a pergunta seria irônica na boca de jesus ainda que na boca de pilatos tenha sido. mas mesmo sendo irônico a pergunta de pilatos é a pergunta de todos nós.

jesus também tinha a sua verdade, a verdade que ele propunha para o seu povo e que só servia para seu povo num estágio inicial: "eu vim para as ovelhas perdidas da casa de israel"

apesar de eu perceber uma visão mais universal em jesus, creio que de início ele estava voltado somente para israel sem muito se preocupar com os demais povos(que aliás ele nunca conheceu e muitos nem sabia que existiam).

e com relação a

"Aí que tá, Eduardo! Eu penso que na verdade ninguém tem verdade alguma sobre quaisquer questões (até as científicas e factuais)"

acho que com isso todos concordarmos. logo, a sua verdade de achar que a Verdade inspira alguma coisa é apenas sua percepção da verdade.

"Eu conheço a assustadora realidade da qual falou ao Ivani e lido com ela quando estou em contato com a Igreja. E por isto que não me disponho a desconstruir ou desvendar todos os mitos da religiosidade porque estaria cometendo um estupro de consciência?"

também concordo com você. mas aqui você diz da realidade de que alguns não suportariam a verdadeira realidade e aí caímos de novo na subjetivização dessa verdade.

parafraseando o filósofo, só sei que o que sei não sei se sei ou apenas penso que sei o que de fato sei.

é, não tem pé nem cabeça o que eu disse mas eu não sou filósofo...kkkkkkk

outra coisa: você fala com deus e eu não, pois o deus que eu concebo não fala; se eu falar com ele, estarei de fato, respondendo a mim mesmo como se ele de fato falasse textualmente comigo.

por isso também entendo que a bíblia é a palavra dos homens sobre deus e não o contrário.

valeu, doutor, pelo que estou vendo você vai tomar o lugar do novo-ateu-deslumbrado como o maior comentarista da confraria...
Eduardo Medeiros disse…
mirandinha, você está oficiosamente eleito o cara mais enigmático que a confraria já teve(pelo menos para meus poucos neurônios).

"Só se procura a verdade quando se vive na mentira.
O evolucionismo existe em contraponto ao criacionismo. Por acharem que o segundo é uma mentira, fala-se e escreve-se tanto o primeiro. A bíblia é uma boa mina para quem garimpa mentiras."

desculpe não entender suas tiradas mas é que eu sou burro mesmo.

o evolucionismo existe para contrapor a "mentira" criacionista? por isso só se falam no evolucionismo? mas e daí? o evolucionismo é verdade e o criacionismo é mentira?

sua frase é espetacular: "só se procura a verdade quando se vive na mentira..."

você então vive na verdade já que não a procura?

"Não estou procurando verdades e mesmo respeitando as mentiras, não gostaria de ser escravo de nenhuma verdade. Inclusive a sua."

como assim "escravo da verdade"? você acha que a verdade escraviza? e a mentira faria o quê então? liberta?
Anônimo disse…
Rodrigo

“[...]. Para uns poucos (geralmente os mais idosos e homens maduros de mentes sábias), os segredos do mito são revelados e estes se tornam tutores de uma nova geração dando continuidade à cultura ancestral dos antepassados com poderes para atualizar o mito e dar novas interpretações conforme a necessidade social do momento.
Sem o mito, uma sociedade perde as raízes e se fragiliza podendo ser facilmente dominada por outra ou mesmo pela babarização de seus costumes, com o infeliz afastamento da ética.”

Não acredito em nada disso. Se existe esse lado oculto pelo mito, como você diz, é ele que precisa vir à luz e ser discutido, antes de tudo. Que opções nos restariam diante dele? Não tem jeito, sem um entendimento esclarecido a respeito fica-se mesmo na vacuidade. Não dá pra aceitar o desperdício do acervo de inteligência disponível. Que direito têm alguns poucos de decidir por todos? Isso acontece nos governos e não dá muito resultado. Pelo menos, no que diz respeito às possibilidades de vida, a consciência que impulsiona as decisões deveria ser mais abrangente.

Abraço,
Ivani
Rodrigo,
A partir do momento em que você descobrir porque não rspeita o Deus dos outros, vai entender, também, porque eu não aceito o seu como verdade absoluta. Eu não tenho ídolo mudo e o seu também não fala. A sua verdade pode ser a minha mentira. Sei que você entendeu.

Edu meu caro.
Você não é burro, só lhe falta atenção e perspicácia. Também faltava a Einstéin. He, he..
Pelo visto você só lê os comentários dirigidos a você.
Tudo que falei foi refutando alguém, como exemplo: "É a Verdade única e absoluta que nos tira da escravidão e nos coloca em liberdade!"
Esta frase foi dita pelo Rodrigo. Em contra ponto eu disse que não gostaria de ser escravo de nenhuma verdade e muito menos a dele.Eu não disse que a verdade escraviza. Leia de novo, talvez...
Eu não sou enigmático, é que o português tem estas nuances para quem não gosta de desenhar.
Eduardo Medeiros disse…
mirandinha, uma coisa você acertou, me falta mesmo atenção, já que eu leio e escrevo em mach 5....kkkkkkkkk

ok,ok, você venceu...
Eduardo Medeiros disse…
ah, mirandinha, não esqueça(sei que você não esqueceria) que você é o próximo a nos dar um texto onde a verdade enfim, pode ser revelada.

e o "momento filosofia" com o hubinho ficou demais!! dá-lhe hubinho!!
Ok, Edu.
Estarei me ausentando da comunicação e postarei amanhâ à noite. Com certeza.n Vou Pescar.
Meu caro Edu,

A Verdade (com v maiúsculo) pra mim é Deus e não consigo conceber nada além de uma só, a qual é fonte de inspiração para o homem caminhar em sua direção e daí haver nos homens uma busca semelhante.

Sei que na busca da Verdade acabo construindo “verdades” que são imagens sempre inacabadas e distantes daquilo que nenhum homem pode ver e continuar vivo. Logo, eu reverencio a Verdade e sigo o dizer proverbial de que o temor do Eterno é o princípio do saber.

Vou tomar o título de “novo-ateu-deslumbrado” como mais uma carinhosa zoação sua. (rsrsrs)
Ivani,

Obrigado por me ajudar nesta reflexão e reconsidero em parte o que coloquei em minha réplica ao amigo.

De fato, os mitos devem ser mesmo explicados e aí a própria citação de João 8.32 que citei no artigo vem ao encontro de sua respeitável crítica, inclusive sobre Mircea Eliade.

No entanto, acho que devemos ser sempre cuidadosos para não eletrocutar as pessoas com uma alta voltagem da Verdade (rsrsrs). Pois devemos prepará-las para serem líderes de si mesmos primeiramente. Não concorda? Depois seria o fato de chamarmos os interessados pra participar da construção de um novo mundo.

“Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o poeis suportar agora” (João 16.12; ARA)

De qualquer modo, não podemos nunca esquecer a classificação sofocrática de Platão, a qual sempre deve ser analisada, ainda que sem os critérios questionáveis das nossas instituições de ensino.
Altamirando,

Quando falei dos ídolos mudos, não estava desrespeitando a religião de ninguém, mas sim referindo-me às “verdades” que tentamos absolutizar. Ok?

Porém, como já tenho dito, existe a Verdade que é, da qual não podemos fugir porque Ela vai nos encontrar cedo ou tarde.

Eu creio que Deus é um só e todos podem ter revelações Dele. Uns O chamaram de Iaweh. Outros de Alá, Wotan, Atma, Olorum, Tao, Nirvana, Santíssima Trindade, Shi, Brahma ou Mistério. Mesmo os politeístas, como a religião dos iorubá, bem presente na Bahia, crê que Olorum é um ser absolutamente transcendente. Não tem representações, nem altares e nem sacerdotes.

Também creio que Deus é a Verdade. Sua Torah é a Verdade! Prucure lá no fundo do seu coração que você vai ouvi-Lo.
Pessoal,

Foi bom termos participado juntos deste debate.

Agradeço pelos comentários até aqui recebido e fiquem à vontade para continuar comentando no decorrer.

Uma boa semana pra todos!

ABRAÇÃO!
Este comentário foi removido pelo autor.
Rodrigo,
Eu entendo sua colocação quanto a verdade que você procura e vou repetir; a verdade que você procura individualmente. Não imagine caminharmos juntos, nós não temos o mesmo conceito. A minha verdade não é o deus de Bin Laden, o deus de Zumbí,o deus de Stálin, o deus de Átila ou o deus do Rodrigo. Para mim todos são surdos, mudos, imprevisíveis e inexistentes.

Edu, meu caro.
Com esta velocidade você não enxerga o arco-íris, não ouve o barulho do mar,não sente o perfume das flôres nem percebe as minúcias das entrelinhas. He,he,he.
He, he, he...

O comentário "bombástico" do Hubner explodiu antes de ser publicado ou o texto do Rodrigo está protegido por armamento escalar?
É uma pena que pense assim, Altamirando. Pois está desperdiçando uma enorme oportunidade na sua vida em dialogar com a Torah divina e estudá-la. E eu te digoi que só pela experimentação é que alguém pode descobrir o significado de todos os momentos de sua existência e alcançar a incomparável felicidade de se viver conforme os preceitos do Eterno, o que pode nos dar entusiasmo e gratidão pela graça que nos é dada.
Anônimo disse…
Rodrigo

Eu adoraria que você estivesse 110% certo nas suas observações. No fundo, nunca discordei de você. Infelizmente, não é o que se constata na experiência religiosa em curso na humanidade. Receio que as mudanças precisam ser mais radicais do que se imagina. A idéia de que estamos sendo preservados com ocultações é uma defensa psicológica da cultura dominante. Por exemplo, as crianças eram e ainda são preservadas do conhecimento do sexo e das suas implicações. A ignorância delas a esse respeito era substituída pela história da cegonha ou outra imbecilidade do gênero, hoje imprestáveis felizmente. Pois bem, o criacionismo é a cegonha do adulto religioso, que, como a criança “preservada”, continua ignorando a própria origem, mas por vontade própria. Que benefício isso pode trazer a ele? Nenhum: nem a ele e nem a ninguém. Tal ocultação conivente somente preserva o interesse daqueles que o convenceram da existência da absurda cegonha eletrificada. O que é bom não se apaga e nada receia.

Abraços,
Ivani
Anônimo disse…
Aliás, o auto-engano é fundamental nessa história.

Ivani
Olá, Ivani.

Fizeste um bom questionamento ao mencionar um mito de origem judaica e que se encontra na base também do cristianismo. E, infelizmente, mais radicalizado pelo cristianismo do que pelo próprio judaísmo.

Como talvez deve saber, existem intepretações teológicas que não enendem as narrativas do Bereshit (o princípio) como algo literal e sim poético.

Entendo que Gênesis não é uma invenção de seu autor e muito menos foi escrito para se tornar uma dogmática teoria criacionista que contrariasse a ciência. Talvez nem possa ser considerado como uma fonte histórica, no sentido em que hoje compreendemos a História, apesar de suas belas narrativas explicarem poeticamente as origens da vida, da humanidade e da nação de Israel.
Aliás, os relatos do Bereshit apenas compõem o revestimento de um ensino profundo, conforme expõe O Livro do Esplendor numa suposta fala do Rabi Simeão ben Yohai, célebre mestre judeu da Galileia do século II:


“Se um homem considera a Torá como uma simples compilação de histórias e de assuntos quotidianos, infeliz dele! Esse gênero de escrita, que tratasse de questões banais, e mesmo um texto melhor, também nós, nós mesmo o poderíamos redigir. Ainda mais, os príncipes deste mundo têm em sua posse livros de um valor ainda mais precioso, que poderíamos imitar se quiséssemos escrever uma 'Torá' semelhante. Mas a Torá, em cada uma das suas palavras, contém verdades supremas e segredos sublimes (…) Assim, os textos que a Torá relata não são mais do que as suas vestes exteriores, e mal daquele que julgue que tal traje é a própria Torá (…) Considerai o seguinte: A parte mais visível de um homem é o vestuário que traz, e aqueles a quem falta entendimento, quando olham esse homem, podem ver nele apenas o vestuário. No entanto, é na realidade o corpo do homem que faz a nobreza das suas vestes e a sua alma é a glória do seu corpo. Acontece o mesmo em relação á Torá. As suas narrativas que descrevem as coisas do mundo compõem a veste que cobre o corpo da Torá. E esse corpo é formado pelos preceitos da Torá, gufey-torah (corpo: princípios fundamentais). Os homens sem entendimento só vêem a narração, o vestuário; mas os que têm um pouco mais de sabedoria vêem igualmente o corpo. Só os verdadeiros sábios, os que servem ao Rei Muito-em-Cima, os que se conservam no Monte Sinai, penetram até à alma, até à verdadeira Torá que é a raiz fundamental de tudo (…) Assim como o vinho deve ser colocado num cântaro para se conservar, assim também a Torá deve ser envolvida numa roupagem exterior. Essa roupagem é feita de fábulas e narrativas. Mas nós, nós devemos penetrar através dela.”
Tais palavras podem ser hoje dirigidas para aqueles que, por acreditarem na teoria de Oparin, ou a da evolução das espécies de Charles Darwin, simplesmente desprezam as histórias de Gênesis, deixando de compreender que as narrativas bíblicas jamais foram redigidas para serem dogmatizadas. Porém, tanto o relato da criação quanto o mito do dilúvio foram escritos pelos sábios afim de comunicarem o papel de Deus na existência do universo e tratar de importantes questões de ordem ética que foram revolucionárias numa época de enorme brutalidade existente no trato entre os seres humanos, de modo que os temas desenvolvidos ao longo do Pentateuco baseiam-se nas narrativas do primeiro livro, sobretudo em ideias relacionadas aos versos iniciais: bondade manifestada por Deus em cada ato criador (1.4,10,18,21, 25, 31); sermos feitos à imagem e semelhança do Eterno (1.26-27); o cuidado com a natureza (1.28; conf. 2.5,15); descanso sabático (2.2-3); relação do homem com o solo (2.7); sopro de vida (2.7); jardim de ensino (2.8); árvore da vida (2.9); árvore do conhecimento do bem e do mal (2.17); a mulher como companheira do homem (2.18), sendo criada do varão (2.21), e se tornando ambos uma só carne (2.24); a nudez (2.25).
Sobre sermos feitos à imagem e semelhança de Deus, Barnabe Assohoto e Samuel Ngewa, ambos teólogos africanos, elaboram o seguinte comentário de aplicação pessoal que se mostram úteis para a compreensão do propósito de Gênesis:


“De acordo com as Escrituras, os seres humanos de ambos os sexos foram feitos à imagem de Deus (1:26b-27). Assim, as pessoas são diferentes de outros seres criados como animais, um fato que tem consequências importantes para a maneira como vivemos. Em primeiro lugar significa que cada ser humano é, de alguma forma, semelhante ao seu Criador. Assim, cada ser humano é especial e importante. Devemos ser capazes de reconhecer o Criador nos homens e nas mulheres que vemos ao nosso redor. Em segundo lugar, significa que não devemos adorar nenhum animal ou a imagem de um animal (…) Em terceiro lugar, uma vez que Deus criou tanto nosso corpo quanto nosso espírito, não devemos considerá-los separadamente e pensar que podemos ignorar o corpo enquanto vivemos para Deus no espírito. As Escrituras deixam claro que não devemos maltratar nosso próprio corpo nem o de outros (…) É importante observar que os homens e as mulheres receberam permissão de exercer domínio sobre as criaturas vivas, mas não sobre seres humanos. Da mesma forma, os homens não receberam autoridade para dominar as mulheres (nem vive-versa). Nossos semelhantes também são portadores da imagem do Criador e, portanto, não devem ser dominados, mas sim servidos.” (extraído do Comentário Bíblico Africano, pág. 11)
Não se pode esquecer que a Torá surgiu num tempo onde havia exploração do trabalho humano através da escravidão, penas cruéis baseadas na regra do Talião, dominação do homem sobre a mulher, adoração servil às divindades antropomorfas ou zoomorfas que poderiam incluir até sacrifícios de pessoas, terríveis reis opressores que se achavam descendentes dos deuses e guerras sangrentas. Logo, dentro deste contexto, pode-se afirmar que os “Cinco Rolos de Moisés”, dos quais Gênesis é o primeiro, tornaram-se a revelação tão esperada pelo escravizado homem do segundo milênio antes de Cristo. O manejo inspirado das tradições antigas significou a resposta para as intermináveis conversas em volta das fogueiras, dando novo sentido às narrativas folclóricas e libertando os homens do jugo dos deuses, visto que somos feitos à imagem e semelhança da divindade, o que nos faz destinatários de um tratamento digno e igualitário no trato entre os homens.

Ora, ignorar todos estes mitos, não seria jogarmos no lixo milênios de tradição da humanidade quanto às explicações que foram construídas pelos antigos a respeito das origens?

Abraços.