Rubem Alves
Jesus sabia que as estórias são o caminho para o coração. Por isso contava parábolas. As parábolas de Jesus eram sempre feitas em torno de situações da vida naquela época. Se ele vivesse hoje suas parábolas seriam diferentes.
E perguntaram a Jesus: “Quem é o meu próximo?“ E ele lhes contou a seguinte parábola:
Voltava para sua casa, de madrugada, caminhando por uma rua escura, um garçom que trabalhara até tarde num restaurante. Ia cansado e triste. A vida de garçom é muito dura, trabalha-se muito e ganha-se pouco. Naquela mesma rua dois assaltantes estavam de tocaia, à espera de uma vítima. Vendo o homem assim tão indefeso saltaram sobre ele com armas na mão e disseram: “Vá passando a carteira“. O garçom não resistiu. Deu-lhes a carteira. Mas o dinheiro era pouco e por isso, por ter tão pouco dinheiro na carteira, os assaltantes o espancaram brutalmente, deixando-o desacordado no chão.
Às primeiras horas da manhã passava por aquela mesma rua um padre no seu carro, a caminho da igreja onde celebraria a missa. Vendo aquele homem caído, ele se compadeceu, parou o caro, foi até ele e o consolou com palavras religiosas: “Meu irmão, é assim mesmo. Esse mundo é um vale de lágrimas. Mas console-se: Jesus Cristo sofreu mais que você.“ Ditas estas palavras ele o benzeu com o sinal da cruz e fez-lhe um gesto sacerdotal de absolvição de pecados: “Ego te absolvo...“ Levantou-se então, voltou para o carro e guiou para a missa, feliz por ter consolado aquele homem com as palavras da religião.
Passados alguns minutos, passava por aquela mesma rua um pastor evangélico, a caminho da sua igreja, onde iria dirigir uma reunião de oração matutina. Vendo o homem caído, que nesse momento se mexia e gemia, parou o seu carro, desceu, foi até ele e lhe perguntou, baixinho: “Você já tem Cristo no seu coração? Isso que lhe aconteceu foi enviado por Deus! Tudo o que acontece é pela vontade de Deus! Você não vai à igreja. Pois, por meio dessa provação, Deus o está chamando ao arrependimento. Sem Cristo no coração sua alma irá para o inferno. Arrependa-se dos seus pecados. Aceite Cristo como seu salvador e seus problemas serão resolvidos!“ O homem gemeu mais uma vez e o pastor interpretou o seu gemido como a aceitação do Cristo no coração. Disse, então, “aleluia!“ e voltou para o carro feliz por Deus lhe ter permitido salvar mais uma alma.
Uma hora depois passava por aquela rua um líder espírita que, vendo o homem caído, aproximou-se dele e lhe disse: “Isso que lhe aconteceu não aconteceu por acidente. Nada acontece por acidente. A vida humana é regida pela lei do karma: as dívidas que se contraem numa encarnação têm de ser pagas na outra. Você está pagando por algo que você fez numa encarnação passada. Pode ser, mesmo, que você tenha feito a alguém aquilo que os ladrões lhe fizeram. Mas agora sua dívida está paga. Seja, portanto, agradecido aos ladrões: eles lhe fizeram um bem. Seu espírito está agora livre dessa dívida e você poderá continuar a evoluir.“ Colocou suas mãos na cabeça do ferido, deu-lhe um passe, levantou-se, voltou para o carro, maravilhado da justiça da lei do karma.
O sol já ia alto quanto por ali passou um travesti, cabelo louro, brincos nas orelhas, pulseiras nos braços, boca pintada de batom. Vendo o homem caído, parou sua motocicleta, foi até ele e sem dizer uma única palavra tomou-o nos seus braços, colocou-o na motocicleta e o levou para o pronto socorro de um hospital, entregando-o aos cuidados médicos. E enquanto os médicos e enfermeiras estavam distraídos, tirou do seu próprio bolso todo o dinheiro que tinha e o colocou no bolso do homem ferido.
Terminada a estória, Jesus se voltou para seus ouvintes. Eles o olhavam com ódio. Jesus os olhou com amor e lhes perguntou: “Quem foi o próximo do homem ferido?“
Voltava para sua casa, de madrugada, caminhando por uma rua escura, um garçom que trabalhara até tarde num restaurante. Ia cansado e triste. A vida de garçom é muito dura, trabalha-se muito e ganha-se pouco. Naquela mesma rua dois assaltantes estavam de tocaia, à espera de uma vítima. Vendo o homem assim tão indefeso saltaram sobre ele com armas na mão e disseram: “Vá passando a carteira“. O garçom não resistiu. Deu-lhes a carteira. Mas o dinheiro era pouco e por isso, por ter tão pouco dinheiro na carteira, os assaltantes o espancaram brutalmente, deixando-o desacordado no chão.
Às primeiras horas da manhã passava por aquela mesma rua um padre no seu carro, a caminho da igreja onde celebraria a missa. Vendo aquele homem caído, ele se compadeceu, parou o caro, foi até ele e o consolou com palavras religiosas: “Meu irmão, é assim mesmo. Esse mundo é um vale de lágrimas. Mas console-se: Jesus Cristo sofreu mais que você.“ Ditas estas palavras ele o benzeu com o sinal da cruz e fez-lhe um gesto sacerdotal de absolvição de pecados: “Ego te absolvo...“ Levantou-se então, voltou para o carro e guiou para a missa, feliz por ter consolado aquele homem com as palavras da religião.
Passados alguns minutos, passava por aquela mesma rua um pastor evangélico, a caminho da sua igreja, onde iria dirigir uma reunião de oração matutina. Vendo o homem caído, que nesse momento se mexia e gemia, parou o seu carro, desceu, foi até ele e lhe perguntou, baixinho: “Você já tem Cristo no seu coração? Isso que lhe aconteceu foi enviado por Deus! Tudo o que acontece é pela vontade de Deus! Você não vai à igreja. Pois, por meio dessa provação, Deus o está chamando ao arrependimento. Sem Cristo no coração sua alma irá para o inferno. Arrependa-se dos seus pecados. Aceite Cristo como seu salvador e seus problemas serão resolvidos!“ O homem gemeu mais uma vez e o pastor interpretou o seu gemido como a aceitação do Cristo no coração. Disse, então, “aleluia!“ e voltou para o carro feliz por Deus lhe ter permitido salvar mais uma alma.
Uma hora depois passava por aquela rua um líder espírita que, vendo o homem caído, aproximou-se dele e lhe disse: “Isso que lhe aconteceu não aconteceu por acidente. Nada acontece por acidente. A vida humana é regida pela lei do karma: as dívidas que se contraem numa encarnação têm de ser pagas na outra. Você está pagando por algo que você fez numa encarnação passada. Pode ser, mesmo, que você tenha feito a alguém aquilo que os ladrões lhe fizeram. Mas agora sua dívida está paga. Seja, portanto, agradecido aos ladrões: eles lhe fizeram um bem. Seu espírito está agora livre dessa dívida e você poderá continuar a evoluir.“ Colocou suas mãos na cabeça do ferido, deu-lhe um passe, levantou-se, voltou para o carro, maravilhado da justiça da lei do karma.
O sol já ia alto quanto por ali passou um travesti, cabelo louro, brincos nas orelhas, pulseiras nos braços, boca pintada de batom. Vendo o homem caído, parou sua motocicleta, foi até ele e sem dizer uma única palavra tomou-o nos seus braços, colocou-o na motocicleta e o levou para o pronto socorro de um hospital, entregando-o aos cuidados médicos. E enquanto os médicos e enfermeiras estavam distraídos, tirou do seu próprio bolso todo o dinheiro que tinha e o colocou no bolso do homem ferido.
Terminada a estória, Jesus se voltou para seus ouvintes. Eles o olhavam com ódio. Jesus os olhou com amor e lhes perguntou: “Quem foi o próximo do homem ferido?“
FONTE:
Comentários
mas tudo bem, já que a quase anarquia é a nova ordem por aqui, quando o Gresder ou o Hubinho quiser postar é só cair no tapa, quem ficar de pé posta...
Ok, de acordo?
A lição é sobre discriminação. Aquele indivíduo que na consciência coletiva moral ou religiosa da sociedade não é digno de fazer parte da "turma", do "grupo", da "panelinha" ,é exatamente aquele que irá fazer o que mais importa: jogar as regras da religião fria no lixo e fazer o bem pela simples motivação de exercitar em nós o que temos de mais humanizador - a solidariedade.
Será que há alguma glória para o misericordioso?
Ele exerceu a sua cidadania, o seu dever.
Talvez em outra ocasião será o padre, o pastor, o espírita, o macumbeiro que fará o mesmo que aquele travesti, e outro travesti passará de largo.
Ao meu ver, Jesus ensinou mais uma vez sobre o verdadeiro amor, a compaixão que age.
Beijos.
amiga, a lição maior não é o verdadeiro amor simplesmente e sim, que o verdadeiro amor é capaz de vir de onde ninguém acha que ele poderia vir e muitas vezes ele não vem de onde todo mundo teria certeza que ele viria.
Beijos.
Profunda analogia
A íntima compaixão só surge em nós quando nos identificamos com àqueles que sofrem preconceitos. A travesti se reconheceu na figura do sofrido garçon, como aconteceu na parábola do bom samaritano, porque viu no ferido, um igual.
Jamais a íntima compaixão vai surgir nos que se apresentam com capas de santos, naqueles que fazem parte dos conselhos fiscais sacerdotais da Lei. A compaixão não pode surgir de uma pessoa inflexível em seus conceitos.
É muito difícil, ou quase impossível , que os sacerdotes portadores de PRÉ-CONCEITOS FIXOS, deixem o seu trono de poder político para servir àquele que está deixando visível, o que há encoberto neles a sete chaves.
Ora, se eles não conseguem DESCER, não podem ser tocados por esse nobre sentimento – COMPAIXÃO.
Eu não irei questionar, você está totalmente certo.
O meu texto está pronto mais postarei depois da manifestação do Gresder. Rsrsrs
Sobre a analógia...
Traduzindo: meus textos aqui nao produz discuçoes e sao fraquinhos dinte dos vossos, alem do que eu quero seguir carreira solo.
Eu mesmo tive a honra de coloca-ló no meu blog, tambem o blog Recortes colocou o mesmo texto.
A importância da mensagem e extremamente exposta pelo Rubens Alves com tamanho fascínio que eu particularmente Nao canso de ler.
O amor ao próximo e primordial para todos, e o segundo mandamento. E que assim seja cumprido por cada um de nos.
Abracos
E viva ap texto excepcional que acabamos de ler!
Eu fico a pensar e imaginar, como seria o mundo se não houvesse igrejas, religiões, Deus e Bíblia.
O mundo composto pelo Eu, Ele, Nós, Vós..etc...seria o mais completo.
É isto que o mundo precisa, de "pronomes" pessoais e não de seres que se acorbertam atrás de falsidades espirituais..religiosas..que só sabem fazer tudo pela simples aparência fiel e bondosa da religiosidade.
Somente quem reconhecer o que é amar de verdade, é que terá a mesma reação que a travesti acima. Palavras é uma benção, mas atos de uma boa ação praticados, é o essencial.
Beijos.
Excelente reescrita do bom samaritano.
Conseguiste reproduzir três conceitos do cristianismo de forma bela e inteligente.
Abraços,
Evaldo Wolkers.