Obrigado!


Se não fossem os acontecimentos ruins que presencio, ou experimento, possivelmente eu jamais reconheceria a minha ingratidão em relação à vida.

Na tarde desta quinta-feira (10/02/2011), estive com um senhor que, após sua cirurgia de próstata em Teresópolis, ficou meses usando uma incômoda sonda e até hoje ainda necessita usar fraldas para conter a urina. Ao nos encontrarmos na avenida principal da cidade, a primeira coisa que ele veio contar foi a bênção de ter voltado a urinar que para ele tornou-se algo de grande significado.

Sua experiência lembrou-me o sufoco pelo qual passou a minha avó materna no ano passado em que, após quebrar o fêmur em abril, ter ficado internada no Hospital do Andaraí e passado por uma delicada cirurgia de prótese, ainda demorou bastante para livrar-se da tal da sonda, visto que ela contraiu infecção urinária. Então, de tempos em tempos, minha mãe pagava uma profissional de saúde que ia até a casa delas fazer a troca da sonda. E isto alongou-se por alguns meses também.

É impressionante como que uma função fisiológica do organismo, a qual muitas pessoas e animais desempenham normalmente, pode tornar-se um imensurável tormento para quem sofre de algum problema específico capaz de afetar a excreção urinária. Porém, quando uma pessoa está bem, nem sempre ela consegue parar pra pensar nestas cosias e agradecer a Deus, sendo que, não raras vezes, ainda vemos jovens desperdiçando a saúde com drogas, bebidas, anabolizantes, brigas de futebol, pegas de carro e tantas atividades perigosas. Aliás, muita gente chega a cometer suicídio diante de coisas bem banais.

O surpreendente disto tudo é que nem sempre as pessoas que já não gozam mais de tanto vigor físico são revoltadas com a vida. Pois esse senhor que operou a próstata no ano passado compartilhou ter aprendido bastante com sua experiência. Em seu relato, pareceu-me que Deus houvesse feito também uma cirurgia em seu interior. Era como se o doloroso sofrimento tivesse servido para acrisolar seu caráter e personalidade.

Devido às fortes chuvas que ocorreram em janeiro deste ano aqui na Região Serrana do Rio de Janeiro, mais de 5.500 famílias em minha cidade foram desalojadas de suas residências. Muitas perderam suas casas e agora estão vivendo em abrigos improvisados pelo governo, tendo que dormir em colchonetes espalhadas pelo chão, sem a privacidade do lar junto com desconhecidos, alimentando-se de doações, precisando observar horários específicos para deitar, fazer refeições, tomar banho, etc. Nas semanas que seguiram à tragédia, um grupo de minha igreja e mais uns jovens voluntários que vieram de uma área pobre Rio de Janeiro, vem visitando alguns destes locais onde estão morando os desabrigados, tendo o nosso pastor compartilhado que:

“Quero agradecer a cada oração e contribuição dada a cada pessoa da nossa cidade, pois precisamos deste acolhimento para manter nossas forças e motivações saudáveis. Nosso trabalho está baseado em atender pessoas diariamente em nosso espaço que precisam de mantimentos (...) Elaboramos uma rotina de cadastramento, visitas aos abrigos e comunidades, localização dos abrigos informais e grupos de famílias que ainda permanecem em locais de risco. Agora temos que trabalhar com a pressão administrativa de esvaziar as escolas que servem de abrigos para iniciar o cronograma educacional, contudo não dá para pensar neste assunto apenas pelo lado burocrático e administrativo, uma vez que estamos diante de culturas sociais específicas (...) A rotina de vida quer seguir seu curso humano e que deve ser mais justo, pois o QUE JESUS FARIA NUMA SITUAÇÃO DESSAS? Estamos olhando para as pessoas e procurando ouvi-las e através dos valores do Reino orientá-las nas decisões que são necessárias, já que a igreja não está e não deve estar no lugar do saber, mas ouvir, reconhecer e participar da vida comunitária, afinal o que significa “CAIR NA GRAÇA DO POVO”? A realidade que a gente vive de poder fazer as coisas, comprar, trabalhar, ter a nossa casa, levar nossos filhos para a escola, convidar nossos amigos para nos visitar, tomar um banho, almoçar assistindo TV e coisas do gênero, muitos não podem, pois agora vivem em abrigos improvisados e estruturados para atender o mínimo e necessário, todavia eles querem ser vistos e assistidos com mais dignidade e humanidade. O pão nosso de cada dia é muito mais que o curso de uma rotina de vida é estar diante de Deus no cotidiano difícil para reconstruir sonhos e projetos de vida e refletir sobre o que a água e a lama não levaram.” (extraído do texto "VIDA DIÁRIA E O PÃO NOSSO DE CADA DIA", de Robson Rodrigues, em http://novafriburgourgente.blogspot.com/2011/02/vida-diaria-e-o-pao-nosso-de-cada-dia.html) - o destaque em negrito é meu
  
Não podemos permitir que os pequenos problemas do cotidiano ou as insatisfações pessoais ofusquem a nossa visão a respeito da vida, levando-nos a murmurar, cultivar frustrações ou nos levar a pensar que somos vítimas das situações. Digo que um comportamento desses pode vir a se tornar um dos piores adoecimentos do ser humano porque rouba a alegria, a esperança, o ânimo, os sonhos e a fé. Logo, trata-se de um dos piores tipos de desamor.

Ainda assim, é nos momentos mais críticos da existência humana que muitos fazem as pazes com a vida, curam-se de seus traumas e encontram a fé. Nestas horas, as pessoas ficam sem chão e são confrontadas consigo mesmas. Seus ídolos mudos se quebram e as ilusões caem por terra, pelo que elas se deparam com a mais dura realidade que jamais se deram conta e se torna mais fácil encontrarem-se com a Verdade.

Para melhor ilustrar as palavras de minha escrita, quero compartilhar aqui a história de Vitória Martins, uma menina de Santa Catarina que é portadora de uma grave doença incomum mas que, mesmo com tamanha dificuldade, ela tem recebido força para transmitir mensagens bem significativas para as pessoas, como se pode assistir neste vídeo que já teve mais de 154 mil acessos no Youtube:



Que possamos sempre agradecer a Deus! Reconhecer que temos uma casa para morar, lembrarmos do que a saúde nos permite fazer, contemplar o por do sol, admirar a natureza e dizer “muito obrigado”.

Comentários

Unknown disse…
Rodrigo, respeite a ordem de postagem. Avise antes se quiser postar fora da ordem.
Eduardo Medeiros disse…
mas bill, você já disse por aqui no início da confraria que um pouco de anarquia é saudável, e eu concordo com isso...

e já que o rodrigo postou agora(creio que ninguém disse a ele que tinha uma sequência de postagens), sugiro para que a partir de agora, depois de 4 dias de postagens se quem de direito não postar, que outro poste.

para que ninguém fique postando mais do que outros, quando for o caso, quem deveria postar e não postou na hora devida, deve postar na vez de quem postou em atitude anárquica...

ou seja, o edson pode postar na próxima vez do rodrigo. aliás, cadê o edson e o marcinho...?? eles ainda estão ativos na confraria?

então, rodrigo, para ficar claro: as postagens devem ficar 4 dias e existe uma ordem de postagem aí ao lado, por ordem alfabética, ok?

quem quiser opinar sobre, vamos discutir no forum e deixar aqui para os comentários sobre o texto do rodrigo.

o que você acha bill?
guiomar barba disse…
Olá Rodrigo, fico feliz lendo seu ensaio porque tenho percebido que muitas pessoas como você, estão sendo despertadas para reconhecerem o amor de Deus, a fidelidade e soberania. Tenho lido mensagens de pessoas que estão incentivando outras a perceberem nos detalhes, nas pequenas coisas, o amor de Deus e saber ser grato a Ele.
Para mim, em particular, o louvor tem me aproximado mais de Deus, tem me abençoado em todas as áreas da minha vida.

É tão gostoso ver sua fé. Beijo.
Não entro em filas mas obedeço regras, assim como espero ser chamado, em ordem alfabética, para adentrar no "céu", também esperarei minha vez de postar. Me avisem ou toque uma corneta.
Abraços.
Eduardo Medeiros disse…
o vídeo da garotinha é emocionante, não podemos negar. mas alguns conceitos que ela já tem sobre deus me deixam pensativo...e mais ainda, perplexo. ela diz que deus não "dá nada que a gente não possa suportar"; ou seja, ela pensa que o responsável pela doença dela é deus.

mesmo partindo da crença cristã de deus, não consigo conceber deus dando uma doença terrível para alguém. a menininha é vítima da natureza e não de deus. deus não dá doenças para as pessoas, deus não manda tsunami para castigar mulçumanos, ainda que fosse para ensinar alguma coisa para as pessoas.

imagine: deus chega e diz: "filho, eu te amo muito mas vou te dar um câncer para te ensinar algumas lições. no final você morre, mas morre com a lição aprendida."

não, esse deus soberano que faz o mal quando quer não entra em meu coração. deus não é responsável pelo mal. prefiro o deus "fraco e sofrido" da teologia relacional.

por outro lado, o que mais dá força para viver a essa garotinha do que exatamente a fé que ela tem em deus? nesse deus que ela sabe que não vai permitir que ela sofra mais do que poderá aguentar?

paradoxo dos paradoxos.
Levi B. Santos disse…
Como deu a entender o Eduardo em seu comentário, não sei nada à respeito do conceito de Deus que foi implantado nessa família.

Uma coisa que não podemos negar: é a de que existe em nós uma repugnância defensiva contra as enfermidades, que são como vestígios da miséria humana que preferimos esquecer. A história da menina nos atinge com uma brutalidade dolorosa. Desejamos mais fechar os olhos para não enxergar a realidade trágica que nos espera.

Faço votos de que essa garotinha sofredora não encontre teólogos “zelosos” pela frente, daqueles que mais esmagam que ajudam, com discursos que dão a entender que se o doente não sara é porque lhe falta fé.

Conheço crentes em meu meio, que já carregam uma falsa culpa por se encontrarem doentes, e, agora, andam acrescentando uma outra bem mais grave, de fundo religioso: a ideia de se sentirem culpados por não se curar, a despeito de todos os cuidados e de todas as orações de que são objeto.
Rodrigo, quer dizer então que temos de agradecer a deus por termos uma casa,saúde, felicidade e nos envaidecer por ele ter dado a doença para outros. É isto? Vamos ser solidários aos que sofrem castigados por deus e sentirmos satisfeitos como se estivéssemos fazendo a nossa parte? Pleiteando um pedacinho do céu? Somos privilegiados? Temos que ajudar as vítimas dos cataclismas e agradecer a deus por não estarmos lá? O canceroso, o aidético, o paraplégico o louco e os portadores de doenças congênitas foram castigados por deus, com que propósito?
Nenhum "Deus" bondoso e perfeito manteria tais incongrências. Qualquer criatura que lançasse tais horrores sobre a humanidade seria reduzida a cinzas, pelos seus crimes, e não adorada. Será que o masoquismo cristão é genético?
Sou considerado ateu, por isto? Pois é, não acredito no seu deus. Deve haver um outro com mais competência e menos egoísmo.
Abraços.
Unknown disse…
vendo a imagem dessa menina, só posso dizer o seguinte: obrigado, o cacete! se esse deusinho de merda decidiu me dar tudo de bom e fuder com a vida dessa menina, eu não tenho NADA a agradecer a ele, não pedi bosta nenhuma e não acho nem um pouco justo agradecer por essa imensa injustiça.

essa imagem resume essa idéia mesquinha de agradecer a deus por não te fuder: http://static.funnyjunk.com/pictures/ad59b811_5b28_bd560.jpg

o mundo é injusto, a natureza não está nem aí para nossos sofrimentos, e a única coisa que podemos fazer, é o que estamos fazendo, estudar, estudar e estudar procurando a cura para essas doenças, através da ciência. essa é a nossa única chance.
Valéria Gomes disse…
E será que por não compreendermos as ações de Deus, devemos questionar, criticar, julgar ou atirar pedras??? Tudo que sei é que a nada compreendemos e por essa razão, prefiro ouvir e observar para aprender, amadurecer. Penso que o caminho é de sofrimento e acredito, também através da fé em Deus, que se faz necessário suportar para alcançar o verdadeiro saber. Contudo, tudo que sei é que nada sei. Esse vídeo é um exemplo de superação.

Beijos de passarinho!!!
guiomar barba disse…
Gabriel, você pegou pesado meu amigo. Deus realmente não foi responsável por esta enfermidade. Sabemos que nós que deveríamos cuidar do nosso planeta temos destruido ele, e temos provocado ambiente para todo tipo de mal.

Um tempo atrás encontrei um amigo que adulterando teve filhos como rato, com mulheres diferentes,e aí ele me falou: nasceu outro filho meu, com meu espanto ele respondeu: que vou fazer se Deus quer assim? ELE NÃO É CRENTE...

Não te vou dizer o que respondi...

Assim são as pessoas sempre pondo a culpa em Deus, ninguém assume por nada sua participação nas irresponsabilidade.

Não fique bravo com Deus, admita a ignorância das pessoas.
Beijão.
Boa noite!

Primeiramente gostaria de pedir desculpas por ter postado fora de uma ordem entre os colaboradores do blogue, a qual eu desconhecia existir. E, deste modo, gostaria de esclarecer que a minha atitude não foi intencional, pois apenas não certifiquei-me da existência de normas antes de publicar algo aqui que esperava trazer edificação pessoal para os internautas que nos lêem e participam com seus comentários.

Entretanto, fico feliz que, apesar da transgressão não dolosa de uma regra, a postagem parece ter sido recebida pela comunidade. Pelo menos enquanto postagem, pois, pelo que observo dentre os comentários recebidos e aplicados à mensagem, nem todos compreenderam o que escrevi.

A síntese do que propus para reflexão é qual deve ser a postura do ser humano em relação à vida e à sua existência quando sobrevem o sofrimento?

Será que, em tais situações, iremos nos condenar a viver frustrados e, amargurados? Ou será que, mesmo em meio a um quadro de sofrimento não poderemos enxergar a bondade da vida e vermos o quanto ela, por si mesma, é generosa.

Uma pessoa que se encontre sofrendo não tem que ficar submetida à tortura de uma doutrina religiosa que, nestas horas, para nada aproveita. Mas é bom que, em todas as circunstâncias, possamos aprender a contemplar o que há de belo em nossa volta, olhando para a natureza, as estrelas, as florestas, os animais do campo e o sorriso espontâneo de uma criança.

A garotinha do vídeo parece ter entendido o sentido da vida. Ela não vive frustrada lamentando dia e noite os seus problemas. Ela transcendeu, passou a contemplar a beleza da vida e ainda é capaz de transmitir força para muitas pessoas.

Um abraço a todos e tenham uma ótima semana!
Eduardo Medeiros disse…
rodrigo, está desculpado, a culpa foi nossa por não te passar a ordem de postagem.

na verdade, eu entendi o que você quis passar mas acabei ficando mesmo preso ao vídeo dessa menininha que muito me impressionou.

você está certo ao dizer que

"Será que, em tais situações, iremos nos condenar a viver frustrados e, amargurados? Ou será que, mesmo em meio a um quadro de sofrimento não poderemos enxergar a bondade da vida e vermos o quanto ela, por si mesma, é generosa."

não temos que viver tristes por que existe tristeza no mundo. a vida também tem seu lado belo, excitante, desafiador e maravilhoso.

sei que alguém de fé vai acabar agradecendo a deus por ser feliz enquanto tantas pessoas sofrem(e sei que você está passando por momentos difíceis, por isso seu texto é ainda mais significativo).

não vejo nenhum problema nisso, desde que não se creia que foi deus quem lançou sobre os que sofrem seus sofrimentos. ( o que na prática, invalida agradecer a deus por não sofrer enquanto o outro sofre); mas a oração se tornaria apenas retórica, pois saberíamos que deus também sofre com o que sofre e se alegra com quem se alegra.

os que sofrem devem buscar em deus, se é que têm fé, a superação da dor e do trauma; já está provado que ter fé ajuda as pessoas a superarem problemas difíceis; quem não foi abençoado com o dom da fé, contenha-se em agradecer à sorte ou ao trabalho ou ao seu esforço, pelo bem que recebe e busque superar com coragem as adversidades que surgem.
Eduardo Medeiros, este último parágrafo seu igualou nosso idioma. Quem não foi abençoado com a fé, foi abençoado com os outros itens, a sorte, o trabalho ou ao seu próprio esforço.É por aí.
Abraços.
O sofrimento não é bom, mas pode ser o palco para o acontecimento de coisas boas, quando praticamos a superação. E aí as lágrimas vão fazer parte de toda essa peregrinação e precisamos chorá-las, sem desacreditar em um amanhecer.

Quero através desta mensagem, chamar a atenção para a chegada do "amanhecer" aos que choraram durante toda uma "noite".

Quem conhece a poesia hebraica, vai ver que o salmista, muitas das vezes, após expressar todo o seu lamento, impõe um rítimo contemplativo e de celebração, o que inclui uma gratidão antecipada por um livramento que ainda não ocorreu. E, obviamente, que aí se vê a manifestação de confiança na vida.

Outrossim, entendo que "agradecer à sorte ou ao trabalho ou ao seu esforço, pelo bem que recebe" leva à frustração, bem como ao sentimento de culpa quando se recebe o mal. É como alguém dizer: "Se fiz tudo certo, por que comigo deu errado?". Então aí eu digo que, se dermos crédito ao esforço, podemos nos tornar pessoas de mal com a vida porque ela muitas das vezes nos pega de surpresa, chacoalhando-nos e conturbando-nos.
Eduardo Medeiros disse…
rodrigo, agradecer a deus pelo bem também pode gerar frustração quando se recebe o mal. já vi muito isso acontecer.

eu disse que os que não foram abençoados com o dom da fé só têm a si mesmos e a própria vida para caminhar, com todos os bens recebidos e todas as frustrações também.

aliás, frustação é uma negócio bem democrático: dá em quem tem fé e em quem não tem. quem tiver uma fé amadurecida vai crescer na sua fé e usá-la para superar a frustração; quem não tem fé sobrenatural, vai buscar a superação da frustração por si mesmo. ou vai fazer análise...

aliás, nesse ponto, os que tem fé levam vantagem, já que o hábito de orar a deus (ou ao seu próprio inconsciente nas palavras de levi)é uma baita terapia e não custa nada.

altamirando, que bom que nossos idiomas se igualaram aqui, mas isso raramente acontece entre os confraternos...kkkkkkkkkkkk

valeu rodrigo, abraços
Eduardo Medeiros disse…
amanhã deverá ter outro texto em destaque. o edson poderia postar; se não quiser, pode ser o evaldo; se este não quiser, é contigo mesmo anjo do mal, nos presentei com um artigo pensante.

por favor, edson e evaldo, vocês pelo menos podem dizer se vão postar ou não? obrigado e fiquem com deus.
guiomar barba disse…
Caramba Edu e Rodrigo, vocês estão inspirados, muito confortante e sábio os comentários dos dois.

Eu estava exatamente agora, conversando na net com uma amiga que estava desesperada, então começei a falar com ela das coisas boas que ela recebeu já este ano, e falei sobre louvor, levando-a, a louvar a Deus por todas as bençãos que Ele nos trás. Daí começamos a trazer a memória as coisas boas, e ela se foi feliz da vida e agradecendo, vendo que a vida não é só dor, mas tem muita coisa boa rolando, mesmo em meio aos sofrimentos.

O fato de nós agradecermos a Deus, enquanto outros estão sofrendo, não implica que estejamos olhando só para o nosso umbigo, porque podemos ser felizes e gratos, e levarmos também a carga do nosso próximo com mais esperança. Tenho experimentado isto sempre, tendo sido útil com a minha felicidade. Muitas vezes escuto pessoas me dizerem que a minha vida é um motivo de esperança para elas, mas eu pastei viu, e sempre louvando, as lágrimas rolando e eu cantando: Tu és fiel Senhor...

Gente, hoje eu estou com vontade de dançar de alegria, apesar do adeus de Ronaldinho... amo vocês. Beijos.
Bem, mesmo quem tem fé pode se frustrar e sofrer. E já que falamos em fé, permitam-me escrever um pouco sobre Jó, um dos mais intrigantes livros da Bíblia.

Em sua provação, a esposa de Jó sugere-lhe que amaldiçoe a Deus e morra. Mas Jó, porém, responde:

"Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?" (ver 2.10; NVI)

Creio num Deus soberano e que nada acontece conosco sem a sua permissão. Creio que Ele não tem prazer no mal que acontece conosco e geme pelo sofrimento humano.

Pois bem. No livro, Jó não amaldiçoa a Deus, mas sim o dia de seu nascimento. Seus amigos tentam convencê-lo de que o mal que lhe sobreveio teria sido consequência do pecado, mas em todo o tempo Jó se defende das acusações e pede uma audiência com Deus.

Ao final, Deus responde a Jó, mas não o esclarece acerca de seus sofrimentos e o monólogo do Onipotente baseia-se nas declarações de suas maravilhas manifestadas na natureza. Jó é convidado a contemplar as belezas do universo e ouve também um discurso sobre o terrível e lendário Leviatã que representa a destruição das coisas.

Então Jó encherga a beleza, reconhece sua pequenez de homem limitado diante da grandeza da vida e o seu interior é curado.

Penso que é este o sentido que precisa ser percebido por todos nós. Posso passar por sofrimentos, mas não devo deixar de olhar para a totalidade da vida.
Eduardo Medeiros disse…
rodrigo, o jô da primeira parte do livro diz a célebre frase: Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?

mas o jó da segunda parte do livro(que não deveria fazer parte da história original) diz o seguinte para deus:

"Quantas culpas e pecados tenho eu?
Notifica-me a minha transgressão e o meu pecado.
Por que escondes o rosto
e me tens por teu inimigo?"

e outras várias questões intempestivas que ela faz contra deus. no original as frases são ainda mais pesadas do que as nossas traduções.

aceito a sua fé, rodrigo, mas permita-me questionar. você diz que

"Creio num Deus soberano e que nada acontece conosco sem a sua permissão. Creio que Ele não tem prazer no mal que acontece conosco e geme pelo sofrimento humano. '

mas se deus é soberano, em última análise é ele quem provoca o sofrimento em nós(pois no caso de deus, permitir é provocar já que ele podia não permitir) e depois sofre com o nosso sofrimento causado por ele próprio?

é uma questão difícil de se entender por qualquer lógica que seja, inclusive teológica.

a única explicação que vejo a partir dessa compreensão é que deus permite(logo, provoca) o sofrimento para nos ensinar alguma coisa que no momento não sabemos bem.

enfim, isso é uma questão de fé e como eu respeito todo tipo de fé, não posso julgá-lo pelo que você crê.

falando por mim, procuro aliar a fé à um pouco de bom-senso (bom para mim, diga-se).
Eduardo Medeiros disse…
talvez você me diga que deus é como um pai que põe o filho de castigo sem poder ver televisão para que ele aprenda que deve estudar mais.

mas difícil é fazer a correlação entre um castigo de um pai humano com todo o tipo de sofrimento e desgraças que se abatem sobre a humanidade como sendo deus ensinando seus filhos o bom caminho.

a tsunami na ásia que matou milhares ensinou o quê do ponto de vista espiritual ou teológico para o resto do mundo? e para quem morreu afogado, o que ele aprendeu?
Ô..Ô..Ops! Masoquismo tem cura?
Prezado Eduardo,

Penso que não deve haver explicação lógica mesmo e já desisti de procurá-la. Entendo que Deus tem poder para permitir e proibir, trazer o bem e o mal. E o Eterno tem seus motivos que, sinceramente, desconheço-os para poder te responder de maneira lógica. Ou talvez a lógica jamais poderá comportar uma resposta.

A figura do pai certamente ajuda-nos na compreensão de Deus, mas entendo que só pela experiência é que o homem pode ao final dizer como Jó:

"Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram". (42.5; NVI)

Para ser sincero e humilde, conheço muito pouco sobre Deus, mas tenho provado que Ele é bom e aprendido com dificuldades a reconhecer isto nas situações desfavoráveis. Por outro lado, também reconheço a bondade do Eterno quando ando erra do e Ele não me castiga conforme as minhas transgressões ao passo que não recebo em troca pelo bem que pratico. E isto é graça!

Sobre sua suposição de exegese do Livro de Jó, tenho pra mim que a história original talvez tivessem palavras de desabafo de Jó bem surpreendentes para os valores dos cristãos e judeus dos tempos de hoje. Mas aqueles questionamentos de Jó parecem-me bem naturais e demonstram um relacionamento de grande intimidade e fé com o Eterno onde o homem expõe em oração todos os seus sentimentos.
Eduardo Medeiros disse…
ok,rodrigo, esse é o seu entendimento e eu respeito. se essa tua compreensão (ou falta dela) te bastam, amigo, viva em paz com tua fé.

mas creio que com relação a jó você está sendo muito condescendente e até romântico. os impropérios que jó lançou para deus está muito distante de uma oração contrita.

abraços
Eduardo Medeiros disse…
e então, galerinha, parece que edson, márcio e wolkrs foram arrebatados por zios e levados ao paraíso onde estão tendo revelações bombásticas para nos informar depois.

bill, se o edson e o wolkrs não aparecerem, manda daí a tua bomba pensante.
Edu,

O que sobressai na postura de Jó é que ele não desistiu de Deus. O fato do homem reclamar com Deus sobre sua condição deveria ser visto de forma bem natural ao invés de ser muitas vezes considerado como inconveniente.

Ah! Como que eu queria ter a mesma desenvoltura de Jó nas suas orações!

Philip Yancey, em seu livro "Decepcionado com Deus", admite que sua postura em momentos de sofrimento às vezes é de se afastar de Deus e esfriar o seu relacionamento com o Eterno. Mas, pelo que entendi da leitura, o autor diz que o correto é justamente fazer como Jó e os salmistas.

Lamento não ter uma compreensão total da questão para poder transmitir e prefiro compartilhar apenas aquilo que sei, pois, se falo do que não experimento, acabo caindo num discurso estéril e sem vida. Logo, o discurso torna-se mais uma doutrina, algo que se distancia do cotidiano. Aliás, até a experiência recontada várias vezes pode cair num discurso vazio e mecânico, pois quando a repetimos já estamos vivendo uma outra realidade e aí já não expressamos mais as palavras do coração.
Eduardo Medeiros disse…
é rodrigo. mas você não acha que o autor de jó faz com que na prática os impropérios que ela lança a deus seja um erro? afinal, o discurso final de deus é exatamente para mostrar que jó falou do que não sabia. mas como não sabia? ele falou do que estava sentindo na carne. e a resposta que ele tanto queria, por fim, não veio.

é amigo, creio que o autor(ou provavelmente autores) desse magnífico livro de jó sabia tanto quanto nós não sabemos. rss
Levi B. Santos disse…
O que esta magnífica história mítica pode nos mostrar?

A paz entre o Rei e seus Súditos (elementos polarizados de nossa psique) só se consegue através de uma SÍNTESE dos mesmos.
Deus é o lado da “imago paterna” da qual não podemos nos livrar. O Diabo (servo) representa o outro pólo representado por nossos instintos bestiais inconscientes, que visam à satisfação irrestrita dos desejos.

A síntese ocorre quando o ser humano consegue apaziguar o “superego”, cedendo parte dos desejos, que uma vez satisfeitos por completo destruiria o seu próprio ser.

O enigma do mito de Jó, no final da história, quer mostrar os nossos afetos ambivalentes ou paradoxais em convivência pacífica, e isso só será entendido com mais precisão, se fizermos uma desmitologização da grande epopéia de Jó , que representa a psique humana e suas vicissitudes.

Deixamos de ser cego como Jó, quando abrimos os olhos para o nosso interior, para enxergar que lá é como o vasto e obscuro oceano, onde habitam Peixes Formosos, mas também Monstros Terriveis (o Leviatã).

A alma humana é um palco de batalha. A paz nunca será permanente, pois a vivemos intercalando com armistícios

Livro de Jó, representa a evolução do drama humano (psíquico) contado de forma mítica como se fosse um drama divino-diabólico externo.

Experiência dessa natureza assalta o homem a toda hora, a partir de dentro de si, e não teria sentido algum se fôssemos reinterpretá-la de foram racional.
Levi B. Santos disse…
SOBRE "O Apaziguar o Superego" que não ficou bem claro:

Cedemos uma parcela - ao não nos submetermos a satisfação irrestrita dos instintos, através dos desejos, para em contrapartida obter a aprovação do Superego. E isso se chama EQUILÍBRIO entre as nossas forças psíquicas.

O certo é que em nossas crises existenciais, como falou metaforicamente o poeta Olavo Bilac, às vezes, se encontrem no peito, um Deus que chora e um Demônio que ruge. Mas o drama de Jó faz parte do nosso cotidiano. Não como fugir...(rsrs)

Quem nos livrará do corpo desta morte???

Encerrado o último ato da peça "O drama de Jó", o inconsciente (ou Deus - como queiram) está a perguntar: quem não é como o meu servo Jó? (rsrs)
Eduardo Medeiros disse…
levi, valeu por enriquecer o tema com os aspectos psicanalíticos. o equilíbrio do superego é difícil. quem nos livrará? o cristianismo deu sua resposta, freud também e as duas se completam.
Anônimo disse…
Rodrigo,

Conforme disse o "pastor" no teu texto:
"O que Jesus faria nestas horas?".

Se Jesus chegasse diante de uma catástrofe dessas, com centenas de mortos, gente chorando...

Eu sei o que ele faria, ele iria dizer:
"Negada, deixem os mortos enterrarem seus mortos e vamos dar um rolé lá na Galiléia."

Huhauahuahau.

Evaldo Wolkers.