Jesus: um homem (muito) além do óbvio

Creio que, mesmo quando já não houver mais nem um único ser humano aqui, a mentalidade do Homem de Nazaré ainda não terá sido perfeitamente compreendida.

Jesus possuia uma lógica "absurda", tanto para o seu tempo quanto para os dias de hoje; e de amanhã... Se atualmente já soa um tanto inadequado um homem tido como "santo" se "misturar" com prostitutas, vagabundos e mendigos, imagine há cerca de 2000 anos, num país oriental, com uma mentalidade muito mais rígida que a dos povos ocidentais.

Jesus era o próprio absurdo encarnado. Não era à toa que ele dizia frases como "quem tem ouvidos para ouvir ouça" e "quem pode receber isto receba". Ele compreendia perfeitamente o quão "extravagante" o seu discurso era - e, repito,  ainda é.

Ele veio numa época em que os hebreus seguiam uma infinidade de regrinhas, muito além dos famosos 10 mandamentos de Moisés, mais ou menos conhecidos por todo mundo. Só que ele simplesmente se saia com umas do tipo: "o que contamina o homem é o que sai da sua boca, e não o que entra através dela" e: "quem não tiver pecado atire a primeira pedra". Ele era o cúmulo da inconveniência. Questionava os valores do seu tempo, as figuras tidas como as mais "respeitáveis" e fazia tudo o que nenhum judeu em sã consciência faria se tivesse "amor à vida"; à sua própria vida...

Ainda hoje, quando algum cristão fala da necessidade de se apreender o espírito da Palavra, e não a sua escrita literal (a "letra morta") este é tido como um "liberal que acha que pode interpretar a Bíblia a seu bel-prazer". Mas, se era justamente isso que Jesus fazia! Ou o que explica o fato de ele e seus discípulos haverem descumprido várias ordenanças formais da Lei judaica e ainda assim ele ter afirmado categoricamente que cumprira toda a Lei? Seria ele um "mentiroso"? Ou na verdade estaria ele a demonstrar por seu próprio exemplo de vida que é a essência dos mandamentos que necessitam ser cumpridos e que as regras servem apenas como um caminho e uma sinalização até ela?

Alguns dizem que "nem todos podem compreender o espírito da Palavra, tendo assim que cumpri-la na sua literalidade afim de que não se percam". Isto não deixa de ser verdade, mas oculta e até mesmo combate uma verdade maior, que é o fato de que as Escrituras são um parâmetro  para a nossa vida, jamais um manual de instruções que tenhamos de seguir ao pé da letra, ainda mais sem termos feito as atualizações necessárias à época e ao espaço em que vivemos.

Jesus, o Homem muito além do óbvio, propôs a vivência de uma fé inteligente, sincera e prática, alicerçada no amor a Deus e na empatia, ou seja,  na capacidade de se colocar no lugar do outro, amando-o como a si mesmo.

Resultado: em seus dias, terminou crucificado como um bandido da pior espécie. Depois que se foi, seus supostos seguidores preferiam voltar à falsa segurança das ordenanças formais, escritas desta feita, quase todas por um ex-fariseu, classe de pessoas que Jesus, em vida, mais combatera.

Comentários

Marcio Alves disse…
Excelso e magnânimo excelentíssimo Mestre e Doutor Isaias Medeiros. (Escrevi isto, para zoar com o puxa saco do Hubner. Hahahahah – Hubner não fica bravinho comigo não viu, mas isto aqui é só para descontrair o ambiente. Rsrsrsrrs)

Ô mano ISA, (será que posso te chamar assim?? Acho que combina muito com você. Rssrsrs) cadê a sua autobiografia que você disse que iria colocar como postagem??

De todas as biografias dos confraternos, a sua é sem duvida nenhuma, a mais esperada e desejada por nós todos!!!!!!
(Porque será heim??? Rsrsrsrs)

Magoei heim ISA, mas fazer o quê... deixa para próxima né??!!!! rsrsrss (Você ainda vai por, não é mesmo?? rsrsrsrs)
J.Lima disse…
Isaias.

Seu texto mostra a magnitude desse esplêndido homem, arquétipo marcado no inconsciente de todo ser humano.

Ele é o desejo mais intimo do ser de quem o conhece, sua influência na história não poderá ser contestada, nem pelos seus maiores opositores!

Na realidade, ele é tão fantástico que falar dele é falar de MITO, que entenda os críticos que MITO não é sinônimo de invenção, in-verdade, mas de VERDADE que está para além da LÓGICA, pois no mito a verdade não precisa de CONCORDÂNCIA GRAMATICAL.

Usa a linguagem para sua expressão, mas a sua expressão está para além da linguagem, pode-se AFIRMAR UMA COISA ao mesmo tempo EM QUE A NEGA, são verdades que estão para além da construção intelectual! È por isso que podemos falar que “E MORRENDO QUE SE VIVE”!

Você mostrou no texto que falar dele é falar de PARADOXO, não é CONTRA-ADIÇÃO, mas que a GRAMA

escrita) do NOMOS (lei), se aquieta, não precisa de EXEGESE, a raiz gramatical não explica, pois nele o ABSURDO torna-se NORMAL, e o A-NORMAL, são as regras pré-fixas, numa vida em construção.

Os dedos que escreveu com FOGO nas tabuas inflexíveis de PEDRA dar lugar a dedos de CARNE que escreve na AREIA, a inflexibilidade cede lugar a versatilidade, o EFEITO, que dizia: “MORTE AO ADULTERO”, cede lugar a CAUSA PRIMÁRIA, a INTERIORIDADE e o juízo é na SUBJETIVIDADE de cada um, pois nessa dimensão dos DESEJOS, condenado não é quem peca, mas quem se julga ISENTO DOS DESEJOS praticado pelo outro.

A condenação é FATAL, pois o TAL ao julgar o outro está se julgando, inconscientemente transfere para o outro, os seus mais ocultos desejos! E ao julgar o outro se auto-julga a sentença que dá ao outro, é na realidade a sua sentença!

Vou parando por aqui.

Parabéns pelo excelente texto
J.Lima disse…
Madona Mia como diz o querido Edson!
Estava digitando achando que pela primeira vez seria o primeiro a postar um comentário!
Mas o Marcio (fenix) ressurge das cinzas e me ultrapassa! hahahahhahhahahh

Faltou pouco, ia postar ai resolvi fazer uma correção no texto!Ai então não deu tempo! hahahahha
Marcio Alves disse…
Mas enfim, vamos lá comentar esta sua postagem, que é brilhante:

Realmente Jesus foi, é, e sempre será a pessoa mais singular e extraordinária que esta terra de pobres mortais já conheceu ou ouviu falar.
Ele sempre será.... “um homem muito além do obvio”!!!

Nem precisa ser deus mesmo para ser quem foi e é sendo o que é, pois nunca deixará de ser magnífico e fantástico, então logo, mesmo que anulemos a sua divindade, a sua divinal presença e vida são mesmo de outro mundo.

Os hebreus não tinham mesmo como regras somente os dez mandamentos (ou mata-mentos, como gosto de dizer.), mas antes a torah era constituída por mais de 630 ordenanças que foram na verdade, na sua grande maioria compostos pela copilação do código de Hamurabi, que é muito mais anterior a o código Mosaico.

Na verdade as leis não passam do mínimo e de uma questão de preservação, mas não podendo e não devendo ficar preso a sua literalidade, pois o mais importante esta no espírito por trás das letras, sendo assim no seu discernimento, como por exemplo: a lei diz que é errado mentir, mas quando esta regra envolve a vida, não é errada a sua violação, pois ela é feita para preservar a vida, e não contra a vida, portanto, toda vez que estivermos entre a lei e a vida, escolhemos sempre a vida, deste modo estaremos, assim como Jesus, cumprindo a lei contra ela mesma, numa situação de vida e morte, escolhendo a maior de todas as leis que é a lei da vida.

Abraços
Marcio Alves disse…
J. Lima, na verdade se não fosse o meu amigo Jair me ligar e conversarmos por 15 minutos no telefone, eu teria feito dois comentários antes de você, tanto que ao terminar de postar este meu último comentário eu não tinha visto o seu, por estar começando a escrever e ter sido interrompido pela agradável conversa com meu amigo.

Mas enfim, eu sou mesmo uma fênix. Rsrsrsrsrsr
Eu poderia perder para varias pessoas, mas não aceitaria perder para aquele que é o que menos comenta (ou nunca comenta. Rsrsrsrs) nos blogs dos confraternos, porque ai seria humilhação demais. Hahahahahah
J.Lima disse…
Marcio reconheço a minha ausência, e lamento muito.
Mas me permita lhe dizer, algo, concentre-se no conteúdo dos comentários, pois me esforço para ampliar a magnitude do comentário e gasto muito tempo refletindo sobre o conteúdo do texto!

Ai já viu né, fica dificil, pois gasto muito tempo para fazer um comentário critico sobre o texto postado!

Estou perdoado pela minha pouca participação?
Mas saiba que estou sempre lendo os posts dos amigos!
hahahhahahhaha
Abraço.
Anônimo disse…
Sapientíssimo e eclético Márcio Alves (risos)

Pode me chamr do que quiser, amigo. Estava mesmo pensando em passar a usar o apelido Isa porque é o único apelido carinhoso que o meu nome permite criar e ele não me incomoda nem um pouco. Se existe "o Duda" (em vez de "a Duda") também pode existir "o Isa" (risos).

Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, eu digo que escrevo! Estou preparando um segundo post - à lá Edu, o carioca-não -folgado" - dessa vez "igrejográfico".

Quanto aos seus demais comentários, estão além da minha capacidade de analisá-los, ó Reverendíssimo Mestre dos comentários.

Abraços.
Anônimo disse…
J. Lima

Se responder aos comentários do Márcio já é dificil, responder à "aula-comentário" do professor J. Lima é quase missão impossível.

Você expressou de forma muito mais elaborada o que eu penso e sinto em relação ao Jesus. E não precisa "parar por aqui não", cada comentário seu é uma lição que todos nós precisamos aprender.

Abraço.
Eduardo Medeiros disse…
ISA, meu primo de direito e de fato!! heeeee

Que belo texto, esse seu! Você faz uma análise muito concistente das singularidades do Nazareno. Sim, singularidades no plural, visto que dizer que Jesus foi singular é pouco, pois ele foi repleto de singularidades plurais múltiplas.

Abrindo um parênteses, o comentário do JL é brincadeira, cara!!! Pô bicho, esse cara é muito bom!! Fecha parênteses.

Só é mitologizado o que é tão inefável, tão indizível, que palavras factuais e cruas não bastam; pois como dizer o que não pode ser dito??!!

Mas porque o que não pode ser dito precisa de alguma forma ser dito, só nos resta o abstrato, o transcendente, a metáfora, o além.

Como dizê-lo "é o pão da vida, a luz do mundo, a água viva" senão exatamente dessa forma simbólica?

O que significa dizer dele "pão da vida"? é algo que transcende o mero objeto. É pão que não é pão, é pão que não mata a fome do estômago, mas mata a foma existencial e a fome de sentido.

Como alguém assim poderia ser compreendido por uma elite religiosa que estava mais preocupada com a crueza da letra morta e nada entendiam de existência e de vida?

Aos olhos dessa elite, Jesus foi o herege dos hereges, e lugar de hereges que abalam o mundo é na fogueira (cruz).
Eduardo Medeiros disse…
Onde se lê "concistente", logicamente, leia-se consistente. rsss Digitar à velocidade do pensamento às vezes é complicado rssss

E só para o marcinho, meu protegido, não ficar triste, abro outro parênteses: Os comentários do marcinho também são excepecionais. Fecha.

E aí, garoto, rei dos comentários, gostou?
Anônimo disse…
Edu

Realmente, Jesus era um homem cheio de "singularidades" e descrevê-lo com precisão é humanamente impossível, daí o uso de metáforas, símbolos e a necessidade de se "mitologizá-lo" (eita, palavrinha difícil!).

Abração.
Isa,

Seu texto foi escrito com a alma e aceito por mim pelo coração, pois a lógica não comporta tantas revelações acreca DEle. Que argumento filosófico e teológico se sustentaria diante DEle? Que sistema religioso permanece em pé perante a simplicidade profunda DEle?

Abraço
Corrigindo: acerca DEle [...]
J.Lima, você desferiu um golpe certeiro aos juizes da religião: "condenado não é quem peca, mas quem se julga ISENTO DOS DESEJOS praticado pelo outro".

Abraço
Anônimo disse…
Oséias Balzaretti

Assino embaixo.

Abraço.
Levi B. Santos disse…
Caro Isaias

Peço-lhe desculpas por não ter aportado por aqui, antes. É que estava esperando o texto do Jair, e não percebi o seu maravilhoso (porque humano)ensaio a respeito de Cristo - "o Homem além do obvio".

E veja que coincidência: não tinha lido o seu texto e postei exatamente um, nesta mesma linha.

Não sei se você já reparou, como estamos sintonizados na releitura dos Evangelhos. (rsrs)

Revelação? Sexto sentido? Obra do acaso?

Que achas meu caro confrade?


Abçs,

Levi B. Santos
Anônimo disse…
Pode ser um pouco de cada coisa, mas a verdade é que todos nós temos uma ligação espiritual forte uns com os outros.

Compliquei mais ou expliquei alguma coisa? (risos).

Abraço.