Por Levi B. Santos
Pelo andar da carruagem pressinto que a religião ocidental, jamais vai ajudar alguém sem lhe cobrar algo. A compaixão jamais estará presente em cada um de nós, se não nos vermos na pele daquele que sofre preconceito. Mas a religião que se vê por aí, pugna por todo um mecanismo de dominação, cuja base é forçar o indivíduo a esconder os próprios sentimentos.
Isso já começa desde cedo, quando os atos psíquicos originais da criança, através de subornos, são substituídos por meros clichês de convivência social. Sem poder expressar os seus sentimentos, o ser em formação vai se adaptando a um regime de escravidão psicológica dentro de um mundo ilegítimo e estéril.
E as instituições religiosas com raríssimas exceções se alimentam desse maniqueísmo rotulado de “amor pelas almas”.
Ela, a criança, aprenderá no mínimo, que AMAR, é ter que dominar o outro, e submetê-lo aos seus próprios poderes e ditames.
Quão difícil é encontrar lugar para o amor no meio dessa engrenagem chamada “sociedade cristã” que tudo confunde: desejo se confunde com fé; dependência se confunde com benevolência; ações egoístas se confundem com amor e altruísmo.
A homofobia (aversão ao homossexual) tem raízes profundas, e faz parte do rol das aversões cujo fundo é sempre o mesmo: repelir aquilo ou aquele que nos é estranho, ao que não combina conosco. Mas isso tudo é semeado durante a nossa primeira infância Não podemos negar que aquele ser que se comporta diferentemente de nós abala as nossas estruturas, e, quando o discriminamos, estamos inconscientemente protegendo os nossos recalques.
Nunca é demais lembrar os “bodes expiatórios” do Velho Testamento. Eles ainda estão presentes, hoje, no “amoroso cristianismo de resultados”. Se não se lembram, o bode expiatório era aquele que levava sobre si os pecados “ocultos e bem ocultos” do santo povo judeu. Nessa história tinha mais um agravante: esse bode tinha que sumir para bem longe dos olhos dos irrepreensíveis homens de Javé.
P.S.: Achei muito pertinente, trazer esse pequeno texto à baila. Que cada um desarme
seu espírito e reflita sobre ele.
FONTE: Comentário que fiz ao texto recentemente postado: “Deus Condena a Prática Homossexual” — no blog Botequim do Edu
Imagem: rabiscarepreciso.blogspot.com
Comentários
Que belíssimo texto! Amei.
Há poucos dias, estava comentando em um artigo do Marcinho, que quando nascemos (ainda bebês) temos a mente como uma folha em branco. E tudo o que será editado, configurado e gravado nesta "folha"..é o que formará a personalidade da criança...é o que colaborará para a formação de sua história.
Se trabalharmos a mente de um ser desde a sua infância, eu creio que ele crescerá da forma em que o conduzimos a ser.
Se uma criança nasce e cresce pensando que papai noel não existe, que fada é ilusão e que contos de fadas, é a coisa mais tola do mundo. ACREDITE! Nada fará esta criança (na fase adulta) alimentar um pensamento contrário, pois ela registrou em sua mente todas as informações...e pensar o contrário para ela, seria o mesmo que tentar deletar tudo o que lhe ensinaram..ou fazer uma profunda tentativa de reeditar os seus pensamentos....
Então, o que está acontecendo com grande parte das peassoas?! Não conseguiram aprender o verdadeiro significado do AMOR, pois elas crescem, e são submetidas à uma determinada rigorosidade religiosa, ao qual só aprendem que tem que fazer o bem (amar) para ir para o céu..ou porque, tem um deus com olhos que condenam, olhando 24 horas para elas.
Beijos querido.
Concordo em número, gênero e grau com o seu lúcido comentário.
Quando você falou na "mente como uma folha em branco", o que veio a minha lembrança foi um corinho que se constituiu o primeiro programa gravado no disco virgem do meu cérebro, o qual eu cantava entusiasmado, sem nem saber que a letra do hino falava em um guarda que vigiava os meus membros 24 horas por dia.
O corinho dizia assim:
"Cuidado olhinho o que vê
Cuidado olhinho o que vê
O Salvador do céu está olhando pra você
Cuidado olhinho o que vê
Cuidado boquinha o que fala
Cuidado boquinha o que fala
O Salvador do céu está olhando pra você
Cuidado boquinha o que fala
Cuidado mãozinha no que pega
Cuidado mãozinha no que pega
O Salvador do céu está olhando pra você
Cuidado mãozinha no que pega
Cuidado pézinho onde pisa
Cuidado pézinho onde pisa
O Salvador do céu está olhando pra você
Cuidado pézinho onde pisa
Cuidado olho boca mão e pé
Cuidado olho boca mão e pé
O Salvador do céu está olhando pra você
Cuidado olho boca mão e pé"
Diziam para mim que esse era um corinho "cristão"
Depois que cresci foi que vi que ele é um corinho PAULINO (rsrss)
a primeira frase do seu texto já comportaria muitas reflexões:
"Pelo andar da carruagem pressinto que a religião ocidental, jamais vai ajudar alguém sem lhe cobrar algo"
a salvação gratuita pela fé sem obras do cristianismo protestante evangélico simplesmente é uma farsa. sempre foi. em tempos outroras eu ouvia muito: "para você ser salvo tem que ter fé em jesus e fazer a vontade dele..." opa, só a fé já não bastava e a "vontade dele" era sempre a moral da igreja: não falar palavrão, não ir ao cinema, não ver novela, não fumar, não beber, não transar antes do casamento, etc.
e hoje a mensagem cristã ainda não se livrou da salvação pela graça mas que na verdade é uma salvação pela moral. não é a toa que paulo escreveu a sua listinha dos que "ficariam de fora" do reino dos céus baseado exclusivamente em atos morais.
volto depois
Vou pegar um trecho pequeno de seu lucido e ótimo texto, para refletir melhor sobre ele:
“Isso já começa desde cedo, quando os atos psíquicos originais da criança, através de subornos, são substituídos por meros clichês de convivência social.”
Minha fala: Será que realmente há no ser humano “atos psíquicos originais”???
Quais são eles???
Há muito tempo eu vi um ótimo filme que abordava questões fundamentais de sociologia e psicologia, que foi motivo de debate de vários estudiosos, que relatava a historia de um homem que ficou preso no porão de uma igreja por toda sua vida, sem se comunicar com ninguém.
A única pessoa que ia lá uma vez por semana, para levar pão e água era o seu pai, e ainda sim, não conversava e nem ficava com ele.
Resumindo a opera: A criança crescera e viera se torna um adulto, mas que não fala, parecia literalmente um animal.
O que dá para perceber no filme entre tantas coisas fantásticas, mas uma coisa em especial, que tem haver com sua postagem, é que qual animais nós somos e que para sermos ou termos identidade, necessitamos do meio social, que a onde é construído a linguagem do pensamento, identidade e comunicação.
O que você acha???
Abraços
O Paulinismo pôs no chão aquilo que seria o cristianismo autêntico.
Paulo era a antítese de Jesus, senão vejamos:
PAULO: "Pois bem sabeis que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento tem herança no Reino de Cristo".(Efésios 5:5)
JESUS: "Pois eu garanto a vocês: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino de Deus’”. (Mateus 21:31)
Daria para escrever um livro se formos comentar cada paragrafo que "por demais" é profundo.
Mais também, amei a frase da PAULINHA, ela diz: "Se trabalharmos a mente de um ser desde a sua infância, eu creio que ele crescerá da forma em que o conduzimos a ser."
Ela também diz que "Nossa mente é um papel em branco" então o que molda a nossa mente e maneira de viver é o nosso próprio viver.
Ninguém nasce assassino, ele torna-se assassino...
Ninguém nasce caridoso, ele torna-se caridoso.
Ninguém nasce louco, ele torna-se louco.
Ninguém nasce devaso, ele torna-se devaso.
A única certeza que temos é que o homem nasce homem, o seu pêniz o condenará que é homem. E a mulher nasce mulher, a sua vagina a condenará que é verdadeiramente mulher.
Mais os disturbios psicológicos vem com o tempo e dependendo da criação que o ser é submetido ele tornará no futuro próximo o ser que foi criado e ensinado.
Continuareii...
Concordo com você sobre o que JESUS disse: "Pois eu garanto a vocês: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino de Deus’”. (Mateus 21:31)
Mais também Jesus disse: "Vá e não peques mais".
Né....
Quando a gente olha para a sociedade pré-cristã, daquela Roma multifacetada, onde adoradores de diversos deuses conviviam em harmonia, e cada um tinha sua forma, sua filosofia, e vê que, com a ascenção do monoteísmo pela veia cristã, os diferentes foram perseguidos, e todos tiveram que se adaptar à nova religião oficial, vemos o nascimento da cultura ocidental.
Essa cultura mono-tudo: mono-cultural, mono-ética, mono-religião. Desde tempos imemoriais pequenas tribos proclamavam seus deuses como os únicos verdadeiros, mas a Era Cristã trouxe esta proclamação para a Espada.
Embora todas as visões religiosas de mundo recaiam no mesmo fundamento, a crença, algumas se sentem como únicas.
Por isso o ocidente nasceu com essa aversão ao pensamento do outro. Por isso foram queimados livros, culturas destruídas, povos dizimados, templos vieram abaixo, em nome da proclamação de UM só deus. O segredo do livro do Apocalipse é que o FIM da humanidade virá exatamente no dia em quê a utopia descrita ali ocorrer: todos os povos se curvando perante o mesmo deus, falando a mesma língua, pensando da mesma maneira.
Neste dia, seremos como um gado, ovelhas guiadas por líderes inescrupulosos, perderemos a graça, a vida.
Meu!!!! O texto do Dudu é demais. Esse texto “Deus Condena a Prática Homossexual” — no blog Botequim do Edu vai direto ao ponto, assim como o seu texto também...
A parte que tu diz: "Isso já começa desde cedo, quando os atos psíquicos originais da criança, através de subornos, são substituídos por meros clichês de convivência social".
Expressa a pura verdade dos acontecimentos da psique interna do ser vivo. Eles não aceitam ser o que são e iniciam uma fase imposta pela sociedade, e sem perceber como você diz "Clichês" Eles entram em um mundo que não são deles e é quando vem a tona as primeiras experiências infantis em que leva o próprio individuo a assumir outras formas personalizadas dele mesmo. Sem conhecer o verdadeiro gosto de vida.
acho que continuareii....
Fernando Pessoa disse certa vez: “ O melhor do mundo são as crianças”. Olhe, que curiosamente ele não teve nenhuma. (rsrs)
Ao contrário dos adultos, as crianças, na sua tenra idade, são mais espontâneas. Elas deixam muitos adultos de “saia justa”, por não saberem ainda manejar a arte de representar dos seus pais.
Porém, com o tempo, vão se tornando mini-atores a fim de poderem galgar um lugar no pódio da sociedade de consumo.
No trecho que você destacou, a expressão "atos psíquicos originais da criança”, para melhor compreensão, pode ser substituído por "atos psíquicos espontâneos da criança".
Abçs,
Levi B. Santos
Seu texto é seriamente reflexivo. Dói-nos pensar que exatamente aonde se prega Jesus, se viva cobrando da mesma forma que a sociedade, e da forma mais terrível: com ameaças.
Jesus falava do pecado e das suas consequências e como lembrou Hubner, recomendava: "Não peques mais", uma das vezes, Ele ainda acrescentou: "para que não te aconteça coisa pior." Sabemos que Ele estava apenas prevenindo de consequências...
Eu creio que temos que fazer a diferença entre o que é levar uma pessoa à percepção do seu erro e o que é cobrar.
"Exortai-vos uns aos outros em amor".
Abraço.
"Pois eu garanto a vocês: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino de Deus’”. (Mateus 21:31)
O “Vá e não peques mais” que Cristo falou, não cabe no contexto acima.
O que Jesus queria mostrar na sua fala, traduzindo em miúdos, seria mais ou menos assim:
Eu garanto a vocês seus preconceituosos: aqueles a quem vocês marginalizam por roubarem para se manter, e as que vendem o corpo para poderem viver, estão mais aptas do que vocês a entrar no Reino de Deus.
Abçs não preconceituosos (rsss)
“Por isso o ocidente nasceu com essa aversão ao pensamento do outro” — Uma verdade insofismável.
Mas isso acontece como reflexo ou resultado dos impulsos narcisistas e de agressividade da psique de cada indivíduo em particular, que ao invés de serem assimilados são repelidos ou mal resolvidos.
Temos de forma metafórica um reino dentro de nós, ou seja, temos um Rei que tanto pode conviver pacificamente com os seus servos, como podemos ter servos em guerra ou atrito com esse rei. Claro que quando falo de Rei, falo de um instinto temido pelo seu poder, e quando falo de servos falo do instinto de conservação.
NO apocalipse esses instintos estão prefigurados nas figuras de lobo, leão e cordeiro habitando juntos.
No capítulo de psicologia das massas, Freud disseca bem esse tema. Numa próxima postagem tentarei abordar essa questão.
você isse:"Pois eu garanto a vocês: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino de Deus’”. (Mateus 21:31)
O “Vá e não peques mais” que Cristo falou, não cabe no contexto acima."
Perceba que foi justamente à adúltera que Jesus disse: "Vá e não peques mais".
Sabemos que quando Jesus falou que "os párias da sociedade judaica" precederiam aos fariseus, Ele estava exatamente respaldado na sinceridade de Madalenas, Zaqueus, Mateus e na disposição que evidenciaram de tomar um novo rumo para suas vidas. Veja como é impressionante a decisão do Zaqueu: "Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, 'se' nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais."
Percebemos que Jesus sempre ensinava, visando mudanças radicais na vida dos homens para o bem deles mesmos.
Você quase não está respondendo aos meus comentários, dou muito valor às suas ponderações.
Abraço.
Faltou você lembrar que a prostituta poderia pecar setenta vezes sete, que Cristo a perdoaria da mesma forma, talvez, com mais compaixão ainda que a primeira vez.
O número "setenta vezes sete" significa que nunca (indefinidamente), temos o direito de julgar aquele que sofre a pressão da pulsão dos instintos.
Ao julgarmos, apontando o dedo indicador para o outro, estamos consequentemente apontando o polegar para nós mesmos(filosofia popular, que Cristo assinaria embaixo).
Reflita sobre isso, nobre amiga
Ao que me parece a questão não é sobre o perdão e sim no que Jesus tratou de dizer ou seja, sobre a sinceridade do coração, o que não era comum no coração dos hipócritas.
Quanto ao perdão, estou bem ciente que as misericórdias do Senhor, são a causa de EU não ser consumida. E graças a Deus, elas se renovam a cada dia também sobre a minha vida.
Abraço, nobre amigo rsrs
afinal de contas, que jesus era aquele que paulo pregava??
gui, olha que coisa mais terrível:
"as misericóridas do senhor são a causa de eu não ser consumida".
você entende que deus fica com uma vontada louca de mandar fogo sobre você quando você peca mas aí ele se lembra que é misericordioso e aí se abstém do que realmente queria e quer fazer?
é só para reflexão.